quarta-feira, 8 de maio de 2019

Somos tão bons assim?



Um excelente artigo do advogado Pedro Morais Vaz, seguido de comentários favoráveis à posição do articulista, de repúdio pela “cultura do repúdio”, que a Europa “unida”, pelos vistos, demonstra, no seu repúdio da cultura e valores próprios de cada nação, na ânsia competitiva de aceitação fraterna de todas as culturas, como demonstração de um fervor humanitário, em todo o caso assente em hipocrisia, tal fervor apresentando-se como unilateral, ao revelar, como contrapartida, a animadversão, o ódio, a quezília e o ataque iracundo contra quem não siga idênticos preceitos de humanidade provocatória. Ainda bem que vão aparecendo jovens sensatos, de leituras seguidoras de outros parâmetros morais ou filosóficos, mais cordatos e menos desejosos de demonstrarem uma aceitação universal “para inglês ver”, baseada em baboseiras ou utopias destruidoras até do conceito de decência, ou puramente de ética.

A Europa e a cultura do repúdio
OBSERVADOR, 6/5/2019
A maior ameaça ao futuro da Europa reside no que Roger Scruton apelidou de “cultura do repúdio” e que se propõe repudiar tudo o que encara como tipicamente “nosso” para que ninguém se sinta "excluído"
Quando nos propomos reflectir acerca do futuro que queremos para a União Europeia, não podemos deixar de nos interrogar acerca daquilo que somos – desde logo para que saibamos o que nos propomos preservar. Herdeira da filosofia helénica, do direito romano e da ética judaico-cristã, a Europa compreende um conjunto de histórias, realidades, tradições, religiões e culturas tão díspares que dificulta (embora não impossibilite) a identificação de um mínimo denominador comum. Curiosamente, é precisamente nesta capacidade de aceitar e congregar complexidades tão diversas (conquistada, em certos períodos da história, a muito custo) que reside um dos seus traços característicos.
Na União Europeia, apesar dos constrangimentos conjunturais, cada pessoa é livre de seguir o seu rumo, de traçar e prosseguir um projeto próprio de felicidade e de expressar abertamente as suas ideias. No domínio da política, a diversidade, o pluralismo e a heterogeneidade não são vistas como um entrave à prossecução do bem comum, mas como um pressuposto das nossas ideias de democracia liberal e Estado de Direito. Visões antagónicas do Homem, da Sociedade e do Mundo não dão azo a perseguições, decapitações ou tiroteios, mas a discussões abertas e acesas. Por muito que acreditemos na verdade subjacente à nossa visão das coisas, essa verdade não pode ser imposta; ela tem de ser justificada e posta à consideração de terceiros. Estas são as regras do jogo democrático e a forma que encontrámos de, apesar das nossas divergências, convivermos pacificamente. Muitos de nós darão tudo isto por adquirido; outros verão aqui um “tesouro” precioso que importa preservar.
A Europa confronta-se hoje com várias ameaças. Conforme alertaram recentemente dois investigadores da Fundação Robert Schumann, a Europa caminha a passos largos para um “suicídio demográfico”. O número de nascimentos não é, em nenhum país da UE, suficiente para assegurar a renovação de gerações, sendo que na maioria dos Estados-Membros já se fabricam mais caixões do que berços. A “reposição” da população está a ser feita (de forma insuficiente, note-se) à custa dos imigrantes, que encontram no nosso continente condições sociais e económicas favoráveis para fazer florescer as suas ambições.
Mas a maior ameaça ao futuro da Europa, estando relacionada com estes dois fatores (suicídio demográfico e imigração), é sobretudo interna e reside naquilo a que Roger Scruton apelidou de “cultura do repúdio”. Nos últimos anos vimos assistindo à proliferação de uma linha de pensamento que, extrapolando por completo as noções de “tolerância”, “igualdade” e “não discriminação”, se propõe repudiar tudo aquilo que é encarado como tipicamente “nosso” para que ninguém se sinta excluído ou discriminado. Argumentando que nenhuma cultura é superior a outra, que ninguém é detentor da verdade e que todas as opiniões e modos de vida têm o mesmo valor, estas pessoas dispõem-se a sacrificar os costumes, valores e instituições que herdaram para construir uma sociedade “inclusiva”, onde todos se possam sentir em casa. As nossas características próprias não são vistas como fonte de riqueza, mas como factor de discriminação; uma mentalidade que se poderia resumir bem num slogan do estilo “Abaixo tudo o que é nosso!”.
É esta cultura de repúdio que justifica que se recuse inscrever no preâmbulo de uma Constituição Europeia uma referência à “herança cristã” da UE, que leva um director da BBC a criticar a sua organização e programas por serem ofensivamente brancos e de classe média, que leva tribunais a decretarem a remoção de estátuas cristãs do espaço público, que leva escolas a abolirem clássicos como O Capuchinho Vermelho ou A Bela Adormecida das suas bibliotecas, ou pessoas como Fernanda Câncio a rasgar as vestes por uma jornalista da RTP se despedir dos telespectadores com um “Até segunda feira, se Deus quiser”. A lógica é simples: para não ferir susceptibilidades e acolhermos todos por igual, aniquile-se o que somos e o que nos distingue. Não é exclusivo nosso, diga-se. Ainda há dias, a propósito dos terríveis atentados no Sri Lanka, Barack Obama e Hillary Clinton manifestavam a sua solidariedade para com uns tais de Easter worshippers (adoradores da Páscoa) para evitarem o recurso à palavra “cristãos”.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo que somos chamados a repudiar a nossa cultura e identidade, é-nos pedida uma atitude “não opinativa” e “inclusiva” em relação às outras (o que justifica, por exemplo, que um livro intitulado “The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam”seja traduzido para a nossa língua como “A Estranha Morte da Europa: Imigração, Identidade, Religião”), mesmo que tragam consigo costumes criminosos aos nossos olhos – como o casamento forçado ou a circuncisão feminina – ou não saibam separar a ordem política da religiosa.
O resultado desta cultura de repúdio é uma Europa sem valores para oferecer (tantos aos seus como aos imigrantes) e um amplo vazio moral e cultural, que é ao mesmo tempo terreno fértil para a ascensão de várias formas de extremismo e, por conseguinte, uma ameaça ao tal “tesouro” que importa preservar. Para acolhermos quem vem de fora não precisamos de nos anular; basta sermos aquilo que somos. Advogado

COMENTÁRIOS:
Rui Lima: Excelente crónica toca no grande drama de hoje nesta nossa Europa. Temos vergonha dos nossos valores, pedimos desculpas por ter dado à humanidade o saber nas artes da arquitectura, pintura, escultura ou música. O que seria do mundo sem as grande civilização ocidental?
João Amaro: Cultura do repúdio? E que tal chamar os Bois pelos nomes? MARXISMO CULTURAL
Joaquim Almeida: Excelente artigo. Parabéns! A ameaça de novas Invasões bárbaras ( desta vez com tecnologia) está num horizonte não muito distante e não é um delírio de conservadores tradicionalistas. A Europa parece começar a encaminhar-se despreocupada para um holocausto cultural dos europeus .Quanto a nós, os portugueses , preferimos pensar que ,se o problema é sério , fica a cargo de outros e seja o que aos fados aprouver...
Marco Silva: Não é apenas uma "cultura" de repúdio...é uma cultura de substituição depois de terem criado o problema. A esquerda, depois de décadas, encontrou a sua galinha dos ovos de ouro: as mulheres. As mulheres são a maioria e então agradar a 1000% às mulheres passou a ser a prioridade das esquerdas. Por todo o mundo civilizado, foi promovido o aborto, foi promovido a doutrinação das mulheres desde crianças, a "pensar" que ter filhos é irrelevante ou que deve ser deixado para mais tarde na vida e que o importante é a "carreira" (ignorando factores biológicos que impedem as mulheres de engravidar a partir de certa idade), foram promovidas relações homossexuais. Ora com o aumento da esperança média de vida (pessoas duram mais tempo portanto haverá cada vez mais idosos) e o óbvio decréscimo da natalidade (fruto das politicas da esquerda para agradar à sua maior clientela - as mulheres), a esquerda não quis assumir qualquer responsabilidade pelo problema que criou e decidiu criar outro para "resolver" o anterior. Primeiro promoveu a destruição das famílias tradicionais, agora quer importar o terceiro mundo onde ainda há o conceito de família tradicional e portanto a natalidade é bem mais alta claro está... O problema é que o terceiro mundo tem culturas e religiões bárbaras, completamente incompatíveis com os valores das sociedades civilizadas e que são mesmo anti-sociedades civilizadas e anti-quaisquer valores/culturas que não seja a deles/as. E mais uma vez, a esquerda criou um problema para tentar resolver outro que já tinha criado...para quê? Pelos votos...para permanecer no poder. Quando se quer substituir uma cultura / sociedade, os arquitectos dessa substituição distribuirão a propaganda necessária, para fazer acreditar que a cultura actual é que está mal...há que repudiar tudo o que conhecemos a favor daquilo que os arquitectos da substituição querem que sejam os "novos valores". A Suécia é o perfeito exemplo de tudo isto e de tudo o que não se quer fazer pelo mundo civilizado. A doutrinação é impossível de parar naquele país, e depois de décadas a tornar "mais femininos" os homens suecos, a Suécia não tem hipótese de combater / sobreviver, pois as mulheres irão destruir o que tanto custou a construir e eventualmente serão dominadas pelos invasores muçulmanos que as tratarão como tratam as mulheres nos seus países de origem.
Earl Woode: Muito bem escrito.  Só falta dizer que este repúdio faz parte do Marxismo Cultural se apoderou de quase todas as instituições no Ocidente a começar pela educação e sobretudo a CS.  Não, as culturas não são todas iguais: há algumas que são muito melhores que outras.


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