Valha-nos Deus, Alá, ou seja quem for. Nas
horas da angústia apegamo-nos ao divino como ao profano, nas suas variantes, e vamos
conhecendo a história da nossa condição humana face a desígnios superiores de
vária índole. Se não acreditarmos ou já esquecemos, aproveitamos para fazer a
revisão. Julgo que a busca do tema proveio da preocupação sofrida pelo Dr.
Salles no trauma oftalmológico, com ameaça de paragem prolongada, o que nos
preocupou. As melhoras, felizmente, causadas por um Deus propício ou por uma
equipa médica exemplar, fizeram-no recuperar com brevidade, e a energia de
sempre, para BEM DA NAÇÃO, que assim vai revendo matérias de ilustração, em interacção exemplar com os seus comentadores.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA A BEM DA
NAÇÃO, 02.05.19
ou
O DIVINO E O PROFANO
Lutero e Kant
Lutero responsabilizou os seus
seguidores directamente perante Deus, sem a intermediação do confessor nem
bulas remissoras dos pecados, no cumprimento dos ditames bíblicos a cuja
exegese incitou; Kant definiu o imperativo categórico em cumprimento do qual o indivíduo
tem a obrigação ética de servir o bem comum.
Olhemo-nos de frente, nós
somos os Hiperbóreos e sabemos muito bem como vivemos distantes, dizia Nietzsche, recordando o substantivo adjectivante grego em relação aos que
viviam para lá do sítio onde nascia Boreal, o vento, com isso significando os
que tinham condicionantes climáticas que lhes tiravam o bom humor, os
confinavam a espaços fechados, os induziam à meditação, ao estudo e ao
trabalho, Para além do Norte, dos
gelos, da morte – a nossa vida, a nossa felicidade… Descobrimos a felicidade, conhecemos o
caminho que a ela conduz, encontramos a saída após milhares de anos de
labirinto.
Eis como, após gerações e
gerações, os sisudos alemães vivem para trabalhar.~
Al Wahhab e Ibn Saud
Al Wahhab condenou à morte quem traduzisse o Corão e fizesse qualquer
exegese do respectivo conteúdo; Ibn Saud, rei da Arábia, conservou o poder temporal
porque anuiu à exigência de reservar a Al Wahhab o poder espiritual e de
viabilizar materialmente os seus mandamentos.
O cumprimento literal do Corão,
eis do que o mundo hoje padece à mão do Sunismo Wahhabita, esse mesmo que é
financiado pelos petrodólares sauditas.
Corão- Capítulo 191 – Surata 2 - Matai
os infiéis onde quer que os encontreis e expulsai-os de onde vos expulsaram,
porque a perseguição é mais grave do que o homicídio. Não os combatais nas
cercanias da Mesquita Sagrada, a menos que vos ataquem. Mas, se ali vos
combaterem, matai-os. Tal será o castigo aos incrédulos.
5:33 - O castigo para aqueles
que lutam contra Deus e contra o Seu Mensageiro e semeiam a corrupção na terra,
é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e o pé
opostos, ou banidos. Tal será, para eles, um aviltamento nesse mundo e, no
outro, sofrerão um severo castigo.
Uma
vez que a sociedade muçulmana se considera unicitária relativamente à religião,
não há um mundo profano e um outro que se deva considerar apenas do foro
espiritual. E isto, apesar da separação inicial de poderes entre Al Wahhab e
Ibn Saud. De facto, foi o modo que Al Wahhab teve de assegurar a posição que
pretendia. Contudo, na actualidade, o guardião da
fé wahhabita é o Rei saudita.
Curiosidade histórica: Immanuel Kant
(1724-1804) e Ibn Al Wahhab (1703-1791) foram
contemporâneos mas em mundos tão diferentes que parecem separados por séculos
de iluminismo e de obscurantismo.
O pensamento de Kant trouxe
motivos de reflexão que foram globalmente incentivadores da nossa Civilização;
Al Wahhab, proibindo a exegese dos textos sagrados do Islão, conseguiu de um só
golpe sequestrar o Sunismo anulando 14 séculos de uma Civilização que até então
era pujante.
Tenho
por relevante referir que o Cristianismo tem o amor e o perdão como formas
essenciais de expressão da sua fé, o mesmo sucedendo com o Budismo cuja
compaixão (equivalente ao amor cristão) é sua prática essencial mas o Islão tem
a Lei de Talião como tom geral da sua filosofia na célebre expressão do «olho
por olho, dente por dente». Sim, mesmo a versão mais exegética e de concórdia
do Sunismo, o Ibadismo cujo guardião é o Sultão de Omã, é taliónica.
À guisa de conclusão, ocorre-me
reconhecer que a influência religiosa foi e continua a ser essencial às
sociedades por ser a partir dos seus preceitos que se constroem os códigos
morais e éticos donde resultam os quadros jurídicos e regulamentares. Ou seja,
cada Civilização tem na sua génese uma Religião mas persistem regimes políticos
que assentam no dogmatismo religioso ou profano de um modo inequivocamente
hierocrático, dogmático, rígido e, no mínimo, severo só sobrevivendo sob uma
vigilância policial férrea, nomeadamente as Polícias
Religiosas e outras mais ou menos secretas mas todas elas
inibidoras da dignidade humana.
E se quanto ao dogmatismo marxista ele vem caindo de maduro, no
que se refere ao Islão, ele poderá vir a ter a sua revolução que será feminina ou
não será.
Haja
esperança!
COMENTÁRIOS:
Anónimo 02.05.2019 14:12: "Em todo o pano
cai uma nódoa!" Assim em todas as religiões há gente boa, sofrível e
péssima. Algumas primam por coleccionar as péssimas
Adriano Lima 02.05.2019 18:58: Em primeiro lugar, saúdo o rápido e feliz
reaparecimento do Dr. Salles, sinal de que é agora mais optimista o diagnóstico
do seu estado de saúde visual. Assim espero e assim queiram Deus, Jeová,
Allah, Buda, Brahma, Manitu, ou quem quer que seja que maneje superiormente os
cordelinhos dos nossos destinos. A entidade é a mesma. As nossas
interpretações ou exegeses é que diferem e estão na origem de todos os males de
que padecemos. Mesmo entre a cristandade, as rivalidades e confrontos do passado entre
católicos e protestantes, na Guerra dos Trinta Anos e outras, semearam um
cortejo de morte, destruição e desgraças, que nos deixam, a nós cristãos, numa
posição pouco confortável para censurar a brutalidade dos códigos do Islamismo.
O "amor e o perdão" da linguagem doutrinal cristã foi, ao longo de
muitas eras, mais retóricos que expressão de uma prática. Revisite-se a
conquista de Jerusalém pelos Cruzados em 1099. A matança impiedosa sofrida
pelos muçulmanos, judeus e cristãos do oriente foi de tal monta que até
impressionou os vencedores mais sensíveis, que se calhar nem seriam os bispos
que de espada brandida estavam entre as hostes vitoriosas. O que é
de assinalar é que enquanto sob domínio muçulmano, os islâmicos, os judeus e os
cristãos viviam juntos em Jerusalém, sem problema de coabitação. Mas depois da
conquista pelos cristãos, os muçulmanos sobreviventes que se recusaram a
converter-se ao Cristianismo foram mortos
Portanto,
Dr. Salles, o historial do nosso cristianismo certamente deixaria Jesus Cristo
escandalizado e com vontade de voltar de novo à cruz. Em vez de proclamar as
célebres palavras "Perdoai-lhes meu pai que não sabem o que fazem",
perguntaria: "Meu pai, em que é que eu falhei?"
Com isto, pergunto se as desgraças da humanidade não se devem precisamente às religiões monoteístas - judaísmo, cristianismo e islamismo - em contraponto com as politeístas que, quanto se sabe, eram tolerantes e não eram geradoras de impiedade e brutalidade, deixando a cada um a liberdade de adorar este ou aquele deus, esta ou aquela deusa. Por outro lado, convém que se diga que não obstante a profusão de deuses e deusas entre as religiões politeístas, estas acreditavam num ser superior que se sobrepunha aos deuses e deusas do convívio humano mais próximo. E assim sendo, pergunto se os santos do catolicismo mais não são que réplicas dos deuses e deusas do politeísmo, os mesmos intermediários entre a Terra e o Céu?
Com isto, pergunto se as desgraças da humanidade não se devem precisamente às religiões monoteístas - judaísmo, cristianismo e islamismo - em contraponto com as politeístas que, quanto se sabe, eram tolerantes e não eram geradoras de impiedade e brutalidade, deixando a cada um a liberdade de adorar este ou aquele deus, esta ou aquela deusa. Por outro lado, convém que se diga que não obstante a profusão de deuses e deusas entre as religiões politeístas, estas acreditavam num ser superior que se sobrepunha aos deuses e deusas do convívio humano mais próximo. E assim sendo, pergunto se os santos do catolicismo mais não são que réplicas dos deuses e deusas do politeísmo, os mesmos intermediários entre a Terra e o Céu?
Por
tudo isso, pergunto se as religiões politeístas seriam menos dignas tributárias
dos nossos códigos morais e éticos do que as religiões monoteístas, mesmo
incluindo a cristã?
Mas,
enfim, vá lá que o Cristianismo, nos últimos séculos, sobretudo o último,
reviu, abjurou e condenou as práticas do passado que envergonham a mensagem de
Cristo, pedindo perdão ao mundo.
Infelizmente,
o Sunismo Wahhabita
é que não olha para dentro de si e não se redime dos seus hediondos pecados.
Antes pelo contrário, continua infrene no seu trajecto de absoluta negação da
própria humanidade dos seus seguidores.
arsénio pina 02.05.2019 21:19: Como sou ateu, dizendo-me agnóstico para não
escandalizar amigos crentes, não acredito que os clérigos e mesmo papas
acreditem na existência de Deus, por não serem estúpidos e conhecerem os livros
sagrados, os seus acrescentos e modificações.
Quanto ao Wahhbismo e ao poder dos
reis e principes da Arábia saudita,: isso
deve-se ao seu petróleo e protecção dos EUA, visto venderem o seu petróleo em
dólares. Os que tentaram vendê-lo noutra moeda (Kadafi e Saddam) foram
liquidados. Todavia, actualmente, a China compra-o na sua moeda, que é
convertível em ouro, o que cria um grave problema ao dólar.
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