Um artigo de Vasco Pulido Valente, absolutamente apoiante de quem o e nos governa e dos
seus golpes de teatro, que já de longa data surgem como truques de magia, mas
que provêm de funda desonestidade e ambição, condições sine qua non para o progredir triunfal a que assistimos, cá na
plateia. VPV assiste, repoltreado no seu camarote de apreço pelo vencedor, no
desprezo que sempre demonstrou pela “gentinha” inerte, que até merece ser assim
amachucada. É dos valentes que mais gostamos, dos inteligentes, alfaiatezinhos
que matam sete de uma vez – moscas, é certo, mas com os tais truques de
encobrimento do real e de exaltação do perverso, sobem longe na carreira,
criando a estabilidade que se deseja, que VPV aprecia, embora às vezes diga
outras coisas igualmente racionais e mais virtuosas. Mas o alfaiatezinho vai
longe, isso é certo, casará com a filha do rei, esperto que é, contam-no os
irmãos Grimm.
OPINIÃO
Diário
VASCO PULIDO
VALENTE
PÚBLICO, 11 de
Maio de 2019
A CNN está cada
vez pior. É um contínuo comício de propaganda anti-Trump. Mas mesmo de longe,
mesmo de Lisboa, aquela espécie de socialismo soft não me
inspira senão irritação e desprezo.
5 de Maio
Toda a gente
acha que António Costa é um grande político, no mau sentido da palavra. Mas não
ouvi ninguém admitir a mais remota hipótese de que o homem tem convicções. E
que ele, Centeno e o governo tinham desde o princípio um plano, que o
aplicaram, e que de certa maneira o plano deu bom resultado. Uma interpretação
de onde se poderia concluir que a reacção do governo foi uma honesta defesa da
sua obra política.
6 de Maio
Eleições
europeias. Dantes, os políticos não tinham vergonha de invocar a “classe operária”,
as “classes trabalhadoras”, os “trabalhadores”, o “povo” ou o “povo português”.
Agora, a maioria deles luta pela asséptica categoria a que chamam “pessoas”. É
um progresso da democracia.
7 de Maio
Mário Nogueira
teve a prosápia de declarar que “o governo não está em condições de governar”.
8 de Maio
Marcelo voltou
da China e ficou calado, porque percebeu. António Costa fez o que devia fazer,
o que talvez fosse, em parte, inconscientemente. A crise do fim-de-semana não
teve nada de “artificial” ou de “teatral”, como disse a imbecilidade pública. O
facto é que Mário Nogueira esteve na iminência de derrubar um governo. E a
conclusão é que nenhuma democracia pode permitir coisa semelhante.
Vivi em
Inglaterra durante os anos 70, e assisti à guerra entre os sindicatos e o poder
legítimo. Ao princípio, os sindicatos ganharam e Heath caiu. Depois veio a
senhora Thatcher e houve a grande batalha de Scargill e dos mineiros contra o
governo e, por implicação, contra o parlamento. Os sindicatos começaram a morrer
nesse preciso instante. Blair esperava.
Se António Costa
não tivesse oferecido a sua demissão, abriria a porta a um assalto geral dos
seus funcionários e de todos os sindicatos contra o regime. Já se vêem sinais
disso: enfermeiros, técnicos de diagnóstico, médicos, exército, bombeiros,
polícias e por aí fora. Por outro lado, no mundo privado apareceram os
motoristas de matérias perigosas e, não tarda nada, aparecerão outros, quando
descobrirem uma qualquer possibilidade de pressão estratégica, como os estivadores
de Setúbal já descobriram.
Sem dúvida que
existe o direito constitucional à greve, mas também se diz nesse triste papel
que o parlamento é soberano e o executivo é uma emanação do parlamento. Marcelo
e António Costa deixaram muito clarinho quem manda e quem não manda. Manda,
através deles, o cidadão eleitor, não mandam os sindicalistas. Por uma vez só
temos que agradecer ao primeiro-ministro e ao presidente da República.
10 de Maio
Se vivêssemos em
Espanha, com a moção de censura construtiva, ninguém estaria a especular sobre
quem nos vai governar a partir de 5 de Outubro. Nisso os banqueiros são mais
espertos. Os senhores do Novo Banco, da CGD, do Millennium BCP e do BPI (que,
por acaso, ou sem acaso, é um espanhol) estão muito tranquilos. A estabilidade
irá continuar. Eles, pelo menos, compreenderam que António Costa não precisa de uma maioria absoluta. Basta-lhe ganhar as eleições, desde
que a direita junta não tenha mais deputados do que a esquerda. Duas condições
não muito difíceis. Daí em diante as coisas correrão bem com um bocadinho de
intimidação e chantagem.
Só estou
curioso, e os velhos são muito curiosos, é para saber quem serão os próximos
chefes do PSD e do CDS. Que disparates a direita ainda nos reserva?
Colunista
COMENTÁRIO:
ALRB, às armas, às armas, pela Pátria
lutar, contra os LADRÕES marchar, marchar: VPV sempre lúcido nas análises que faz.
Mas o Costa nem de uma maioria relativa precisa! Mesmo derrotado nas eleições
pode governar, como já se viu! E pode governar efectivamente sozinho,
minoritário, fazendo o que lhe dá na gana explorando com muita astúcia o seu
papel de charneira entre uma direita e uma esquerda visceralmente incompatíveis
em termos de uma solução de governo. E Costa não faz planos porque ele gere as
crises no dia a dia ultrapassando-as manhosa e vitoriosamente com uma perna às
costas. Só mesmo uma bancarrota o destronará, daí o cuidado que ele tem com as
contas e a importância que ele deixa que o Centeno assuma.
cisteina, Porto: Mais uma boa crónica, sobretudo na
análise do que deveria ser o sindicalismo onde os professores estão
pessimamente representados, um trauliteiro sem qualquer sentido de estado ou
das coisas da política, um abcesso que deve ser lancetado rapidamente antes que
infecte o sistema educativo que, como sabemos, é o que é, tudo e coisa nenhuma,
uma deriva sempre a mudar de rumo e programas. E há tanto para ensinar às
nossas crianças, o telemóvel faz esse papel (mal, claro). Quanto ao resto, logo
veremos, infelizmente o país continua com uma espada em cima da cabeça, as
finanças ditarão um dia destes, não demora muito, o que fazer. O pior é se o
governo (este ou outro) não souber (ou não puder) fazer. Triste sina, um país
de afilhados, famílias e de nepotismo, escândalo nunca visto.
Carlos Costa: O António Costa é sem dúvida o melhor PM
da democracia. É vai continuar a ser, disso não tenho dúvidas para gáudio de
todos nós que gostamos dele. Viva o António Costa!
TP, Leiria: 'Sem dúvida que existe o direito
constitucional à greve, mas também se diz nesse triste papel que o parlamento é
soberano e o executivo é uma emanação do parlamento. Marcelo e António Costa
deixaram muito clarinho quem manda e quem não manda. Manda, através deles, o
cidadão eleitor, não mandam os sindicalistas. Por uma vez só temos que
agradecer ao primeiro-ministro e ao presidente da República.' Ora nem mais!
Espectro, Matosinhos: Vasco em excelente forma,
agora na recta final da época! O Vasco teve a lucidez de ir contra-a-corrente
jornalística, que se move, em regra, pela inércia e é repetitiva até à náusea
(o líder da manada diz que "houve calculismo e chantagem" e a
carneirada faz coro!). Boa Vasco, belo golo, fez-me lembrar a genialidade do
João Félix: Preciso, simples e directo. Por uma vez, a verdade acima da
politiquice. LOL
ana cristina, Lisboa et Orbi: "intimidação
e chantagem"... boas perspectivas para a governação do país. só não percebi se, para o VPV o
costa e o centeno "tinham desde o principio um plano" (5 de maio) ou
se agiu "inconscientemente" (8 de maio)..... em que ficamos?
francisco tavares: Em que ficamos? Ficamos
naquela em que Mário Nogueira não conseguiu subverter o Orçamento de Estado.
Pode imaginar o que viria a seguir em cascata, se ele fosse bem sucedido?
Enfermeiros, médicos, técnicos de diagnóstico, militares, etc. Toda a gente a
pensar nos seus interesses. E o interesse geral?
OldVic. Música do dia: "Ahora"
(Talticpac) Liberdade para a Venezuela!: Marcelo e António Costa deixaram muito clarinho quem manda e
quem não manda. Manda, através deles, o cidadão eleitor, não mandam os
sindicalistas. Por uma vez só temos que agradecer ao primeiro-ministro e ao
presidente da República": há que temperar esta afirmação com o facto de
que muitas das expectativas frustradas que causam problemas laborais nasceram
das promessas irresponsáveis de Costa desde que assumiu a liderança do PS, e de
Seguro antes dele.
nunos,cotovia: Eu também sei fazer frases
à VPV: Um grupo de professores, com contas de somar e subtrair, puseram em
causa os números martelados do Ronaldo das Finanças. Isto é a nossa governação
"responsável".
Jose: Começa a não merecer crédito o que escreve VPV. Tanto diz que
António Costa não tem uma convicção, como com Centeno nunca teve um ano como
diz, no mesmo texto que Costa salvou a democracia, como inventa que um homem
só, Nogueira, esteve à porta de derrubar o governo, como diz que o parlamento é
quem manda e que quem manda é Costa com Marcelo. Uma baralhada sem sentido. VPV
é já uma carta fora do baralho como Aníbal Cavaco Silva.
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