À tragédia das alterações climáticas de
que o homem é responsável, no desenfreado das suas megalomanias de domínio
mundial que não respeita avisos e vai provocando o depauperamento dos recursos
naturais com extinção das espécies – assunto de que trata o Editorial de Manuel Carvalho – acresce a
da gradual imposição da máquina derrotando o homem, sobrepondo-se-lhe em
realização aviltante e anuladora da inteligência e da capacidade de decisão humanas.
É o que leio na revista “Courrier
internacional” de Maio, no texto terrífico - “COMO A TECNOLOGIA FAVORECE A TIRANIA” por Yuval Noah Harari, («historiador, investigador e professor de História
do Mundo na Universidade Hebraica de Jerusalém, autor de numerosos artigos
científicos e de dois livros, publicados em Portugal pela Elsinore: - “Sapiens: História breve da Humanidade” (2013),
“Homo Deus: História Breve do Amanhã” (2017) e “21 Lições para o Século XXI
(2018), todos bestsellers internacionais»). Dividido em quatro partes, de que
copiarei os títulos, transcrevo, da Internet, um artigo sobre parte dos assuntos
tratados na Revista, cuja extensão abrange pontos capitais, tais como “Decepção e perda de credibilidade na
democracia liberal, Impacto profundo
da biotecnologia e tecnologias de informação especialmente no trabalho, Surgimento de ditaduras digitais, a
tecnologia favorecendo a tirania… Um artigo a ler, verdadeiramente assustador.
I – EDITORIAL: Seremos capazes de mudar de vida?
Exceptuando o negacionismo de líderes
irresponsáveis como Donald Trump, as alterações climáticas e a sobre-exploração
de recursos obrigam-nos a olhar de frente para a tragédia que pode já acontecer
na geração dos nossos filhos.
PÚBLICO, 7 de Maio de 2019, 6:23
Não
foi o primeiro e, eventualmente, não foi o mais drástico aviso sobre a corrida
acelerada da humanidade para o abismo, mas o relatório ontem revelado pela ONU é
particularmente chocante porque nos dá conta da ameaça de extinção que paira
sobre um milhão de espécies. E é ainda mais chocante porque as exigências que a
ciência põe em cima da mesa para travar a autodestruição deixou de se sustentar
em medidas paliativas ou de acções pontuais: só uma rápida e transformação
do sistema económico e financeiro pode
salvar o planeta.
A
tese não é nova, mas, ao deixar de ser usada apenas pelos que há alguns anos se
designavam por ambientalistas radicais e passar para o cardápio de soluções
defendidas pelos cientistas tornou-se foco de uma discussão tão difícil como
causadora de ansiedade. Será a
humanidade capaz de enfrentar os “interesses instalados”, na definição de Robert Watson, o cientista que preside à plataforma que produziu o
relatório? Ou, por outras palavras, será de alguma forma possível
mudar os fundamentos do capitalismo que, se promoveu um extraordinário
desenvolvimento económico e social, obrigou também à sobre-exploração dos
recursos naturais?
Os optimistas históricos considerarão
que estas perguntas são impertinentes porque, um dia, em breve, a inteligência
e a criatividade humanas encontrarão uma resposta para a ameaça ambiental. Os
cépticos tenderão a sublinhar que a acumulação capitalista e o espírito de
concorrência são insubstituíveis para garantir a liberdade. E os críticos
continuarão a sublinhar que, entre um modelo que implica o recuo no uso de
recursos e um modelo alternativo que exige o empobrecimento para salvar o
planeta, não há margem para escolhas.
Entre
as naturais divergências sobre os desafios que nos esperam, há apenas uma
certeza absoluta: os sinais de que o planeta está a morrer depressa obrigam
já esta geração a incluir o debate da sustentabilidade nas suas opções
políticas. Os jovens já o perceberam e exigem-no. Em
sociedades avançadas como a da Holanda ou Dinamarca a política verde está na
ordem do dia. Nos Estados Unidos fala-se na urgência de um “New Deal” verde.
Exceptuando o negacionismo de líderes
irresponsáveis como Donald Trump, as alterações climáticas e a sobre-exploração
de recursos obrigam-nos a olhar de frente para a tragédia que pode já acontecer
na geração dos nossos filhos. Algo vai ter de mudar, muito e depressa. Manter
tudo como está não é cegueira: é suicídio. Saber se a humanidade é capaz de
inventar um modelo que conjugue o ambiente e a liberdade das sociedades
capitalistas tornou-se a maior questão do nosso tempo.
II- Porque a tecnologia favorece a tirania - Yuval Noah Harari
1 - O medo
crescente da irrelevância
2 - Uma nova
classe inútil?
3- O crescimento
das ditaduras digitais
4- Transferência
da autoridade para as máquinas
III-15/09/2018 - 12H40 - ATUALIZADA ÀS
12H41 - POR ANA LAURA STACHEWSKI
O
verdadeiro perigo da tecnologia, segundo o autor de 'Sapiens'
Yuval Noah Harari afirma que os
riscos não estão em uma possível "supremacia e tirania dos robôs",
mas sim no uso que faremos dos avanços tecnológicos
Quando
pensamos nos impactos da tecnologia para o futuro, uma das preocupações comuns
tem a ver com os empregos: o que será de nós quando a inteligência
artificial for capaz de fazer o que fazemos? Para o historiador
Yuval Noah Harari, autor de Sapiens – Uma Breve História da Humanidade e
professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, esse cenário tem proporção
maior do que pensamos. Segundo ele, a tecnologia pode favorecer a formação
de tiranias – e não precisa ter vontade própria para isso.
A
análise foi feita por ele em um artigo publicado no site The Atlantic. O autor cita, por exemplo, o crescente
protagonismo da tecnologia em detrimento do humano. No século XX, o “homem
comum” era visto como herói e como a figura mais importante para o futuro.
Hoje, termos como inteligência artificial (IA), blockchain e engenharia
genética ganham cada vez mais relevância. O resultado disso é um
aparente crescimento da insignificância do humano.
O
risco apontado por ele, porém, não está na ideia de uma tirania dos robôs sobre
os humanos. Ele defende que a tecnologia terá papel central no que diz respeito
ao fortalecimento dos regimes ao longo da história. “Nós tendemos a pensar sobre o conflito entre
democracia e ditadura como um conflito entre dois sistemas éticos diferentes”,
reflecte ele. “Mas é na verdade um conflito entre dois sistemas diferentes
de processamento de dados”.
Considerando
a tecnologia do século passado, a concentração de informação e de poder era
ineficiente. “Ninguém tinha a capacidade de processar rapidamente todas as
informações disponíveis e tomar as decisões certas”, diz. Por isso, regimes e economias como a da União
Soviética padeceram em detrimento a outros como os dos Estados Unidos.
A
cada dia, diz ele, essa lógica tende a se inverter. A IA, por exemplo,
possibilita que se processe um grande número de informações de forma
centralizada – e inclusive funciona melhor dessa forma. Ela também tem mais
sucesso conforme a privacidade diminui. Um governo autoritário que ordenasse o
mapeamento genético de toda a população, por exemplo, teria incontáveis vantagens
e avanços no campo da medicina. E essa é apenas uma das inúmeras possibilidades
que podem ser trazidas pela tecnologia e explorada por governos.
“Mesmo
que algumas sociedades permaneçam democráticas”, completa o autor, “a crescente
eficiência dos algoritmos ainda irá deslocar cada vez mais a autoridade de
humanos individuais para máquinas em rede”. Com sistemas capazes de ajudar nas mais variadas
decisões, as pessoas tenderiam a ter cada vez menos autonomia sobre suas
escolhas. “Mesmo agora, confiamos na Netflix para recomendar filmes e no
Spotify para escolher a música que gostaríamos”, diz ele. “Uma vez que
começamos a contar com a IA para decidir o que estudar, onde trabalhar e com
quem namorar ou até casar, a vida humana deixará de ser um drama de tomada de
decisão e nossa concepção de vida precisará mudar”.
Para
frear os riscos de disruptura em qualquer um dos dois cenários, o autor diz que
é preciso entender desde a mente humana até propriedade dos dados – que tendem
a ser o bem mais precioso e o alvo da luta por controle. “Se você acha essas
perspectivas alarmantes”, diz ele, “a contribuição mais importante que você
pode dar é encontrar maneiras de evitar que muitos dados sejam concentrados em
poucas mãos”. Sem qualquer acção de prevenção, diz o autor, os humanos correm o
risco de se tornar algo similar a “animais domesticados”.
“Estamos criando humanos mansos que produzem enormes quantidades de
dados e funcionam como chips eficientes em um enorme mecanismo de processamento
de dados, mas dificilmente maximizam seu potencial humano”, diz ele. “Se não
formos cuidadosos, acabaremos com os seres humanos rebaixados usando mal os
computadores para causar estragos em si mesmos e no mundo”.
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