sábado, 25 de maio de 2019

Realmente, assim parece



Há, no Público, muitos artigos sobre a saída de Teresa May do seu cargo de Prime Minister. Miguel Esteves Cardoso expõe, de maneira aparentemente despojada, a questão do Brexit que levou à demissão da PM britânica. Eu sempre achei que ela esteve a aguentar todo aquele escândalo, em finca-pé, mais tempo do que devia, suponho que se deixou convencer da nobreza dos seus concidadãos, através de leituras brandas, como o “Orgulho e Preconceito” da Jane Austen, revelador de um tipo de altaneira convicção de superioridade, na figura do Mr Darcy, que o amor humaniza, para deleite nosso. Mas não houve amor da parte dos britânicos, a altanaria prevaleceu, até mesmo com a sua PM, não foi só com os europeus. “A Theresa é o menos”, diz MEC e tem razão. Os britânicos são tão grossos como quaisquer outros não ilhéus, apesar do Rei Arthur e da sua “Távola Redonda”.
OPINIÃO: A Theresa é o menos
A culpa do impasse é dos dois maiores partidos. O preço será tornarem-se em partidos menores.
MIGUEL ESTEVES CARDOSO
PÚBLICO, 24 de Maio de 2019
A demissão (e as lágrimas) de Theresa May não nos dizem nada sobre Theresa May. O que nos dizem é que mais uma vez o “Brexit” deu cabo de uma dirigente do Partido Conservador.
Theresa May é menos competente do que David Cameron e não contava com uma coligação com os liberais. Mas foi teimosa, trabalhadora e aberta a acordos com outros partidos.
Mesmo assim não conseguiu resolver nada. A demissão dela deu-se depois de esgotar todas as possibilidades de conseguir apoio parlamentar para o acordo que fez com a União Europeia.
O fracasso dela é o fracasso do Partido Conservador e o fracasso do Partido Trabalhista: nem um nem outro foram capazes de se definir como sendo claramente a favor ou contra o “Brexit”.
O próximo dirigente conservador — que deverá ser Boris Johnson — encontrará as mesmas demolidoras dificuldades. Se Boris Johnson tentar definir o partido como abertamente a favor do “Brexit” encontrará nos conservadores remainers a mesmíssima resistência que Theresa May encontrou nos conservadores brexiteiros.
A substituição de Theresa May não resolverá nada. O impasse fatal perante o “Brexit” está inscrito no Parlamento, preso à oposição entre o resultado do referendo e a representação parlamentar.
Um dos dois grandes partidos tem de se definir como remainer: terá de ser o Labour, não obstante Jeremy Corbyn. O partido conservador ganharia em definir-se como brexiteiro duro (no deal) fugindo ao acordo com a União Europeia.
A culpa do impasse é dos dois maiores partidos. O preço será tornarem-se em partidos menores.
COMENTÁRIOS:
Gnôthi Sautónn, Europa, Paz e Democracia 24.05.2019: Não compreendo muito bem por que é que tem de haver um partido claramente a favor da saída e outro da permanência, mas enfim... Quanto às lágrimas, o que é de admirar é que só tenham acontecido hoje! Além de incompreensível, a batalha de May era inumana há meses! Como aguentou até hoje? Vai precisar de meses de recuperação física e psicológica...
Choninhas Chanfrado, New Iorque | Professor Catedrático com um currículo impressionante.24.05.2019: MEC tem exactamente falta de razão. A culpa é toda da UE que violentou, humilhou e chantageou o Reino Unido e a prova são as lágrimas da senhora May. Fica muito mal à UE fazer chorar uma senhora, a prova de que a UE não passa duma ditadura opressora e sem escrúpulos.
Colete Amarelo, Aqui mesmo 24.05.2019: Eu sei que as lágrimas de uma senhora são comoventes, mas daí a atribuir exclusivamente a causa do choro à UE, é um salto que deixa muito por dizer.
Bruno Sommer Ferreira, 24.05.2019: Se no meio desta fragilidade dos tradicionais pilares da democracia inglesa forem convocadas eleições antecipadas, a embrulhada pode ser completa, ao emergir um Farage que poderá tornar-se no grande vencedor das Europeias, dando-lhe o élan para outros voos internos. Falta humildade aos partidos para reconhecerem que mentiram no referendo quando apresentaram soluções fáceis. Já passaram 3 anos e pode-se questionar quão representativo ainda é o resultado: existem 2 milhões de jovens votantes, outros que faleceram, e há hoje uma noção muito mais clara relativamente às consequências da alternativa votada. Um novo referendo não seria desrespeitar o voto, mas a penitência de quem convocou extemporaneamente o referendo, devolvendo a decisão ao povo.
Nuno, Lisboa 24.05.2019: Tem razão! E é deixá-los sair. Experimentar por 10 ou 20 anos. E depois se ainda existir Europa e planeta habitável por humanos, voltam a pedir a adesão.
Colete Amarelo, Aqui mesmo 24.05.2019: É bom compreender a política inglesa através da visão de Miguel Esteves Cardoso.

Nenhum comentário: