Não é tão universal assim. Digo, a «Declaração Universal dos Direitos Humanos»,
como
bem demonstra Salles da Fonseca. E aqui vamos nós em nova etapa, cavalgando, nas
convulsões dos conluios, na rapidez das mudanças que dantes pareciam mais
graves ainda, porque eram de armas e de terror, na sofisticação repugnante dos
meios de destruição drástica, de que ditadores poderosos se arrogavam o direito
de fazer cumprir, talvez amedrontadamente – se não sadicamente - obedecidos, e
que hoje outros ditadores, de sítios onde a tal Declaração não chegou, também
se arrogam. (Agora, nestes tempos convulsivos, é mais uma questão de
generalização dos crimes, quer os de natureza física - por terrorismo puro, sob
o disfarce de radicalismos religiosos, ou por interpretação abusiva das
liberdades instituídas democraticamente – quer os de natureza ética, de
generalização da corrupção de natureza económica ou outra, que nos afligem
diariamente, pelo menos a nós, os de Ofiuza).
Mas neste momento, cá pelas democracias,
travam-se discussões amigáveis, com muitos sorrisos e abraços, para uma
composição e eleição presidencial segundo parâmetros anteriores, de união de
afectos, que uns pretendem continuar seguindo - expõe Diana Sollers - e outros pretendem corrigir, de acordo
com novos resultados eleitorais .
(E … No meio desses, cá da Ofiuza do ripanço e do primarismo que
depressa cresceu para as tais mudanças, a botar faladura sorridente, o nosso Prime
Minister, a pretender criar outras alianças europeias, mais ao nível da sua e nossa
geringonça, para uma mais adequada distribuição dos dinheiros que não ganhámos
com o nosso suor nem com as nossas lágrimas)…
Que mais irá acontecer?
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 29.05.19
Assim
como, no naufrágio, Camões asiu o manuscrito d’ Os Lusíadas”, também nós
segurámos o conceito do Bem.
Nem
tudo se perdeu na frustração do sonho dos nossos pais. Assim foi que
redigimos a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” e a dignidade regressou como valor fundamental da
Humanidade.
De
toda a Humanidade? Claramente, não!
Apenas
no primeiro mundo, o do Ocidente (o da OCDE), porque no leste europeu (o 2º mundo) da esfera
soviética (o do Pacto de Varsóvia) e na maior parte do resto do planeta (o 3º
mundo), os direitos humanos continuaram a ser espezinhados. Mas nós, os ocidentais,
“salvámos a honra do convento”. E alcandorámos o bem-comum à categoria de tema
fundamental na discussão política no âmbito de um processo a que nos habituámos
a chamar Democracia.
Nem
tudo se perdeu, muito se ganhou. Um terço do mundo cumpriu o sonho; dois terços
perderam-se nas vilanias.
E
nós, por cá, em Ofiuza?
Cá, pela “terra da serpente”, tudo
calmo, “quentinho”, em “banho maria”, de cueiros, em redoma de vidro,
incubadora de Caminha a Timor…
Herdeiros de
subdesenvolvimento crónico, tinham os nossos avós passado da Monarquia à
República com inconcebíveis 90% de analfabetos adultos, passado pelo vexame da
Grande Guerra em África e de carne para canhão inglês na Flandres; os nossos
pais a serem protegidos dos flagelos directos da II Guerra Mundial mas a terem
que se confinar a um modelo político monolítico que muito provavelmente não
escolheriam. E por isso mesmo, podendo, nos puseram no ensino estrangeiro, esse
que tinham por mais arejado.
A
mim, coube-me o Liceu Francês em Lisboa.
Já
conto…
(continua) Maio de 2019, Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
João Franco, 29.05.2019: Sr Dr. A guerra em África não foi um vexame! Pode ter
sido um erro estratégico ou simplesmente um erro mas nunca um vexame. João
Franco
Henrique Salles da Fonseca, 29.05.2019: Muito Estimado Senhor Eng. Franco, No texto refiro-me
aos episódios que ocorreram no sul de Angola e no extremo norte de Moçambique
durante a guerra de 14-18, não à de 61-74 em que esta nada teve de vexame para
nós, pelo contrário.
João Franco 29.05.2019: OK Então está bem. Um abraço. João Franco
Uma segunda oportunidade /premium
OBSERVADOR, 29/5/2019
O
novo Parlamento Europeu mostra que a população nem quer mais hegemonias dos
partidos tradicionais, nem agendas desproporcionalmente nacionalistas. Quer
uma Europa renovada e geradora de consensos
Vamos começar pelas más notícias: em cinco estados da União Europeia – alguns dos
maiores, por sinal – as eleições da semana passada foram ganhas por partidos de
extrema-direita ou por partidos ultranacionalistas: no Reino Unido,
na França, em Itália, na Hungria e na Polónia.
Não deixa de ser motivo de grande preocupação.
Mas
a verdade é que o cenário mais negro, o dos partidos antieuropeus obterem cerca
de um terço dos assentos parlamentares, não aconteceu. Em vez disso, os liberais democratas e os verdes
ocuparam uma posição central entre partidos tradicionais (em queda) e partidos
extremistas (em ascensão). As forças políticas pró-europeias continuam em
maioria, mas a fragmentação do novo hemicíclico é sintomática da vontade da
população. Nem quer mais hegemonias dos partidos tradicionais, nem agendas
desproporcionalmente nacionalistas. Quer uma Europa renovada e geradora de
consensos e compromissos.
Não vai ser nada fácil. A
fragmentação não gera harmonia. Aliás,
já se fala de uma geringonça europeia de centro-esquerda, protagonizada pelos
socialistas, os liberais e os verdes, desde já para impedirem Manfred Weber de
ser presidente da Comissão. A questão de fundo é que esta coligação
pós-eleitoral não corresponde nem à vontade do eleitorado, nem ao que mais
convém ao Parlamento Europeu. Por vários motivos.
Em primeiro lugar, a
fragmentação é também uma forma de protesto contra blocos – neste caso famílias
– partidárias. Espera-se deste novo Parlamento o que é mais difícil:
criar consensos alargados em várias áreas, que sejam o mais participadas
possível, e que correspondam aos anseios da população. Caso não consiga, corre
sérios riscos de bloquear.
Em segundo lugar, este novo
Parlamento – e a distribuição de cargos pelas instituições que por consequência
desta eleição vai ser muito mais diversa – é a oportunidade de que a União
Europeia precisa para se reformar. Esta eleição acaba com uma espécie de
Europa em marcha desenfreada para o aprofundamento da institucionalização e
alargamento a mais estados e dá lugar uma arena em que as ideias –
diferentes ideias de Europa – estão em confronto.
Mais
uma vez a tarefa é difícil, mas caso esta oportunidade para reformar as instituições
não seja aproveitada, a profecia dos cidadãos europeus poderá concretizar-se. Questionados
numa sondagem do European Council on Foreign Relations sobre a durabilidade do
projeto europeu, mais de metade respondeu que não se manteria por mais uma geração.
É que, como foi sugerido acima, a sombra dos extremismos dispostos a
transformar a Europa por dentro não desapareceu. Foi apenas menos expressiva do
que se esperava.
Em terceiro lugar, a
previsível confusão no Parlamento e na Comissão tenderão a fortalecer o
Conselho Europeu, onde se encontram os chefes de Estado dos ainda 28, e os
presidentes da Comissão e do Conselho. O reforço
deste órgão, provavelmente mais estável que os restantes, pode ser um bom ponto
de partida. Não só os
partidos mais extremistas estão em muito menor representação, como uma reflexão
sobre um papel mais activo dos estados na construção europeia pode bem ser
parte da solução para o problema.
Uma coisa é certa. Apesar
de sinais preocupantes (a força dos partidos antieuropeus na Grã-Bretanha,
França, Itália, Polónia e Hungria), as eleições para o Parlamento Europeu
mostram duas coisas: que os cidadãos não querem órgãos
dominados por duas forças políticas e que, apesar disso, ao deslocarem o seu
voto de partidos tradicionais para outros partidos pró-europeus, estão a dar
uma segunda oportunidade à Europa. Mas
é também sinal de que preferem uma Europa diferente. Queiram os eleitos e as
elites de Bruxelas perceber esta mensagem, ou os riscos que ainda existem vão
tender a aumentar.
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