O espanto, são os gritinhos
que ouço num programa que resolvi espreitar, de que tanto se fala, o programa
da Cristina Ferreira, em reprodução.
Acabo de ouvir a intervenção do PR,
no programa da Cristina de ontem, e não quero crer. Qual medo! Neste nosso país
de sol em tempo de chuva, umas conhecidas e respeitadas figuras do nosso
jornalismo televisivo falam do programa de ontem com muito apreço e risinhos, e
falam de si próprias em vida doméstica, intercalado tudo isso com música, neste
momento do Toy. Não costumo assistir a estes programas matinais e por isso me
espanto. Mais uma deposição autobiográfica, em entrevista, não há estômago que
resista. Apago a televisão, neste momento em entrevista a uma portuguesa no
Canadá. Fofocas bajuladoras, de estardalhaço e lamechices, e com muitos
risadinhas a acompanhar. Programa bom para as velhinhas dos lares de idosos,
concordo, sentadas, muitas delas dormindo, nos seus cadeirões de final de vida,
ao longo das paredes da sala, alimentando o seu espírito com as falsas auréolas
de êxitos apoiados. Mas a intervenção do nosso Presidente, este que vai a
todas, não, não quero crer. Há limites para a maldade dos Xi Jimpings do mundo,
mas também os há para a meladice sinuosa e ambígua da paspalhice nacional,
atrevida e intrometida, na construção, talvez, do êxito próprio. Este.
Pequenino, atrevido, definidor da idiossincrasia de um povo definitivamente
arrumado no ridículo assim propalado. Talvez não haja mesmo limites.
Mas leiamos a crónica
assustadora de Susana Peralta, e os seus comentadores e retomemos a
compostura. E os medos. De televisão apagada, de preferência.
OPINIÃO
A cor e o cheiro dos yuans de Xi Jinping: medo, muito
medo
Não tarda, Portugal estará ao lado da Grécia a
bloquear iniciativas diplomáticas de condenação da China.
PÚBLICO, 13 de
Dezembro de 2018
O
The Guardian noticiou no dia 3 de dezembro uma sinistra “reforma do
casamento” promovida pelo ministro dos Assuntos Civis da República Popular da
China, com o objectivo de pôr termo às práticas “vulgares” que reflectem a
“galopante adoração do dinheiro” em festas de casamento, que devem antes
espelhar o “pensamento de Xi Jinping”. Impõe às autoridades locais, muitas das
quais tinham já em prática restrições ao número de convidados e à despesa
máxima em presentes, uma “adequada etiqueta de cerimónias e festas de casamento”.
A
ideia de um governo se intrometer desta forma na intimidade das pessoas é em si
mesma assustadora. Mais assustadora é a origem da loucura despesista dos
casamentos. Amartya Sen, Prémio Nobel da Economia de 1998, escreveu
extensivamente sobre as “missing women” — literalmente, mulheres em falta —
na China. Na Europa e na América do Norte, para cada 100 homens, há 105
mulheres. Na China, há apenas 94. Ou seja: 11 mulheres em falta por cada 100
homens. A partir desta conta simples, Sen estimou em 1990 que havia 50 milhões
de mulheres em falta na China. A pior desigualdade de género, que nega às
mulheres o direito a nascer, tem origem na política do filho único em vigor no
país entre 1979 e 2015. Com a restrição a um filho, as famílias preferem descendentes
rapazes, optando por abortos selectivos de fetos femininos. Na China nasciam neste
período 117 bebés menino por cada menina, quando no resto do mundo nascem cerca
de 105.
Existem
hoje na China mais 30 milhões de homens do que mulheres. Com tão poucas
disponíveis, as famílias começaram a vender as suas jovens nubentes por preços
que atingem, por exemplo, na província de Hubei, 200 mil yuans, dez vezes o
rendimento médio das famílias da região, que vivem essencialmente da
agricultura. O preço a pagar por uma noiva pode ainda incluir jóias, carros e
casas.
A Reforma do Casamento é só mais uma forma de autoritarismo de Xi
Jinping, que desde que tomou o poder em 2012 não tem olhado a meios para
instaurar o culto de personalidade e o controlo apertado da sociedade, já de si
estrangulada por décadas de privação de direitos civis básicos. O menu é vasto:
campanha de purgas de algo como 1,3 milhões de oficiais chineses e oponentes,
que terá levado alguns ao suicídio; cerca de 250 advogados e ativistas de direitos
civis presos; controlo apertado da Internet e redes sociais; promoção activa de
Xi como o descendente de Mao Tsetung, com o seu próprio livro-fetiche, A
Governança da China, e uma máquina de propaganda impressa nas paredes das
cidades, em pratos, colares e outros artigos à venda por todo o país. Tudo
culminou em 2017 com a inscrição do nome de Xi Jinping na Constituição da RPC e
a abolição do limite de mandatos. Leitoras e leitores, temos líder!
Provavelmente vitalício.
Em
abril, a Bloomberg publicou um relatório sugestivamente intitulado Como a
China está a Comprar o Acesso à Europa, no qual compila informação sobre o
investimento chinês no Velho Continente, que totalizou 255 mil milhões de
dólares na última década, cerca de 63% dos quais de empresas controladas pelo
Estado. Este número é conservador, porque ignora 355 fusões cujos termos não
são públicos. Embora a
maior parte do investimento vá para as maiores economias europeias, é na
Grécia, Portugal e Chipre que a China mais investiu em infra-estruturas
básicas. A China possui quatro aeroportos, seis portos, parques eólicos em nove
países e 13 clubes de futebol na Europa. E a REN em Portugal. Um estudo da
Universidade de Sydney afirmou recentemente que “o papel proeminente de
empresas controladas pelo Estado no investimento chinês em países estrangeiros
levanta preocupações de que estes investimentos tenham motivações estratégicas
e não comerciais”. Em 2017, a Grécia, cujo maior porto, o de Pireu, é
propriedade chinesa, vetou uma condenação da União Europeia às violações dos
direitos humanos na China.
A Austrália,
em nome do “interesse nacional” e os
Estados Unidos, pela
“segurança nacional”, já legislaram para controlar a presença de capital
estrangeiro (leia-se: chinês) em sectores críticos. A chanceler Merkel e o
presidente Macron começaram a movimentar-se para a UE responder colectivamente
a este apetite chinês pelas nossas infra-estruturas básicas. Enquanto
isso, no nosso triste jardim à beira-mar plantado, um líder sinistro,
potencialmente vitalício, de um regime autoritário, foi bajulado pelo poder
político e económico em peso, durante uma visita oficial em que até os
moradores vizinhos do hotel onde se hospedou viram as suas liberdades
fundamentais suspensas. Um presságio. Não tarda, Portugal estará ao lado da
Grécia a bloquear iniciativas diplomáticas de condenação da China.
COMENTÁRIOS
AA...PARA A MENTIRA SER SEGURA ... TEM
QUE TER QUALQUER COISA DE VERDADE Portugal 13.12.2018: O projecto chinês é o domínio global,
sem disparar um único tiro. O Ocidente será escravizado pelo novos senhores do
mundo. É a vida.
JLR Ílhavo 13.12.2018: Independentemente
de ser uma ditadura ou uma democracia, há uma coisa que a China tem e que na
Europa falta há muito tempo: visão de longo prazo. Os 12 planos Marshall a que
corresponde a Nova Rota da Seda são apenas a confirmação operacional disto
mesmo. Em última análise, quem empurrou a Grécia e, em menor grau, Portugal
para os braços da China? Onde esteve a solidariedade da UE para com os seus
membros mais pobres e mais expostos? Houve alguma iniciativa europeia que se
parecesse minimamente com um plano Marshall? Já se esqueceram como a sra.
Merkel e o sr. Schäuble trataram "esses malandros do Sul que não querem
trabalhar"? A memória é curta. Como teria sido o "milagre
económico" alemão sem a ajuda do plano Marshall americano?
Rebelde, Aveiro 13.12.2018: Não deve haver
nem um só dos DDHH da carta universal que a China não viole sistematicamente
aos seus cidadãos e do Tibete ocupado. Depois criticam os EEUU; pois, da China
nem uma imagem pois eles controlam duramente os meios de comunicação social e
sabem a importância da imagem televisionada.
Grande artigo. A China e a Rússia
representam grandes ameaças à liberdade no mundo, mas só os EEUU e uma parte da
Europa vêem o que está a acontecer. A venda aos chineses de activos portugueses
tão importantes e valiosos com o beneplácito da UE foi um enorme tiro no pé.
Raquel Azulay, 13.12.2018: nem mais, mas
todos, sem excepção, querem entrar no gigantesco mercado chinês. money talks.
Rebelde, Aveiro 13.12.2018: Pois Raquel,
são 1500M de prisioneiros, é muita gente. É como antes da queda do muro de Berlim.
Eu só vi um russo ou um ucraniano ao vivo na minha vida depois da queda.
Lembra-se da rapidez com que quase todos os da cortina de ferro entraram na UE
e na NATO? É que quem pode...foge, só ficam as ditaduras como a Bielorússia e
afins.
Caetano Brandão, MATOSINHOS 13.12.2018: Susana esqueceu
falar na fortuna escondida de Jiping e acólitos nos offshores para onde seguem
os milhões após os golpes habituais de subornos e luvas, comuns a estes
criminosos de colarinho branco (ler Panama Papers).
Fernando
Carvalho, Alverca 13.12.2018: No
pico da crise da austeridade, os chineses ajudaram-nos, os
"fraternos" europeus exigiam sangue...
Rodrigues Lopes, 13.12.2018:
Será o capitalismo chinês fundamentalmente diferente
do ocidental? - no que respeita aos direitos humanos: poderá Portugal alguma
vez condenar a política sinistra, cínica e sem qualquer respeito pelas
necessidades básicas das populações afectadas pelas sanções aplicadas pelos EUA
a todos os países de que a máfia instalada nos corredores da Casa Branca não
gosta? - Poderá Portugal, por ex., condenar o cerco medieval aplicado pela
coligação árabe (e apoiada pelo ocidente), ao Iémen? - E Israel, pode ser
condenado? - e em relação à total destruição, pela NATO e “sus muchachos”, das
estruturas sociais e económicas da Líbia?
Rebelde Aveiro 13.12.2018: Tem razão
nalgumas coisas mas o alvo está errado. As suas queixas são de pessoa bem
informada sobre o ocidente. Se soubesse das tropelias da China esquecia
completamente as que refere e com razão pela dimensão avassaladora que têm. Por
exemplo 1M de presos muçulmanos para reeducação segundo a AI. São escalas de
repressão e totalitarismo do outro mundo. E por isso escondem a todo o custo.
Rodrigues Lopes, 14.12.2018: A inevitável
propaganda. Essas suspeitas (campos de concentração /reeducaçãou), são
suportadas por informação obtida a partir da Uyghur American Association.
Evidência clara e provas inequívocas, não existem. Na verdade, o partido, viola
os direitos humanos de todos os chineses não pertencentes à étnia Han. Com a
implementação de um sistema em que os cidadãos são sujeitos a uma constante
avaliação social, económica e cultural, quem tiver desempenhos aquém do
estipulado perde o acesso a benefícios de vária cor. Quem for crítico do
sistema perde, por ex., acesso a crédito bancário. Outra clara violação é a
utilização de câmaras de reconhecimento facial em todas as comunidades
chinesas. Se pensa que só na China é que estes sistemas vão ser implementados,
então está enganado.
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