sábado, 4 de maio de 2019

E assim vamos regredindo



Pelo extraordinário número de opositores que o texto de Alexandre Homem Cristo provocou, em insultos do mais baixo nível que, aliás, se dispersaram por chufas entre si próprios, os de esquerda levando, naturalmente, a palma da imundície “nauseante”, como lhe chama AHC, fico com receio de que, caso haja o acentuar dessas “políticas” de esquerda no nosso país - que parecem estar de pedra e cal - a vida dos seus opositores corra perigo. Foi quase uma centena de comentários que recebeu o seu artigo de jovem destemido, e fui-os espreitando na esperança de encontrar comentários serenos e decentes. Assim aconteceu, daí que os transcreva, na tentativa de esclarecer melhor, por quem sabe, o manifesto de AHC, com que me identifico, hélas! Mas como não há esperança onde falta educação, a queda é previsível, para mais com o acentuar das hipocrisias.
Nauseante /premium
ALEXANDRE HOMEM CRISTO       OBSERVADOR, 2/5/2019
Não se deve aceitar que quem branqueia opressão política na Coreia do Norte e justifica miséria e ataques contra a população na Venezuela participe numa maioria parlamentar num país democrático.
Há momentos em que o ar que se inspira na política portuguesa se torna nauseante e irrespirável. O agravar das tensões na Venezuela coloca-nos num desses momentos. Enquanto o povo venezuelano enfrenta a morte, a fome e a opressão às suas liberdades, há dois partidos portugueses que de forma explícita (PCP) ou ambígua (BE) se recusam a condenar o regime de Maduro e a dar a mão a Guaidó – alicerçando as suas posições no costumeiro bode expiatório do intervencionismo americano. Sim, manifestamente, há muita gente ainda com a cabeça na Guerra Fria. Mas, seja qual for a justificação, o ponto é este: PCP e BE têm posições que, de forma objectiva e por motivos tácticos, atentam contra os valores democráticos da liberdade e da dignidade humana. E isto sem serem alvo de uma veemente censura social, que ponha em causa a sua autoridade moral – ainda para mais sendo estes dois partidos suportes parlamentares do governo. A tolerância atribuída à esquerda portuguesa, em particular a PCP e BE, é indigna de uma democracia madura.
É indigno que, num contexto em que diariamente se alerta para a fragilidade das democracias europeias, se tolere tão levianamente um partido cujo eurodeputado, em entrevista ao Expresso, é incapaz de condenar regimes opressivos e totalitários, como o norte-coreano. E que, confrontado com essa questão, se refugie em respostas ensaiados e ambiguidades, tais como Cuba e Coreia do Norte não serem “democracias avançadas” ou como justificar as suas ditaduras por via das “ingerências no plano externo”. Tal como é indigno confiar a defesa dos valores democráticos a um partido que, perante a actual tentativa de derrubar o regime venezuelano e com o povo nas ruas a pedir liberdade, emite comunicados onde “condena veementemente a nova intentona golpista contra a Venezuela e o seu povo, protagonizada por forças de extrema-direita”, com a inevitável referência à administração norte-americana. O PCP é só um: esta face internacional dos comunistas não é diferente da sua face nacional – e conhecê-la é particularmente relevante para avaliar a sua (falta de) devoção aos pilares da democracia representativa.
É também indigno que os principais dirigentes do BE entoem cânticos nos quais apelam à morte de um adversário político e actual chefe de Estado – eleito em eleições livres e democráticas. E, ainda mais indigno, que o façam em plena celebração do 25 de Abril, da democracia e da liberdade política. Os bloquistas podem arrumar o episódio na gaveta das brincadeiras e das piadas. Ou podem inventar explicações conspirativas – como a agitação das “redes sociais de extrema-direita” – para justificar o facto de terem removido o vídeo que registou a marcha e respectivo cântico. O que não podem é fingir que, por debaixo disso tudo, não habita uma visão violenta e anti-democrática de combate político. Que o assunto tenha ficado em grande medida limitado às redes sociais e que os dirigentes do BE (incluindo Catarina Martins) não tenham sentido sequer a necessidade de fazer um mea culpa é sintoma de uma impunidade sem paralelo entre as democracias mais robustas e saudáveis do Ocidente. Simplesmente, isto não condiz com um escrutínio público exigente e com a elevação que se deve exigir dos nossos representantes políticos.
À direita, esta tolerância não existe – para o bem e para o mal. Acontece mesmo o inverso: vigora um regime de tolerância zero. E há uma razão para que assim seja: à boleia das eleições americanas (Trump), brasileiras (Bolsonaro) e espanholas (Vox), PCP e BE passaram os últimos dois anos a fiscalizar declarações e a policiar os apoios políticos das figuras da direita portuguesa, em busca de qualquer desvio censurável – e qualquer movimentação suspeita foi amplamente escrutinada e disseminada. Aliás, há meses que, com grave dramatização, se escutam vozes destes partidos lançando avisos organizados e absurdos quanto ao surgimento de uma extrema-direita em Portugal, informando o país que o populismo de direita estaria em vias de se erguer e ameaçar as bases do regime democrático – e, consequentemente, que a esquerda seria o abrigo dos democratas. Ora, tirando as fantasias conspirativas e partidárias que encontram fascismo em cada vírgula, é saudável que a comunicação social faça esse escrutínio e que seja exigente para com os representantes políticos da direita portuguesa.
O que não é saudável é a prevalência desta duplicidade de critérios. Não se pode ter como normal que quem branqueia opressão política na Coreia do Norte e justifica miséria e ataques contra a população na Venezuela participe numa maioria parlamentar num país democrático e europeu – sem perguntas e sem indignação geral. Afinal, o escrutínio exigente e a censura social sem reservas têm de ser direccionados contra todos os inimigos da liberdade – venham eles da direita ou da esquerda. Quem procurar partidos extremistas e com atitudes anti-democráticas também tem de olhar para PCP e BE. E enquanto isto não for evidente nem consensual, dificilmente a política portuguesa será um lugar frequentável.
COMENTÁRIOS:
NunoW Nunow: De facto ,  "a tolerância atribuída à esquerda portuguesa, em particular a PCP e BE, é indigna de uma democracia madura " ... é que são tratados como se detivessem algum privilégio ético ou moral sobre todos os restantes , quando o que na verdade apresentam, são ressentimentos bafios , radicalismos plenos de raiva e vingança, rancor às tradições e à nossa herança cultural  e quatro mãos plenas de direitos ( pois que deveres e obrigações não é nada com eles ). Por essas e por outras, é que, infelizmente, mais tarde ou mais cedo, cá teremos um VOX de extrema direita para contrabalançar.
maria perry: O que é ainda mais nauseante é saber que o povo português é ainda tão atrasado que vota nessa gente. Que diferença para as democracias civilizadas da Europa, onde não há partidos de extrema-esquerda. Que grande alívio será sentir que estamos rodeados por pessoas normais e decentes.
joao Tavares: Nicolás Maduro, o Fantoche de Moscovo e de Havana, continua a desgovernar a Venezuela com mão de ferro. Entretanto já fugiram da Venezuela mais de 3,5 Milhões de Venezuelanos, para escaparem à Fome, à Miséria e à Doença. E o PCP e BE continuam a aplaudir a "liderança" de Nicolás Maduro.
João Gomes: Parabéns! Nauseante, é o termo certo. Infelizmente há aqui muitos tugas que, por vários motivos, tentam ignorar a história e o dia-a-dia dos povos sacrificados. Estou sempre a interrogar-me, como é possível hoje em dia, os povos elegerem democraticamente estes esquerdistas oportunistas radicais? Só pode ser por maldade. E quando se arrependerem e quiserem alterar a situação, já não têm voto. Parem e pensem como é bom ser livre nesta vida!!!
João Brandão: Deveria ser estranho que 30 anos depois da queda do comunista muro de Berlin e da dissolução da união soviética e dos seus satélites por incapacidade social e económica provocada pelos sistemas comunistas aí instalados, ainda haja necessidade de escrever textos com este teor.  Mas infelizmente parece não ser tão estranho assim. Se se atentar no estado da mentalidade colectiva europeia e em particular a portuguesa, moldada por um sistema escolar marxista e uma comunicação social completamente enfeudada a essa ideologia falha e falida, não custa muito perceber qualquer balela emitida pela esquerda, por mais disparatada que pareça, é aceite por esta sociedade lobotomizada como coisa aproveitável.  
Carlos Quartel: Este tipo de crónicas são sempre surpreendentes. Parece que os autores caíram aqui agora, vindos de Marte e que se  depararam com esta situação. Os comunistas acreditam no comunismo, o comunismo é um regime ditatorial, implacável para quem não alinha, a quem põe em campos ou a quem remove por métodos mais expeditos. Partido único, controlo da imprensa, polícia política, delação premiada, economia controlada, habitação e residência definidas, tudo isso faz parte da receita, Nada tem a ver com as democracias pluralistas, as liberdades individuais, a confiança na iniciativa privada. Só que tudo isto  se sabe, ou se devia saber, desde há 80 anos. 
Paulo Silva: Parabéns. Este era um artigo que se impunha, e que se impõe. Não é repugnante a tendência que há na sociedade civil para fechar os olhos aos desmandos da extrema-esquerda já sobejamente conhecidos - é que já não há desculpas - e à hipocrisia estratosférica do seu discurso em regime democrático?… (Ou)Vi há pouco a análise do debate da SIC às europeias por um painel de jornalistas, e a dada altura uma senhora jornalista dizia que a extrema-esquerda não era tão perigosa quanto a extrema-direita… porque já não havia países de extrema-esquerda. Bom... Os regimes de extrema-esquerda que existem são poucos, mas ‘bons’!… A maioria subsiste há décadas e décadas. E o que é o Juche, Cuba ou China, ou mesmo a Venezuela, ao lado de Orbán ou de Salvini???… Têm coisas que se algum desses líderes defendesse as manas Mortágua cantariam de imediato uma santoantonina para os levar para o pé do Hitler… ou do Estaline. Porque é que as esganiçadas não cantam uma santantonina aos lideres desses regimes jurássicos???...
Só pode haver uma explicação para isto, (ou duas). Ou a esquerda é exímia na manipulação... ou é o síndrome dos Vencedores; o efeito que o desfecho da II GG tem na consciência colectiva. Entretanto se os media continuarem a dar cobertura a esta ignomínia sem qualquer respeito pela coerência e a honestidade, a resposta um dia vai surgir, e não vai ser bonita... Aliás, já se vê...
Mortaguarras .... Bom artigo. É absolutamente necessário denunciar o PCP e BE que são hoje uma real ameaça à democracia em Portugal. 

Nenhum comentário: