terça-feira, 7 de maio de 2019

E mais ainda



À tragédia das alterações climáticas de que o homem é responsável, no desenfreado das suas megalomanias de domínio mundial que não respeita avisos e vai provocando o depauperamento dos recursos naturais com extinção das espécies – assunto de que trata o Editorial de Manuel Carvalho – acresce a da gradual imposição da máquina derrotando o homem, sobrepondo-se-lhe em realização aviltante e anuladora da inteligência e da capacidade de decisão humanas. É o que leio na revista Courrier internacional de Maio, no texto terrífico - “COMO A TECNOLOGIA FAVORECE A TIRANIA” por Yuval Noah Harari, («historiador, investigador e professor de História do Mundo na Universidade Hebraica de Jerusalém, autor de numerosos artigos científicos e de dois livros, publicados em Portugal pela Elsinore:  - “Sapiens: História breve da Humanidade” (2013), “Homo Deus: História Breve do Amanhã” (2017) e “21 Lições para o Século XXI (2018), todos bestsellers internacionais»). Dividido em quatro partes, de que copiarei os títulos, transcrevo, da Internet, um artigo sobre parte dos assuntos tratados na Revista, cuja extensão abrange pontos capitais, tais como “Decepção e perda de credibilidade na democracia liberal, Impacto profundo da biotecnologia e tecnologias de informação especialmente no trabalho, Surgimento de ditaduras digitais, a tecnologia favorecendo a tirania… Um artigo a ler, verdadeiramente assustador.
I – EDITORIAL: Seremos capazes de mudar de vida?
Exceptuando o negacionismo de líderes irresponsáveis como Donald Trump, as alterações climáticas e a sobre-exploração de recursos obrigam-nos a olhar de frente para a tragédia que pode já acontecer na geração dos nossos filhos.
PÚBLICO, 7 de Maio de 2019, 6:23
Não foi o primeiro e, eventualmente, não foi o mais drástico aviso sobre a corrida acelerada da humanidade para o abismo, mas o relatório ontem revelado pela ONU é particularmente chocante porque nos dá conta da ameaça de extinção que paira sobre um milhão de espécies. E é ainda mais chocante porque as exigências que a ciência põe em cima da mesa para travar a autodestruição deixou de se sustentar em medidas paliativas ou de acções pontuais: só uma rápida e transformação do sistema económico e financeiro pode salvar o planeta.
A tese não é nova, mas, ao deixar de ser usada apenas pelos que há alguns anos se designavam por ambientalistas radicais e passar para o cardápio de soluções defendidas pelos cientistas tornou-se foco de uma discussão tão difícil como causadora de ansiedade. Será a humanidade capaz de enfrentar os “interesses instalados”, na definição de Robert Watson, o cientista que preside à plataforma que produziu o relatório? Ou, por outras palavras, será de alguma forma possível mudar os fundamentos do capitalismo que, se promoveu um extraordinário desenvolvimento económico e social, obrigou também à sobre-exploração dos recursos naturais?
Os optimistas históricos considerarão que estas perguntas são impertinentes porque, um dia, em breve, a inteligência e a criatividade humanas encontrarão uma resposta para a ameaça ambiental. Os cépticos tenderão a sublinhar que a acumulação capitalista e o espírito de concorrência são insubstituíveis para garantir a liberdade. E os críticos continuarão a sublinhar que, entre um modelo que implica o recuo no uso de recursos e um modelo alternativo que exige o empobrecimento para salvar o planeta, não há margem para escolhas.
Entre as naturais divergências sobre os desafios que nos esperam, há apenas uma certeza absoluta: os sinais de que o planeta está a morrer depressa obrigam já esta geração a incluir o debate da sustentabilidade nas suas opções políticas. Os jovens já o perceberam e exigem-no. Em sociedades avançadas como a da Holanda ou Dinamarca a política verde está na ordem do dia. Nos Estados Unidos fala-se na urgência de um “New Deal” verde.
Exceptuando o negacionismo de líderes irresponsáveis como Donald Trump, as alterações climáticas e a sobre-exploração de recursos obrigam-nos a olhar de frente para a tragédia que pode já acontecer na geração dos nossos filhos. Algo vai ter de mudar, muito e depressa. Manter tudo como está não é cegueira: é suicídio. Saber se a humanidade é capaz de inventar um modelo que conjugue o ambiente e a liberdade das sociedades capitalistas tornou-se a maior questão do nosso tempo.
II- Porque a tecnologia favorece a tirania  -  Yuval Noah Harari
1 - O medo crescente da irrelevância
2 - Uma nova classe inútil?
3- O crescimento das ditaduras digitais
4- Transferência da autoridade para as máquinas

III-15/09/2018 - 12H40 - ATUALIZADA ÀS 12H41 - POR ANA LAURA STACHEWSKI
O verdadeiro perigo da tecnologia, segundo o autor de 'Sapiens'
Yuval Noah Harari afirma que os riscos não estão em uma possível "supremacia e tirania dos robôs", mas sim no uso que faremos dos avanços tecnológicos

Quando pensamos nos impactos da tecnologia para o futuro, uma das preocupações comuns tem a ver com os empregos: o que será de nós quando a inteligência artificial for capaz de fazer o que fazemos? Para o historiador Yuval Noah Harari, autor de Sapiens – Uma Breve História da Humanidade e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, esse cenário tem proporção maior do que pensamos. Segundo ele, a tecnologia pode favorecer a formação de tiranias – e não precisa ter vontade própria para isso.
A análise foi feita por ele em um artigo publicado no site The Atlantic. O autor cita, por exemplo, o crescente protagonismo da tecnologia em detrimento do humano. No século XX, o “homem comum” era visto como herói e como a figura mais importante para o futuro. Hoje, termos como inteligência artificial (IA), blockchain e engenharia genética ganham cada vez mais relevância. O resultado disso é um aparente crescimento da insignificância do humano.
O risco apontado por ele, porém, não está na ideia de uma tirania dos robôs sobre os humanos. Ele defende que a tecnologia terá papel central no que diz respeito ao fortalecimento dos regimes ao longo da história. “Nós tendemos a pensar sobre o conflito entre democracia e ditadura como um conflito entre dois sistemas éticos diferentes”, reflecte ele. “Mas é na verdade um conflito entre dois sistemas diferentes de processamento de dados”.
Considerando a tecnologia do século passado, a concentração de informação e de poder era ineficiente. “Ninguém tinha a capacidade de processar rapidamente todas as informações disponíveis e tomar as decisões certas”, diz. Por isso, regimes e economias como a da União Soviética padeceram em detrimento a outros como os dos Estados Unidos.
A cada dia, diz ele, essa lógica tende a se inverter. A IA, por exemplo, possibilita que se processe um grande número de informações de forma centralizada – e inclusive funciona melhor dessa forma. Ela também tem mais sucesso conforme a privacidade diminui. Um governo autoritário que ordenasse o mapeamento genético de toda a população, por exemplo, teria incontáveis vantagens e avanços no campo da medicina. E essa é apenas uma das inúmeras possibilidades que podem ser trazidas pela tecnologia e explorada por governos.
“Mesmo que algumas sociedades permaneçam democráticas”, completa o autor, “a crescente eficiência dos algoritmos ainda irá deslocar cada vez mais a autoridade de humanos individuais para máquinas em rede”. Com sistemas capazes de ajudar nas mais variadas decisões, as pessoas tenderiam a ter cada vez menos autonomia sobre suas escolhas. “Mesmo agora, confiamos na Netflix para recomendar filmes e no Spotify para escolher a música que gostaríamos”, diz ele. “Uma vez que começamos a contar com a IA para decidir o que estudar, onde trabalhar e com quem namorar ou até casar, a vida humana deixará de ser um drama de tomada de decisão e nossa concepção de vida precisará mudar”.
Para frear os riscos de disruptura em qualquer um dos dois cenários, o autor diz que é preciso entender desde a mente humana até propriedade dos dados – que tendem a ser o bem mais precioso e o alvo da luta por controle. “Se você acha essas perspectivas alarmantes”, diz ele, “a contribuição mais importante que você pode dar é encontrar maneiras de evitar que muitos dados sejam concentrados em poucas mãos”. Sem qualquer acção de prevenção, diz o autor, os humanos correm o risco de se tornar algo similar a “animais domesticados”.
“Estamos criando humanos mansos que produzem enormes quantidades de dados e funcionam como chips eficientes em um enorme mecanismo de processamento de dados, mas dificilmente maximizam seu potencial humano”, diz ele. “Se não formos cuidadosos, acabaremos com os seres humanos rebaixados usando mal os computadores para causar estragos em si mesmos e no mundo”.


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