quarta-feira, 8 de maio de 2019

Cada vez mais caranguejola



Este país.
 Só me espanta, nisto tudo, a falta de lisura dos professores que, mais uma vez defraudados nas suas aspirações, vão fazer novas greves, sem pensarem no prejuízo que causam aos alunos, pela omissão de matérias escolares que as greves provocam, pela deseducação cada vez mais em destaque na farsa de um ensino assustadoramente perturbado pelo vazio e a indisciplina, aliás reflexo do que se passa na governação do país, feita de animosidades, gritarias, arremedos de seriedade nas medidas tomadas, tudo isso acicatado por uma imprensa que no sensacionalismo encontra os meios da sua sustentação. A crónica de JMT desdobra inteligentemente toda a farsa em torno das reivindicações do professorado, bem manipulado este por um Nogueira de marmeleiro em punho, indiferente ao país que a falta de ordem vai conduzindo ao caos, mas sobretudo em torno dos artifícios de Costa e dos grupos satélites sobre a questão das reivindicações dos professores que, por justas que sejam, vão desencadear manobras idênticas noutras profissões, neste país exangue.

OPINIÃO
Rui Rio e o “penálti inexistente” que existiu
Com o actual recuo, a direita terá de aprender a viver com as sequelas da sua inabilidade, mas estanca desde já esta crise. E, até Outubro, muita coisa pode ainda acontecer.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 6 de Maio de 2019
Para evitarem uma mais que provável tragédia eleitoral, PSD e CDS optaram pelo único caminho possível após o ultimato de António Costa: meteram marcha-atrás fingindo que continuavam em frente e bateram em retirada aos gritos de “ao ataque!”. Se a iniciativa de António Costa foi, como Rui Rio afirmou, um “golpe de teatro”, então a sua conferência de imprensa de domingo não passou de ópera-bufa, apostando num tom de animal feroz para tentar esconder a forma desastradíssima como a direita geriu todo este processo, até acabar refém do primeiro-ministro.
Rui Rio acusou António Costa de “fuga às responsabilidades” e comparou-o “àquele jogador que estando a perder o jogo, e sem que ninguém lhe toque, se atira para o chão a ver se engana o árbitro e consegue um penálti inexistente”. Louve-se a metáfora futebolística, mas não há um pingo de verdade nela. O penálti existiu mesmo, não só no momento em que a direita deixou que o diploma dos professores avançasse sem o travão das condições económico-financeiras, mas muito antes disso, quando decidiu colocar-se ao lado de uma reivindicação irrealista: com crescimento ou sem ele, a história recente do país impede cedências desta dimensão à Fenprof, e os partidos que geriram Portugal durante a troika não podem aparecer de braço dado com Mário Nogueira.
PSD e CDS andaram empenhados no último par de dias num trabalho de garimpagem, à procura de todos os momentos em que o PS foi ambíguo nas promessas aos professores, seja em declarações da secretária de Estado, seja em resoluções aprovadas no Parlamento, seja no texto do próprio Orçamento. Sim, a ambiguidade tem sido o nome do meio do PS em toda a legislatura — qual é o espanto? Mas é muito difícil, para quem veja alguma televisão, ou leia jornais, afirmar que António Costa e Mário Centeno tenham dito sobre esta matéria outra coisa além de que era impossível devolver mais do que dois anos, nove meses e 18 dias de tempo de serviço. Será que, como a direita gosta de afirmar, o Governo já tinha concordado em devolver a totalidade do tempo de serviço aos professores? Desculpem: não tinha, não.
Boa parte da conferência de imprensa de Rui Rio foi, portanto, ocupada a atirar poeira para os nossos olhos, o que não é uma actividade particularmente simpática. Mas, apesar do cocktail desagradável de sonsices & aldrabices, a boa notícia é esta: PSD e CDS fizeram aquilo que tinham de fazer. Pior do que recuar de forma atabalhoada seria persistir na teimosia, e oferecer a António Costa a homérica asneira de confirmar a votação do diploma em plenário, provocando a queda do Governo. Com o actual recuo, a direita terá de aprender a viver com as sequelas da sua inabilidade, mas estanca desde já esta crise. E, até Outubro, muita coisa pode ainda acontecer.
A mais clara consequência da implosão simbólica da “geringonça” é o crescimento da imprevisibilidade nas próximas eleições, e daquilo que se segue. Essa é a história que está por contar. A jogada temerária de António Costa parece indiciar uma hipótese que até agora não tem sido considerada: a de ele estar a apostar num reforço da votação do PS não com a esperança de chegar à maioria absoluta, mas sobretudo para procurar um resultado suficientemente sólido ao centro que lhe permita avançar com um governo minoritário em Outubro. A discussão tem sido sobre se, no futuro, Costa prefere unir-se à esquerda ou à direita. Eu começo a achar que ele não quer unir-se a ninguém.
COMENTÁRIOS
cisteina, Porto 07.05.2019: JMT, de certa maneira concordo com o que escreve, não com a conclusão "António Costa quer governar sozinho". Não quer, julgo eu, sabe que está refém do seu PS e que tem cedido demasiado à família, são demais as nomeações da boiada socialista para o aparelho do Estado, são inúmeras as asneiras da administração pública (não só nos incêndios...), Portugal está refém da dívida total (mais de 750.000M€ (é obra, 250.000M€, pública), a economia (PIB) regredirá como está a acontecer em toda a Europa e, por isso, tem os dias contados. Portanto, terá de encontrar novos aliados, não tem outro remédio. Se os encontrar e, juntos, nos tirarem do buraco, é bom. Se não, repetiremos a sina deste nosso triste malhão à (e) moda de vira do Minho.
Leclerc, Carcavelos 07.05.2019: Como Rio disse, e muito bem, vai o Costa demitir-se por uma despesa que só o seria no ano seguinte e depois de negociação com o governo que sair das eleições, e não se demitiu depois das mortes dos incêndios de 2017 (ano que o próprio qualificou “particularmente agradável”), do roubo de Tancos e novela que se seguiu, da queda da estrada de Borba? E se o Costa se demitir, como se apresenta ao país para as eleições legislativas? Afinal vai governar com umas condições que ele próprio considera que não são viáveis e que o tinham levado a demitir-se? Não é isto teatro?
Esta “crise” tem mais repercussões à esquerda, os próximos acordos à esquerda a existirem vão implicar que a carreira dos professores seja um dos pontos em que BE e PCP vão insistir, aguarda-se com curiosidade o flick-flack à retaguarda do Costa…
OldVic, Música do dia: "Tierra del Fuego" (Joel Francisco Perri) Liberdade para a Venezuela! 07.05.2019:: Se fossem só os incêndios... temos a avaliação dos alunos nas escolas públicas, as greves dos enfermeiros, as greves dos transportes de combustíveis. Não admira que Costa ande a pressionar para legislativas antecipadas para Julho, a ver se escapa aos últimos tempos da sua legislatura-Pinóquio.
Paulo Jorge, 06.05.2019: Estou admirado com esta forma combinada no ataque à Rio, e a forma despudorada como abraçam aquele que só faz truques, que atropela os seus mais chegados como Seguro, forma um governo sem ganhar eleições, apoiado a troco de favores de esquerdolas de aviário e que esquece que desde 2011 as dificuldades do país se devem a Sócrates a Costa e à governação socialista.
Victor Nogueira, Setúbal 06.05.2019: Desta vez e na generalidade concordo com JMT. Embora na verdade AC jogue em dois tabuleiros para os dias seguintes às eleições legislativas: dar a mão ao PSD e manter pontes com o PCP e/ou Bloco Aliás, na generalidade os comentadores "elogiam a "mestria de Costa e dão a mão a Rio, apresentado como um político sensato, desancando no CDS mas também e em certa medida no Bloco. E se Rio já quebrou os dias de silêncio e reflexão, Marcelo surpreende pela sua ausência e silêncio. Mas estes são outros cinco tostões.
rosab, Lisboa 06.05.2019: É melhor, é, (para ele!!) que procure a "solidão" sem alianças, porque ele parece ter grandes dificuldades nos relacionamentos com os seus semelhantes. É exímio em jogadas, piruetas, contorcionismos, malabarismos, é com este tipo de comportamento que ele lida com os seus iguais. Fique só, e aguente o "barco" com esta "firmeza e lucidez" (???) agora demonstradas. Mas talvez para a próxima, resultem pior as suas habituais piruetas, do tipo de que acusa os outros. Nessa matéria, o sr. Costa é campeão.

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