Achei curiosa a referência ao Reino Unido, agora que este está prestes
a retirar-se do panorama da unidade europeia, quebrando uma relação de coesão e
disciplina que ajudava a ultrapassar receios, no conforto de uma “fraternidade”
mais musculada, que permitiria vencer obstáculos em caso de cisões internas ou
de ameaças externas. Certamente educado segundo princípios de sanidade ética,
com respeito pelos valores que dignificam o Homem, escreveu João Carlos Espada um artigo sobre “a mais antiga aliança internacional ainda em vigor”, como vem escrito na
wikipédia, artigo que transcrevo, juntamente com outro sobre o próprio João Carlos Espada, cuja homenagem à “velha Albion”, e aos seus princípios
educativos e democráticos, referidos a propósito de Churchill, me despertaram
curiosidade. É certo que o artigo da Wikipédia se não refere à oferta de Tânger
e Bombaim aos ingleses, aquando do casamento de D. Catarina de Bragança com
Carlos II, nem aos hábitos do “five o’clock tea” que aquela difundiu na corte
inglesa, prova de que também não nos faltava chá na altura, nem terras para
pagar serviços. Não sei como vai ser connosco, quando nos faltar o apoio
inglês, nesta crise do Brexit. Mas penso sempre que não nos faltará o vinho do
Porto para a continuação desse apoio, a acrescentar ao do requinte educacional de
que trata João Carlos Espada, distinguido
pela Coroa Britânica.
Concordo com ele na questão dos valores
a imitar. E acrescento o meu receio sobre o futuro europeu, após o Brexit.
REINO UNIDO:
Recordando o velho Aliado de 1386 /premium
JOÃO CARLOS
ESPADA OBSERVADOR, 13/5/2019
O
sentido de Civilidade sustenta a tradição britânica de liberdade sob a lei — e
reúne admiradores com diferentes, por vezes opostas, disposições políticas.
Na
passada sexta-feira, 10 de Maio, tive o grato privilégio de receber do
Embaixador do Reino Unido em Lisboa, HE Christopher Sainty, uma muito honrosa
distinção atribuída pela Coroa britânica. Tratando-se de um tema que tem
alguma dimensão pessoal, hesitei bastante antes de decidir abordá-lo aqui. Mas
existe uma dimensão mais vasta e mais funda que não posso, em consciência,
deixar de referir. Trata-se de recordar aquilo que o Reino Unido tem
representado na história política europeia e mundial.
Este
tema tem sido por vezes obscurecido pela recente novela do “Brexit” — embora
deva ser reconhecido que a hostilidade anti-britânica no continente europeu, e
sobretudo em Portugal, tem sido até agora relativamente moderada. Em
contrapartida, na nossa cultura política nacional, receio ter existido e
continuar a existir uma certa ambivalência em relação à nossa “relação
especial” com o Reino Unido — uma relação que está na base da mais antiga
aliança bilateral do mundo, consagrada no Tratado de Windsor de 1386.
Não
se trata de ocultar ou de esquecer as tensões que a aliança luso-britânica
certamente atravessou. Todas as relações enfrentam momentos menos felizes.
Não seria de esperar que esses momentos não existissem numa relação com mais de
600 anos. O que é notável é que a aliança luso-britânica tenha sobrevivido
durante tantos séculos, apesar das expectáveis tensões e momentos menos
felizes.
Uma
primeira incontornável dimensão da aliança luso-britânica reside na natureza
marítima dos dois países. Não é aqui possível resumir a imensa
literatura existente sobre as diferenças entre culturas políticas marítimas e
continentais. Mas vale a pena recordar que Karl Popper, na seu marcante livro
de 1945 sobre A Sociedade Aberta e os seus inimigos, associou a democracia
comercial ateniense de século V a.C. ao seu carácter marítimo — e a ditadura
colectivista de Esparta ao seu carácter continental.
Este
tema era caro a Winston Churchill, que tinha uma visão algo
romanceada da história britânica — o que terá sido um factor decisivo
para se opor à aliança nazi-comunista emergente na década de 1930 e finalmente
selada em 1939. Na verdade e em rigor, na década de 1930, qualquer simples
cálculo racional apontava para que a oposição à aliança nazi-comunista estava
destinada ao fracasso. Mas Churchill apelou à resistência com base em
argumentos sobretudo morais. Num célebre discurso a 9 de Maio de 1938, ainda
antes do início da II Guerra, disse Churchill:
“Não
temos nós uma ideologia — se tivermos de usar essa horrível palavra, ideologia,
— não temos nós uma ideologia própria na liberdade, numa Constituição liberal,
na democracia e no governo parlamentar, na Magna Carta e na Petição de Direitos?”
Churchill
entendia a história britânica na tradição Whig que o grande
historiador Lord Macaulay tinha consagrado: a história de uma distintiva defesa da liberdade
e de uma evolução gradual, alérgica a revoluções e contra-revoluções. Na
resistência inglesa à Invencível Armada, a Luís XIV, a Napoleão, ao Kaiser, a
Hitler e a Staline, Churchill via uma linha de continuidade na defesa da
liberdade ordeira britânica.
Mas
é importante recordar que Churchill não via essa tradição da liberdade
britânica como exterior à tradição europeia, muito menos como oposta a ela.
Pelo contrário, Churchill sempre entendeu a cultura política inglesa como parte
integrante da civilização europeia e ocidental, fundada nos princípios da
liberdade e responsabilidade pessoal, e enraizada em Atenas, Roma e Jerusalém.
Churchill
simplesmente acreditava na especificidade da contribuição britânica, bem como
dos povos de língua inglesa, para a civilização europeia e ocidental. Quando, a
6 de Setembro de 1943, recebeu um doutoramento honorário da Universidade de
Harvard, Churchill descreveu essa especificidade dos povos de língua inglesa de
forma particularmente tocante:
“A
lei, a língua, a literatura — estes são factores consideráveis. Concepções
comuns sobre o que é certo e decente, uma preocupação marcante com fair
play, especialmente em relação aos fracos e aos pobres, um forte sentimento de
justiça imparcial, e acima de tudo o amor pela liberdade pessoal. […] Se
estivermos juntos, nada é impossível. Se estivermos divididos, tudo irá
fracassar. É por isso que eu defendo continuamente a doutrina da associação
fraternal dos nossos dois povos… pelo serviço à humanidade e pela honra que
advém aqueles que servem grandes causas.”
Esta
ideia de relação especial anglo-americana e euro-atlântica esteve na base da
criação da NATO — cujo 70º aniversário celebramos este ano, e celebraremos na
próxima 27ª edição do Estoril Political Forum, com
a presença de Randolph Churchill, bisneto de Sir Winston.
Mas
estes valores ficaram inesquecivelmente evidenciados num pequeníssimo episódio
do ano 1940 (quando Churchill foi nomeado primeiro-ministro, a 10 de Maio, e
passou a liderar a resistência britânica e europeia ao nazismo). Nos Arquivos
Churchill, em Cambridge, existe uma única carta a ele dirigida por sua
mulher, Clementine, em todo o ano de 1940. Nessa carta, Clementine critica-o
pela “deterioração das maneiras no tratamento dos secretários privados”.
É
quase inacreditável que, num momento tão dramático e perigoso na vida da nação,
a mulher do primeiro-ministro britânico lhe tenha escrito uma única carta para…
o criticar por não ser suficientemente educado com os seus secretários. Mas é
factualmente verdade e pode ser comprovado nos Arquivos.
É
um pequeníssimo episódio que nos ensina uma grande lição sobre aquilo que Lord
Macaulay chamava de Civility, ou a complexa associação entre liberdade e
sentido de dever. Foi este sentido de Civilidade da cultura política
britânica e dos povos de língua inglesa que eu fui ensinado a admirar, desde
criança, em casa de meus pais e de minhas avós — sem que esse privilégio
tivesse requerido qualquer mérito da minha parte.
NOTAS:
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
1
- JOÃO CARLOS ESPADA
João
Carlos Mosqueira Mendes Espada GOM (Lisboa, 21 de março de 1955[1])
é um professor universitário português.
Foi
membro da UDP - União
Democrática Popular, um partido marxista surgido em Portugal em 1974.
É
director do Instituto de Estudos Políticos da Universidade
Católica Portuguesa, Professor Associado da Faculdade de Ciências
Humanas e Professor Convidado da Faculdade de Ciências Económicas e
Empresariais daquela universidade.
É
doutorado em Ciência Política na Universidade de Oxford (1990-1994),
onde foi orientado por Ralf
Dahrendorf. Foi ainda Professor Visitante nas universidades de Brown (1994-96), Stanford (1996) e Georgetown (2000), além de Visiting
Scholar no en:American
Enterprise Institute for Public Policy Research (2004) e Senior
Associate Member do St. Antony’s College, Oxford,
em Oxford (2005).
Foi
presidente da Associação Portuguesa de Ciência Política (2002-2006).
Foi
consultor para os Assuntos Políticos do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva (2006-2011), depois de
ter exercido funções semelhantes junto do Presidente Mário Soares (1986-1991).
É
editor da revista quadrimestral Nova Cidadania (desde 2007) e
colunista semanal do diário i (desde
2009).
A
5 de Março de 1996, foi feito Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
Obras
[editar | editar código-fonte]: Livre iniciativa e participação (1989); Dez anos
que mudaram o mundo : crónicas sobre o renascimento da ideia liberal (1992);
Ensaios sobre a liberdade (2002); A tradição anglo-americana da
liberdade : um olhar europeu (2008);
2
- Relações entre Portugal e Reino Unido
As
relações entre Portugal e Reino Unido são as relações diplomáticas
estabelecidas entre a República Portuguesa e o Reino Unido
da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Esta relação data de 1373
com a Aliança
Luso-Britânica, a mais antiga aliança internacional
ainda em vigor, celebrada entre os reinos de Portugal e Inglaterra (à época não existia ainda o Reino Unido).
A
aliança foi formalizada pelo Tratado de
Windsor em 1386, e em 1387 Filipa de Lencastre,
filha de João de Gante, casou com o rei João I de Portugal.
Não
obstante, no livro do historiador Vítor Pinto estabelece-se o começo de uma
ligação entre Portugal e Inglaterra em 1147, quando os cruzados ingleses
ajudaram D. Afonso Henriques na conquista de Santarém e Lisboa.
Durante
o final do século XVI, a Inglaterra viu-se envolvida numa luta com o Império
Espanhol, que à época reunia a então extinta coroa portuguesa e os territórios
espanhóis. A chamada Armada
Inglesa foi lançada como parte deste conflito, e um dos seus
objectivos era a tentativa de restaurar a independência portuguesa.
Outro
importante casamento entre as famílias reais portuguesa e inglesa foi a união
conjugal em 1662 de Carlos II de Inglaterra e Catarina de Bragança, filha de João IV de Portugal. Em 1703, Portugal aliou-se
à Inglaterra e aos Países Baixos na Guerra da Sucessão Espanhola, contra
a França e Espanha.
Nesse ano Portugal e Inglaterra assinariam o e Tratado de Methuen.
No
século XIX a aliança deu novamente impulso às relações entre Reino Unido e
Portugal quando Napoleão invadiu Portugal. Em 1807 o exército francês atacou Lisboa
e a família real portuguesa teve de fugir para o Brasil, ainda colónia
portuguesa. O auxílio a Portugal por parte dos britânicos precipitou a Guerra
Peninsular.
A
época mais difícil nas relações entre os dois países foi o final do século XIX,
quando se deu o episódio do Mapa
Cor-de-Rosa, e que teria um efeito visível na degradação da
aceitação da monarquia em Portugal.
Portugal
e Reino Unido combateram juntos na Primeira Guerra Mundial.
Actualmente,
ambos os países têm relações amigáveis no seio da União
Europeia, NATO, e outras organizações internacionais, existindo um
significativo número de residentes de cada um dos países no outro.
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