Livro sobre Leonardo Bernstein, de Barry Seldes que Salles da Fonseca apresenta,
cuidadosamente, como leitura de interesse, e que, por ter assumido um tom de
crítica política, me fez procurar na Internet dados sobre Bernstein, escutando igualmente concertos seus no YouTube. Para lá de
ter composto as inesquecíveis músicas do musical West Side Story, li, nas
minhas pesquisas, que também compôs para “Há
Lodo no Cais”, filme marcante para mim, naqueles anos de Lourenço Marques,
como igualmente o seria “West Side Story”, que revi cá.
Mas são dados do envolvimento
político que refere Salles da Fonseca,
e fui igualmente pesquisar na sacrossanta Internet, esteio dos leigos, e o que
li não traduz a mesma visão negativa que se colhe, ao que parece, da leitura do
livro de Barry Seldes. Pelo contrário, o seu pensamento de esquerda
pareceu-me muito moderado, razão por que transcrevo igualmente da Internet um
texto sobre a sua orientação ideológica, que aqui aparece como perfeitamente
justa e equilibrada. Fiquei sem entender a zanga de Salles da Fonseca.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 23.01.19
Título – LEONARD BERNSTEIN
Autor – Barry Seldes
Editora – Bizâncio
Edição – 1ª, Outubro de 2010
* * *
1 - Conceitos relevantes (que
fui buscar à Wikipédia) para se perceber um dos tipos de questões que
interessavam a Bernstein:
Música tonal - é toda a música que apresenta
uma tonalidade definida, ou seja, uma hierarquia entre as notas utilizadas,
girando em torno de uma principal;
Música atonal - é a música desprovida de um
centro tonal, ou principal, não tendo, portanto, uma tonalidade preponderante;
Dodecafonismo - as 12 notas da escala cromática
são tratadas como equivalentes, ou seja, sujeitas a uma relação ordenada e não
hierárquica. As notas são organizadas em grupos de doze notas denominados
séries as quais podem ser usadas de quatro diferentes maneiras; 1) série
original, 2) série retrógrada (a série original tocada de trás para a frente),
3) série invertida (a série original com os intervalos invertidos) e 4)
retrógrado da inversão (a série invertida tocada de trás para a frente). - Todo
o material utilizado numa composição dodecafónica, seja melódico (estruturas
horizontais) ou harmónico (estruturas verticais), deve ter origem na série.
2
- Mas ele interessava-se também por outros tipos de assuntos. Por exemplo,
pela política. E, neste aspecto, foi para mim uma surpresa ao ficar a sabê-lo
da esquerda mais activa nos EUA, a ponto de em tempos ter pertencido ao Partido
Comunista da América – o que conseguiu encobrir nas várias investigações de que
foi alvo ao longo da vida pelas autoridades da segurança interna, nomeadamente
o FBI e comissões constituídas nos tempos da «caça às bruxas» de McArthur.
Nesta matéria, aliás, o livro é muito detalhado pois parece que o
respectivo Autor, Barry Seldes, se não é militante dessas bandas, imita muito
bem, tal a militância que ele próprio exala ao longo de toda a obra.
Contudo,
musicalmente, Bernstein era conservador pois sempre alinhou pela música tonal e
guerreou a atonalidade dos compositores mais reactivos contra Hitler, Mussolini
e outros ditadores que tais. Mais: defendia a tese de que a música tonal,
melodiosa e harmónica, é natural no ser humano e que a atonal só se percebe
como reacção contra situações que se pretende denunciar.
Nós, leigos, conhecemos o West
Side Story como a sua obra mais importante mas, afinal, ele tem outras
que passaram com maior ou menor êxito pela Broadway e por diversas salas de
concerto nas Américas e na Europa. Mas
ficou por criar aquela «obra maior» que ele tanto tentou compor e nunca
conseguiu. Porquê? Porque «quem
muitos burrinhos toca, algum fica para trás». Actividade política por paixão
(a causa israelita também o ocupou muito) e regência de orquestras por vocação
e necessidades monetárias, não lhe deixaram tempo para a composição mais
profunda e ficou-se por obras que ele próprio acabou por considerar menores.
Enfim, um personagem controverso em muitos aspectos da vida – a
que o livro se refere amiúde - só recebendo louvores unânimes na divulgação
musical e no brilhantismo das suas interpretações.
Para mim, reconheço com
tristeza, foi um ícone que se desequilibrou do pedestal e quase caiu.
II - As minhas pesquisas na Internet:
1 - VIVA LEONARDO BERNSTEIN
JOÃO LOPES
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 25 Agosto 2018
Da sinfonia à ópera, da televisão ao cinema, Leonard Bernstein é uma
figura tutelar da música do século XX - nasceu no dia 25 de agosto de 1918, faz
este sábado 100 anos
De
que falamos quando falamos de Leonard Bernstein? Neste dia em que celebramos o
seu centenário - nasceu a 15 de agosto de 1918, em Lawrence, Massachusetts -,
valerá a pena recordar, antes do mais, a sua dimensão de pedagogo. Ele é,
afinal, a figura carismática dos "Concertos para Jovens", realizados
no Lincoln Center, em Nova Iorque, emitidos pela CBS no período 1958-1972 (e
matéria de aprendizagem e fascínio para muitos adolescentes de todo o mundo,
incluindo Portugal, através da RTP). Eis um exemplo: primeira parte do programa
emitido a 6 de Novembro de 1964, dedicado às sonatas.
A
condição de maestro (sem esquecer os seus dotes de pianista) será, sem dúvida,
um elemento essencial para enquadrar a pluralidade do seu próprio trabalho
enquanto compositor. Falecido em 1990, contava 72 anos, Bernstein deixou, de
facto, uma obra imensa em que coexistem as matrizes mais
"tradicionais" como a sinfonia, a ópera ou o bailado, a par de
admiráveis "desvios" pelo teatro da Broadway ou as bandas sonoras
cinematográficas (site
oficial).
No
domínio operático, Candide,
inspirado na personagem de Voltaire, será, por certo, uma das suas composições
mais famosas (a sátira filosófica de Voltaire, celebrando o prazer utópico
do conhecimento face às atribulações do mundo real, foi publicada em 1759).
Depois da estreia, em 1956, o libretto foi várias vezes revisto, tal como a
música, tendo Bernstein estabelecido a "versão final" em 1989. Num
registo desse ano, eis a abertura, com o autor a dirigir a London Sympnhony
Orchestra. (*)
A
sua relação com o cinema nem sempre será tão lembrada, quanto mais não seja
pelo reduzido número de filmes em que esteve envolvido. Não mais de três, na
verdade. No primeiro, Um Dia em
Nova Iorque (1949), de Stanley
Donen e Gene Kelly, foram usados apenas alguns dos seus temas, originalmente
compostos para o musical On the Town, estreado na Broadway em 1944. Os dois outros são clássicos absolutos: Há Lodo no
Cais (1954), de Elia
Kazan, e West Side
Story (1961), de Robert
Wise e Jerome Robbins. Eis uma cena emblemática de Há Lodo no Cais, com a
música de Bernstein a envolver Marlon Brando e Eva Marie Saint. (*)
West
Side Story persiste
como uma referência incontornável na história do género musical, sendo mesmo
por vezes encarado como uma espécie de "ponto final" na idade de ouro
do género. De um ponto de vista simbólico, a sua actualidade é tanto maior
quanto nele se celebra uma América capaz de integrar os contrastes e
contradições de uma população de muitas origens geográficas e culturais -
por alguma razão, Steven Spielberg está a trabalhar num "remake" de
West Side Story (ainda sem data de lançamento). Celebrando Bernstein e
as muitas maravilhas da sua herança artística, vale a pena revermos a cena da
canção "America", além do mais um pequeno prodígio coreográfico.
Anotações:
a)-
Uma experiência arrebatadora com um dos
filmes mais icónicos da história do cinema, vencedor de oito Óscares da
Academia incluindo o de Melhor Filme. A Orquestra Sinfónica toca ao vivo a
electrizante partitura de Leonard Bernstein, acompanhando a projecção do filme
no grande ecrã, numa nova masterização em alta definição com os diálogos
originais intactos. A tragédia romântica On The Waterfront (Há Lodo no Cais),
um clássico intemporal realizado por Elia Kazan com argumento de Budd
Schulberg e produção de Sam Spiegel, conta com as participações memoráveis de
Marlon Brando, Karl Malden, Lee J. Cobb, Rod Steiger, Pat Henning e Eva Marie
Saint – naquele que foi o seu primeiro papel cinematográfico – e uma magnífica
banda sonora que permanece
no repertório das orquestras sinfónicas de todo o mundo.
b) - West Side Story é um musical (dirigido
por Robert Wise).com libreto Arthur Laurents, música de Leonard Bernstein e letras de Stephen Sondheim. É inspirado por Romeu
e Julieta de William Shakespeare.
2 – Envolvimento político:
Alguns dos aspectos importantes
apresentados por Bernstein:
Critica a doutrina do materialismo
histórico ao
considerar que há outros factores para além dos económicos que determinam os
fenómenos sociais.
Critica as teses dialécticas por não conseguirem explicar todas as mudanças
em organismos complexos, como as sociedades humanas.
Coloca
também em causa as
"leis" da inevitabilidade da concentração capitalista e do
empobrecimento crescente do proletariado (aliás,
provou com estatísticas que a situação económica do proletariado e o seu poder
de compra vinham a melhorar, bem como começava a haver trabalhadores a
tornarem-se proprietários aumentando assim a classe média).
Portanto,
ataca a ideia da inevitabilidade histórica do socialismo por motivos económicos: o
socialismo chegaria mais tarde ou mais cedo, sim, mas por motivos morais, por
ser o sistema político mais justo e solidário.
E
critica a ideia da existência de apenas duas classes sociais,
uma opressora e uma oprimida, reivindicando a existência de várias classes
interligadas e de um interesse nacional superior.
Em
alternativa às teses
marxistas que
criticava,
Bernstein defendia a melhoria gradual e constante das condições de vida
dos trabalhadores (dar-lhes meios para ascender à classe média), tinha dúvidas
quanto à necessidade de nacionalizações em
massa de empresas e recusava a via da violência revolucionária para atingir o socialismo
(como o socialismo era inevitável por motivos morais, não era necessário
derramar sangue por ele − acabaria por chegar um dia).
Criticas recebidas
Foi
o principal teórico marxista combatido pelos socialistas revolucionários, com
Rosa Luxemburgo que condenou o Socialismo Evolutivo de Bernstein em
seu ensaio Reforma ou Revolução? publicado em 1900. Na
prática, a força da corrente reformista continuou a ter grande
penetração nos grandes movimentos organizados.
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