segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Outras esferas educacionais



Reino Unido – Japão: Comportamentos a considerar, no Continente Europeu? C’est là où le bât nous blesse? Pois! O busílis da questão. Uma parte, pelo menos, que tem a ver com radicalismos ou fanatismos opressores, quem sabe?
I – BREXIT:  Um ‘Ovni’ britânico? Chama-se democracia… /premium
JOÃO CARLOS ESPADA OBSERVADOR, 21/1/2019
No debate britânico, não há violência nas ruas, nem ‘coletes amarelos’. Tudo tem ocorrido ordeiramente no Parlamento — a mãe de todos os Parlamentos, desde pelo menos a Magna Carta de 1215.
Tem sido alvo de grande sarcasmo a sucessão de episódios e votações contraditórias no Parlamento britânico na semana passada. Comentadores dos mais variados quadrantes políticos concorrem entre si na nova grande competição politicamente correcta: quem consegue ridicularizar mais o que se está a passar no Reino Unido? Quem consegue sublinhar mais as ‘terríveis consequências’ da decisão britânica de sair da União Europeia?
Talvez um ténue conhecimento da história política europeia e das ilhas britânicas pudesse ao menos gerar um prudente cepticismo face ao que se está a passar no Reino Unido. E, já agora, uma prudente curiosidade comparativa com o que se está a passar na maior parte dos países da União Europeia continental.
Primeiro aviso de prudência:  no debate britânico, não há violência nas ruas, nem ‘coletes amarelos’. Tudo tem ocorrido ordeiramente no Parlamento — a mãe de todos os Parlamentos, desde pelo menos a Magna Carta de 1215, cuja soberania foi reafirmada pela relutante revolução conservadora-liberal de 1688 (a mais recente revolução ocorrida nas ilhas britânicas).
Segundo aviso de prudência:  não há nenhum ‘partido populista’ a protagonizar o debate britânico. A grande divisão de opiniões e votações tem ocorrido sobretudo no seio do mais antigo partido parlamentar britânico — o Partido Conservador. Certamente por acaso (dirão os comentadores continentais), é também o mais antigo partido da Europa, do Ocidente e, consequentemente, do mundo (que me perdoem os defensores politicamente correctos da originalidade do Terceiro Mundo).
Terceiro aviso de prudência:  em contrapartida, na maior parte dos países da Europa continental, os partidos clássicos (ainda que comparativamente recentes, por padrões britânicos) estão a desaparecer e a ser substituídos por novos partidos — sem memórias comuns, sem tradições, sem referências ancestrais. O que eles defendem realmente ninguém sabe ao certo. E ninguém pode seguramente saber, precisamente porque eles são recém-criados, são tendencialmente revolucionários (da esquerda ou da direita), e não têm tradições.
Isto leva muitos analistas continentais a avaliar o eurocepticismo britânico pelos padrões revolucionários continentais. Dizem que o ‘Brexit’ é fundado no proteccionismo, na xenofobia e no ‘fechamento’ intelectual — características que em parte podem ser atribuídas aos novos partidos (designados de populistas) na Europa continental.
Nunca fui defensor do ‘Brexit’ (porque acho que o Reino Unido faz muita falta à União Europeia), mas também nunca acreditei nessas fábulas continentais contra os ‘brexiteers’ britânicos. Quem acompanhou a campanha do referendo no Reino Unido, sabe muito bem que a campanha pelo ‘Brexit’ foi fundamentalmente sustentada nos princípios da soberania do Parlamento nacional e da chamada ‘Global Britain’ — capaz de soberanamente praticar comércio livre com o resto do mundo, não apenas com a União Europeia. Eram, basicamente, os princípios defendidos pelo europeísmo céptico de Margaret Thatcher.
Parece ser um facto, no entanto, que há pelo menos um ponto comum entre os ‘brexiteers’ britânicos e os novos partidos eurocépticos (chamados de populistas ou nacionalistas) continentais. Poderíamos designar esse ponto comum como ‘orgulho nacional’ ou ‘sentimento nacional’. Todos eles parecem querer sublinhar a soberania nacional em contraposição a um entendimento supranacional da União Europeia.
Quarto aviso de prudência:  a hostilidade contra o sentimento nacional é uma inovação gerada por um entendimento particular (a meu ver sectário) do projecto europeu. Mais Europa’ (no sentido de mais integração supranacional) tornou-se o dogma comum de um certo tipo de alegados defensores do projecto europeu. Trata-se de uma ilusória utopia dogmática, com raízes na especificidade dogmática do Iluminismo continental.
Em boa parte, foi o dogmatismo supranacional que empurrou os britânicos para o ‘Brexit’. Em grande parte, é o dogmatismo supranacional que está a empurrar os eleitores continentais para os novos partidos ditos populistas. Aos olhos do vanguardismo supranacional, o debate britânico no Parlamento parece um ‘Ovni’ (objecto voador não identificado) incompreensível. Mas o ‘Ovni’ tem um nome que o vanguardismo supranacional tem dificuldade em identificar: chama-se democracia…
II - JAPÃO: Pegar o touro pelos cornos
JOSÉ MIGUEL PINTO DOS SANTOS     OBSERVADOR, 18/1/2019
Não deixa de ser irónico que as potências por detrás da intransigência doutrinária da Comissão Baleeira Internacional sejam as mesmas que, no século 19, exigiram ao Japão que lhes abrisse os portos...
Foi recentemente noticiado (aqui) que o governo japonês decidiu pegar o touro pelos cornos, isto é, face à intransigência da Comissão Baleeira Internacional na recusa da possibilidade de coexistência da actividade baleeira comercial com as actividades de conservação, o país decidiu, finalmente, abandonar a dita Comissão. Não se espera que a actividade baleeira nipónica, que será limitada à zona económica exclusiva do país, venha ter qualquer impacto negativo na conservação das espécies cuja captura passa a ser permitida. Esta medida é, no entanto, importante do ponto de vista civilizacional, na medida que é a recaptura de direitos ancestrais por um povo insular que, desde que há memória, sempre caçou a baleia, direitos esses que lhe vinham sendo negados desde 1986 por uma pequena camarilha de radicais e eco terroristas coadjuvados por uma ainda mais minúscula clique de burocratas incrustados em organizações internacionais e imbuídos de uma mentalidade neocolonialista retrógrada e obscurantista.
Embora a tradição japonesa seja muito antiga e rica em narrativas acerca de baleias, tubarões, sakanas [nota 1] e outros entes aquáticos e bichos costeiros, a seguinte narrativa publicada por um anónimo do século 19 ilustra bem os perigos de tentar pegar uma flor pelos espinhos (o floricídio é agora desavergonhadamente promovido pelos defensores das cobras e lagartos [nota 2]) e as vantagens de se usar papel de alumínio no seu manuseio.
“De entre todos os juristas da Nação e por todo o número dos magistrados do Império, nenhum ganhou tanta fama – no domínio da minúcia de processo e de precedente, de argúcia na investigação e no interrogatório, na dispensa de clemência para com os arrependidos, de compaixão para com os ludibriados e despojados dos seus direitos, de severidade para com os malfeitores empedernidos, de sabedoria no julgamento e bondade na decisão –, do que Ōoka Echizen no Kami Tadasuke [1677—1752], aquele que viria a ser o mais famoso Machi Bugyō, da cidade de Edo, de que há memória. Nunca se recusou a ouvir nenhum caso, por mais estranho ou trivial ou difícil que pudesse parecer, nem nunca deixou de punir o crime e o vício e a mentira nem de recompensar a bondade e a virtude e a veracidade. Mesmo antes de se tornar magistrado na capital xogunal, fez alguns julgamentos que marcaram a história judicial do Império. O seu primeiro caso ocorreu pouco depois de se ter tornado bugyō, isto é, magistrado, de Yamada, em Ise.
         (…..)
 (O autor não segue a grafia do novo Acordo Ortográfico. Nem a do antigo. Escreve como lhe apetece.)
[nota 1]  Sakana . 1. Peixe. 2. Quem age com esperteza ou malandrice. 3. Político, especialmente da espécie que tem por habitat natural as regiões ocidentais da Península Ibérica (sakana lusitanae) e que substituiu o piolho (pediculus capitis) na estima das populações.  [nota 2]  Uma recente campanha de conspurcação ideológica da linguagem (noticiada aqui), promovendo o ódio anti-floral, demonstra bem os preconceitos e a sanha selvanária que alguns animais nutrem contra esses seres sensíveis, belos e pacíficos que são as flores (e as plantas em geral).  Espera-se que surja em breve, no nosso país, um movimento da defesa da flora que pugne pela abolição imediata desses antros de opressão e morte que são as floristas e os campos de pasto: que qualquer vaca apanhada em flagrante a comer erva (i.e., pelo crime de herbicídio) seja morta e esquadrejada (e vendida para bifes! — enquanto o sushi de baleia não chega às nossas casas de pasto).

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