domingo, 20 de janeiro de 2019

Temos sempre que aprender



E a Internet é um manancial de informação, quer em questão de expoentes da nossa cultura, de cabeça e de pés, quer através das viagens pela nossa História, esta de muitos bafordos, ou seja, terrenos alagadiços, de origem germânica, segundo a Porto Editora, ou de torneios aviltantes, na pesquisa histórica de Salles da Fonseca.
Bendito Cristiano que nos leva tão longe no conhecimento, e sobretudo ao conhecimento do mundo inteiro, tal como acontecia, de resto, com Cesário Verde, este em termos evocativos, enquanto percorria as ruas de Lisboa, já Noite Fechada, como “Sentimental” que era, e propenso a melancolias e revoltas de génio:

Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
 («O Sentimento dum Ocidental, II»)

Também Salles da Fonseca, propício à curiosidade intelectual, se aventurou na pesquisa e fizemos nós o mesmo, para apreciarmos melhor o saboroso do seu espírito de investigador e crítico, claro, desembaraçado e naturalmente saudável:

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,  20.01.19
Estranhará o meu Leitor que refira este simpático personagem do futebol mundial mas faço notar que nos meus escritos cabem todos os assuntos que respeitem à nossa Nação e Ronaldo é inultrapassável nesse tema. 
E isto, apesar de eu não ligar absolutamente nada à «indústria de bafordos». 
Contudo, para se entender esta minha entrada, basta que eu refira algo tão simples como: quando nas minhas viagens por esse mundo além, me perguntam donde sou e eu respondo que de Portugal, logo referem Ronaldo com largos sorrisos e demais sinalética de evidente simpatia [1].
Então, o que hoje refiro é o espanto que se apoderou de mim quando, indo ao Google à procura de «escritores portugueses», me deparei com Cristiano Ronaldo.
Bouche bée, não desisti e cliquei nalgumas entradas que me foram apresentadas. Poderia ter ficado a saber muito sobre os golos, as namoradas, os filhos, os carros e etc. mas confesso que não o fiz. Entretanto, não encontrei a mais pequena referência a uma só linha que o nosso (sim, ele é nosso, português) simpático e importante atleta alguma vez tenha escrito.
Admito que a minha busca possa não ter sido exaustiva mas, compreenderá o Leitor, a expectativa comum sobre Ronaldo não é no campo da literatura e é, sim, no do futebol. Vai daí, desisti.
Conclusão: o Google não é infalível – até prova em contrário.

[1] - Há uns quantos anos, o personagem logo referido em circunstâncias semelhantes era Luís Figo, donde vem a simpatia que por ele continuo a nutrir
UM COMENTÁRIO:
 Anónimo  20.01.2019:  Escreveu sim... alguma coisa. Pelo menos assinou uma boa porção de contratos, e... bota boa nisso!

Mais notas:

SIGNIFICADO DE BAFORDO:
- Inexistente no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa (VERBO)

- Dicionário da Língua Portuguesa (7ª Edição) da PORTO EDITORA:
 Sapal; terreno alagadiço (do germânico bihurdan, entaipar)

- Dicionário online de Português:
substantivo masculino[Portugal] Azeitona atrophiada, que atinge apenas o tamanho de um confeito.T. da Bairrada. Bagos miúdos de uva. Etimologia (origem da palavra bafordo). Do castelhano do antigo bofordo.

E mais um texto da Internet (de Salles da Fonseca):
 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,  18.05.10
Do Dicionário Torrinha, edição de 1947, extraio que baforda é o nome atribuído a uma espécie de lança podendo também significar injúria. Não lhe conheço a etimologia mas confesso que, para meu gosto, é das palavras portuguesas foneticamente mais feias de que me lembro.
E de significado em significado, lá fiquei também a saber que bafordo era o nome por que eram conhecidos os torneios medievais no norte de Portugal, na Galiza, em Leão, etc. A esta palavra já lhe podemos reconhecer a etimologia mas não é pelo facto de mudar de género que deixa de ser do mais feio que aos meus ouvidos alguma vez soou na nossa doce língua.

Ambas soam a insulto. E dos piores! Mais ainda que hipotenusa.

E quando em 1140 os Exércitos de Afonso Henriques e de seu primo Afonso VII de Leão e Castela se encontraram em Valdevez para decidirem da vassalagem que deveria ou não ser prestada pelo português ao castelhano, conseguiram os eclesiásticos diplomatas em presença convencer os monarcas de que a Decisão Divina poderia ser a causa de um bafordo que substituísse batalha laica, desgastante e por certo aviltante para uma das partes.

Bafordo de Valdevez
Assim se fez e o resultado foi divinamente favorável a Portugal cujo Exército era bem menor que o seu contrário. Ficou Afonso Henriques dispensado de vassalagem e terá sido então que Afonso VII decidiu pôr fim ao uso do título de Imperador. E essa decisão terá sido de tal modo convicta que por morte deixou o Reino de Castela a seu filho primogénito Sancho – que viria a ser o III desse nome – e o Reino de Leão a seu filho Fernando, o II desse nome.
Mais: passados anos o Rei de Leão reconheceu ao Rei de Portugal a nobreza e o estatuto suficientes para tomar a sua filha Urraca em casamento.
Não terá sido por uma questão fonética que Fernando II rejeitou Urraca dando o casamento por findo mas sim porque o Papa assim o determinou com base no argumento de que eram parentes muito próximos (filhos de dois primos direitos) apesar de já terem um filho que viria a ser Rei de Leão com o nome de Afonso IX, o Baboso – lindo cognome…
Teias duma Nação nascente, a portuguesa.
Maio de 2010


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