Há, no Público, muitos artigos sobre a
saída de Teresa May do seu
cargo de Prime Minister. Miguel
Esteves Cardoso expõe, de maneira aparentemente despojada, a questão
do Brexit que levou à
demissão da PM britânica. Eu sempre achei que ela esteve a aguentar todo aquele
escândalo, em finca-pé, mais tempo do que devia, suponho que se deixou
convencer da nobreza dos seus concidadãos, através de leituras brandas, como o “Orgulho e Preconceito” da Jane Austen, revelador
de um tipo de altaneira convicção de superioridade, na figura do Mr Darcy, que
o amor humaniza, para deleite nosso. Mas não houve amor da parte dos
britânicos, a altanaria prevaleceu, até mesmo com a sua PM, não foi só com os
europeus. “A Theresa é o menos”, diz
MEC e tem razão. Os britânicos são tão grossos como quaisquer outros não ilhéus,
apesar do Rei Arthur e da sua “Távola Redonda”.
OPINIÃO: A Theresa é o menos
A culpa do impasse é dos dois maiores
partidos. O preço será tornarem-se em partidos menores.
MIGUEL ESTEVES CARDOSO
PÚBLICO, 24 de Maio de 2019
A demissão (e as lágrimas) de Theresa May
não nos dizem nada sobre Theresa May. O que nos
dizem é que mais uma vez o “Brexit” deu
cabo de uma dirigente do Partido Conservador.
Theresa
May é menos competente do que David Cameron e não contava com uma coligação com os
liberais. Mas foi teimosa,
trabalhadora e aberta a acordos com outros partidos.
Mesmo
assim não conseguiu resolver nada. A demissão dela deu-se depois de esgotar
todas as possibilidades de conseguir apoio parlamentar para o acordo que fez
com a União Europeia.
O fracasso dela é o fracasso do
Partido Conservador e o fracasso do Partido Trabalhista: nem um nem outro foram
capazes de se definir como sendo claramente a favor ou contra o “Brexit”.
O próximo dirigente conservador — que
deverá ser Boris Johnson —
encontrará as mesmas demolidoras dificuldades. Se Boris Johnson tentar definir
o partido como abertamente a favor do “Brexit” encontrará nos conservadores remainers
a mesmíssima resistência que Theresa May encontrou nos conservadores brexiteiros.
A
substituição de Theresa May não resolverá nada. O impasse fatal
perante o “Brexit” está inscrito no Parlamento, preso à oposição entre o
resultado do referendo e a representação parlamentar.
Um dos dois grandes partidos tem de se definir como remainer:
terá de ser o Labour, não obstante Jeremy Corbyn. O partido
conservador ganharia em definir-se como brexiteiro duro (no deal) fugindo ao
acordo com a União Europeia.
A
culpa do impasse é dos dois maiores partidos. O preço será tornarem-se em
partidos menores.
COMENTÁRIOS:
Gnôthi Sautónn, Europa, Paz e Democracia 24.05.2019: Não compreendo muito bem por que é que tem de haver um
partido claramente a favor da saída e outro da permanência, mas enfim... Quanto
às lágrimas, o que é de admirar é que só tenham acontecido hoje! Além de
incompreensível, a batalha de May era inumana há meses! Como aguentou até hoje?
Vai precisar de meses de recuperação física e psicológica...
Choninhas Chanfrado, New Iorque | Professor
Catedrático com um currículo impressionante.24.05.2019: MEC tem exactamente falta de razão. A culpa é toda da
UE que violentou, humilhou e chantageou o Reino Unido e a prova são as lágrimas
da senhora May. Fica muito mal à UE fazer chorar uma senhora, a prova de que a
UE não passa duma ditadura opressora e sem escrúpulos.
Colete Amarelo, Aqui mesmo 24.05.2019: Eu sei que as lágrimas de uma senhora são comoventes,
mas daí a atribuir exclusivamente a causa do choro à UE, é um salto que deixa
muito por dizer.
Bruno Sommer Ferreira, 24.05.2019: Se no meio desta fragilidade dos tradicionais pilares
da democracia inglesa forem convocadas eleições antecipadas, a embrulhada
pode ser completa, ao emergir um Farage que poderá tornar-se no grande vencedor das Europeias, dando-lhe o élan para outros voos internos. Falta
humildade aos partidos para reconhecerem que mentiram no referendo quando
apresentaram soluções fáceis. Já passaram 3 anos e pode-se questionar quão
representativo ainda é o resultado: existem 2 milhões de jovens votantes,
outros que faleceram, e há hoje uma noção muito mais clara relativamente às
consequências da alternativa votada. Um
novo referendo não seria desrespeitar o voto, mas a penitência de quem convocou
extemporaneamente o referendo, devolvendo a decisão ao povo.
Nuno, Lisboa 24.05.2019: Tem razão! E é deixá-los sair. Experimentar por 10 ou
20 anos. E depois se ainda existir Europa e planeta habitável por humanos, voltam
a pedir a adesão.
Colete Amarelo, Aqui mesmo 24.05.2019:
É bom compreender a política inglesa
através da visão de Miguel Esteves Cardoso.
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