quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A sombra tutelar



Na ausência de uma cultura política e económica que dê estabilidade e segurança aos governos, a terem de dirigir um povo destituído de outras referências culturais que não sejam as da exigência pedinchona, no badalar das suas certezas igualitárias, com que foram e são manipulados, pelos seus dirigentes (de fictícia solidariedade e real ausência de amor pátrio), sem que responsabilidades de desempenho lhes sejam igualmente exigidas, um nome, que é tabu, serve como ponto de referência, todavia, pela nitidez superior do seu comportamento, que alguns comentadores do artigo de Helena Matos entendem apontar, mas que continua a ser de utilidade (invejosa) desprezar - ontem, porque fazia parte de uma ala progressista mais informada, seguidista dos filósofos das utopias incendiárias, que era de bom-tom conhecer, no risco - e auréola - exibicionistas, de perseguição, pelos chamados esbirros de Salazar. Hoje, contudo, que tanto se fala em nacionalismos “à direita”, por deficiência de aprofundamento filosófico, é ponto de referência constante, sobretudo em termos de apedrejamento vocabular, nas designações “fascista” ou “salazarista”. Por tal motivo, “
Os actuais protagonistas não têm discurso político nem projectos para o país, têm sim objectivos: manter-se ou chegar ao poder, através da popularidade e não da política.”, afirma Helena Matos, no reconhecimento, certamente de homenagem, por um homem cujos interesses, não de seguidismo revolucionário, mas de orientação patriótica reformista, se centraram sempre, corajosamente, na sua Nação. Por isso ele foi o alicerce maior, inspirador de ódios, sim, pela sua determinação de salvar o país, mas igualmente de invejas, por ninguém lhe chegar aos calcanhares, os objectivos dos dirigentes políticos actuais centrados essencialmente nos seus próprios interesses.

E o povo, o povo generoso e grato, talvez o mais próximo do velho líder, menos “politizado” então do que o de hoje, (de formatação sem outros valores que não sejam os do egoísmo congestionado), soube em tempos reconhecê-lo, quando elegeu Salazar a personalidade mais em destaque do nosso século XX.


Salazar /Premium
OBSERVADOR, 20/1/2019
Os actuais líderes não têm discurso, têm sim objectivos: manter-se ou chegar ao poder, através da popularidade e não da política. Logo precisam do passado e de Salazar para falarem de política.
Catarina Martins considera um insulto afirmar-se que o BE é de extrema-esquerda. Bernardino Soares invoca o mercado para justificar os valores pagos ao genro de Jerónimo de Sousa para este mudar lâmpadas (o genro é que muda as lâmpadas não o sogro que, como de costume ao ver-se questionado, lhe deu para a gritaria do anticomunismo e para os provérbios!) Manuela Ferreira Leite não quer que o PSD seja de direita.Não é tolice nem distracção. É tão só necessidade. Os actuais protagonistas não têm discurso político nem projectos para o país, têm sim objectivos: manter-se ou chegar ao poder, através da popularidade e não da política. Peçam portanto aos actuais dirigentes para dançar, pular, cozinhar, trocar de roupa em público… que tudo isso eles executam com genuíno à vontade e alegre desenvoltura, não lhes peçam é para dizer o que pensam, pois disso têm medo.
Na prática e se devidamente desembaraçado dos adereços folclóricos das causas fracturantes, o discurso de cada um poderia ser facilmente subscrito pelo outro: não é por acaso que o PSD viabiliza os projectos do PS para “combater a disparidade salarial” nas empresas privadas (note-se, privadas!) mas sim porque cada vez mais, por ideologia e necessidade de não perder votos, todos os partidos confluem, como forma de sobrevivência, na falácia “do governo que dá”, “do Estado que apoia”, “das políticas de inclusão” e “do combate às desigualdades”… com que se legitima a cobrança de mais impostos para garantir não a prestação de serviços aos cidadãos mas sim os recursos para a insaciável máquina administrativa. (Ou mais propriamente para esse partido-Estado – de que tanto falou Medina Carreira – partido-Estado esse a quem a fraqueza eleitoral de António Costa, em 2015, deu as rédeas do poder e que mesmo que os hospitais portugueses acabem como os da Venezuela não deixará outro primeiro-ministro repetir o erro de Sócrates, de fazer um pedido de ajuda externa que ponha uma qualquer troika a vistoriar-lhe as contas e os privilégios.)
Esta convergência no presente, em que os dirigentes políticos apenas discordam no calendário e nas percentagens da cobrança de impostos e não no modelo de sociedade, leva necessariamente à transformação do passado no tempo possível para a definição ideológica e faz dos mortos – como Salazar – personagens grotescamente activas da política presente. Consequentemente mal surge uma personagem que se teme possa colocar em risco este equilíbrio entre vacúolos pragmáticos somos avisados do risco de estarmos perante um novo Salazar. Toda a gente já foi Salazar: Rui Rio foi Salazar. Manuela Ferreira Leite – a mesmíssima que prefere o PSD derrotadíssimo a que digam que é de direita – foi Salazar e salazarenta. Cavaco? Um Salazar. Eanes? O Salazar ele mesmo com a agravante dos óculos à Pinochet. Freitas na encarnação 74-86? Outro Salazar. Passos Coelho? Salazar, claro. E Sá Carneiro, o Salazar que ele foi!
Por detrás do agitar do espantalho de Salazar não está o receio da instituição de uma ditadura mas tão só o receio de que alguém, à semelhança do que fez Salazar, transforme num discurso politicamente eficaz o mal estar da população e capitalize com sucesso o seu aparente desinteresse pela política. Não admira portanto que o anti-salazarismo, enquanto denominador comum a políticos que apostam na ausência de discurso, seja factor de valorização mesmo que o anti-salazarista em questão fosse, como acontecia e acontece com os comunistas, defensores de regimes bem mais opressivos que o de Salazar ou, ironia das ironias, fascistas declarados e assumidos como foi o caso de Rolão Preto.
Nem nas horas de maior orgulho (e no seu caso ele era imenso) Salazar alguma vez imaginou manter-se politicamente activo por tanto tempo.
PS. Por todo o mundo vários países tornaram-se independentes. A Checoslováquia deu lugar à República Checa e à Eslováquia. A RDA e a RFA uniram-se. Mas a Inglaterra sair da UE é impossível? Não estou a dizer que o Brexit é a melhor solução para a Inglaterra mas esta dramatização em torno da saída da UE é patética. A ideia de querer fazer da Inglaterra um exemplo de penosidade para os países que um dia coloquem a mesma hipótese, é uma ideia característica dos burocratas imperiais mas que a médio prazo vai destruir a UE.

COMENTÁRIOS
artur Olhão: Helena Matos , o seu artigo tem tanto de extraordinário como de verdadeiro
Tiago Manso: Brilhante! Obrigado
Utilizador Removido: Salazar: nasceu pobre, viveu pobre e morreu pobre, tendo tido poder como nenhum outro português no século XX e acreditava, no que toca a economia, que cada homem deveria procurar o melhor para si. Álvaro Cunhal: nasceu rico, viveu rico, morreu rico e nunca tendo tido poder estadual, acreditava que o Estado devia intervir em tudo que era privado, detendo tudo. Triste ironia do destino.
Liberal Impenitente > Utilizador Removido: Álvaro Cunhal teve total poder estadual, nunca assumido, entre 28 de Setembro de 1974 e 25 de Novembro de 1975. Em pouco mais de um ano arruinou o Estado português.
Joao MA: Excelente . A cada dia que passa a classe política valoriza e dá mérito a Salazar, pelo monte de mentiras,  vigarices, corrupção,  incompetência que caracteriza muitos partidos do regime. 
Jose Almeida: Salazar fez, fez. Um Portugal de analfabetos e de emigrantes para encher os cofres de ouro e gasta-lo em guerras estúpidas,  injustas e perdidas d'avanço. Só situacionistas podem defender tal personagem que nos pôs na cauda da Europa.
antonio mariano > Jose Almeida: Aprende a história e não venha para aqui armado em mentirosos e aldrabão como toda a esquerda. Sabes quantas escolas ele mandou fazer para minimizar a analfabetismos herdado dos xuxas? Sabes quem foi que gastou o ouro que ele cá deixou? Sabes que ainda se serve daquilo que ele fez em benefício próprio passando mentiras por verdades? Quando souberes 5% da história desses senhor que não roubou um cêntimo ao contrários desta gentalha que fica rica aos milhões, então vem para aqui dizer o que aprendestes e não mentiras esquerdalhas.
Utilizador Removido: Salazar fez muito por Portugal. Era sério e honesto, coisas que chocam a classe politica portuguesa.
Joao Silva > Utilizador Removido: Era o quê? HahahaHahahah Um criminoso que atrasou o país décadas no desenvolvimento... 
Utilizador Removido > Joao Silva: Portugal antes dele era um caos total e o país mais atrasado da Europa Ocidental. Tira essas palas marxistas.
Assunção Ribeiro: Nunca perca a coragem de pôr o dedo nas feridas, Helena Matos! Obrigada!
Nucha Neves > Parabéns, excelente artigo
Ana Ferreira: Se bem percebo um Salazar para todos os gostos, da direita à esquerda uma panaceia para justificar argumentos e camuflar discursos vazios. Duas questões porém: se à esquerda pode representar uma legítima justificação, dado as indeléveis marcas que o dito deixou a várias gerações, para a direita significa encontrar uma linha de pensamento, uma doutrina; o que leva à segunda questão, era o salazarismo uma ideologia? Como é óbvio, não, foi durante décadas um conjunto de estratagemas de um manhoso inteligente, cuja essência era um fascismo envergonhado, assente na difusão do medo que conduziu a uma mediocridade generalizada.Qual deles lava mais branco?
ANTI-POPULISTA  > Ana Ferreira: As "indeléveis marcas" em "várias gerações" foram infligidas PELA PRÓPRIA ESQUERDA, que alimenta o mito que lhe dá - A ELA - a tal "justificação"!!!
E o salazarismo era evidentemente uma ideologia, plasmada na Constituição de 1933, e nos discursos de Salazar, logo para começar no de 30 de Junho de 1930:m
É precisamente por isso que o maior problema deste país não é nem foi o Salazarismo, que era um movimento reformador e progressista, e a meu ver mais avançado do que os fascismos seus contemporâneos, precisamente por ser actual, mas MODERADO, mantendo a sua capacidade de resposta.
Isto, evidentemente, até à velhice de Salazar e aos acontecimentos sobretudo na Argélia, que precipitaram Maio de 68 e toda a tralha Marxista (ela própria de segunda geração, pois não eram os de 1917, mas os que leram sobre 1917) que se seguiu e ainda NÃO ACABOU...!!
Além disso a MEDIOCRIDADE GENERALIZADA já cá estava antes do Estado Novo e continua!
E foi CONTRA ESSA MEDIOCRIDADE (que você representa) que Salazar lutou DURANTE 36 anos!!!!


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