Humor impagável E implacável. Tanto no
que se refere às eleições para o Parlamento e o tal “dia para reflexão” imprescindível para bem escolher e por isso fechado
a intervencionismos orientadores de opinião dos habituais analistas - como se
os votantes ou os não votantes não tivessem já os seus conceitos definidos, com
ou sem parti pris da concessão
democrática. O segundo artigo de Helena
Matos é mais uma excelente análise sobre o que “por aqui nos vai” de encobrimentos
do que vai mal e de reclame do que de antemão se prepara como bom e assim se
alardeia “et pour cause”. Um prazer de leituras sãs, de risonhas escritas
incisivas. Um “risonho” que lágrimas traduz, de um pátrio amor sempre traído.
ELEIÇÕES
EUROPEIAS - Marca d’água / premium
Votei antecipadamente. Reflecti em
plena campanha eleitoral. E agora? Conto carneiros até que fechem as últimas
urnas de voto nos Açores não vá eu com os meus textos perturbar os eleitores?
Qual é o dia de reflexão dos
eleitores que votaram no passado Domingo? Sim, aqueles que, como foi o meu
caso, optaram por votar antecipadamente estão certamente desobrigados de
reflectir no sábado anterior às eleições. Nós
já reflectimos há sete dias. A não ser
claro que se nos aplique a obrigação de reflectir pós-dia de eleições. (É certo que os desacertos entre as escolhas feitas
pelos eleitores e aquilo em que os
eleitos se transformaram depois de escolhidos são tão sonantes que levam a
pensar que a reflexão pós-eleitoral devia ser obrigatória e vinculativa.) Assim sendo, e estando eu neste limbo
reflectivo-legislativo, tenho a acrescentar que quero mesmo escrever sobre esta
eleição europeia – a tal para que votei há uma semana – e sobre a duvidosa legalidade da forma como
decorreu a votação em que participei.
Já aos leitores que hoje têm de reflectir recomendo
que revejam a Raquel Welsh em “One million years BC”, sim exactamente aquele
filme dos anos 60 que mistura bikinis, dinossauros e hortas biológicas.
Andam os caros leitores com o comando até ao momento da aula de
natação da Raquel Welsh aos primitivos. Pronto ficam aí sossegados
que eu já volto e uma coisa dessas vale a pena ser vista várias vezes. Entretanto
eu reflicto sobre a minha experiência eleitoral de há uma semana. Repito, de há uma semana. Logo estou por minha
conta.
Não foi uma questão de mais fila ou
de muito tempo para votar. É de legalidade mesmo que falo ou mais propriamente
escrevo: votou-se
depois da hora e havia urnas abertas – sim, com a urna sem tampa e com os
votos todinhos ali à vista e à mão de qualquer um. Quanto ao sigilo do voto
também me parece que está mais que comprometido. Senão vejamos o que aconteceu:
o voto não foi apenas dobrado como nas outras eleições, mas sim colocado dentro
de um envelope branco que por sua vez foi metido dentro doutro envelope, este
azul. Com o voto duplamente envelopado entregava-se o mesmo a um membro da mesa
que escrevia no dito envelope exterior o nosso nome do eleitor, o nosso número
de cartão de cidadão e o local de voto. Como é óbvio o processo inverso é
possível: olha-se para o envelope azul e lê-se o nome que lá está. Depois é só
abrir o envelope azul, em seguida o branco e depois desdobrar o voto. Dir-se-á
que tal nunca acontecerá. Não sei.
Acreditando
que os leitores perceberam devidamente a engenhoca dos envelopes voltemos à
aula de natação da Raquel Welsh mais precisamente ao momento em que estavam os
primitivos a descobrir as maravilhas do crawl e aparece a aventesma do
dinossauro voador.
Creio que foi desde esse momento
fundador na História do cinema e dos bikinis que nas cabecinhas ocidentais se
passaram a confundir alterações climáticas com tudo o que comprometa “o bom
tempo” para ir à praia. Basta ouvir as palavras de ordem dos
betinhos urbanos que desfilaram no centro de Lisboa para “salvar o planeta” e
as diatribes daquela adolescente Greta que parece saída das aterrorizantes
brigadas de crianças khmers vermelhas, para constatar que mais dinossauro
menos vulcão se tornou fé obrigatória acreditar que o planeta está em risco por
culpa da humanidade, para o caso das culpas restritas ao mundo ocidental. E assim com a Raquel Welsh quase a ser devoradas pelas
crias do pterodactilo (o bikini continuava a assentar-lhe estupendamente!)
voltamos à minha votação. De há uma semana, não se esqueçam os leitores nem a
CNE.
Se alguém tratou de experimentar
previamente o procedimento estabelecido para a votação antecipada certamente
que se calou bem caladinho pois ao tentar-se enfiar a matrioska de envelopes
dentro da ranhura da urna de voto constatava-se que não cabia. A sério, os envelopes não passavam facilmente daí
que em algumas mesas de voto se tenha optado por abrir as
urnas. Também ninguém ponderou o tempo
necessário para se escrever no envelope exterior o nome do eleitor, o seu
número de cartão de cidadão, local de voto e selar com uma etiqueta numerada a
matrioska de envelopes. Mas ainda
faltavam mais uns detalhes logo mais tempo na fila: tínhamos de depositar o
voto na urna aberta ou lutar com a ranhura para, por fim, recebermos o
comprovativo de que tínhamos votado devidamente etiquetado com um número igual
ao que selara o nosso envelope.
Como se percebe tudo isto demorava muito mais tempo que a votação habitual. Mas
ninguém o previu.
Neste
momento da fita já Afinal uma coisa é anunciar o voto antecipado e fazer
de conta que sim senhor somos muito modernos. Outra bem distinta é tratar e
verificar os procedimentos para que ele de facto aconteça.a Raquel Welsh está de figura inspiradora da presente
articulação entre o feminismo e a ecologia pois não é em vão que ela lidera aquele grupo de amazonas que não só praticava a pesca
sustentável como se dedicava com particular sucesso à agricultura
biológica.
Nada do que aconteceu na votação de
dia 19 é tecnicamente irresolúvel mas a forma atabalhoada como decorreu esse
dia de eleições remete para um padrão governamental: anuncia-se, faz-se o show
do anúncio, colhem-se os louros jornalísticos do projecto ambicioso, do anúncio
histórico, da medida inovadora… Quando chega a hora da verdade em que o
histórico não existe, o inovador fica abaixo das expectativas e o ambicioso
falha já não há notícias até porque os jornalistas já estão a comentar outro
projecto ambicioso, outro anúncio histórico e outra medida inovadora…
Por exemplo, em Maio de 2018, anunciava-se como um dado
adquirido que bastava cortar vagas no ensino superior em Lisboa e no Porto para
que milhares de estudantes se pusessem a caminho das universidades e
politécnicos do interior. Em Setembro, o ministro Manuel Heitor
rejubilava porque a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro tinha atraído
mais 82 novos estudantes do que no ano anterior. O Politécnico de Bragança mais
63, a Universidade do Minho 59 e a do Algarve 45. Curiosamente a Guarda que não
fica no litoral registava menos 53 alunos, e as interiores Beja e Viseu perdiam
respectivamente 25 e 23 alunos.
Feitas
as contas conclui-se que o interior ganhou menos alunos que o
Governo notícias a anunciar que íamos ter mais alunos no interior. Agora, em Maio de 2019, um estudo veio
confirmar isso mesmo (o falhanço da medida não o sucesso das notícias sobre ela): “Corte de vagas não produziu
efeitos desejados”. Como é óbvio a agenda anda agora entretida a
anunciar o resultado doutras medidas. Elas terão de ser cada vez mais mais
espampanantes, mais ideologicamente marcadas e mais irrealistas para no seu
estardalhaço ofuscarem o falhanço das anteriores mesmo quando o seu falhanço é de 100% como aconteceu com a
muito propalada linha de crédito para limpeza da floresta.
E a Raquel Welsh o que foi feito
dela? O “leitor-eleitor em dia de reflexão”
que me perdoe mas não podia estar a interromper a contabilidade dos alunos que
iam para o interior e não foram com a descrição do momento em que a mesma
Raquel se torna uma precursora do multiculturalismo na versão tribal mas deixo
já aqui a minha proposta: os manifestantes que querem “salvar o planeta”, mais
a menina Greta e os deputados que a querem ouvir qual sibila, apanham o
cacilheiro e vão até Cacilhas.
Aí, com os pezinhos em cima desses terrenos que já foram de um estaleiro que a
luta contra o capitalismo destruiu e que a empresa estatal“Baía do Tejo” se prepara agora para vender por 2
mil milhões de euros (para quê? Para
escritórios e habitação que a indústria já foi para a China!) falam sobre as alterações climáticas e a
subida do nível do mar. Assim
ficará mais claro quem em Lisboa quer declarar a emergência climática e em
Almada quer construir rentinho ao mesmo mar que em Lisboa se garante vai subir.
Acreditem o anacronismo do bikini da Raquel Welsh a par da sua aula de
natação aos primitivos são um detalhe ao pé do desacerto entre o discursos e a
prática desta gente.
Em
resumo e como resultado de uma reflexão que creio aprofundada pela forma como
votei nestas eleições: sabemos que a esquerda está no poder
quando os anúncios governamentais são avaliados em função do anunciado e não do
acontecido. É a sua marca d’água. Tal como o bikini era da
Raquel Welsh.
E Berardo deixou-os nus /premium
A
fúria dos seus parceiros nasce não do que Berardo fez mas sim daquilo que expôs
sobre eles e como exercem o poder. Do BCP ao CCB, Berardo, o capitalista de
Estado, é a outra face do socialismo.
O
show da indignação dos antigos parceiros de Berardo com a prestação do
comendador na Assembleia da República só pode surpreender quem não viveu em
Portugal no século XXI. A fúria que lhes extravasa por todos poros nasce
não do que Berardo fez (e que eles estavam fartos de saber) mas sim daquilo que
ele na sua desconcertante e, na minha opinião, nada ingénua boçalidade expôs
sobre a forma como os socialistas se portam nos governos. Sobre como
pegam nos chavões da cultura para tornar aceitável o que não o é; sobre o
funcionamento do capitalismo de Estado em que se tornaram exímios; sobre como
conseguem tornar tudo aceitável até que um escândalo rebente e os obrigue ao
número da indignação fervorosa.
Todos os governos podem ter gente corrupta. Todos os partidos podem
ser corrompidos. Todos os executivos podem celebrar acordos com
empresas e organizações que acabam a revelar-se corruptas. Mas nem todos expõem do mesmo modo o aparelho de
Estado à corrupção: quanto mais se aumenta a clientela dos dependentes,
quanto maior é o intervencionismo estatal, quanto mais se faz equivaler sucesso
governamental a políticas redistributivas, quanto maior a despesa fixa, mais
aumenta a necessidade de quem governa de ter à mão o seu capitalista. Personificados nesses homens que tendo o estilo popular de
Berardo ou a pose aristocrática de Ricardo Salgado (penso que os senhores que se seguem terão
aquele estilo infanto-juvenil dos empresários da área das tecnologias), os capitalistas de Estado (e do
Estado) conseguem criar a ilusão de que “o dinheiro aparece sempre”, de que o crescimento
económico resulta de uma questão de
conjugação de vontades de gente gira que está nos negócios para promover a
cultura, a igualdade, o avanço das mentalidades, ou outro item da agenda
estatal do momento.
Os comunistas tinham os seus “banqueiros vermelhos”, gente que no
exterior lhes garantia o acesso às indispensáveis divisas e os livrava da
pateta ingenuidade dos camaradas revolucionários quando estes, em nome da
ideologia, se preparavam para lhes estragar o negócio (não é
coincidência qualquer semelhança com a atitude tomada pela República Popular da
China, em 1974, quando percebeu que alguns militares portugueses davam sinais
de pretender encetar em Macau um processo de descolonização ). Já os socialistas
precisam mais do que quaisquer outros
líderes dos capitalistas de Estado. Gente que monte a fachada
empresarial da demagogia do sem custo, do gratuito, dos investimentos em que o
principal, dizem-nos, não são os lucros mas sim a promoção de políticas.
Berardo, tal como Salgado, são homens do tempo de
Sócrates. Para os
homens que estiveram com Sócrates no governo e que agora governam eles são uns empecilhos,
fantasmas que se obstinam em desmontar a Regra
Número 1 para entender Portugal: à
esquerda o passado começa hoje. Em 2011, o governo socialista fez um pedido de
ajuda externa. Ainda o ano não tinha acabado e já o mesmo PS se manifestava
contra o programa que ele mesmo tinha negociado. Em 2012 a culpa da crise já
não era da falência mas sim das medidas tomadas para a evitar… Em 2019,
mostram-se indignados com Berardo, o mesmo Berardo seu parceiro no assalto ao
BCP. Não duvido que dentro de uns anos serão os primeiros a indignar-se com os
incêndios de 2017 ou os lucros conseguidos pelos novos capitalistas de Estado.
Sim, como dizem os espanhóis sobre as bruxas que los hay los hay. Os
capitalistas de Estado, claro. Das bruxas
não sei nada.
A Regra Número 2 é a que
estabelece: se as pessoas quisessem perceber tinham percebido. A ideia piedosa que anima muitas pessoas de que
um dia, quando os outros tomarem conhecimento dos factos , então tudo será
diferente é isso mesmo: uma ideia piedosa mas nada mais. Não foi por falta de esclarecimento que em 2011
um milhão e meio de pessoas votou em José Sócrates. Não foi por falta de
esclarecimento ou de avisos que o país faliu. Não é por as pessoas não
perceberem que em Portugal os problemas se avolumam. É sim por
as pessoas terem percebido que viver enganado é mais cómodo. pelo menos durante
um tempo, do que enfrentar as decisões inerentes à hora do desengano.
À
atenção dos crédulos da tese de que quando os outros perceberem, então tudo
será diferente segue uma pequena lista do que não temos querido ver, isto
apenas nos últimos tempos Se é cliente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai começar a
pagar mais pelas comissões. (Um banco público em Portugal é aquele
que empresta aos ricos sem avaliação do risco e cobra comissões aos pobres). Manuais gratuitos até ao 12.º ano custam mais 100 milhões do
que o estimado pelo Governo. (Como sempre o gratuito sai caríssimo). Dívida
do SNS a fornecedores e credores aumenta 51,6% em três anos. A dívida do
Serviço Nacional de Saúde a fornecedores e credores totalizou 2,9 mil milhões
de euros em 2017, o que representa um agravamento de 51,6% face a 2014.(Uma forma
expedita de financiamento: atrasar os pagamentos aos fornecedores). Portanto
a culpa é dos portugueses que não vão renovar o cartão de cidadão a Castelo
Branco ao fim da tarde mas sim de manhã, às lojas do cidadão, em Lisboa) 2165 km2, 25 mil habitantes para um só militar. GNR do Alentejo
desespera com falta de gente (O paradoxo socialista do costume:
quantos mais meios para o Estado menos serviços essenciais o Estado
presta!) Soflusa não sabe quando volta a fazer todas as carreiras entre
Lisboa e o Barreiro. Faltam trabalhadores para garantir serviço. Empresa espera
autorização das Finanças para contratar. ( Idem). A CP contabilizou, até às 18h desta
terça-feira, 24 supressões na Linha de Sintra, relacionadas com um “excesso de
imobilizações do material circulante” Na segunda-feira, “pelo mesmo motivo,
ocorreram também cerca de 20 supressões” (Uma
coisa não é a coisa que é: os comboios não ficam parados por estarem
degradados. Na verdade nem sequer ficam parados. O que temos é um
“excesso de imobilizações do material circulante”. Mais um pouco de “excesso” e até não temos
falta de comboios mas sim excesso.
Regra nº 3. Deve existir. Mas com as duas anteriores já temos que
chegue.
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