CAROLUS
Foste um jovem rebelde, mas sensível e de bom coração, a tua mãe sempre
contou histórias da tua infância de menino inteligente e afectuoso, muito apreciado
pelos professores do colégio de Quelimane, que frequentaste. O 25 de Abril
trouxe o descalabro a muitas famílias, muitas delas chegadas de escantilhão,
das terras para lá do mar a que estavam enraizadas, pertenceste ao grupo de uma
juventude que aqui, de repente se viu emancipada das obrigações que regras
anteriores impunham com mais rigor. Tiveste azar, querido Carolus, e no entanto,
não deixo de pensar de ti as palavras com que terminei um Prefácio a um
livrinho teu – «Tatuagem», por te saber com
capacidades autênticas, de artista que a falta de apoio desconheceu: «Poeta-pintor, poeta-escultor,
escultor-pintor-poeta, artista… Carolus.»
Transcrevi-o no meu blog, em 1/10/2017, num texto a que chamei “O Livro do Carolus”, desejosa de que
tivesses êxito e que algum benemérito o apreciasse. Mas a vida não te foi fácil
– a vida nunca é fácil – e desististe de vez. Penso em ti também como aquele
jovem atencioso, cuidando do pai com desvelo, na fase final da vida deste, levando-o
a passear e a jogar snooker, lá num bairro onde eu ia com a tua mãe tomar café
às vezes. Sofreste a valer, antes do teu final, que foi hoje.
Para ti, os versos que escreveste no teu livrinho “Tatuagem”, e que transcrevi no tal artigo
do meu blog:
“Estou
só
tão
só como me consumo
Em
tão pouco fogo para tanto fumo…” (Poema 12º, “ESTOU”)
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