quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Puxa que puxa



É uma felicidade ler opiniões de gente que sabe coisas, cada uma elucidando a seu modo. Eu só sei que nada sei, e se lamento a saída da Inglaterra da U E, é, não só por egoísmo, porque nos acho mais protegidos com a nobre presença inglesa, como por tristeza - a de ver o grande país insular, pátria de grandes nomes que respeitamos e amamos, desprezar deste modo o continente a que sempre pertenceu, na distância, é certo, das suas brumas, mas acudindo muitas vezes e connosco sofrendo e ajudando q.b.
Eis a opinião de Miguel Esteves Cardoso sobre o Brexit e dos muitos comentadores:
OPINIÃO
Pobre Inglaterra
Um dos problemas do "Brexit" é que o que está em jogo só superficialmente tem a ver com a União Europeia. Embora haja excepções o que há é uma inglesíssima guerra de classes.
MIGUEL ESTEVES CARDOSO
PÚBLICO, 23 de Janeiro de 2019
De todos os políticos britânicos que tenho visto e ouvido falar acerca do "Brexit" o mais inteligente, claro e sensato é Rory Stewart, um bom escritor, viajante e diplomata com 46 anos.
Um dos problemas do "Brexit" é que o que está em jogo só superficialmente tem a ver com a União Europeia. Embora haja excepções, o que há é uma inglesíssima guerra de classes. Os desfavorecidos querem o oposto do que querem os favorecidos e a grande maioria dos favorecidos quer ficar na União Europeia até porque tiram muito mais partido da União Europeia do que os desfavorecidos.
A questão da fronteira da Irlanda do Norte também não tem nada a ver com a União Europeia. A estranheza vem do facto da Irlanda ser uma ilha que contém uma parte que não pertence à Irlanda mas sim ao Reino Unido.
A Inglaterra e a Irlanda, por muito que se proteste o contrário, são inimigas. É impossível ser-se irlandês e não sentir ressentimento pelas violências coloniais inglesas.
Os unionistas da Irlanda do Norte precisam da Inglaterra e do Reino Unido porque ficariam em minoria se a Irlanda fosse toda governada por Dublin. A maioria dos ingleses não gosta dos unionistas e bem que gostaria de entregar a Irlanda do Norte e ver-se livre, duma vez por todas, dos problemas com a Irlanda.
É por isso que dói tanto a Theresa May depender tanto dos DUP na Casa dos Comuns. Os deputados da DUP, duros mas sábios e experientes, sabem tudo isto mas, como bons políticos que são, exploram a situação.
A sério, fica-se com pena dos ingleses e da Inglaterra.

COMENTÁRIOS
Fernando Carvalho,   Alverca 24.01.2019: Sim, pobre Inglaterra, vítima de bullying por parte dos dois grandes e das instituições bruxelenses que querem, em definitivo, retirar qualquer sentido útil ao art. 50.º dos tratados que eles próprios aprovaram... A lição serve-se austera e insensível.
Zanzimbar, 24.01.2019: A cadeia do mundo da informação privilegiada tem os EUA à cabeça, logo a seguir o Reino Unido, depois o Canadá, Austrália e Nova Zelândia e Israel, e só por último a informação é dissecada é passada à França e Alemanha, ou seja os ingleses deverão saber em primeira mão que algo não está efectivamente bem na UE, e por isso abandonam o barco sabendo que vai afundar, porque é no mínimo estranho que não haja ninguém no Reino Unido a bater-se por um segundo referendo e nem mesmo os escoceses que supostamente estariam mais interessados em ficar na UE, e quando as coisas não batem certo algo estará para vir, e nós portugueses que nos cuidemos porque quanto mais para a frente pior maré e pior que isso é que não sabemos o que realmente se passa.
barbosa de almeida  Liverpool 23.01.2019 : O UK está preocupado com a invasão de refugiados para a Europa? Esse é um problema para todos resolverem. Deixar a Europa, não resolve. Além disso, quando venderem armas a zonas de conflito, ou largarem bombas em certos Países, os ingleses deveriam ser os primeiros a receber refugiados, dos Países afectados pela sua intervenção militar. Global, não é só o mercado...
Esta análise, peca por afastamento geográfico do que é a realidade no UK. Os favorecidos (milionários como Mr Banks e o Irlandês dono da cadeia Weatherspoons por ex), querem alterar a ordem existente, para ficarem ainda mais milionários (Saquem no Youtube o filme "Brexit, uncivil war"). Nem que se aumente a produção de carbono, a trazer produtos básicos do outro lado do globo. Os desfavorecidos foram envenenados por uma campanha tóxica (e ilegal) que não teve intenção de esclarecer ninguém. Em 6 semas de campanha, foram enviados 6 milhares de milhões de mensagens por Whatsapp, Facebook e Instagram para milhões de votantes com conteúdos do tipo: 70 milhões de turcos (a sua população total) vão emigrar para o UK; vamos poupar 350 milhões de libras por semana para investir no NHS(infundado)
Luis Ribeiro, 23.01. Como vivem os países, fora da UE???? Usa, Canadá, Austrália, nova Zelândia, Japão, são países que vivem na miséria, ou são atrasados socialmente e tecnologicamente, para não falar da qualidade de vida????? O UK não vive só do turismo, tem petróleo, e outros recursos!!!!
Jonas Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 23.01.2019 Como nota o Luís, esta gente está tão enterrada na religião do paraíso europeísta que já nem vê a luz do sol. Não admira o pânico de o UK sair e beneficiar disso mesmo. O que restaria aos crentes? O mui europeísta Financial Times diz que o pior dos cenários possíveis custaria ao UK 6% do GDP. Os cenários optimistas sugerem benefícios logo ao fim de 2 anos.
Raquel Azulay,  23.01.2019: "Os desfavorecidos querem o oposto do que querem os favorecidos e a grande maioria dos favorecidos quer ficar na União Europeia até porque tiram muito mais partido da União Europeia do que os desfavorecidos." / Não é verdade, Miguel. As coisas são um tudo mais complicadas. Bem sei que a luta de classes é inglesíssima mas, neste caso, acho que a questão do Brexit transcende esta dicotomia. Posso estar completamente enganada, claro. Seja como for, um excelente artigo.
Fugo, AMADORA 23.01.2019 : Não sei como é que a Inglaterra vai sustentar as suas forças armadas (submarinos nucleares e tudo e tudo e tudo) e de segurança e manter o nível de vida dos seus cidadãos, ou até aumentá-lo conforme sugeriram os pró-brexit.
Jonas Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 23.01.2019: Como? Como o faz o resto do mundo - como expressão de uma vontade colectiva autodeterminada.
ana cristina, Lisboa et Orbi 23.01.2019 : os "desfavorecidos" que querem ir embora e mentiram durante anos aos ingleses sobre a Europa chamam-se por exemplo boris johnson ou jacob rees-mogg. o supra sumo dos desfavorecidos, tendo a ter a visão contrária: a elite, sobretudo a elite conservadora, olha com snobismo britânico para a Europa e nunca soube jogar em equipa fora da sua ilha, da sua visão do mundo e dos seus rituais de casta superior.
Pobres de espírito (não de espíritos, que são arrogantes)
Américo Silva, 23.01.2019: Se há coisa que não podemos ter, nem devemos sequer pensar, é em ter pena de um povo que deliberada e reiteradamente persegue, ao longos séculos, o objectivo primordial de dividir nações em seu próprio beneficio! Não se iludam, o que eles pretendem é fomentar a discórdia e o caos!
Jose, 23.01.2019: RU significa união dos reinos. Não desunião. Os povos do RU são o irlandês o escocês, o galês e o inglês. O Tratado da União data de 1707. Parece ontem, não é. É a força da história e cultura dos povos.
Americo Silva, 23.01.2019: E a seguir vai dizer que o poder politico é partilhado entre os países que compõem o UK!? Não entendo então porque vai a Escócia sair da UE? Quer que lhe faça um desenho? Se calhar é mais a força da Inglaterra, e a cultura da Inglaterra sobre os demais do império! Não venha para aqui querer meter o "Rossio na rua da betesga"!!!
Jose, 23.01.2019: O que está a concluir é que uniões de povos? Não obrigado!
Essa inglesíssima "Inglesíssima guerra de classes. Os desfavorecidos querem o oposto do que querem os favorecidos e a grande maioria dos favorecidos quer ficar na União Europeia até porque tiram muito mais partido da União Europeia do que os desfavorecidos". Pode estender esse conceito a todas as economias vítimas da UE que é verdade. É uma guerra de classes que se soma à clássica luta de classes. Acresce que a UE e seus tecnocratas sustentam também total desprezo pelos sindicatos e preferem o conflito como o das camisolas amarelas na França ou fazer o que fizeram na Grécia que foi destruir a democracia pluralista. A UE está agora junta contra o RU e pode criar grandes danos. E quando for contra a França quem ficará com a Alemanha?
Alvarinho Bruto,   Lisboa 23.01.2019 : Foi muito interessante assistir à resolução do problema da Irlanda por via da livre circulação da UE. É compreensível que em Inglaterra queiram passar a fazer os seus próprios tratados de comércio. A livre circulação, pelo menos de pessoas, não era assim tão crítica para o RU, que não pertencia ao acordo de Schengen. A Inglaterra não afirmou o seu domínio no comércio dentro da UE, foi derrotada pela Alemanha. Talvez o RU possa ter um papel mais importante, ou mais interessante, no mundo, fora da UE. Daqui a 10-20 anos saberemos dizer...
Jonas Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 23.01.2019 : Também acho que sim. A começar por levantar a candeia da Liberdade e autodeterminação dos povos europeus bem à vista de um continente raptado (ref ao artigo "O rapto da Europa" de ontem por ex-membros da Comissão Europeia).
Americo Silva, 23.01.2019: Estes dois Srs. fazem lembrar os marretas! concretamente os dois anciãos! Presumo que vocês tenham nacionalidade UK, pois de outra forma é descabida a defesa que fazem daquele outro país! Acresce dizer que o cenário cor de rosa que vocês pintam [liberdade dos povos, prepotência de Bruxelas] para o UK não é verdade! Primeiro, nunca mas nunca, o UK terá mais sucesso fora da UE do que dentro da UE. Segundo, se por acaso viesse a ter esse sucesso que vocês apregoam, então é porque se tinha transformado em algo idêntico a Bruxelas, logo com os mesmos defeitos anti democráticos, que alegadamente os faz querer sair! Será que vocês são assim tão inocentes que não percebem isso? Presumo que defenderão a independência da Catalunha, a anexação da Crimeia, a independência do Tibete, etc, etc!
Alvarinho Bruto,  Lisboa 23.01.2019: Caro Jonas, obrigado pelo seu comentário. Note que eu sou a favor do projecto europeu da UE, que considero essencial para a paz e progresso na Europa e no mundo. A autodeterminação de cada país é importante mas cuidado... É uma bandeira perigosa, assim como perigoso é o poder supranacional não eleito e cativo do interesse das multinacionais. Há muitos perigos nestas mudanças de vinculação política, cada passo tem que ser dado com cuidado e penso que foi isso que foi acontecendo com a União Europeia. Neste caso eu quis dizer que, penso eu, muita gente tem pena que o RU saia da UE, mas entende que o RU queira sair, deseja que tudo corra pelo melhor e que o RU se reconcilie com o seu destino, e que esse destino seja o enriquecimento cultural e económico da Europa e do mundo. Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
Jonas Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 23.01.2019 "nunca mas nunca, o UK terá mais sucesso fora da UE do que dentro da UE" ... xiii que chatice vai ser quando se verificar o contrário ... Nunca mais me esqueci da cena do referendo ao euro na Dinamarca em que os políticos queriam a moeda única e entre vários argumentos de apocalipse económica estava o de que a Lego iria à falência no dia seguinte. Os dinamarqueses não se deixaram intimidar, recusaram o euro, e não consta que se arrependam - o GDP vai bem, a dívida continua em queda (em 2000 Portugal e a Dinamarca tinham a mesma , 50%, ambas em queda). Essas certezas, caro Américo, são aquelas que impingem aos roçados.



Nenhum comentário: