Um excelente artigo do advogado Pedro Morais Vaz, seguido de comentários favoráveis à
posição do articulista, de repúdio pela “cultura do repúdio”, que a Europa “unida”,
pelos vistos, demonstra, no seu repúdio da cultura e valores próprios de cada
nação, na ânsia competitiva de aceitação fraterna de todas as culturas, como
demonstração de um fervor humanitário, em todo o caso assente em hipocrisia, tal
fervor apresentando-se como unilateral, ao revelar, como contrapartida, a
animadversão, o ódio, a quezília e o ataque iracundo contra quem não siga
idênticos preceitos de humanidade provocatória. Ainda bem que vão aparecendo
jovens sensatos, de leituras seguidoras de outros parâmetros morais ou
filosóficos, mais cordatos e menos desejosos de demonstrarem uma aceitação
universal “para inglês ver”, baseada em baboseiras ou utopias destruidoras até
do conceito de decência, ou puramente de ética.
A Europa e a cultura do repúdio
OBSERVADOR,
6/5/2019
A
maior ameaça ao futuro da Europa reside no que Roger Scruton apelidou de “cultura
do repúdio” e que se
propõe repudiar tudo o que encara como tipicamente “nosso” para que ninguém se
sinta "excluído"
Quando
nos propomos reflectir acerca do futuro que queremos para a União Europeia, não
podemos deixar de nos interrogar acerca daquilo que somos – desde logo para que
saibamos o que nos propomos preservar. Herdeira da filosofia helénica, do
direito romano e da ética judaico-cristã, a Europa compreende um conjunto de
histórias, realidades, tradições, religiões e culturas tão díspares que
dificulta (embora não impossibilite) a identificação de um mínimo denominador
comum. Curiosamente, é precisamente nesta capacidade de aceitar e congregar
complexidades tão diversas (conquistada, em certos períodos da história, a
muito custo) que reside um dos seus traços característicos.
Na
União Europeia, apesar dos constrangimentos conjunturais, cada pessoa é livre
de seguir o seu rumo, de traçar e prosseguir um projeto próprio de felicidade e
de expressar abertamente as suas ideias. No domínio da política, a diversidade,
o pluralismo e a heterogeneidade não são vistas como um entrave à prossecução
do bem comum, mas como um pressuposto das nossas ideias de democracia liberal e
Estado de Direito. Visões antagónicas do Homem, da Sociedade e do Mundo não dão
azo a perseguições, decapitações ou tiroteios, mas a discussões abertas e
acesas. Por muito que acreditemos na verdade subjacente à nossa visão das
coisas, essa verdade não pode ser imposta; ela tem de ser justificada e posta à
consideração de terceiros. Estas são as regras do jogo democrático e a forma
que encontrámos de, apesar das nossas divergências, convivermos pacificamente.
Muitos de nós darão tudo isto por adquirido; outros verão aqui um “tesouro”
precioso que importa preservar.
A Europa confronta-se hoje com várias ameaças.
Conforme alertaram recentemente dois investigadores da Fundação
Robert Schumann, a Europa caminha a passos largos para um “suicídio
demográfico”. O número de nascimentos não é, em nenhum país da UE,
suficiente para assegurar a renovação de gerações, sendo que na maioria dos
Estados-Membros já se fabricam mais caixões do que berços. A “reposição” da
população está a ser feita (de forma insuficiente, note-se) à custa dos
imigrantes, que encontram no nosso continente condições sociais e económicas
favoráveis para fazer florescer as suas ambições.
Mas
a maior ameaça ao futuro da Europa, estando relacionada com estes dois fatores
(suicídio demográfico e imigração), é sobretudo interna e reside naquilo a que
Roger Scruton apelidou de “cultura do repúdio”. Nos últimos anos vimos assistindo à proliferação
de uma linha de pensamento que, extrapolando por completo as noções de
“tolerância”, “igualdade” e “não discriminação”, se propõe repudiar tudo aquilo
que é encarado como tipicamente “nosso” para que ninguém se sinta excluído ou
discriminado. Argumentando que nenhuma cultura é superior a outra, que ninguém
é detentor da verdade e que todas as opiniões e modos de vida têm o mesmo
valor, estas pessoas dispõem-se a sacrificar os costumes, valores e
instituições que herdaram para construir uma sociedade “inclusiva”, onde todos
se possam sentir em casa. As nossas características próprias não são vistas
como fonte de riqueza, mas como factor de discriminação; uma mentalidade que se
poderia resumir bem num slogan do estilo “Abaixo tudo o que é nosso!”.
É
esta cultura de repúdio que justifica que se recuse inscrever no preâmbulo de
uma Constituição Europeia uma referência à “herança cristã” da
UE, que leva um director da BBC a criticar a sua organização e programas por
serem ofensivamente brancos e de classe média,
que leva tribunais a decretarem a remoção de estátuas cristãs do
espaço público, que leva escolas a abolirem clássicos como O Capuchinho Vermelho ou A Bela
Adormecida das suas bibliotecas, ou pessoas como Fernanda Câncio a
rasgar as vestes por uma jornalista da RTP se despedir dos telespectadores com
um “Até segunda feira, se Deus
quiser”. A lógica é simples: para não ferir susceptibilidades e
acolhermos todos por igual, aniquile-se o que somos e o que nos distingue. Não
é exclusivo nosso, diga-se. Ainda há dias, a propósito dos terríveis atentados
no Sri Lanka, Barack Obama e Hillary Clinton manifestavam a sua solidariedade
para com uns tais de Easter worshippers (adoradores
da Páscoa) para evitarem o recurso à palavra “cristãos”.
Paradoxalmente,
ao mesmo tempo que somos chamados a repudiar a nossa cultura e identidade,
é-nos pedida uma atitude “não opinativa” e “inclusiva” em relação às outras (o
que justifica, por exemplo, que um livro intitulado “The Strange Death of
Europe: Immigration, Identity, Islam”seja traduzido para a nossa língua como “A
Estranha Morte da Europa: Imigração, Identidade, Religião”), mesmo que tragam
consigo costumes criminosos aos nossos olhos – como o casamento forçado ou a
circuncisão feminina – ou não saibam separar a ordem política da religiosa.
O resultado desta cultura de repúdio é uma Europa sem valores para
oferecer (tantos aos seus como aos imigrantes) e um amplo vazio moral e
cultural, que é ao mesmo tempo terreno fértil para a ascensão de várias formas
de extremismo e, por conseguinte, uma ameaça ao tal “tesouro” que importa
preservar. Para acolhermos quem vem de fora não precisamos de nos anular; basta
sermos aquilo que somos. Advogado
COMENTÁRIOS:
Rui Lima: Excelente crónica
toca no grande drama de hoje nesta nossa Europa. Temos vergonha dos nossos
valores, pedimos desculpas por ter dado à humanidade o saber nas artes da
arquitectura, pintura, escultura ou música. O que seria do mundo sem as grande
civilização ocidental?
João Amaro: Cultura do repúdio? E que tal chamar os Bois pelos
nomes? MARXISMO CULTURAL
Joaquim
Almeida: Excelente artigo. Parabéns! A ameaça de novas Invasões
bárbaras ( desta vez com tecnologia) está num horizonte não muito distante e
não é um delírio de conservadores tradicionalistas. A Europa parece começar a
encaminhar-se despreocupada para um holocausto cultural dos europeus .Quanto
a nós, os portugueses , preferimos pensar que ,se o problema é sério , fica a
cargo de outros e seja o que aos fados aprouver...
Marco Silva: Não é apenas uma "cultura" de repúdio...é
uma cultura de substituição depois de terem criado o problema. A esquerda, depois de décadas, encontrou a
sua galinha dos ovos de ouro: as mulheres. As
mulheres são a maioria e então agradar a 1000% às mulheres passou a ser a
prioridade das esquerdas. Por todo o mundo civilizado, foi promovido o
aborto, foi promovido a doutrinação das mulheres desde crianças, a
"pensar" que ter filhos é irrelevante ou que deve ser deixado para
mais tarde na vida e que o importante é a "carreira" (ignorando
factores biológicos que impedem as mulheres de engravidar a partir de certa
idade), foram promovidas relações homossexuais. Ora
com o aumento da esperança média de vida (pessoas duram mais tempo portanto
haverá cada vez mais idosos) e o óbvio decréscimo da natalidade (fruto das
politicas da esquerda para agradar à sua maior clientela - as mulheres), a
esquerda não quis assumir qualquer responsabilidade pelo problema que criou e
decidiu criar outro para "resolver" o anterior. Primeiro promoveu a destruição das famílias
tradicionais, agora quer importar o terceiro mundo onde ainda há o conceito de
família tradicional e portanto a natalidade é bem mais alta claro está... O problema é que o terceiro mundo tem culturas e
religiões bárbaras, completamente incompatíveis com os valores das sociedades
civilizadas e que são mesmo anti-sociedades civilizadas e anti-quaisquer
valores/culturas que não seja a deles/as. E
mais uma vez, a esquerda criou um problema para tentar resolver outro que já
tinha criado...para quê? Pelos
votos...para permanecer no poder. Quando se quer substituir uma cultura
/ sociedade, os arquitectos dessa substituição distribuirão a propaganda
necessária, para fazer acreditar que a cultura actual é que está mal...há que
repudiar tudo o que conhecemos a favor daquilo que os arquitectos da
substituição querem que sejam os "novos valores". A Suécia é o perfeito exemplo de tudo isto e de
tudo o que não se quer fazer pelo mundo civilizado. A doutrinação é impossível
de parar naquele país, e depois de décadas a tornar "mais femininos"
os homens suecos, a Suécia não tem hipótese de combater / sobreviver, pois as
mulheres irão destruir o que tanto custou a construir e eventualmente serão
dominadas pelos invasores muçulmanos que as tratarão como tratam as mulheres
nos seus países de origem.
Earl Woode: Muito bem escrito. Só falta dizer que este
repúdio faz parte do Marxismo Cultural se apoderou de quase todas as
instituições no Ocidente a começar pela educação e sobretudo a CS. Não, as
culturas não são todas iguais: há algumas que são muito melhores que outras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário