Bem se diz que esta é a
autêntica, pois é companheira irrefutável do Homem, em sugestões de vivência íntima,
favorecedoras de novos caminhos e experiências aprazíveis, quando, o horizonte
parece perverter-se no inesperado. Extraordinário como, momentaneamente
interrompido o fluxo de uma informação habitual, embora mais penosa e
grosseira, feita das tropelias usuais, o desejo de felicidade fez desviar para
uma trajectória auditiva retomando velhos saberes e sabores, os quais
generosamente transmite, em lições simples que mereciam ser seguidas em aulas
atentas, de exemplificação, destituídos que somos, por defeito de aprendizagem
educativa, de cultura musical. Aquelas aulas de solfejo do nosso outrora, bem
deveriam ter sido acompanhadas de exemplificação instrumental, através da
audição de clássicos e modernos, em dados simples, como estes que Salles da
Fonseca transmite, com o entusiasmo que põe nos seus escritos breves e claros,
pela consulta das fontes próprias, que assim partilha. Só podemos ficar-lhe gratos. E admirar.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 25.05.19
Foi Karl Popper, o filósofo das
Ciências do séc. XX, que me ensinou algumas coisas sobre música. Por
exemplo:
Contraponto – trata-se duma melodia
secundária que, em harmonia com a principal, lhe produz um complemento
agradável ao ouvinte;
Baixo contínuo – trata-se de acompanhamento harmónico
relativamente à melodia principal (e única) cujo objectivo é o de dar volume
sonoro ao conjunto da obra (sem que tenha de constituir melodia).
Mas há mais: o ritmo de tudo
isto tem que ser o mesmo.
Foi na minha juventude que alguém me ofereceu um busto miniatura de
Robert Schumann e logo a minha mãe me disse que as obras tardias dele revelavam
os problemas mentais de que acabou por ser vítima. Guardei a informação e
deixei passar sessenta anos, até que há dias me ofereceram a integral das suas
sinfonias.
Trata-se de quatro sinfonias que nos são apresentadas pela ordem de
edição, não pela cronologia da composição. Assim, a que nos é apresentada como
sendo a Nº 1 é mesmo a primeira, mas já a Nº 2 corresponde á terceira, a Nº 3 é
a quarta e a que nos é apresentada como sendo a Nº 4, é afinal a segunda.
Foi, portanto, com especial atenção que ouvi a mais tardia (Nº
3= a 4ª) para constatar, logo nos
primeiros compassos, do primeiro andamento, que metade da orquestra executa a
melodia principal num determinado ritmo e que a outra metade cumpre um ritmo
completamente desgarrado.
A pouco e pouco, as duas metades
da orquestra adoptam o mesmo ritmo, tudo entra nos conformes e pode-se dizer
que a obra acaba em beleza.
A minha mãe tinha razão e
Karl Popper também.
Estou a lembrar-me de Clara, a mulher do compositor, ela também
compositora, que deve ter tido uma vida bem difícil e cuja obra vou agora
procurar. Depois conto…
Maio de 2019
Henrique Salles da Fonseca
Adriano Lima 25.05.2019: Mais um
interessante mergulho na cultura musical. Gostei.
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