Entre os comentadores da crónica de Maria João Avilez que expressam idêntica frustração da
autora, destaco o último – de André
Ondine, fazendo minhas, com muito apreço, as suas palavras de síntese, com que
antecipo, pela sua lucidez, seriedade, objectividade sem rebuscamentos, o
próprio texto de MJA:
André Ondine: «Partilho
inteiramente do sentimento de frustração expresso pela autora deste texto. O
PSD (nem menciono o CDS, pois este está numa irresponsável deriva populista há
já muito tempo) atirou a maioria absoluta para o colo de Costa e esse cenário
era tão evidente para todos nós que custa muito assistir a tudo isto de forma
serena. Costa é maquiavélico e maliciosamente hábil. O país preocupa-o pouco. O
poder que o país lhe concede, a si, à sua família e aos seus amigos é o que o
sensibiliza e motiva. E Rio, numa liderança desastrosa, condenou-nos a mais
quatro anos de Costa e do gangue. Talvez até com poder reforçado. Queixávamo-nos
da família infinita de César? Talvez nos passemos também a queixar dos amigos
infinitos dessa família infinita. O polvo já percebeu que pode ainda ir mais
longe. Que desastre. O nosso último estadista foi Passos
Coelho. Humilhado por Costa, afastado por Rio, temido pelos
antigos DDTs, pouco valorizado por Cristas e diabolizado pelas esquerdas
oportunistas, Passos Coelho devia ser um farol para Rio. E não uma ameaça
fantasma. O seu regresso é não só desejável como necessário. Nunca a nossa democracia foi representada
por tão maus exemplos. O populismo histérico de Marcelo, Costa, Cristas,
Catarina, a falsa moral de Jerónimo e o auto-sebastianismo de Rio colocam
o país em causa e fragilizam a democracia de forma muito perigosa. É por estes
e por outros que andam para aí Venturas e afins....»
Há-de haver quem não lhes perdoe (eu,
por exemplo) /premium
MARIA JOÃO AVILLEZ OBSERVADOR, 5/5/2019
Até Outubro Costa tem o guião pronto, o
centro e a direita escreveram-no diante de todos nós: graças a uma
irresponsabilidade ainda turva, ele passou a ser “o” responsável, “o” patriota,
“o" moderado.
1. Parafraseando o meu bom amigo José Manel
Fernandes, está uma pessoa um breve tempo fora — ele na quentura
africana, eu na “segunda pátria de toda a gente” que como bem sabemos é a
Itália –, chega a Lisboa e nisto não sabe onde está. Não reconhece a
paisagem, estranha os seus habitantes, perde o pé e depois perde a cabeça: que
tabuada política era aquela no final da semana passada?
Mesmo
sabendo a velocidade estonteante a que a política pode mudar, volatilizando o
que estava e desfazendo a realidade em bocados para a transformar noutra, o
caso de que me ocupo com vergonha e a contragosto, irá certamente passar a
figurar nos compêndios de Ciência Política. Os Mestres agradecerão, de resto:
não é vulgar encontrar um exemplo onde de uma assentada estejam inscritos todos
os erros políticos que a política recomenda que não estejam.
2. À
hora a que escrevo ainda nada se sabe do desfecho mas para o caso é quase
irrelevante: o mal está feito e há de haver quem não lhes perdoe. Mesmo que se
venham a alegar nuances, a invocar más interpretações do que fizeram, disseram
ou propuseram o CDS e o PSD, a elevar o tom de voz ou a desenterrar argumentos
e razões, etc., a primeira impressão foi tão negativamente forte que tão cedo
não se dilui. E mesmo que haja marcha atrás, julgo que também não: na minha
fatídica chegada a Lisboa intuí de resto que tudo acabaria com uma
envergonhada marcha atrás disfarçada de um “patois” meio político, meio
jurídico mas sucede que igualmente intuo que isso, dada a dimensão da “aliança”
que se gerou na AR há dias, seja também quase irrelevante. Os estragos são
pesados e não sou eu que o digo serão os votos, a mais clara, límpida e
irrefutável radiografia do erro. Do erro e desta humilhação – não há outro
substantivo — que os representantes partidários do centro-direita e da direita
infligiram aos respectivos eleitorados.Mesmo dando de barato quanto pode
ser penosa a solidão da oposição, o passado recente destas duas agremiações já
não fora glorioso na sua errática navegação e nas suas tão perplexantes
mudanças de rumo. Sucede que nada disso é apesar de tudo comparável com,
insisto, a humilhação agora causada a esse mesmo (cansado) “povo”. E para quem
considere que me empolgo há uma foto aqui publicada pelo Observador, que me
perdoa este galope e me redime do que o leitor possa distraidamente tomar por
“chover no molhado”: uma imagem assassina onde se vê um grupo de mulheres e
homens em ansiosamente atenta mas muito amável confraternização, numa aliança
mal vinda e mal vista (CDS/PSD/PCP/BE) da qual resultou fazer de António Costa
o mais responsável dos patriotas e talvez venha a resultar fazer do país uma
pátria mais endividada.Chover no molhado? Insisto: não.
3. Nunca saberemos até ao fundo o que vai na cabeça das
pessoas nem como se organiza a sua forma mentis, mas mesmo assim: como ler o
que se passou e a quem ou a quê atribuir este duplo suicídio de dois
partidos com idade para ter juízo e saber de política? Que pensava para si
mesmo e que ia dizendo aos seus improváveis companheiros de foto cada um dos
deputados daquele friso, unidos em súbita e espúria aliança? Que visavam
alcançar e em que consequências político-partidárias apostavam eles? Não sei.
Que pode ter ocorrido de tão forte que tivesse atirado Ana Rita Bessa e Margarida
Mano (nunca vi nem uma nem outra, mas sei que são tidas em boa conta) para
uma espécie de auto-armadilha, e que ocorreu de tão poderoso que lhes tivesse
subitamente vetado a lucidez e a fidelidade a uma pertença ideológica? Ou
melhor, a responsabilidade dessa pertença e o compromisso que uma e outro
pressupõem e exigem? Também não sei e tenho pena.
É
que esta fúnebre trapalhada – para além de muitíssimo embaraçante para quem
se reclame de direita — é ainda mais inexplicável politicamente por coincidir
no tempo com a primeira grande aflição política de António Costa. Jorge
Sampaio costumava dizer – no que era de imediato festiva e estrepitosamente
aclamado pelas esquerdas — que “há mais vida além do deficit”. Pois há. E
calha que a que há, corria mal ao primeiro-ministro. Basta passar os olhos
mesmo que de relance pelo que era o mapa governamental, eleitoral e político de
António Costa há quatro ou cinco dias, para alcançar o voo do que eram as
suas aflições: um inviável cabeça de lista às eleições europeias já em empate
técnico com Paulo Rangel, o candidato do PSD e em risco de poder ser por ele
ultrapassado; três ferventes leis a entrar no Parlamento, tão ferventes que
acenderiam de imediato as relações já indisfarçavelmente algo crispadas do PS
de Costa (há outro PS do qual António Costa não gosta) com o BE; uma
polca mal dançada com Belém — ambos os dançantes são intensos o que não
facilita a polca — por causa da Lei de Bases da Saúde; promessas feitas e não
cumpridas, avanços e recuos na saga dos professores por parte do governo
socialista. As eleições a aproximarem-se, o temor de um vexame
eleitoral, a temível odisseia dos incêndios à porta, a preguiça para o tom de
voz sempre reclamante do BE… era enfim muito peso para um homem só: célere na
sua intuição, dotado para vestir muitas peles — todas as que forem precisas –
rápido a perceber e ainda mais rápido a intervir, António Costa saltou. Eu
também saltaria: com tão generosa rede estendida pelos adversários nem sequer
corria o risco de me estatelar. Claro que o afã foi tão excitado e o tom da
encenação tão dramático que a desconfiança de imediato se instalou: Costa
estava assim tão aflito? Se calhar estava.
4. Já
há quem cante o hino da maioria absoluta, mas convém lembrar a esses apressados
que tal como a guerra de Tróia ela nunca terá lugar (está nos astros). Digamos,
isso sim, que Costa está mais confortado. Tem razão. E que pessoas como eu, por
exemplo, estão menos. É a vida, como dizia aquele engenheiro nosso conhecido.
Mas que há-de haver pessoas que não lhes perdoam, isso, há-de. Até Outubro
António Costa tem o guião pronto, o centro e a direita acabaram de o escrever
diante de todos nós: de um segundo para o outro, graças a uma
irresponsabilidade ainda turva, Costa passou a ser “o” responsável, “o”
patriota, “o” político moderado, o governante atento que preza as contas em
dia, respeita os compromissos. Isso. E tudo isto de borla.
Coisas
assim tão ruins, não se perdoam. Pior, não se esquecem.
COMENTÁRIOS:
António Serrano: Decepcionada?! Eu também!
Muito!
Ricardo Esteves: Hoje na TVI PSD e CDS quiseram
uma vez mais justificar a patetice. Costa foi claro e voltou a marcar pontos.
Antonio Fonseca: numa aliança mal vinda e mal
vista (CDS/PSD/PCP/BE). Por quem? Por um PS que se juntou a PC
e BE há 4 anos? Não me gozem!
Joaquim Moreira: Maria João Avillez, com todo o
respeito que me merece, não gostaria de a ver incluída na CS que faz deste
“Golpe de teatro”, o que parece ser uma verdadeira prece. Ao dizer que: ‘Costa
passou a ser “o” responsável, “o” patriota, “o” político moderado, o governante
atento que preza as contas em dia, respeita os compromissos’, parte do
princípio de que, “em política o que parece é”. Mas na realidade nem tudo é
aquilo que parece, mesmo em política. E a razão, parece-me ser muito simples.
Não estamos perante velhos políticos que se diz serem “todos iguais”. Estamos
perante um dito de “génio político” e um político de génio. Um, para quem a
política é arte do engano para chegar ao poder para o ter e manter, custe o que
custar, do tempo do passado. E outro, do século XXI, para quem a política é o
meio para atingir o poder e os grandes problemas do país resolver. Com
seriedade, coragem e transparência, sem medo do julgamento que o povo dele vai
fazer.
Felipe Azyral: Para que o Tempo de Serviço da
Carreira dos Professores seja Aprovado na Assembleia da República basta que o
PCP e/ou o BE se Abstenham no ponto que diz o seguinte: “Existência de crescimento económico e garantia de sustentabilidade
financeira, negociação do estatuto da carreira dos professores, incluindo a
avaliação dos professores, negociação do regime de aposentações dos professores”. Esta redacção é Aprovada
pela Fenprof e por Mário Nogueira, pelo que nenhum obstáculo se coloca à sua
Abstenção pelo PCP e/ou BE..!!!
José Pedro Faria: Os boys (de todos os partidos)
não se cansam. Não têm muito que fazer, e a ganhar 3750 € por mês no Estado
(que todos os contribuintes têm que pagar) enquanto esperam um tachito melhor
vão fazendo comentários como "Assunção Cristas esteve muitíssimo bem,
inteligente, rápida, corajosa". Não devemos estar a falar do mesmo jogo...
chints CHINTS: Como
já comentei a JMF não concordo nada com os vossos comentários. A união de todos
contra Costa foi um gozo de se ver e, definitivamente, pôs a nu a falta de
dinheiro, a falta de honestidade de Centeno e de Costa.
Assunção Cristas esteve muitíssimo bem, inteligente, rápida, corajosa,
sem precisar de reboques. Gostei. Força CDS!
Miguel Bergano: A
lucidez de MJA permite expor o trágico e o ridículo da novela ocorrida nos
últimos dias. Trágico, porque para muitos representa a morte da esperança que
ainda havia de que o PSD pudesse corresponder ao seu desígnio histórico, um
partido defensor da iniciativa privada e da prosperidade, defensor de um Estado
ao serviço do País e não de um País ao serviço do Estado e das suas
corporações. Ridículo, porque coloca o PS, sem esforço e depois de trilhar um
caminho aberrante para um eleitor de direita, a caminho de um resultado que
pode ser histórico. Como homem de direita, a escolha eleitoral que me
apresentam hoje é simples, votar para tirar a extrema esquerda do Governo ou
votar para manter a extrema esquerda no Governo.
Ana Ferreira: Se há coisa de que não se pode
acusar MJA é de não dizer exactamente o que pensa, quanto à bondade dos
objectivos daquilo que pretende que os outros pensem...Não é difícil acreditar
que jamais perdoará a Costa, não pelo que afirma mas por estar a provar tudo
aquilo que a srª insiste em não ver, o excelente governante que é tal como o
demonstram todas as evidências. Bastaria analisar seriamente os rácios
económico financeiros, mas como o pior cego é o que não quer ver...
Miguel Bergano > Ana Ferreira: Ou não sabe ler ou só lê o que
quer. A crónica não é um elogio a Costa, ninguém de direita o faz. O texto apenas
reflecte o pensamento de um eleitor de direita que sente um enorme desalento
com o episódio
João Brandão: A autora designa os partidos
cds e psd como partidos de centro direita e de direita e eu discordo.
Aqueles partidos existem como resultado de uma
conveniência para o pcp/mfa para convencerem a Europa que se tratava de um
golpe para mudar para um regime democrático. Apenas fazem de conta que
são de direita, usando, no caso cds, alguma terminologia de direita, mas a
prática é de um partido de esquerda ou de uma trajectória de rolha, pelo
menos. Enquanto partido de direita, não passa de uma intrujice. Não
há partidos de direita neste país. Ou então, esta é direita possível, à
portuguesa …
Mosava Ickx: Fantástico! Os jornalistas e certos comentadores não sabem
até onde delirar para demostrar que o PM é um génio político, e todos os outros
são nabos... Vejamos: PSD e CDS reafirmam
uma posição já conhecida, de devolução condicionada à situação económica. O PM monta um circo histérico com ameaça de
demissão, aproveitando a parte "devolução" e omitindo
"condicionada" Toda a imprensa segue a dica do PM, e confirma a
situação. PSD e CDS lembram que não é bem assim, e que não vale a pena tentar,
não vão cair nessa, esquece! Jornalistas e
comentadores exultam: o genial PM ganhou, os malvados recuaram... Fantástico! Os "outros"
mantiveram o rumo de há anos atrás sem variar de 1 mm, são idiotas, o PM tentou
um golpe de poker que falhou, e é um génio! Grande
máquina de propaganda, sem dúvida! Deve sair cara...
Miguel Bergano > Mosava Ickx: "de devolução condicionada
à situação económica"... esta frase é uma vergonha, qualquer ser
responsável nunca a usaria, como eleitor do PSD senti-me profundamente
ultrajado.
Mosava Ickx > Miguel Bergano: Foi por isso que o PM nunca a
usou durante a campanha de 2015, prometeu tudo e mais alguma coisa a
todos? Também recusou esse travão de
segurança em 2017/2018, de novo prometendo tudo, para agora dizer que afinal,
palavra dada, não é palavra honrada. Vote
para ele, vote!
Maria L Gingeira: Temos de respeitar a
democracia, coisa que o PS nunca fez. O único facto intolerante é que o
primeiro-ministro tenha feito chantagem com o Parlamento. De resto goste-se ou
não, concorde-se ou não, cada partido tem o direito de defender o que achar
melhor para o país, para os professores, para os enfermeiros, para os juizes
etc. Partir do princípio que o facto de CDS e PSD votarem ao lado do BE e do
PCP lhes rouba identidade e lhes tira eleitorado é uma invenção de António
Costa. O que custa é ver como foi logo tudo atrás desse pressuposto, que é uma
conspiração já programada. Como sempre fazem, aliás. Fizeram o mesmo com
Cavaco, com Santana e com Passos Coelho. E o PSD não aprende. Embarca sempre na
autoflagelação. A verdade é que sexta feira acabou a geringonça e acabou o
bloco central. Ainda bem. Cada um por si. A questão do encargo que custa manter
a votação se calhar resolve-se com a cobrança aos devedores da CGD. Mais valia
mantê-la, ou tudo isto vira uma palhaçada e então sim há eleitorado que não vai
gostar. Principalmente porque é ceder à chantagem de um primeiro-ministro que é
tudo menos coerente.
Madalena Barreto > Maria L Gingeira: O seu raciocínio não é
despiciendo, contudo o ponto é que a direita abriu uma brecha - tanto que teve
de se explicar em conferências de imprensa - que irá ser aproveitada, pela
propaganda socialista/"Costista", até à medula. Aquela fotografia é
assasina e difícil de assimilar pelo comum do eleitor que não se detém para
além da espuma dos dias. MJAvillez tem razão quando diz que será um futuro caso
de estudo político. Habitualmente, não vejo A. Costa, mas vi desta vez. E eis,
que apareceu com uma imagem totalmente diferente da habitual. Aprimorada, bom
fato c/ bom corte à medida, cor certa, (quem sabe introduziram-no ao C. da Rosa
&Teixeira) , cenário e pose convincentes. Enfim, imagem à Primeiro-Ministro
sério e confiável, vitimizando-se pela "irresponsabilidade" de toda a
oposição conluiada, que quer arrasar as contas públicas que ele tão
denodadamente "conseguiu" pôr em ordem! Se, como defende, desde 6f. passou
a ser cada um por si, as hipótese de uma maioria absoluta, que estava
completamente afastada, poderá acabar por ser uma meta alcançável pelo PS em
outubro.
Marcelo Teixeira: Mais um poucuchinho, virá o
tempo certo e oportuno para discursos extremados, que cativarão os cidadãos
cansados e fustigados por políticos reles. Não pensem que é só noutros países.
luis Barreiro: Penso exactamente o contrário
de si. O costa quando estava na oposição sempre defendeu a reposição total
contra o governo psd/cds, o costa quando enfiou a faca no camarada seguro
sempre defendeu a reposição ao contrário da direita.
O costa quando roubou e usurpou o poder defendeu a total reposição para
ganhar votos. Está na hora da política ser
feita por homens que assumem o que defenderam sempre.
O costa sempre atacou a direita de maneira a ganhar os votos dos
professores dizendo que reporia o tempo total. Está
na hora de mostrar então quem são os maiores vendedores de banha da cobra, a
direita que sempre foi contra mas apenas agora votou para encostar o costa à
parede, ou o costa que sempre disse para ganhar votos que reporia a totalidade
do tempo e agora que está no governo vota contra?
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