sábado, 11 de maio de 2019

Os irmãos Grimm exemplificam

Um artigo de Vasco Pulido Valente, absolutamente apoiante de quem o e nos governa e dos seus golpes de teatro, que já de longa data surgem como truques de magia, mas que provêm de funda desonestidade e ambição, condições sine qua non para o progredir triunfal a que assistimos, cá na plateia. VPV assiste, repoltreado no seu camarote de apreço pelo vencedor, no desprezo que sempre demonstrou pela “gentinha” inerte, que até merece ser assim amachucada. É dos valentes que mais gostamos, dos inteligentes, alfaiatezinhos que matam sete de uma vez – moscas, é certo, mas com os tais truques de encobrimento do real e de exaltação do perverso, sobem longe na carreira, criando a estabilidade que se deseja, que VPV aprecia, embora às vezes diga outras coisas igualmente racionais e mais virtuosas. Mas o alfaiatezinho vai longe, isso é certo, casará com a filha do rei, esperto que é, contam-no os irmãos Grimm.

OPINIÃO
Diário
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 11 de Maio de 2019
A CNN está cada vez pior. É um contínuo comício de propaganda anti-Trump. Mas mesmo de longe, mesmo de Lisboa, aquela espécie de socialismo soft não me inspira senão irritação e desprezo.
5 de Maio
Toda a gente acha que António Costa é um grande político, no mau sentido da palavra. Mas não ouvi ninguém admitir a mais remota hipótese de que o homem tem convicções. E que ele, Centeno e o governo tinham desde o princípio um plano, que o aplicaram, e que de certa maneira o plano deu bom resultado. Uma interpretação de onde se poderia concluir que a reacção do governo foi uma honesta defesa da sua obra política.
6 de Maio
Eleições europeias. Dantes, os políticos não tinham vergonha de invocar a “classe operária”, as “classes trabalhadoras”, os “trabalhadores”, o “povo” ou o “povo português”. Agora, a maioria deles luta pela asséptica categoria a que chamam “pessoas”. É um progresso da democracia.
7 de Maio
Mário Nogueira teve a prosápia de declarar que “o governo não está em condições de governar”.
8 de Maio
Marcelo voltou da China e ficou calado, porque percebeu. António Costa fez o que devia fazer, o que talvez fosse, em parte, inconscientemente. A crise do fim-de-semana não teve nada de “artificial” ou de “teatral”, como disse a imbecilidade pública. O facto é que Mário Nogueira esteve na iminência de derrubar um governo. E a conclusão é que nenhuma democracia pode permitir coisa semelhante.
Vivi em Inglaterra durante os anos 70, e assisti à guerra entre os sindicatos e o poder legítimo. Ao princípio, os sindicatos ganharam e Heath caiu. Depois veio a senhora Thatcher e houve a grande batalha de Scargill e dos mineiros contra o governo e, por implicação, contra o parlamento. Os sindicatos começaram a morrer nesse preciso instante. Blair esperava.
Se António Costa não tivesse oferecido a sua demissão, abriria a porta a um assalto geral dos seus funcionários e de todos os sindicatos contra o regime. Já se vêem sinais disso: enfermeiros, técnicos de diagnóstico, médicos, exército, bombeiros, polícias e por aí fora. Por outro lado, no mundo privado apareceram os motoristas de matérias perigosas e, não tarda nada, aparecerão outros, quando descobrirem uma qualquer possibilidade de pressão estratégica, como os estivadores de Setúbal já descobriram.
Sem dúvida que existe o direito constitucional à greve, mas também se diz nesse triste papel que o parlamento é soberano e o executivo é uma emanação do parlamento. Marcelo e António Costa deixaram muito clarinho quem manda e quem não manda. Manda, através deles, o cidadão eleitor, não mandam os sindicalistas. Por uma vez só temos que agradecer ao primeiro-ministro e ao presidente da República.
10 de Maio
Se vivêssemos em Espanha, com a moção de censura construtiva, ninguém estaria a especular sobre quem nos vai governar a partir de 5 de Outubro. Nisso os banqueiros são mais espertos. Os senhores do Novo Banco, da CGD, do Millennium BCP e do BPI (que, por acaso, ou sem acaso, é um espanhol) estão muito tranquilos. A estabilidade irá continuar. Eles, pelo menos, compreenderam que António Costa não precisa de uma maioria absoluta. Basta-lhe ganhar as eleições, desde que a direita junta não tenha mais deputados do que a esquerda. Duas condições não muito difíceis. Daí em diante as coisas correrão bem com um bocadinho de intimidação e chantagem.
Só estou curioso, e os velhos são muito curiosos, é para saber quem serão os próximos chefes do PSD e do CDS. Que disparates a direita ainda nos reserva?
Colunista

COMENTÁRIO:
ALRB, às armas, às armas, pela Pátria lutar, contra os LADRÕES marchar, marchar: VPV sempre lúcido nas análises que faz. Mas o Costa nem de uma maioria relativa precisa! Mesmo derrotado nas eleições pode governar, como já se viu! E pode governar efectivamente sozinho, minoritário, fazendo o que lhe dá na gana explorando com muita astúcia o seu papel de charneira entre uma direita e uma esquerda visceralmente incompatíveis em termos de uma solução de governo. E Costa não faz planos porque ele gere as crises no dia a dia ultrapassando-as manhosa e vitoriosamente com uma perna às costas. Só mesmo uma bancarrota o destronará, daí o cuidado que ele tem com as contas e a importância que ele deixa que o Centeno assuma.
cisteina,  Porto: Mais uma boa crónica, sobretudo na análise do que deveria ser o sindicalismo onde os professores estão pessimamente representados, um trauliteiro sem qualquer sentido de estado ou das coisas da política, um abcesso que deve ser lancetado rapidamente antes que infecte o sistema educativo que, como sabemos, é o que é, tudo e coisa nenhuma, uma deriva sempre a mudar de rumo e programas. E há tanto para ensinar às nossas crianças, o telemóvel faz esse papel (mal, claro). Quanto ao resto, logo veremos, infelizmente o país continua com uma espada em cima da cabeça, as finanças ditarão um dia destes, não demora muito, o que fazer. O pior é se o governo (este ou outro) não souber (ou não puder) fazer. Triste sina, um país de afilhados, famílias e de nepotismo, escândalo nunca visto.
Carlos Costa: O António Costa é sem dúvida o melhor PM da democracia. É vai continuar a ser, disso não tenho dúvidas para gáudio de todos nós que gostamos dele. Viva o António Costa!
TP, Leiria: 'Sem dúvida que existe o direito constitucional à greve, mas também se diz nesse triste papel que o parlamento é soberano e o executivo é uma emanação do parlamento. Marcelo e António Costa deixaram muito clarinho quem manda e quem não manda. Manda, através deles, o cidadão eleitor, não mandam os sindicalistas. Por uma vez só temos que agradecer ao primeiro-ministro e ao presidente da República.' Ora nem mais!
Espectro, Matosinhos: Vasco em excelente forma, agora na recta final da época! O Vasco teve a lucidez de ir contra-a-corrente jornalística, que se move, em regra, pela inércia e é repetitiva até à náusea (o líder da manada diz que "houve calculismo e chantagem" e a carneirada faz coro!). Boa Vasco, belo golo, fez-me lembrar a genialidade do João Félix: Preciso, simples e directo. Por uma vez, a verdade acima da politiquice. LOL
ana cristina, Lisboa et Orbi: "intimidação e chantagem"... boas perspectivas para a governação do país. só não percebi se, para o VPV o costa e o centeno "tinham desde o principio um plano" (5 de maio) ou se agiu "inconscientemente" (8 de maio)..... em que ficamos?
francisco tavares: Em que ficamos? Ficamos naquela em que Mário Nogueira não conseguiu subverter o Orçamento de Estado. Pode imaginar o que viria a seguir em cascata, se ele fosse bem sucedido? Enfermeiros, médicos, técnicos de diagnóstico, militares, etc. Toda a gente a pensar nos seus interesses. E o interesse geral?
OldVic. Música do dia: "Ahora" (Talticpac) Liberdade para a Venezuela!: Marcelo e António Costa deixaram muito clarinho quem manda e quem não manda. Manda, através deles, o cidadão eleitor, não mandam os sindicalistas. Por uma vez só temos que agradecer ao primeiro-ministro e ao presidente da República": há que temperar esta afirmação com o facto de que muitas das expectativas frustradas que causam problemas laborais nasceram das promessas irresponsáveis de Costa desde que assumiu a liderança do PS, e de Seguro antes dele.

nunos,cotovia: Eu também sei fazer frases à VPV: Um grupo de professores, com contas de somar e subtrair, puseram em causa os números martelados do Ronaldo das Finanças. Isto é a nossa governação "responsável".
Jose: Começa a não merecer crédito o que escreve VPV. Tanto diz que António Costa não tem uma convicção, como com Centeno nunca teve um ano como diz, no mesmo texto que Costa salvou a democracia, como inventa que um homem só, Nogueira, esteve à porta de derrubar o governo, como diz que o parlamento é quem manda e que quem manda é Costa com Marcelo. Uma baralhada sem sentido. VPV é já uma carta fora do baralho como Aníbal Cavaco Silva.

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