Pelo extraordinário número de opositores
que o texto de Alexandre Homem Cristo provocou, em insultos do mais baixo nível
que, aliás, se dispersaram por chufas entre si próprios, os de esquerda levando,
naturalmente, a palma da imundície “nauseante”, como lhe chama AHC, fico com
receio de que, caso haja o acentuar dessas “políticas” de esquerda no nosso
país - que parecem estar de pedra e cal - a vida dos seus opositores corra
perigo. Foi quase uma centena de comentários que recebeu o seu artigo de jovem
destemido, e fui-os espreitando na esperança de encontrar comentários serenos e
decentes. Assim aconteceu, daí que os transcreva, na tentativa de esclarecer
melhor, por quem sabe, o manifesto de AHC, com que me identifico, hélas! Mas como não há esperança onde falta
educação, a queda é previsível, para mais com o acentuar das hipocrisias.
Nauseante /premium
ALEXANDRE HOMEM CRISTO OBSERVADOR, 2/5/2019
Não se deve aceitar que quem branqueia
opressão política na Coreia do Norte e justifica miséria e ataques contra a
população na Venezuela participe numa maioria parlamentar num país democrático.
Há
momentos em que o ar que se inspira na política portuguesa se torna nauseante e
irrespirável. O agravar das tensões na Venezuela coloca-nos
num desses momentos. Enquanto o povo venezuelano enfrenta a morte, a fome e a opressão
às suas liberdades, há dois partidos portugueses que de forma explícita (PCP)
ou ambígua (BE) se recusam a condenar o regime de Maduro e a dar a mão a Guaidó
– alicerçando as suas posições no costumeiro bode expiatório do
intervencionismo americano.
Sim, manifestamente, há muita gente ainda com a cabeça na Guerra Fria. Mas,
seja qual for a justificação, o ponto é este: PCP e BE têm posições que, de
forma objectiva e por motivos tácticos, atentam contra os valores democráticos
da liberdade e da dignidade humana. E isto sem serem alvo de uma veemente
censura social, que ponha em causa a sua autoridade moral – ainda para mais
sendo estes dois partidos suportes parlamentares do governo. A tolerância
atribuída à esquerda portuguesa, em particular a PCP e BE, é indigna de uma
democracia madura.
É
indigno que, num contexto em que diariamente se alerta para a fragilidade das
democracias europeias, se tolere tão levianamente um partido cujo
eurodeputado, em entrevista ao Expresso,
é incapaz de condenar regimes opressivos e totalitários, como o norte-coreano. E que, confrontado com essa questão, se refugie
em respostas ensaiados e ambiguidades, tais como Cuba e Coreia do Norte não
serem “democracias avançadas” ou como justificar as suas ditaduras por via das
“ingerências no plano externo”. Tal como é indigno confiar a defesa dos
valores democráticos a um partido que, perante a actual tentativa de derrubar o
regime venezuelano e com o povo nas ruas a pedir liberdade, emite comunicados onde “condena veementemente a nova
intentona golpista contra a Venezuela e o seu povo, protagonizada por forças de
extrema-direita”, com a inevitável referência à administração norte-americana. O
PCP é só um: esta face internacional dos comunistas não é diferente da sua face
nacional – e conhecê-la é particularmente relevante para avaliar a sua (falta
de) devoção aos pilares da democracia representativa.
É
também indigno que os principais dirigentes do BE entoem cânticos nos quais
apelam à morte de um adversário político e actual chefe de Estado – eleito em eleições livres e democráticas. E, ainda
mais indigno, que o façam em plena celebração do 25 de Abril, da democracia e
da liberdade política. Os bloquistas podem arrumar o episódio na gaveta das
brincadeiras e das piadas. Ou podem inventar explicações conspirativas – como a
agitação das “redes sociais de extrema-direita” – para justificar o facto de
terem removido o vídeo que registou a marcha e respectivo cântico. O que não
podem é fingir que, por debaixo disso tudo, não habita uma visão violenta e
anti-democrática de combate político. Que o assunto tenha ficado em grande
medida limitado às redes sociais e que os dirigentes do BE (incluindo Catarina
Martins) não tenham sentido sequer a necessidade de fazer um mea culpa é
sintoma de uma impunidade sem paralelo entre as democracias mais robustas e
saudáveis do Ocidente. Simplesmente, isto não condiz com um escrutínio público
exigente e com a elevação que se deve exigir dos nossos representantes
políticos.
À
direita, esta tolerância não existe – para o bem e para o mal. Acontece mesmo o
inverso: vigora um regime de tolerância zero. E há uma razão para que assim
seja: à boleia das eleições americanas (Trump), brasileiras (Bolsonaro) e
espanholas (Vox), PCP e BE passaram os últimos dois anos a fiscalizar
declarações e a policiar os apoios políticos das figuras da direita portuguesa,
em busca de qualquer desvio censurável – e qualquer movimentação suspeita foi
amplamente escrutinada e disseminada. Aliás,
há meses que, com grave dramatização, se escutam vozes destes partidos lançando
avisos organizados e absurdos quanto ao surgimento de uma extrema-direita em
Portugal, informando o país que o populismo de direita estaria em vias de se
erguer e ameaçar as bases do regime democrático – e, consequentemente, que a
esquerda seria o abrigo dos democratas. Ora, tirando as fantasias conspirativas
e partidárias que encontram fascismo em cada vírgula, é saudável que a
comunicação social faça esse escrutínio e que seja exigente para com os
representantes políticos da direita portuguesa.
O que não é saudável é a prevalência
desta duplicidade de critérios. Não se
pode ter como normal que quem branqueia opressão política na Coreia do Norte e
justifica miséria e ataques contra a população na Venezuela participe numa
maioria parlamentar num país democrático e europeu – sem perguntas e sem
indignação geral. Afinal,
o escrutínio exigente e a censura social sem reservas têm de ser direccionados
contra todos os inimigos da liberdade – venham eles da direita ou da esquerda.
Quem procurar partidos extremistas e com atitudes anti-democráticas também tem
de olhar para PCP e BE. E enquanto isto não for evidente nem consensual,
dificilmente a política portuguesa será um lugar frequentável.
COMENTÁRIOS:
NunoW Nunow: De facto , "a tolerância atribuída à
esquerda portuguesa, em particular a PCP e BE, é indigna de uma democracia
madura " ... é que são tratados como se detivessem algum privilégio ético
ou moral sobre todos os restantes , quando o que na verdade apresentam, são
ressentimentos bafios , radicalismos plenos de raiva e vingança, rancor às
tradições e à nossa herança cultural e quatro mãos plenas de direitos (
pois que deveres e obrigações não é nada com eles ). Por essas e por outras, é
que, infelizmente, mais tarde ou mais cedo, cá teremos um VOX de extrema
direita para contrabalançar.
maria perry: O que é ainda mais nauseante é
saber que o povo português é ainda tão atrasado que vota nessa gente. Que
diferença para as democracias civilizadas da Europa, onde não há partidos de
extrema-esquerda. Que grande alívio será sentir que estamos rodeados por pessoas
normais e decentes.
joao Tavares: Nicolás Maduro, o Fantoche de Moscovo e de Havana,
continua a desgovernar a Venezuela com mão de ferro. Entretanto já fugiram da
Venezuela mais de 3,5 Milhões de Venezuelanos, para escaparem à Fome, à Miséria
e à Doença. E o PCP e BE continuam a aplaudir a "liderança" de
Nicolás Maduro.
João Gomes: Parabéns! Nauseante, é o termo
certo. Infelizmente há aqui muitos tugas que, por vários motivos, tentam
ignorar a história e o dia-a-dia dos povos sacrificados. Estou sempre a
interrogar-me, como é possível hoje em dia, os povos elegerem democraticamente
estes esquerdistas oportunistas radicais? Só pode ser por maldade. E quando se
arrependerem e quiserem alterar a situação, já não têm voto. Parem e pensem
como é bom ser livre nesta vida!!!
João Brandão: Deveria ser estranho que 30 anos depois da queda do
comunista muro de Berlin e da dissolução da união soviética e dos seus
satélites por incapacidade social e económica provocada pelos sistemas
comunistas aí instalados, ainda haja necessidade de escrever textos com este
teor. Mas infelizmente parece não ser tão estranho assim. Se se
atentar no estado da mentalidade colectiva europeia e em particular a
portuguesa, moldada por um sistema escolar marxista e uma comunicação
social completamente enfeudada a essa ideologia falha e falida, não
custa muito perceber qualquer balela emitida pela esquerda, por mais
disparatada que pareça, é aceite por esta sociedade lobotomizada como coisa
aproveitável.
Carlos Quartel: Este tipo de crónicas são sempre surpreendentes.
Parece que os autores caíram aqui agora, vindos de Marte e que se
depararam com esta situação. Os comunistas acreditam no comunismo, o comunismo
é um regime ditatorial, implacável para quem não alinha, a quem põe em campos
ou a quem remove por métodos mais expeditos. Partido único, controlo da
imprensa, polícia política, delação premiada, economia controlada, habitação e
residência definidas, tudo isso faz parte da receita, Nada tem a ver com as
democracias pluralistas, as liberdades individuais, a confiança na iniciativa
privada. Só que tudo isto se sabe, ou se
devia saber, desde há 80 anos.
Paulo Silva: Parabéns. Este era um artigo que se impunha, e que se
impõe. Não é repugnante a tendência que há na sociedade civil para fechar os
olhos aos desmandos da extrema-esquerda já sobejamente conhecidos - é que já
não há desculpas - e à hipocrisia estratosférica do seu discurso em regime
democrático?… (Ou)Vi há pouco a análise do debate da SIC às europeias por
um painel de jornalistas, e a dada altura uma senhora jornalista dizia que a
extrema-esquerda não era tão perigosa quanto a extrema-direita… porque já não
havia países de extrema-esquerda. Bom... Os regimes de extrema-esquerda que
existem são poucos, mas ‘bons’!… A maioria subsiste há décadas e décadas. E o
que é o Juche, Cuba ou China, ou mesmo a Venezuela, ao lado de Orbán ou de
Salvini???… Têm coisas que se algum desses líderes defendesse as manas Mortágua
cantariam de imediato uma santoantonina para os levar para o pé do Hitler… ou
do Estaline. Porque é que as esganiçadas não cantam uma santantonina aos
lideres desses regimes jurássicos???...
Só
pode haver uma explicação para isto, (ou duas). Ou a esquerda é exímia na
manipulação... ou é o síndrome dos Vencedores; o efeito que o desfecho da II GG
tem na consciência colectiva. Entretanto se os media continuarem a
dar cobertura a esta ignomínia sem qualquer respeito pela coerência e a
honestidade, a resposta um dia vai surgir, e não vai ser bonita... Aliás, já se
vê...
Mortaguarras .... Bom artigo. É absolutamente necessário
denunciar o PCP e BE que são hoje uma real ameaça à democracia em Portugal.
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