Na lenga-lenga da nossa infância: irrazoável, brincalhona, saltitante: «Sola, sapato, Rei rainha Foi ao mar Buscar sardinha Para a mulher Do juiz Que está presa Pelo nariz; Salta a pulga Na balança Que vai ter Até à França, Os cavalos A correr As meninas A aprender, Qual será A mais bonita Que se vai Esconder?»
Salles da Fonseca, João Miguel Tavares e os comentadores retomam as temáticas, em lenga-lenga da nossa idade adulta: irrazoável, brincalhona, saltitante. Manca. Moribunda. Um Ano Novo a cheirar a Velho.
I - EXECUÇÃO ORÇAMENTAL
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DIZ A DIRECÇÃO GERAL DO ORÇAMENTO QUE:
De Janeiro a Novembro de 2018, a Execução Orçamental revela que o
saldo global das Administrações Públicas
apresenta um valor de -624,0 milhões de euros, o que compara com -2.049,2
milhões de euros no período homólogo do ano anterior.
DIGO EU QUE:
De Janeiro a Novembro de 2018,
o Ministro das Finanças deu marteladas (perdão, cativações) a menos do que
deveria ter dado no montante de 624 milhões de Euros.
II- OPINIÃO
Um PSI20 com 18 empresas diz tudo sobre
Portugal
O país que nós construímos em democracia
anda há mais de 20 anos a patinar, e não vemos à nossa volta nem a energia, nem
o talento suficientes para mudar este estado de coisas.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 3 de Janeiro de 2019
Poucas coisas demonstram de forma tão simbólica o falhanço económico
português das últimas duas décadas do que a existência de um PSI20 onde só há
18 empresas. O índice
que agrega as 20 maiores empresas cotadas na bolsa de Lisboa nem sequer
consegue ter um número suficiente de empresas que justifiquem o nome. Razão: falta de requisitos para integrar
o índice, já que o valor das acções disponíveis para negociação em bolsa das
cotadas PSI20 deve ser superior a 100 milhões de euros. Pura e simplesmente não
há empresas suficientes que cumpram esse critério.
O PSI20 foi orgulhosamente inaugurado a 31 de Dezembro de
1992, em tempos de grande optimismo e dinheiro europeu. Foi-lhe então atribuído
o valor base de 3000 pontos. Pouco mais de um ano depois, a 17 de Fevereiro de
1994, o PSI20 ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 5000 pontos. Em
1997, superou os 8000. E em 1998, ano glorioso da abertura da Exposição
Universal, pináculo da era do dinheiro fácil, o PSI20 trepou dos 9000 para os
14.000 pontos em apenas quatro meses. Loucura total. Sabem em quantos pontos
ele está hoje em dia, após atingir um máximo de 14.500 pontos no longínquo ano
de 2000? Está nos 4.700 pontos. Sim, os mesmos números do início de 1994 – há
25 anos!
Vale a pena contrapor a
estes números a evolução do Dow Jones. Em 1995, ele superou pela primeira vez a
barreira dos 5000 pontos. Hoje em dia, negoceia acima dos 23.000 pontos.
Atenção: não estou a comparar a dimensão da bolsa de Lisboa com a de Nova Iorque
– estou a comparar as respectivas evoluções, e a sublinhar a dimensão
gigantesca do falhanço português nas últimas duas décadas, devido a uma
economia sem um pingo de dinamismo, incapaz de crescer fora do Estado, que
passou completamente ao lado da revolução das dot.com. Um falhanço, em bom
rigor, do qual não me parece sequer que tenhamos verdadeira consciência.
Esta estagnação, esta falta de esperança num futuro diferente, um pouco
melhor, um pouco mais dinâmico, é catastrófica – e isto nada tem a ver com
direita e esquerda, PSD ou PS. Ou melhor, até tem, mas se nesse movimento
englobarmos todo o regime: o país que nós construímos em democracia anda há
mais de 20 anos a patinar, e não vemos à nossa volta nem a energia, nem o
talento suficientes para mudar este estado de coisas. Chegados a Janeiro de
2019, um dos primeiros artigos que li, e que me levou a escrever este texto,
foi no PÚBLICO: “Bolsa de Lisboa perdeu seis empresas em 2018 e três
ficaram à porta”. Pós-título: “Em 2018, saíram seis empresas da
Euronext Lisbon, com destaque para BPI, Luz Saúde e Sumol+Compal. E nos últimos
meses, ficaram pelo caminho as entradas da Sonae MC e a dispersão
da Vista Alegre, enquanto a Science4you pediu mais tempo.”
Ler este artigo é mais
gelado do que um banho de Ano Novo nas águas da Nazaré. Empresas
que saem da bolsa por desinteresse dos seus pequenos accionistas; empresas que
não entram na bolsa por desinteresse dos investidores; duas OPA que retiram
empresas da bolsa com a maior facilidade do mundo, porque o valor é baixo e não há concorrência. Um
pequeno cortejo, enfim, do capitalismo roto e depauperado que abunda por esta
terra, produto disfuncional de uma economia da cunha e do compadrio, que nunca
foi capaz de se erguer acima da sua própria mediocridade. Eu desejar-vos-ia um
bom Ano Novo, mas aquilo que falta não são desejos – é mesmo força de vontade e
inconformismo para construir um país melhor.
COMENTÁRIOS
Zanzibar: A cultura de elite empresarial em Portugal tem um atraso de 300
anos relativamente aos países mais industrializados, não é à toa que essa
cultura só existe em determinadas famílias com ramas no estrangeiro, por
exemplo a indústria do aço só foi criada em Portugal porque houve um alemão que
por cá se instalou por exemplo, explica-se porque somos um povo de
comerciantes, temos uma burguesia comercial, quanto à industrial dá trabalho e
não dá lucro a curto prazo, é portanto por cá sempre se escolheu a via mais
fácil e curta para o lucro, para introduzir essa tal elite, o Estado tem que
andar à frente aproveitando os conhecimentos das nossas universidades e
simultaneamente alterar o sistema de ensino para potenciar o aparecimento dessa
tal elite de forma consistente nas gerações vindouras.
franco.3: "...estou a
comparar as respectivas evoluções, e a sublinhar a dimensão gigantesca do
falhanço português nas últimas duas décadas..." Só? Eu diria há quatro décadas e
meia, que o país perdeu o tino, em vez de uma democracia estabeleceu-se uma
oligarquia nobiliárquica onde a "nobreza" dos partidos se instalou de
armas e bagagens faz o que bem quer e lhe apetece, claro, que nós os eleitores,
perdão os servos, fazemos o papel de patetas pagantes desse forrobodó. O
PSI 20 ou melhor PSI 18, onde a maioria se não a totalidade das empresas tem a
sede fiscal no estrangeiro para pagarem menos impostos, uma acto que mostra sem
dúvida, o patriotismo desses empresários, mas também não é de admirar, quando
os nossos "queridos" políticos lhes dizem para investir no estrangeiro,
em Angola por exemplo!
Nuno Silva: O problema é que JMT lê os jornais da semana, mas não lê as
notícias do dia sobre o ano 2018. Foi um ano péssimo para as bolsas, e por
arrasto para as empresas, principalmente as de valor e futuro. Uns investidores
estão a refugiar-se em dívida pública (mesmo a alemã e a perder dinheiro), e
outros investidores estão a refugiar-se no vinho, sem saber o que fazer a tanta
nota de 500, ali paradas e a estragar-se...
franco.3: "...outros investidores estão a refugiar-se no
vinho.." Caro Nuno Silva, não me diga que os investidores
desmoralizaram-se a tal ponto, que se refugiam no vinho!!!??? Quem diria, agora
temos investidores copofónicos! LOL Estou a brincar meu Caro Nuno, não leve a
mal. Isto já não é um país é um circo, onde por acaso, os palhaços somos nós...
Nuno Silva
> franco.3 : Não é Portugal, mas sim o
mundo (que não está divertido como o circo, longe disso), com os seus 20x PIB
mundial anual de moeda em circulação, e 50% da riqueza concentrada nos 1% mais
ricos...
Jonas New York: O descalabro da bolsa portuguesa em nada
tem a ver com gestões danosas/ falências em empresas como o BES, Portugal
Telecom, BCP, Mota-Engil, Teixeira Duarte. Nada, meus amigos! Eu simplesmente
culpo a UE por tudo isso. A UE é a grande culpada, Ricardo Salgado e Zeinal
Bava estão inocentes.
Choninhas Chanfrado, New Iorque |
Professor Catedrático com um currículo impressionante, : Há um culpado ainda maior que a UE: o Euro. Sim, leu
bem, a culpa do Euro é infinitamente superior. …
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