Que AG não deve ter férias. Eu não sabia que
estava de férias, as férias são lá para Agosto, pensei que estivesse doente e
toda a semana espreitei para saber da “alta”, e se o artigo de sábado já fora
postado. É claro que a gente se ri das suas graças, e dos seus saberes fortes, e
nem nos importamos que nos inclua a quase todos nós, e só ele escape ao labéu
de manso carneirismo. O certo é que, como dizem os seus comentadores, a sua
presença na escrita nacional constitui lufada de ar fresco, que ele transporta
na sua bagagem, de metáforas ousadas de altivo desprezo pelo nosso atraso, e
cito “em lugares civilizados o
assunto nunca passaria das secções dedicadas ao insólito, ao lado de ameixas
siamesas e da velhinha que desceu nove andares pendurada em varandas”. Não, não
deve ter férias. Por conta das nossas depressões do dia-a-dia, na passividade
obediente de rebanho, ao apito do pastor, ainda que, eventualmente, aspirando a sacudi-lo de si.
ANTÓNIO COSTA:
Obviamente,
não se demitiu /premium
À
semelhança dos cachorros da lenda os profissionais do comentário ouvem as
campainhas e reagem em conformidade, no caso em auxílio do dono que ameaçava
repetir o trágico resultado eleitoral de Seguro
Foi
a pior decisão desde que a Decca rejeitou os Beatles. Ou desde que os
fundadores do Burundi olharam em redor e anunciaram que sim, senhor, aquilo daria
uma nação próspera e impecável. Escolhi
mal a semana de férias e vi-me privado de elogiar a interpretação do dr. Costa
na já célebre rábula da “demissão”. Felizmente, não faltou quem elogiasse. Nas
televisões, nas rádios, na “net” e, dizem-me, nos jornais tradicionais, cerca
de 97% dos comentadores nativos souberam homenagear devidamente o grande
estadista que nos tocou em sorte. E que sorte! Segundo a opinião geral, o dr.
Costa teve uma prestação brilhante. O dr. Costa é um estratega raro. O dr. Costa
frequenta a vizinhança do génio absoluto. De brinde, apurou-se que, em
parelha com a risonha figura das Finanças, o dr. Costa é um modelo de
escrúpulos contabilísticos.
Por
sorte, o Observador é um espaço de liberdade que me permite, mesmo com
imperdoável atraso, juntar a minha modesta voz a vozes respeitadíssimas do
calibre de um Marques Mendes ou de dois José Miguel Júdice. Por azar, não sou
capaz. A escassa atenção que dediquei ao assunto sugeriu-me que em lugares
civilizados o assunto nunca passaria das secções dedicadas ao insólito, ao lado
de ameixas siamesas e da velhinha que desceu nove andares pendurada em
varandas: “Governante com 9 anos de idade mental presume que os eleitores têm
8”. Naturalmente, tratou-se apenas de uma golpada baixa, tosca e digna do dr.
Costa, que, apavorado com as perspectivas para as “europeias” e munido do
domínio da língua que Deus lhe deu e os professores (lá está) não lhe deram,
convocou os “media” para fingir, muito mal, uma birra.
A patranha era a de que, em nome do
rigor orçamental, o governo apresentaria a demissão se se visse obrigado a
largar 800 milhões – ou 600, ou 300, que a ciência dos números é fluida
– para “descongelar” professores. O dr. Costa, o exacto dr. Costa que não saiu
após a derrota de 2015, dos incêndios (excepto para uma praia espanhola), de
Tancos, da rede de nomeações familiares e, consta, na juventude se viu
arrastado de uma associação estudantil que perdera nas urnas, iria abdicar de
mandar nisto por causa de 800 milhões fatalmente roubados ao contribuinte? É
menos do que, ainda há pouco, o Estado prometeu “investir” em
“acessibilidades”, “passes” e transportes, incluindo bicicletas. É menos do que
o custo estimado do novo aeroporto do Montijo. É menos do que o que se despeja
com regularidade na banca (cujos senhores, com divertido descaramento, se
apressaram a louvar a “estabilidade política” logo que os efeitos da rábula se
dissiparam). E é mais, bastante mais, do que o cidadão com dois neurónios devia
estar disposto a engolir.
Estranhamente,
ou, para quem conhece as tradições locais, nem por isso, os profissionais do
comentário engolem o que calha. É possível que alguns só possuam um neurónio.
Os restantes talvez tenham colocado todos os neurónios em sabática, a fim de
disponibilizar a totalidade do córtex para a exaltação do Supremo Líder. Não
importa perceber como é que essa gente consegue dormir à noite. A pergunta
adequada é: como é que permanecem acordados de dia? Não se envergonham do papel
que desempenham à vista desarmada? Não sentem um pingo de embaraço? Sequer um
nozinho na garganta? E as respostas são não, nada e nem por sombras. À
semelhança dos cachorros da lenda, os profissionais do comentário ouvem as
campainhas e reagem em conformidade, no caso em auxílio do dono que ameaça
repetir o trágico resultado eleitoral do dr. Seguro, que Deus guarde. A
conveniência, o estipêndio directo e a mera rotina condicionam de facto os
reflexos. A natureza é fascinante.
E
os profissionais do comentário não se limitaram a canonizar o dr. Costa, um
profissional da irresponsabilidade que, à imagem de certo “irrevogável”, usa
o poder que lhe caiu em cima para artimanhas e chantagens reles. Dado
que lhes falta em vergonha o que lhes sobra em método, lançaram-se em simultâneo
na excomunhão do dr. Rio, acarinhado diariamente enquanto o PSD afocinhava nas
sondagens. O dr. Rio é um desastre desde a primeira hora? É. Por isso convinha
promovê-lo a título de “moderado”, por oposição (real) a Pedro Passos Coelho e
para oposição (nula) ao PS. Assim que os inúmeros parentes do sr. César, os
enxovalhos da economia e um candidato inacreditável sugeriram estragar a festa
de 26 de Maio, o dr. Rio tornou-se o protagonista da chacota colectiva.
Diga-se que o dr. Rio, que junto com o
CDS acabou por ceder à miserável encenação do dr. Costa, merece a chacota.
Diga-se que o prof. Marcelo, que aproveitou a “crise” para sumir durante uma
semana, merece o descanso. Diga-se que os professores, que confiaram num
sindicato movido por interesses alheios aos assalariados que representa,
merecem a desfeita. Diga-se que os portugueses, cuja maioria parece apoiar o
“ultimato” do dr. Costa, merecem o dr. Costa. E diga-se que os profissionais do
comentário, que alimentaram a anedótica “demissão”, mereciam ser demitidos.
Nota de rodapé
O
parlamento aprovou por unanimidade o convite a uma criança sueca preocupada com
as alterações climáticas. Há meses, a criança celebrizou-se ao declarar greve à
escola para combater o capitalismo, a suposta causa das referidas alterações e
a causa comprovada dos confortos de que a criança usufrui. A criança inspirou
milhares de crianças em todo o mundo a fazerem greve à escola, uma
impossibilidade logística: à escola, faz-se gazeta. A criança, que é autista,
chegará a Portugal de comboio para não poluir muito o ambiente. De seguida, a
criança discursará na AR sobre os males que a consomem e a urgência de um mundo
melhor. Até porque pior é impossível.
COMENTÁRIOS
Cipião Numantino:"Só há duas coisas
infinitas, o universo e a est up idez humana", foi assim que um homónimo
do Alberto, neste caso de apelido Einstein, relativizou o que pensava sobre as
pessoas. Já tenho por aqui aflorado várias vezes a profunda surpresa que me causa
tão ínfrene seguidismo em relação a certas pessoas. Refiro-me obviamente ao Dr.
Costa, um espécimen rasteiro endeusado e glorificado por tanta gentinha tão
rasteira ou mais do que ele. Um homem que sendo jurista tem de tal forma um
conflito insanável com a retórica que faria bem mais sentido ou lógica ser um
sargentão formando recrutas, onde a semântica estaria mais ao nível básico do
vernáculo popularucho e o seu vozeirão cavernoso e tonitruante faria bem mais
amplo sentido. Maquiavel no seu famoso livro "O Príncipe" que alguns
historiadores afirmam ter sido baseado no nosso fascinante D. João II,
explica-nos sucintamente onde a intriga política, convenientemente
manejada por pessoas disformes ética e intectualmente, nos pode conduzir. E
sendo certamente o Dr. Costa um sub-produto em relação ao nível mental e de
inteligência do nosso excelso D. João terá, como todos os manobristas
convencidos, algumas das artes da artimanha deste, sem, nem por aproximação,
possuir um simples pingo da sua genialidade. No Dr. Costa tudo me parece ser improviso. Uma espécie
de raposa matreira que canta odes ao galinheiro que lhe deram para administrar,
enquanto promete velar e cuidar zelosamente das galinhas confiadas à sua
guarda. Não é só este povo que merece o Dr. Costa. E penso mesmo que se juntará a
fome à vontade de comer, quando se pode perfeitamente inferir que é de bom tom
proclamar que também o Dr. Costa merece este povo. Estão bem um para o outro. E
penso até que vão "ter em conjunto muitos meninos" que não escapem à
substância do conceito.
As jotas irão parir certamente outros mostrengos
éticos iguais a ele. Numa espécie de zombies algures saídos de uma ilha do Dr.
Moreau ou com trepanação a condizer de frankesteinezinhos que hão-de levar este
glorioso país para uma espécie de Venezuela implantada no ku de Judas da Europa
e onde este mesmo, há já muito tempo, perdeu as botas!... Pois sim, parece que
vem por aí a Greta (parece que é assim que a catraia se chama). E parece
também, que virá numa espécie de cruzada, contra as alterações climáticas
obviamente causadas pelo capitalismo já que, como se sabe, a comunada seria
incapaz de desestabilizar o planeta. No limite, porque a vida nos países dos
amanhãs que cantam seria de tal forma a favor do ambiente e a pobreza obscena
que sempre acarretam as suas desastradas políticas, que antes de contaminarem o
planeta, massacrariam metade da humanidade e, a outra metade, viveria de uma
maneira tão pobre que acabaria daqui a uns séculos por naturalmente se
extinguir. Sei bem que o que chateia no meio de tudo isto é que a recalcitrante
e estulta comunada não arreda pé do capitalismo. Fogem de Cuba, fogem da
Venezuela e não fogem da Coreia do Kim porque são todos mortos quando tentam
fugir. Pelo contrário, nunca tive conhecimento que alguém da comunada tenha
ultimamente fugido para um destes países "paradisíacos". Donde me
pergunto, por que será? Será do guaraná?...
José Ramos: Alberto Gonçalves não veio retemperado após a sua
semana de férias porque isso seria impossível. Já estava temperadíssimo antes
e, comentadores desta têmpera são raros - mesmo entre aqueles poucos que não
fazem parte dos suspeitíssimos "profissionais do comentário" do
costume. Bem haja.
Ahfan Neca: Parece que voltámos à
civilização. O sentimento que tenho ao ler
esta crónica do AG é a de que uma lufada de civilização voltou a entrar pela
janela dentro. Os quinze dias de ausência
foram uma espécie de regresso à idade média em que habitualmente afocinha o
país. Uma idade das trevas em miniatura. Homem,
você devia ser proibido de tirar férias. Nem uma semanita.
palavras ao vento Fantástico texto. Parabéns! A melhor é esta: "Diga-se que os portugueses, cuja maioria
parece apoiar o “ultimato” do dr. Costa, merecem o dr. Costa. "
António Marques Mendes:
Finalmente um
pouco de lucidez neste país do faz de conta!
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