Este país.
Só
me espanta, nisto tudo, a falta de lisura dos professores que, mais uma vez
defraudados nas suas aspirações, vão fazer novas greves, sem pensarem no
prejuízo que causam aos alunos, pela omissão de matérias escolares que as
greves provocam, pela deseducação cada vez mais em destaque na farsa de um
ensino assustadoramente perturbado pelo vazio e a indisciplina, aliás reflexo
do que se passa na governação do país, feita de animosidades, gritarias, arremedos
de seriedade nas medidas tomadas, tudo isso acicatado por uma imprensa que no
sensacionalismo encontra os meios da sua sustentação. A crónica de JMT desdobra
inteligentemente toda a farsa em torno das reivindicações do professorado, bem
manipulado este por um Nogueira de marmeleiro em punho, indiferente ao país que
a falta de ordem vai conduzindo ao caos, mas sobretudo em torno dos artifícios
de Costa e dos grupos satélites sobre a questão das reivindicações dos
professores que, por justas que sejam, vão desencadear manobras idênticas
noutras profissões, neste país exangue.
OPINIÃO
Rui
Rio e o “penálti inexistente” que existiu
Com o actual recuo, a direita terá de
aprender a viver com as sequelas da sua inabilidade, mas estanca desde já esta
crise. E, até Outubro, muita coisa pode ainda acontecer.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 6 de Maio de 2019
Para
evitarem uma mais que provável tragédia eleitoral, PSD e CDS
optaram pelo único caminho possível após o ultimato de António
Costa: meteram marcha-atrás fingindo que continuavam em frente e bateram em
retirada aos gritos de
“ao ataque!”. Se a iniciativa de António Costa foi, como Rui Rio
afirmou, um “golpe de teatro”, então a sua conferência de imprensa de domingo
não passou de ópera-bufa, apostando num tom de animal feroz para tentar
esconder a forma desastradíssima como a direita geriu todo este processo, até acabar refém do primeiro-ministro.
Rui
Rio acusou António Costa de “fuga às responsabilidades” e comparou-o “àquele
jogador que estando a perder o jogo, e sem que ninguém lhe toque, se atira para
o chão a ver se engana o árbitro e consegue um penálti inexistente”.
Louve-se a metáfora futebolística, mas não há um pingo de verdade nela. O
penálti existiu mesmo, não só no momento em que a direita deixou que o diploma dos professores avançasse sem o travão
das condições económico-financeiras, mas muito antes disso, quando
decidiu colocar-se ao lado de uma reivindicação irrealista: com crescimento ou
sem ele, a história recente do país impede cedências desta dimensão à Fenprof,
e os partidos que geriram Portugal durante a troika não podem
aparecer de braço dado com Mário Nogueira.
PSD
e CDS andaram empenhados no último par de dias num trabalho de garimpagem, à
procura de todos os momentos em que o PS foi ambíguo nas promessas aos
professores, seja em declarações da secretária de Estado, seja em resoluções
aprovadas no Parlamento, seja no texto do próprio Orçamento. Sim, a
ambiguidade tem sido o nome do meio do PS em toda a legislatura — qual é o
espanto? Mas é muito difícil, para quem veja alguma televisão, ou leia jornais,
afirmar que António Costa e Mário Centeno tenham dito sobre esta matéria outra
coisa além de que era impossível devolver mais do que dois anos, nove meses e
18 dias de tempo de serviço. Será que, como a direita gosta de afirmar,
o Governo já tinha concordado em devolver a totalidade do tempo de serviço aos
professores? Desculpem: não tinha, não.
Boa
parte da conferência de imprensa de Rui Rio foi, portanto, ocupada a atirar
poeira para os nossos olhos, o que não é uma actividade particularmente
simpática. Mas, apesar do cocktail desagradável de sonsices & aldrabices, a
boa notícia é esta: PSD e CDS fizeram aquilo que tinham de fazer. Pior
do que recuar de forma atabalhoada seria persistir na teimosia, e oferecer a
António Costa a homérica asneira de confirmar a votação do diploma em plenário,
provocando a
queda do Governo. Com o actual recuo, a direita terá de aprender
a viver com as sequelas da sua inabilidade, mas estanca desde já esta crise. E,
até Outubro, muita coisa pode ainda acontecer.
A
mais clara consequência da implosão simbólica da “geringonça” é o crescimento
da imprevisibilidade nas próximas eleições, e daquilo que se segue. Essa é a
história que está por contar. A jogada temerária de António Costa parece
indiciar uma hipótese que até agora não tem sido considerada: a de ele estar a
apostar num reforço da votação do PS não com a esperança de chegar à maioria
absoluta, mas sobretudo para procurar um resultado suficientemente sólido ao
centro que lhe permita avançar com um governo minoritário em Outubro. A
discussão tem sido sobre se, no futuro, Costa prefere unir-se à esquerda ou à
direita. Eu começo a achar que ele não quer unir-se a ninguém.
COMENTÁRIOS
cisteina, Porto 07.05.2019: JMT, de certa
maneira concordo com o que escreve, não com a conclusão "António Costa
quer governar sozinho". Não quer, julgo eu, sabe que está refém do seu PS
e que tem cedido demasiado à família, são demais as nomeações da boiada
socialista para o aparelho do Estado, são inúmeras as asneiras da administração
pública (não só nos incêndios...), Portugal está refém da dívida total (mais de
750.000M€ (é obra, 250.000M€, pública), a economia (PIB) regredirá como está a
acontecer em toda a Europa e, por isso, tem os dias contados. Portanto, terá de
encontrar novos aliados, não tem outro remédio. Se os encontrar e, juntos, nos
tirarem do buraco, é bom. Se não, repetiremos a sina deste nosso triste malhão
à (e) moda de vira do Minho.
Leclerc, Carcavelos 07.05.2019: Como Rio disse, e
muito bem, vai o Costa demitir-se por uma despesa que só o seria no ano
seguinte e depois de negociação com o governo que sair das eleições, e não se
demitiu depois das mortes dos incêndios de 2017 (ano que o próprio qualificou
“particularmente agradável”), do roubo de Tancos e novela que se seguiu, da
queda da estrada de Borba? E se o Costa se demitir, como se apresenta ao país
para as eleições legislativas? Afinal vai governar com umas condições que ele
próprio considera que não são viáveis e que o tinham levado a demitir-se? Não é
isto teatro?
Esta “crise” tem mais repercussões à
esquerda, os próximos acordos à esquerda a existirem vão implicar que a
carreira dos professores seja um dos pontos em que BE e PCP vão insistir,
aguarda-se com curiosidade o flick-flack à retaguarda do Costa…
OldVic, Música do dia: "Tierra del
Fuego" (Joel Francisco Perri) Liberdade para a Venezuela! 07.05.2019:: Se
fossem só os incêndios... temos a avaliação dos alunos nas escolas públicas, as
greves dos enfermeiros, as greves dos transportes de combustíveis. Não admira
que Costa ande a pressionar para legislativas antecipadas para Julho, a ver se
escapa aos últimos tempos da sua legislatura-Pinóquio.
Paulo Jorge, 06.05.2019: Estou admirado
com esta forma combinada no ataque à Rio, e a forma despudorada como abraçam
aquele que só faz truques, que atropela os seus mais chegados como Seguro,
forma um governo sem ganhar eleições, apoiado a troco de favores de esquerdolas
de aviário e que esquece que desde 2011 as dificuldades do país se devem a
Sócrates a Costa e à governação socialista.
Victor Nogueira, Setúbal 06.05.2019: Desta vez e na
generalidade concordo com JMT. Embora na verdade AC jogue em dois tabuleiros
para os dias seguintes às eleições legislativas: dar a mão ao PSD e manter
pontes com o PCP e/ou Bloco Aliás, na generalidade os comentadores
"elogiam a "mestria de Costa e dão a mão a Rio, apresentado como um
político sensato, desancando no CDS mas também e em certa medida no Bloco. E se
Rio já quebrou os dias de silêncio e reflexão, Marcelo surpreende pela sua
ausência e silêncio. Mas estes são outros cinco tostões.
rosab, Lisboa 06.05.2019: É melhor, é,
(para ele!!) que procure a "solidão" sem alianças, porque ele parece
ter grandes dificuldades nos relacionamentos com os seus semelhantes. É exímio
em jogadas, piruetas, contorcionismos, malabarismos, é com este tipo de
comportamento que ele lida com os seus iguais. Fique só, e aguente o
"barco" com esta "firmeza e lucidez" (???) agora
demonstradas. Mas talvez para a próxima, resultem pior as suas habituais
piruetas, do tipo de que acusa os outros. Nessa matéria, o sr. Costa é campeão.
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