Desta vez as palmatoadas no Portugal
pequenino iniciam-se em grande, com a referência historiográfica aos resultados
eleitorais no Reino Unido, aos profetas – portugueses, está visto - que “leram poucos livros”, e
anunciam “o fim do bipartidarismo
inglês”, pretexto para a lição do historiador sobre os “Tories” antigos e consistentes, e os “Whigs” flexíveis, “para sobreviver”, e, portanto, inseridos - “May” e “Corbyn”- em desgraça passageira. Quem sabe sabe, e não temos
senão que colher humildemente a lição. O resto é a troça pegada ao Zé Povinho ignorante e indiferente, em
que está hoje inserido o “cidadão normal”, os quais alargam os seus interesses – VPV concede-o – à “sede do seu concelho”, nos
centros urbanos a “maioria” lusa “indiferente ao que se passa no mundo”, conceito que
o antecessor Eça de Queirós deixara bem
estilizado no seu “Fradique Mendes”, ao
limitar ainda mais esses interesses ao “rumor
das saias de Elvira”. E segue-se a galeria das nossas inépcias, de 13 de Maio a 16, com a visita dos pobres
– e enfiados - pedintes de votos, engolindo em seco, como sempre aconteceu,
sujeitos às baboseiras populares, no seu pobre explanar argumentativo pelas bancas
vazias dos mercados, que as grandes superfícies comerciais vieram destronar.
As
sondagens em Inglaterra dão o partido conservador com 11 por cento dos votos. Foi a
debandada geral para o Brexit de Farage, para o UKIP, e outros
pequenos partidos do hard leave. Também o Labour desceu para 27 por cento; e
Corbyn foi acusado pelo abominável Blair de duplicidade e cobardia, por não ter
patrocinado o remain. Algumas personagens apressadas já profetizaram o fim do
bipartidarismo inglês. Leram poucos livros. Os Tories são o partido mais velho
do mundo, e o que mais tempo esteve no governo. E os Whigs sempre se
transformaram com as circunstâncias para sobreviver. Antes do Labour, houve
Lib-Lab. Nem a senhora May nem Corbyn chegaram onde chegaram como um ocasional
primeiro-ministro português. Continuam uma longa tradição, e as desgraças de
hoje não passam de um incidente de percurso: grande, convenhamos, mas não maior
do que muitas das drásticas mudanças do século XIX e do século XX.
12 de Maio: A Europa dos “altos parapeitos” nunca fez parte da
cultura portuguesa. Verdade que copiámos tudo o que era francês, como agora
copiamos o cosmopolitismo anglo-saxão. Mas nisto só participaram, e participam,
as classes dirigentes. Mesmo hoje, o cidadão normal não quer e não precisa de
saber o que se passa para lá da sede do concelho. E nos núcleos urbanos, a
maioria dos portugueses é indiferente ao que se passa no mundo.
A
campanha contra a abstenção é uma pura perda de paciência e dinheiro. Os
burocratas de Bruxelas não merecem mais.
13 de Maio: O debate dos pequenos partidos na RTP foi uma Galeria
de Horrores: uma dúzia de excêntricos aproveitou a ocasião para se exibir em
público. Só Ricardo Arroja, que assistiu àquele festival com um ar melancólico,
pareceu compreender o sarilho em que estava metido.
14 de Maio: Joe Berardo (e não José, como pretende desde
sexta-feira um certo jornalismo rastejante) não tem nada, não deve nada, e
ri-se de quem lhe pede explicações. As câmaras
municipais não conseguem cumprir cabalmente a lei que as manda limpar a
floresta. O Estado não
é capaz de fornecer 38 “meios aéreos” na altura em que os devia fornecer. A CP e a
Soflusa não funcionam por falta de trabalhadores. E tudo está
envolto numa enorme teia, a teia das bizarras regras dos tribunais portugueses,
incluindo as do Tribunal de Contas. A Assembleia da República podia, se
quisesse, simplificar as coisas. Mas não quer. O bom português olha para isto
com a satisfação interior de saber que a “irremediável desordem da Pátria”
desculpa os seus pecados. Somos todos irmãos, e todos nos percebemos.
15 de Maio: Comentadores,
políticos e curiosos não param de falar sobre Joe Berardo. A própria
existência do homem acabou por se tornar um escândalo nacional. Porquê? Não
certamente pelo número que ele fez na Assembleia da República: um número que
por si só não espantaria o país. No fundo, foi Ricardo Araújo Pereira quem
trouxe essa conversa à cena nacional. Deus nosso senhor o abençoe.
16 de Maio: Por que razão ninguém avisou os candidatos ao
parlamento europeu que a esmagadora maioria do eleitorado não faz compras em
feiras e mercados, mas no Pingo Doce da esquina?
Nenhum comentário:
Postar um comentário