quinta-feira, 2 de maio de 2019

“Todo o mundo é composto de mudança”



Maria Amélia Martins Louçã traça um quadro bastante negativo sobre os efeitos do progresso e tem razão, a construção trazendo sempre destruição, a luz eléctrica substituindo eficazmente a das velas ou do petróleo e causando impacto com isso, no ambiente. E o Homem adapta-se, é claro, atrelado, hoje, comodamente, aos botões que se carregam para assistirmos às produções do mundo. Não há que negar, esquecemos o respeito pela água e a sua poupança, porque não temos que a ir buscar à fonte, como dantes. Et ainsi de suite. Esbanjamos muito porque não damos valor às descobertas que nos facilitam cada vez mais a vida, como dado adquirido e cujos efeitos sobre a natureza ignoramos, cada vez mais egoisticamente. Maria Amélia Martins Louçã chama a isso “A Arte de Esquecer” e faz-nos sentir bem culpados. Mas é preciso confiar na contínua evolução da Ciência, que nos vai trazer a água doce que vai faltando, de outras fontes - até das marítimas, e provavelmente de Marte, um dia. Por cá está em moda agora o lítio, como fonte de abastecimento, não vamos desaparecer para já, apesar de tendermos a ser riscados do mapa, por envelhecimento gradativo, que a natalidade não cobre, segundo alguém muito aterrador. Tudo isto é causa de preocupação, mas não devemos esquecer que o próprio Abraracourcix, chefe dos gauleses, também temia que o céu lhe caísse em cima, o que não seria para amanhã, e o próprio Luís XV, parece, também usou muito o provérbio “Après moi le déluge” que todos temos tendência em seguir, esquecidamente, na opinião de MAML. Mas a máxima de Solnado “façam o favor de ser felizes”, está bastante disseminada no mundo, o prazer é que conta, até mesmo o de matar. Evolução. É por isso que esquecemos… embora andemos em círculo, desde há milénios.

OPINIÃO: A arte de saber esquecer
Importa não esquecer que a chamada crise ambiental não é apenas uma questão ecológica e dos ecólogos, mas também, e sobretudo, um problema social e de saúde pública.
PÚBLICO, 1 de Maio de 2019, 18:18
Saber esquecer é uma arte que se cultiva, hoje em dia, na sociedade portuguesa. Esquecemos a ameaça de seca quando a chuva teima em cair. Esquecemos (ou ignoramos) que houve matas incólumes em 2017, porque nem se visitam. O esquecimento (ou indiferença) é natural perante o dia-a-dia que se leva, mas também porque a classe política nos ajuda a esquecer. Nada como cultivar a esperança de um “grande” aeroporto e do aumento de investimento estrangeiro no lítio ou o orgulho de mostrar uma agricultura moderna no Alentejo. À esperança e ao orgulho alia-se a afirmação do poder restaurador, que neutraliza os efeitos negativos da memória e da culpa. Assim, para que a consciência se liberte e o povo descanse cultivam-se e afirmam-se a prossecução de medidas de mitigação.
Há impactes negativos no ambiente com a construção da nova infra-estrutura no Montijo? Seguramente que surgirão soluções inovadoras contra o excesso de ruído ou de choques com aves. Irá haver perda de habitat para aves migradoras ou libertação de produtos tóxicos nos solos e na atmosfera? Nada disso terá importância quando comparado com a mais-valia no aumento de turistas a Portugal, em particular na região de Lisboa.
Portugal possui uma das maiores concentrações de lítio da Europa. Com esta concentração de “petróleo branco” espalhada por grande parte do território, claro que isso pode trazer um valor acrescentado à economia portuguesa. Saber tirar partido dum recurso natural é lícito e oportuno. A questão coloca-se quando a ambição e o apetite voraz tornam a oportunidade em ameaça. O problema é se essa exploração vai afectar toalhas freáticas, diminuir a quantidade de água disponível para as populações ou mesmo colocar em risco a integridade de reservas naturais. Seguramente que surgirão medidas de mitigação. Mas o que pesa mais? O valor actual de um bem ou a perda irrefutável dum património natural destruído e irrecuperável?
O Alentejo modificou-se. As “ondas” verdes ou amarelas (consoante a estação) dos campos de trigo de outrora que se viam na paisagem foram rapidamente substituídas. Junto ao Alqueva crescem, multiplicam-se os olivais clonizados com produção controlada, dependentes da rega contínua. Para o aumento do retorno investido usam-se e abusam-se dos pesticidas e herbicidas, permitindo uma cultura e colheita mais automática e eficiente. Talvez se (ou, antes, quando?) chegar a Xilella (bactéria radicular que tem dizimado olivais em Itália e Espanha) se olhe para os olivais antigos - os que restarem - que se mostram resistentes e que teimam em produzir mesmo sem água. Para além da paisagem monótona de verde acinzentado, o Alentejo é cada vez mais uma paisagem brilhante, espelhada, com a “cultura” de painéis solares da região da Amareleja e, qualquer dia, na zona de Ourique. Nada como a autonomia energética, o cumprimento do acordo de Paris, o melhor e maior objectivo que se pode alcançar: libertar-nos dos combustíveis fósseis para a obtenção de energia. A “paisagem” fica diferente? Não, a costa ficará mais apetecível e capaz de oferecer um turismo de qualidade.
Saber esquecer pode ser libertador, mas memorizar certos conhecimentos é fundamental: a perda de conectividade entre espécies e a uniformização genética das culturas torna os ecossistemas vulneráveis e pouco resilientes. Por isso, insistir que a capacidade tecnológica inovadora do Homem permite mitigar a deterioração ambiental é uma falácia. Importa não esquecer que a chamada crise ambiental não é apenas uma questão ecológica e dos ecólogos, mas também, e sobretudo, um problema social e de saúde pública.
COMENTÁRIO:
Colete Amarelo, Aqui mesmo 01.05.2019: Temos que ensinar as crianças a gostar da natureza, isso conduzirá a respeitarem-na. Contar que os adultos, habituados que estão aos confortos proporcionados pela tecnologia, mudem de vida é inútil. Deveriam criar-se currículos escolares para promover o amor pela natureza e como protegê-la.

CURIOSIDADES (Da Internet):
1 - Governo aprovou quatro projectos de exploração de lítio: Até hoje, o Governo aprovou quatro contratos para a exploração de lítio. E garante que nenhum arranca sem avaliação ambiental.
2 -Ciência < «Grandes Reportagens Ciência»
O lítio pode ser a energia do futuro - e há abundância em Portugal
 O século XX foi o século do petróleo, suporte da transformação da humanidade no fim do milénio. Mas o petróleo tem o fim anunciado. Abundante em Portugal, será o lítio o “petróleo” do futuro no nosso país? 
 Texto e (Fotografia) CARLOS FRANCO
Nos quase cem quilómetros quadrados do jazigo de Gonçalo-Seixo Amarelo, os filões de mica litinífera destacam-se como riscos brancos na rocha.
A aparência faz lembrar o chumbo e a consistência macia, que permite cortá-lo com uma faca, intriga ainda mais. O lítio é um metal que… flutua. Tem cerca de metade da densidade da água e foi gerado no Big Bang, juntamente com o hidrogénio e o hélio.
Há muito que entrou na nossa vida. Demos por ele nos equipamentos electrónicos portáteis, mas foi a revolução energética dos automóveis que o trouxe para a ribalta. Portugal é o quinto maior produtor mundial deste metal. A instalação em Aveiro de uma fábrica de baterias de lítio da Renault-Nissan alimentou o debate sobre um modelo de desenvolvimento associado à exploração de lítio. A relação parece óbvia (e sedutora), entre a localização da fábrica e a riqueza do subsolo nacional, mas as aparências iludem. O lítio existente em Portugal é usado sobretudo na indústria da cerâmica e não tem aplicação directa no fabrico de baterias. “O país tem recursos minerais de lítio, que são compostos naturais, mas não são carbonatos de lítio”, explica Machado Leite, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG). Ora, é precisamente em forma de carbonato que o lítio serve para as baterias.
O lítio também pode ser extraído de lagos salgados, nomeadamente dos Himalaia e dos Andes.
Além dos jazigos minerais de espodumena, petalite, ambligonite e lepidolite, como no caso português, o lítio também pode ser extraído de lagos salgados, nomeadamente dos Himalaia e dos Andes (Chile, Argentina e Bolívia). É aliás neste triângulo andino que se concentram 75% das reservas conhecidas. O salar de Atacama faz do Chile o maior produtor, e o salar de Uyuni, na Bolívia, ainda por explorar, é o maior depósito do mundo. Na imprensa da especialidade, o lago Uyuni tem sido comparado a Ghawar, o megacampo petrolífero da Arábia Saudita.
Porém, é mais fácil obter carbonato de lítio (Li2CO3) a partir dos lagos salgados do que do minério arrancado às minas. O processo é semelhante ao da extracção do sal marinho. A água destes lagos, que contém entre 200 e 400 ppm (partes por milhão) de lítio, é bombeada para tanques de evaporação, onde o lítio se concentra, normalmente em forma de cloreto (LiCl). Depois é transformado em carbonato por electrólise, purificado e comercializado.


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