João Miguel Tavares que me desculpe, pois sinto simpatia por ele,
pela visão honesta dos casos que põe na mesa, num discurso desempoeirado e
directo, sem artifícios de estilo, mas correcto na informação, embora por vezes
periclitante na intenção, (quando se cola aos amigos ou inimigos da esquerda,
em natural constatação, talvez, de que por vezes estes também acertam, porque
erro e acerto são ambos pertença dos humanos). Não, não o condeno a ele, jovem
que é, e ambicioso que deve ser, sentindo-se honrado com a proposta do Sr.
Presidente. Qualquer um se sentiria, mesmo os que tão virulentamente o
condenam. Acho mais condenável a leviandade do PR, de minimizar o Dia de
Camões - efeméride contendo um sentido patriótico, como representativa da Nação - entregando a pasta da sua
representatividade a um jovem mais conhecido pela subjectividade dos seus
discursos de cunho agressivo, pese embora a honradez de um pensamento ético.
Mas o Dia 10 de Junho tem a marca de Camões, pesada e solene demais para uma
juventude airosa, conquanto digna. Estamos habituados, nesse dia, aos discursos
que sejam lição glorificadora, e por isso estranhamos a sua escolha, como ele
próprio, de resto, estranhou.
Pior do que a sua falta de
humildade em aceitar esse encargo, contudo, por muito que se esforce por
brilhar nele – e acredito na sua capacidade – é, sim, a bofetada nas
convenções, de Marcelo Rebelo de Sousa,
que, desrespeitando valores e capacidades mais adequadas a um acto tão solene,
desrespeita o seu país e os seus concidadãos, numa atitude frívola e
provocatória a merecer condenação. Infelizmente, não inesperada, num homem de
discursos inócuos e de exibicionismo fácil, em manifestações afectivas pouco
convincentes.
Não admira, de resto, o gesto
soez. Portugal há muito que perdeu o apodo que lhe imprimiu Camões, o seu cantor, há muito que a “ditosa
Pátria que tal filho teve» deixou
de ter significado que preste.
Mas espero que João Miguel Tavares
se esmere, a provar o contrário.
A crónica de Liliana Borges:
João Miguel Tavares no Dia de Portugal
gera críticas: "Há uma diluição da importância das personalidades"
Escolha de João Miguel Tavares para
presidir a comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal provocou
uma chuva de críticas. Entre antigos governantes e deputados, vários políticos
condenaram a escolha do Presidente da República.
PÚBLICO, 26 DE JANEIRO DE 2019
Mais
ou menos tímidas, as críticas ao convite feito por Marcelo Rebelo de Sousa ao
jornalista e colunista João Miguel Tavares multiplicaram-se assim que se soube
da escolha do Presidente da República. A selecção de João Miguel Tavares
para presidir à comissão organizadora das comemorações do Dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas surpreendeu várias personalidades —
incluindo o próprio, como admite em entrevista ao PÚBLICO.
Com um perfil distante do historial
de escolhas para a função, João Miguel Tavares
— presença assídua na esfera mediática — suscitou vários tipos
de reacções negativas. As críticas chegam especialmente da esquerda,
quer através de bancadas parlamentares quer por parte de antigos membros
do Governo, como é o caso do historiador
Rui Vieira Nery e da pianista Gabriela Canavilhas, que tiveram responsabilidades na pasta de
Cultura-
A
estrutura das críticas repete-se: os comentários começam por listar alguns dos
nomes de anteriores presidentes da comissão do 10 de Junho — pessoas
com mais idade, com intervenções menos polémicos e que tinham currículo
político ou académico — para logo se lamentar a escolha do jornalista,
de forma mais ou menos directa.
“Ao ler a
notícia, fiquei furioso com o PÚBLICO, porque achei indecente que
tivessem mudado de dia da semana para a publicação do Inimigo Público”, ironiza
o diplomata Francisco Seixas da Costa sobre a escolha do colunista
que integra também o espaço de comentário semanal do programa Governo
Sombra, na TVI. “Ainda hoje não perdi a esperança que fosse só isso”, afirmou
ao PÚBLICO o antigo embaixador português.
Também a
antiga ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, recorreu à
ironia. “Vivemos tempos em que o autor da coluna que conhecemos é
catapultado para o mesmo nível de António Barreto, Sobrinho Simões, Sampaio da
Nóvoa, Elvira Fortunato, Silva Peneda”, resume. “Depois de 2019, qualquer um
pode ser presidente das comemorações. Basta aparecer na TV. Talvez em 2020 seja
a Cristina Ferreira”, atira.
Em
conversa com o PÚBLICO, a antiga deputada socialista explica as
críticas ao que considera uma nomeação baseada no mediatismo do colunista.
Com a escolha de João Miguel Tavares “há uma diluição da importância das
personalidades nos actos públicos”, condena a antiga ministra da Cultura,
contactada pelo PÚBLICO. Gabriela Canavilhas, que no último ano foi nomeada
curadora da FLAD — Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento pelo
primeiro-ministro António Costa, considera que a nomeação reflecte a
“desconsideração de valores que noutros tempos se valorizavam”.
A
importância do trajecto intelectual, da preponderância, do trajecto individual,
da intervenção académica e do trabalho científico são desvalorizados em função
de mediatismo.
Para
Canavilhas, a estratégia de Marcelo Rebelo de Sousa reflecte “sobretudo uma
abordagem popular”, que não se reduz à mais recente escolha do Presidente da
República. “Este é apenas um exemplo”, lamenta Gabriela Canavilhas, que diz
assistir a essa metamorfose “com preocupação”.
A
crítica mais extensa é a de Rui Vieira Nery, secretário de Estado da Cultura
durante o primeiro Governo de António Guterres. “O que me perturba nesta
escolha não é, obviamente, o princípio genérico do rejuvenescimento do perfil
do orador”, começa por justificar num longo texto partilhado no seu Facebook.
O
musicólogo queixa-se “de uma desvalorização do estudo aprofundado e da reflexão
fundamentada sobre as questões cruciais da nossa vida colectiva contemporânea”
e do “amadurecimento através de uma obra longa e consistente, muitas vezes
longe da ribalta e sem resultados visíveis imediatos”. Rui Vieira Nery critica ainda a “tendência
perigosíssima dos nossos tempos de relegar a criação artística e literária de
ponta ou a investigação científica especializada, em todos os campos, para uma
remota prateleira académica, negando-lhe a relevância fundamental”, dando
exemplo de várias alternativas que teriam sido, na sua perspectiva, escolhas
mais adequadas.
Do
lado dos bloquistas e dos comunistas também houve farpas. Na sua página de Facebook, José Manuel Pureza,
deputado do Bloco de Esquerda, partilhou a notícia nestes termos: “Não faço
nenhum comentário. Não é preciso”, sintetizou, escusando-se a acrescentar
declarações. Já o antigo dirigente do PCP, Vítor Dias, recorreu ao seu blogue para propor um
negócio ao Presidente da República “Ditosa Pátria, valeroso Presidente, troco
um quilo de afectos por 100 gramas de respeito”.
COMENTÁRIOS:
Luís Furtado: 28.01.2019 É só tomar o peso da recente opinião
incendiária de JMT "Os bairros da Jamaica deveriam visitar mais vezes as
Avenidas Finas" para ter a noção de que este senhor é, pelo menos,
francamente polémico. Até porque JMT arriscava-se a cair no ridículo, pela
hipótese de vir a público, numa dessas manifestações, o paradoxo de alguns
bairros camarários: É que algumas dessas pessoas, aliás auto excluídas, iriam
às tais 'visitas' nos seus BMW e até Porsche. Nos bairros não há só ligações
directas de água e luz por tudo quanto é prédio. Tampouco passes sociais 'pró
bochecho'...
Joao Vieira de Sousa, Cruz
Quebrada Dafundo 26.01.2019: Quem não é fanático da esquerda, será sempre
criticado, pelos "pensadores" dessa área, que se diz muito democrata,
os de direita são todos fascistas, mas não toleram quem põe em causa certas
atitudes da esquerda. Fazem-me lembrar um vigarista que conheci e que queria o
filho como advogado, para o proteger e ajudar nas trafulhices, dizia ele:
"o meu filho se for para advogado, pode escolher o que quiser" É o
que se passa em Portugal, desde que seja para falar bem da esquerda, podemos
dizer o que quisermos. No tempo da outra senhora, se não falasses contra a
política Nacional, também podias falar à vontade.
Pedro P26.01.2019: Não entendo a surpresa nesta nomeação. É
mais uma decisão do brincalhão do prof. Marcelo no país das idiotices, que ele
tão bem gere. confesso que prefiro a Alice no país das maravilhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário