domingo, 26 de maio de 2019

Riqueza interior



Bem se diz que esta é a autêntica, pois é companheira irrefutável do Homem, em sugestões de vivência íntima, favorecedoras de novos caminhos e experiências aprazíveis, quando, o horizonte parece perverter-se no inesperado. Extraordinário como, momentaneamente interrompido o fluxo de uma informação habitual, embora mais penosa e grosseira, feita das tropelias usuais, o desejo de felicidade fez desviar para uma trajectória auditiva retomando velhos saberes e sabores, os quais generosamente transmite, em lições simples que mereciam ser seguidas em aulas atentas, de exemplificação, destituídos que somos, por defeito de aprendizagem educativa, de cultura musical. Aquelas aulas de solfejo do nosso outrora, bem deveriam ter sido acompanhadas de exemplificação instrumental, através da audição de clássicos e modernos, em dados simples, como estes que Salles da Fonseca transmite, com o entusiasmo que põe nos seus escritos breves e claros, pela consulta das fontes próprias, que assim partilha. Só podemos ficar-lhe gratos. E admirar.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 25.05.19
Foi Karl Popper, o filósofo das Ciências do séc. XX, que me ensinou algumas coisas sobre música. Por exemplo:
Contraponto – trata-se duma melodia secundária que, em harmonia com a principal, lhe produz um complemento agradável ao ouvinte;

Baixo contínuo – trata-se de acompanhamento harmónico relativamente à melodia principal (e única) cujo objectivo é o de dar volume sonoro ao conjunto da obra (sem que tenha de constituir melodia).
Mas há mais: o ritmo de tudo isto tem que ser o mesmo.
Foi na minha juventude que alguém me ofereceu um busto miniatura de Robert Schumann e logo a minha mãe me disse que as obras tardias dele revelavam os problemas mentais de que acabou por ser vítima. Guardei a informação e deixei passar sessenta anos, até que há dias me ofereceram a integral das suas sinfonias.
Trata-se de quatro sinfonias que nos são apresentadas pela ordem de edição, não pela cronologia da composição. Assim, a que nos é apresentada como sendo a Nº 1 é mesmo a primeira, mas já a Nº 2 corresponde á terceira, a Nº 3 é a quarta e a que nos é apresentada como sendo a Nº 4, é afinal a segunda.
Foi, portanto, com especial atenção que ouvi a mais tardia (Nº 3= a 4ª) para constatar, logo nos primeiros compassos, do primeiro andamento, que metade da orquestra executa a melodia principal num determinado ritmo e que a outra metade cumpre um ritmo completamente desgarrado.
A pouco e pouco, as duas metades da orquestra adoptam o mesmo ritmo, tudo entra nos conformes e pode-se dizer que a obra acaba em beleza.
A minha mãe tinha razão e Karl Popper também.
Estou a lembrar-me de Clara, a mulher do compositor, ela também compositora, que deve ter tido uma vida bem difícil e cuja obra vou agora procurar. Depois conto…
Maio de 2019
Henrique Salles da Fonseca

Adriano Lima 25.05.2019: Mais um interessante mergulho na cultura musical. Gostei.


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