domingo, 26 de maio de 2019

CAROLUS


CAROLUS
Foste um jovem rebelde, mas sensível e de bom coração, a tua mãe sempre contou histórias da tua infância de menino inteligente e afectuoso, muito apreciado pelos professores do colégio de Quelimane, que frequentaste. O 25 de Abril trouxe o descalabro a muitas famílias, muitas delas chegadas de escantilhão, das terras para lá do mar a que estavam enraizadas, pertenceste ao grupo de uma juventude que aqui, de repente se viu emancipada das obrigações que regras anteriores impunham com mais rigor. Tiveste azar, querido Carolus, e no entanto, não deixo de pensar de ti as palavras com que terminei um Prefácio a um livrinho teu – «Tatuagem», por te saber com capacidades autênticas, de artista que a falta de apoio desconheceu: «Poeta-pintor, poeta-escultor, escultor-pintor-poeta, artista… Carolus.»
Transcrevi-o no meu blog, em 1/10/2017, num texto a que chamei “O Livro do Carolus”, desejosa de que tivesses êxito e que algum benemérito o apreciasse. Mas a vida não te foi fácil – a vida nunca é fácil – e desististe de vez. Penso em ti também como aquele jovem atencioso, cuidando do pai com desvelo, na fase final da vida deste, levando-o a passear e a jogar snooker, lá num bairro onde eu ia com a tua mãe tomar café às vezes. Sofreste a valer, antes do teu final, que foi hoje.
Para ti, os versos que escreveste no teu livrinho “Tatuagem”, e que transcrevi no tal artigo do meu blog:

“Estou só
tão só como me consumo
Em tão pouco fogo para tanto fumo…” (Poema 12º, “ESTOU”)

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