quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Diz quem sabe. Ou julga saber



Por mim, tenho pena de Rui Rio, da sua inépcia, Luís Montenegro parece mais seguro. Mas concordo que devia ter tentado a liderança antes, não agora, porque isso traz mais instabilidade a um partido esfacelado. Ou talvez não.
OPINIÃO: Não é a ideologia. É a ausência absoluta de energia
O verdadeiro problema de Rui Rio não é, nunca foi, e nunca será ideológico. É de carisma. É de empatia com o eleitorado. É de capacidade de liderança dentro do partido. É de estamina, e de músculo.
JOÃO MIGUEL TAVARES,     PÚBLICO, 12 de Janeiro de 2019
Luís Montenegro deu uma violentíssima conferência de imprensa, atacando Rui Rio com uma agressividade que não me lembro de ver desde os tempos de Luís Filipe Menezes, dizendo dele o que Maomé não disse do toucinho, e acusando-o de ser mole, não ter qualquer estratégia e de demonstrar uma incompetência extrema. A direcção de Rui Rio ouviu e respondeu. Como? De forma mole, sem qualquer estratégia e demonstrando uma incompetência extrema. Montenegro até pode conspirar todos os dias contra Rui Rio. Mas Rui Rio conspira todos os minutos contra si próprio.
A primeira aparição da direcção do PSD após o avanço de Montenegro vai ser esquecida em duas horas, mas a forma e o conteúdo da intervenção da vice-presidente Isabel Meirelles são exemplares do desnorte que se vive no PSD. Ponto um: 99,998% dos portugueses não sabem quem é Isabel Meirelles. Não é por acaso. É porque a equipa de Rui Rio é composta em quase exclusividade por figuras politicamente irrelevantes. Ponto dois: a primeira coisa que Isabel Meirelles fez questão de dizer foi que estava a falar em nome individual. Reparem: uma vice-presidente do PSD, a reagir na sede nacional do PSD, 15 minutos depois de um avanço frontal contra o líder do PSD, não estava a falar em nome da direcção do PSD. Ponto três: a reacção de Isabel Meirelles resumiu-se a um choradinho inconsequente. Ai, ai, que é um golpe de Estado. Ai, ai, que Luís Montenegro tinha prometido não fazer tal coisa. Ai, ai, que é uma enorme falta de respeito. Por amor da santa. Em que planeta político é que a maneira mais eficaz de responder a um desafio forte é abrindo uma caixa de Kleenexes?
Toda a gente anda para aí a falar de ideologia. De como o PSD devia estar mais à direita. Ou mais à esquerda. Ou mais ao centro. Meus caros amigos: eu adoro questões ideológicas, como bem sabe quem me lê, mas o verdadeiro problema de Rui Rio, como de qualquer líder político numa democracia liberal, onde existe um consenso generalizado sobre uma parte significativa das políticas públicas, não é, nunca foi, e nunca será ideológico. É de carisma. É de empatia com o eleitorado. É de capacidade de liderança dentro do partido. É de estamina, e de músculo, e de capacidade de mobilizar e entusiasmar e animar aqueles que estão à sua volta. É isto que realmente importa. É isto que diferencia um grande líder político. Não é saber se Rio gosta mais de Keynes ou de Hayek, até porque quando se começa a governar o pragmatismo tende sempre a sobrepor-se aos grandes enquadramentos ideológicos.
Esqueçam a ideologia – o problema é de energia. Sim, muita gente no PSD não se identifica ideologicamente com Rui Rio. Eu não me identifico ideologicamente com Rui Rio. Mas esse não é o ponto. Mesmo aqueles que classificam o avanço de Montenegro como uma mera estratégia cínica, sem outro objectivo que não a luta por lugares no Parlamento, esquecem-se que essa crítica é a mais evidente prova da incompetência de Rio. Durante um ano, ele não conseguiu fazer pontes, não conseguiu atrair pessoas de fora do seu pequeno círculo de amizades, não conseguiu agregar o partido, e, sobretudo, não conseguiu fazer o menor vestígio de oposição a António Costa.
Luís Montenegro fez muito bem em avançar. Não me parece que o eleitorado veja o seu gesto como uma traição inaceitável. Já saber se ele tem, ou não, alguma coisa de jeito para propor ao país, essa é uma questão bem mais complicada, que deixo para um próximo artigo. Jornalista
COMENTÁRIOS:
Tiago Vasconcelos,   Amsterdam 12.01.2019: JMT, permita-me fugir ao tópico que trouxe hoje para, com franqueza, dizer-lhe que na edição de ontem do Governo Sombra revelou tibieza na crítica à abolição das propinas. Essa proposta é, com efeito, um disparate absoluto no contexto de um Estado endividado até às orelhas como o português. Endividado agora e, muito provavelmente, endividado até aos nossos netos (se não mais além!). Bem sei que o JMT tentou dizê-lo, mas foi um pouco "meias-tintas" de mais para o meu gosto. Faltou-lhe confiança e veemência. Ora perante propostas destas é preciso não ter papas na língua e, tal como fez Luís Campos e Cunha, não ter medo de classificá-la de "estupidez sem limites". Urge desmontar a retórica intelectualmente preguiçosa da Esquerda, Marcelo & Companhia sobre o assunto.
Aónio, quando à crónica do JMT, não tenho muito a apontar. É verdade que Rui Rio tem sido um líder pouco enérgico na oposição ao governo. Ele que é um homem do rigor financeiro até podia dizer umas coisas sobre a escalada da dívida no SNS, ou até mesmo da dívida soberana (em valor absoluto). Aparece pouco na televisão. Um líder da oposição devia aparecer 2 a 3 vezes por semana, no mínimo, na televisão. Não consigo perceber bem o porquê deste torpor.
Gustavo Garcia: A propósito de Montenegro, recordo-lhe o seu artigo de 18 de Dezembro. Aconselho-o também a ler um pouco sobre o envolvimento desta figura com a Câmara de Espinho e com o seu passado e percurso para chegar até aqui. Depois pense um pouco se interessará mais ao PSD e, muito mais importante, ao país, uma figura igual a tantas outras que dirigiram o PSD ao longo dos últimos anos e pior, em conjunto com figuras semelhantes no PS, levaram o país à ruína. É isso que Montenegro representa. Quanto à actuação de Rio, está a fugir ao que seria normalmente expectável na política portuguesa. Ora, tendo em conta o resultado que essa política tem dado e que você tem constatado ainda que algo enviezadamente, isso só pode ser bom sinal. Esperemos que o aparelho do PSD não estrague tudo, como de costume.
andré, 13.01.2019: O LM deveria ter tirado o avental antes de ser tão violento e mostrado a mesma fibra do António Costa. Esperava mais um poucochinho e teria visto os resultados das europeias para fazer pandã com o amigo Costa. Mas como qualquer rato decidiu não ir a votos e agora quer decidir como o partido tem que se comportar. Se ainda não repararam LM é o populista autoritário de que todos falam e esperam que apareça.
Antonio Tome, Maia 13.01.2019: Devia ter escrito o texto mais tarde... Montenegro foi à procura de lã e saiu tosquiado! Precipitou-se meu caro!!!!!
Bartleby, 13.01.2019:  JMT descreve o que diferencia um "grande líder político" falando de "carisma", "empatia com o eleitorado", "capacidade de liderança dentro do partido", "estamina", "músculo", "capacidade de mobilizar e entusiasmar e animar aqueles que estão à sua volta". Termina essa secção dizendo: "É isto que realmente importa". É mesmo isto o que realmente importa num grande líder político? Não seriam essas expressões que poderiam, cada uma delas, no seu tempo, descrever José Sócrates? E essa história não acabou mal?
Aónio Eliphis, Algures nos pólderes da ordem de Orange! 12.01.2019: Montenegro é mais um advogado para juntar à colecção. Rogo-vos senhores, mais advogados e respectivos ardis retóricos na política, não! Mais escritórios de advocacia, negócios? Os líderes partidários tornam-se numa lista de analfabetos funcionais incompetentes que nem serviriam para trabalhar na caixa do Mcdonalds. Em Portugal passamo-los a políticos.
omariatrazcaaescada, Almada13.01.2019: Um dos melhores comentários que li nos últimos dias!
Aónio Eliphis, Algures nos pólderes da ordem de Orange! 12.01.2019: Rio ganhou democraticamente as eleições no município do Porto. É de "músculo"?! Basta olhar para a musculatura de Costa. Gosto de Rio, não é demagogo como a esquerda, nem populista como a extrema direita. Falta-lhe todavia uma linguagem mais assertiva e ácida contra a demagogia de esquerda.
bento guerra, 12.01.2019: Rio é um completo erro de "casting" , desde o principio. É um provinciano convencido, sem carisma de liderança, Um erro que o PSD tem de pagar. Só não percebo porque o Montenegro se foi queimar, Se o "diabo" não vem depressa e se convoca PPC , fica um partido menor…..


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