sexta-feira, 24 de maio de 2019

Diversão e polivalência na linguagem



Uma nova linguagem, um tanto sofisticada, para leigos como eu, que alinho preferencialmente nos trechos musicais dos “Strauss valsantes”, mais do que nas composições de grande complexidade tonal ou atonal desses génios musicais a que se refere Salles da Fonseca - e que o próprio título do seu texto igualmente exemplifica - aponta para uma certa ambiguidade ou, pelo menos, para um outro lado da cultura que os mesmos leigos mal penetram. É certo que todos esses compositores musicais, na profundidade sonora das suas composições e mensagens ideológicas, servem igualmente aos propósitos críticos de Salles da Fonseca, agora sobre uma Alemanha que neles se inspirou, na época áurea de crimes de atordoar as consciências, de um povo extraordinariamente saliente no mundo de realização cultural e do “homo faber” universal. Salles da Fonseca deveria desenvolver melhor o seu pensamento, nesta sua temática musical e histórica, o que seria uma lição de grande interesse para nós, leigos.

HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 23.05.19

ANTANHA TUPI
Wagner, Mahler, Strauss (o alemão, o sério, o Richard, não os valsantes), Schönberg – todos iguais, todos diferentes. Inconfundíveis, mas cada um a fazer-me lembrar os outros. Sonoridades não longínquas, acordes e dissonâncias, todas primas e primos uns dos outros. Só os dramas os distinguem na mesma saga a que o neto da avó tupi se referiu ao chegar a Nova Yorque para o auto exilio a que se votou, Thomas Mann, dizendo “onde eu estiver, está a Cultura Alemã”.
Wagner e a mitologia germânica trazida à boca de cena para o refulgir da glória dos hiperbóreos – debalde, o Kaiser caiu; Mahler e as convulsões sócio- politicas da aproximação da decadência austro-húngara, o bluff a chegar ao fim e nem a “Canção da Terra” levou aquela gente a pôr os pés no chão e a perceber que o mundo já não era aquele em que ainda se imaginavam; Strauss, o compositor do infinito, aquele que em desespero, faz a flauta trinar no final da última das quatro canções, a dizer que a vida continua para além da morte…
…da morte da própria da Nação Alemã.
Schönberg, a confirmar que havia esperança na ressurreição, um halo do passado sobre o futuro que se abria…
Segue-se Alban Berg mas esse, atonal, está noutra escola, numa sonoridade com que a avó de Thomas Mann nada tinha a ver. E com os outros também não.
Maio de 2019
Henrique Salles da Fonseca


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