sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Devedores de estimação



Estamos sempre a criticar-nos, não só por fugas ao fisco, como por muitas outras falcatruas que aqui se cometem desde há muitos anos, pelo menos desde que um bando de conjurados roazes se lançaram avidamente sobre os destinos e os bens da nação, como usurpadores destemidos, e logo a seguir sobre os dinheiros às golfadas surgidos por ocasião da nossa entrada triunfal na Europa das generosidades principescas e das fraternidades igualitárias, muito embora nunca tenhamos atingido as tais ambicionadas igualdades, porquanto a nossa situação de solidão e marginalidade nos exclui do convívio europeu mais setentrional, inegavelmente de superior consistência material e intelectual propícia ao que se apelida de democracia sustentável.
Mas a leitura do email enviado por Salles da Fonseca, que me pôs em contacto – embora entrecortadamente (por deficiências de abordagem mediática, confesso sem qualquer orgulho besta) com um discurso em inglês em vídeo, discurso explosivamente pronunciado por um iracundo orador, contra a função dos deputados europeus de sonegarem impostos, transformando o Parlamento Europeu numa instituição de roubo do dinheiro dos cidadãos.
Daí o comentário sardónico de Salles da Fonseca a respeito do saco roto, a propósito duma frase de Margaret Thatcher, de trocadilho grosseiro entre público e contribuinte na questão da utilização dos dinheiros dos impostos.
É certo que Salles da Fonseca se esqueceu do nosso famigerado saco azul para validar ainda mais a questão do saco, e até do saco cheio que entre nós enveredou por outros destinos semânticos, causados por compulsiva ira, face aos distúrbios sociais. Mas a mim parece-me, perdoe-se-me a redundância, que na questão do saco roto irónico, de Salles da Fonseca, não nos faltam nobres exemplos entre nós, actualmente invadindo profusamente as mesas não redondas mas rectangulares das nossas discussões orçamentais ou simplesmente acusatórias das nossas irregularidades financeiras, e igualmente invadindo os noticiários logo na abertura destes, quando não há incêndios ou outros distúrbios a sobreporem-se aos nomes da nossa plutocracia de extorsão, sobre quem se lança, com extremo azedume, a Mortágua batalhadora, como ainda hoje ouvi, por acaso, certamente orgulhosa dos feitos paternos da aventura anti salazarista.
Sim, devedores de estimação perpassam continuamente nos noticiários daqui, agora também em referência aos ilustres cidadãos lusos lá de fora, como o nosso Cristiano Ronaldo, que bem escusava de nos alargar as famas da roupa suja cá de dentro, referentes aos costumeiros usufruintes do tal dinheiro dos contribuintes, que, não sendo dinheiro público, breve acaba por pertencer ao saco da nossa penúria pagadora, para cobrir falências bancárias e outros traumas.

MAIS PARLAMENTO EUROPEU
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
24/1/2019
Foi Margaret Thatcher que disse algo como «Não existe dinheiro público; existe apenas dinheiro do Contribuinte».
Felizmente, a mensagem não caiu em saco roto.

Área de anexos: Video: 2018 – 11 -19

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