O comentário ao artigo de José Manuel Fernandes, por MCMCA, é chave do
problema que aquele informa, de um país inseguro, no seu deserto de aptidões para
um governo que se possa rever em princípios de seriedade e confiança. Quando
estes pareceram funcionar, aprumados no cumprimento dos seus compromissos que
impõem rigor mas eficiência a longo prazo - vimo-lo recentemente - logo foram
atropelados pelo chico-espertismo dos conquistadores, apoiados no maquiavelismo
dos cidadãos rancorosos, mais ou menos invejosos ou frustrados, que na sombra manipularam
e falsearam os dados, segundo as suas conveniências pessoais, não por respeito
pelos princípios de rectidão que se impunham. MCMCA explica, com referências históricas e etnológicas os
motivos de uma constante de falta de aprumo cívico, merecedor de chufas exteriores
e de tristeza interna:
COMENTÁRIO
ao texto de José Manuel Fernandes:
MCMCA: O grande
problema de Portugal reside na falta de mobilidade social fruto de um compadrio endémico entre os representantes do povo e a sociedade. Não
imputemos ao estado todo o mal porque ele é uma extensão da sociedade
portuguesa secularmente corrupta. Filipa de Lencastre quando chegou a Portugal não queria acreditar na
devassa e corrupção que grassava e, o seu descendente, D. João II
matou metade da corte pela devassa, vaidade e corrupção. É a sina
de um povo predominantemente moçárabe que, tal como as populações árabes é
pródigo em negociatas baixas. Estamos longe dos países protestantes mais
rigorosos que os católicos onde, o fado do desgraçadinho leva a uma inveja
endémica e a uma cobiça perniciosa. Os calvinistas estão bem longe deste dogma
católico, apostólico romano: se tens capacidade para ganhar muito és bem vindo
e colocas à disposição dos outros essa capacidade, tens é de ser honesto e quem
peca paga. Por
isso, a inveja e a cobiça, verdadeiros cancros socialistas que tudo corroem, e
o fado do desgraçadinho católico não levam à desgraçada corrupção endémica que
impede a mobilidade social. Quando os partidos têm como única finalidade
assegurar o emprego dos seus representantes o objectivo será defenderem sempre
causas que lhes darão os votos e a representatividade que lhes dará o sustento
O
texto de JOSÈ MANUEL FERNANDES:
Quando o centro é um lugar deserto /premium
OBSERVADOR8/5/2019
Dizem
que as eleições se vencem ao centro. Mentira. Em Portugal o centro é quase tudo
e ao mesmo tempo é nada, e por isso é que o circo vale mais do que as
convicções. Precisa-se muito de ar fresco.
O
velho centro – aquele que temos – é um deserto. Ou talvez seja antes um
pântano.
A
dúvida assalta-me de cada vez que se anuncia que um partido vai tentar
conquistar os eleitores “do centro”, como para que os socialistas estarão a
planear. Isto porque duvido muito que exista essa espécie de “bolsa de
eleitores” situada algures entre o PS e o PSD, que vota alternadamente num
partido ou noutro e de que falam todos os comentadores. Tal como duvido que
esses eleitores sejam por definição “moderados” e, por isso, estejam
disponíveis para cair candidamente para o lado da sensatez, balançando à
esquerda ou à direita.
Não
creio ser isso que tem dado alternadamente a vitória a um ou outro bloco
político, mas sim a capacidade de mobilizar abstencionistas. Basta ver o que se passou em 2015, quando a PàF
ficou longe da maioria ao perder sobretudo votos para abstenção e, depois, em
muito menor quantidade, para o PS e para o Bloco – sim, não me enganei, para o
Bloco, e quase em igual proporção
Se
recuássemos para eleições anteriores encontraríamos o mesmo padrão. Com
excepção do voto no PCP, os portugueses não são capazes de fazer grandes
distinções ideológicas entre os maiores partidos, por mais estranho que isso
possa parecer às elites. Há mesmo estudos que mostram que o eleitorado jovem,
urbano e classe média do Bloco é mais “liberal” em alguns temas económicos do
que o eleitorado mais rural e idoso do CDS.
Décadas
a fio, o que se prometeu nas campanhas eleitorais foi “mais” qualquer coisa:
mais estradas, mais hospitais, mais escolas, pensões mais altas, mais empregos,
mais Estado Social, agora mais “contas certas”. Sempre houve muito pouca ideologia nestas promessas, sempre se jogou sobretudo com o carisma
das lideranças – isto é, dos candidatos a primeiro-ministro – e sua
credibilidade para cumprirem as promessas que estavam a fazer.
É
assim pelo menos desde Cavaco Silva. E também desde as suas campanhas que um
dos motes é o medo: se os outros ganharem, vai-se perder o que já se tem.
Há
40 anos, com a primeira AD de Sá Carneiro, ainda de debatia o modelo de
sociedade e a arquitectura do regime. As revisões constitucionais de 1982 e
1987 deixaram esses temas resolvidos e passou-se a debater quem conseguia
trazer mais fundos de Bruxelas.
O
resultado deste processo não é famoso.
Primeiro, temos um país que está todo
ele amalgamado ao centro. Os partidos oferecem quantidade (“mais” ou “menos”
eficiência), não qualidade (reais políticas alternativas).
Depois,
temos um país que se foi tornando gradualmente cada vez mais dependente do
Estado – por inércia política mas também pelo natural envelhecimento da
população – e, por isso, avesso ao risco ou, simplesmente, a considerar
alternativas. Só em momento de grave crise temos um sobressalto.
Finalmente,
a proximidade a um partido – e mesmo a militância nele – tornou-se mais
depressa uma questão de
clubite do que
uma opção ideológica ou o reflexo de um interesse de classe ou de grupo. Claro que há nuances, e áreas de clara clivagem
entre os principais partidos, mas se repararem bem algumas delas – as
“fracturantes” – até tendem a ser tratadas como “questões de consciência”, para
não atrapalharem quem veste as diferentes camisolas. De resto, num país
onde os partidos soubessem o que pensavam, onde se situavam e quem
representavam, aqueles que se dizem “de direita” nunca teriam votado a favor
das reivindicações dos professores, não por não haver dinheiro, mas por serem
injustas face ao que sofreram os cidadãos do sector privado.
É
neste magma onde tudo se confunde que se trava agora a batalha das “contas
certas”, que o PS quer exibir na sua lapela, como antes se travou a das
“auto-estradas”, um ex-libris cavaquista que os socialistas só conseguiram
roubar multiplicando PPP.
É
por isso que digo que o centro é um deserto – de ideias. E um pântano – de onde
não se sai.
Portugal
precisa de outro paradigma para poder voltar a sonhar. Para os portugueses
voltarem a acreditar que vale mesmo a pena.
Precisa
de quem não prometa mais hospitais e mais escolas, antes diga aos portugueses
que lhes garante um serviço público de saúde e um serviço público de educação
onde eles terão a garantia do serviço público mais liberdade de escolha.
Portugal precisa de um Governo que não prometa fazer mais, mas que prometa
fazer menos para deixar os cidadãos fazer mais – libertando-os também
gradualmente dos excessos de carga fiscal. Portugal precisa de um Estado menos
intrusivo, menos dirigista, mas mais regulador e mais aberto.
Quem
pudesse romper dos nossos chochos debates políticos teria como desafio – e como
oportunidade – criar um novo centro, radical e reformista. Necessariamente com
outros protagonistas, capazes de abrir as janelas para deixar entrar ar fresco.
Sem medo. E sem medo que lhes falassem de medo.
Se
não for assim, se não sairmos da lógica circense de que os últimos dias foram
expoente máximo, andaremos sempre a perseguir a nossa própria cauda, não em
busca das melhores políticas, mas atrás dos melhores comediantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário