Um discurso às pinguinhas, nos
altos e baixos de um pensamento flutuante e indomável, traduzindo saber,
experiência e uma originalidade de arguta concisão, que não se alargando em pesados
descritivos de “Caracteres”, como tantos seus predecessores, transmite um
conhecimento humanista sem ilusão. Nem carne nem peixe, contudo, que não está para
tomar posições extremistas, numa verrina ligeira à vol d’oiseau, batendo e fugindo, sem compromissos, numa
clarividência bonacheirona, ao capricho das suas “boutades” que o pessimismo acompanha.
Seja como for, o nosso regozijo pelo seu
retorno, de quem o julgava, tristemente, para sempre desaparecido.
OPINIÃO
Diário
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO,
Telefonema de Marcelo para Cristina
Ferreira. Não me admira: são cortesias de colegas. Quando sair de Belém o
destino natural deste Presidente do Povo é um programa da manhã.
12 de Janeiro de 2019, 6:35
3 de Janeiro
Banalidades de Marcelo no discurso de Ano Novo, mas toda a gente em
êxtase a ver se a popularidade dele se lhe pega. Não pega. Nestas coisas, a
esquerda chega a ser patética: o Público até lhe chamou “revolucionário”. O mesmo Marcelo
foi à inauguração de Bolsonaro, para mais um exercício da falsa fraternidade luso-brasileira. Ao pé do outro pareceu-me velho
e caduco. De qualquer maneira, gostei de o ver; porta-se nestas cerimónias com
o à vontade de um ministro de Salazar.
4 de Janeiro
Pensamentos de um comentador
desportivo sobre o despedimento do treinador do Benfica: “Não se pode ser
boa pessoa e ser bom treinador”; “Em qualquer profissão é preciso, para subir,
pôr os pés nos ombros dos rivais”.
5 de Janeiro
A esquerda continua a insistir
que não se pode banalizar o mal. Seja o mal Trump, Bolsonaro, Visegrado,
Salvini, ou um pequeno criminoso político português. Isto parece inócuo mas não é. É
igual ao enorme saco do anti-fascismo, que Estaline inventou e que produziu
algumas das maiores tragédias políticas dos anos 30 aos anos 50, e em Portugal
até aos anos 70, PREC incluído. Depois
de todas as confissões, revelações e autocríticas, suspeito que à socapa se
está a voltar aos truques do costume com os argumentos do costume. O
ministro João Cravinho não aprendeu nada com o pai.
.
Fala-se por aí de mais um grupo
anti Costa, denominado Movimento “Europa e Liberdade”. Vai-se ver os nomes e, ao princípio, a coisa até
nem cheira mal. Infelizmente, quase no fim, vêm à tona o “sector da energia” e
o nosso querido amigo Daniel Proença de Carvalho. Nem com pinças.
7 de Janeiro
Telefonema de Marcelo para Cristina
Ferreira. Não me admira: são cortesias de colegas. Quando sair de Belém o
destino natural deste Presidente do Povo é um programa da manhã.
Um manifesto, assinado por umas
dezenas de associações e à volta de 250 “personalidades” – “O racismo e o fascismo não passarão!”. Não se
percebe este frenesim, que se comunicou ao Presidente da República e produziu
um apelo aos portugueses para não serem intolerantes nem radicais.
Quem acha que Portugal é uma
sociedade racista não sabe o que é uma sociedade racista. E quem acha que o
país de repente está perto do fascismo – coisa que nem durante a ditadura
esteve – endoideceu. Quanto à intolerância e ao radicalismo, que
verdadeiramente só existiram durante o PREC, não consigo imaginar onde Marcelo
os vê. Espero que ele não se referisse às greves do fim do ano. As nossas
greves são, e sempre foram, um exemplo de moderação.
Posto isto, não é difícil
perceber a origem do excesso de zelo, que por aí anda. A Europa quer alistar os
portugueses na campanha pela União e contra o populismo (seja o que for que se
entende por isso). Compete aos portugueses decidir se querem entrar em querelas
que não lhes dizem respeito.
8 de Janeiro
Suponham que Trump nunca pensou
em construir o muro (que, de resto, é obviamente uma metáfora), e está
a desafiar o Congresso para os americanos
se convencerem que os democratas o impediram de construir o muro.
9 de Janeiro
Uma discussão hipócrita
sobre a abolição das propinas.
Para abolir as propinas basta uma assinatura; para construir residências e
restaurantes universitários é preciso uma política.
10 de Janeiro
A que propósito a RTP
transmite em directo, ou tentou transmitir, as cerimónias de posse de um
ditador demente como Nicolás Maduro? Maduro não é populista?
11 de Janeiro
Luís Montenegro e Miguel
Morgado, mais dois que se tomam por Sá Carneiro. Quando deviam falar,
não falaram; e agora que não deviam falar, não conseguiram ficar calados. É
transparente que as listas de candidatos para o parlamento europeu e para a
Assembleia da República é aquilo que do coração os move.
A dra. Manuela Ferreira Leite
também veio proclamar ao povo que não era de direita.
Sempre a achei um bocado desorientada.
Colunista
COMENTÁRIOS
AA...Para a mentira ser segura ... tem que ter
qualquer coisa de verdade, Portugal : As crónicas
de VPV são sempre irreverentes. Sem tomar partido por ninguém, apenas pela sua
consciência, malha na esquerda e na direita como poucos. Com humor, escrita
escorreita e até chega a ser bastante brincalhão. Que ande por aqui durante
muitos e bons anos.
Bertold. Lisbon : Para os críticos, VPV falha por não
pensar exactamente como eles. Por não ter a mesma visão da história, dos
políticos, da situação, etc. Mas tudo está em "pensar", e não em
"pensar como"...
Espectro, Matosinhos : Já começo a
sentir saudades do Vasco Pulido Valente! Confesso que, dada a sua ausência tão
prolongada, até já lhe tinha rezado pela alminha, mas ainda bem que ainda anda
por aí. O Vasco é uma azeitona azeda, sempre recusou ser adocicado, mas é das
azedas que eu gosto. LOL
nelsonfari, Portela-Loures: Não subscrevo o
quadro teórico de referência do articulista mas admiro a sua escrita. Simples,
concisa, equilibrada e bem "no osso". Um exemplo para os outros
articulistas deste jornal. Também subscrevo o que diz do Presidente dos
Afectos. Sou um leitor antigo de VPV desde "O Poder e o Povo".
José Ferreira Barroca Monteiro, Lisboa: Um 'oráculo'
que o poder fazia bem em ouvir. 'Inconveniente' por ser independente e culto,
não lhes agrada.
Bertold, Lisbon : Bela lucidez, boa escrita. É de
agradecer... Venham mais dias e mais diários.
moco: Todos os dias são bons, mas
o comentário do dia 8 de Janeiro leva a palma. Parabéns!
Nenhum comentário:
Postar um comentário