sexta-feira, 27 de março de 2020

Em Ocho Rios, Jamaica, nas Caraíbas



E assim se vai passeando, nestes tempos fechados da peste, graças a uma pluma generosa …
POR TORDESILHAS ALÉM… - 7 - Os cabelos da Natália
HENRIQUE SALLES DA FONSECA    A BEM DA NAÇÃO, 26.03.20
Era ali pelas bandas do tempo que antecedeu o 25 de Abril de 1974 que a RTP transmitia o anúncio a um shampoo qualquer em que aparecia uma pequena mais ou menos coberta (ou mais ou menos despida) por uma túnica branca, metida até aos joelhos na água de um laguinho, tendo como fundo da imagem uma pequena cascata. E enquanto a pequena mexia e remexia na sua farta cabeleira, a voz-off dizia que «a Natália foi à Jamaica lavar o cabelo com…» (e dizia o nome do shampoo que já esqueci). Ora, naquela época, a filha solteira do então Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, chamava-se Natália e, vai daí, o bom povo português encheu o anedotário nacional duma quantidade enorme de chistes a que a minha memória deu entretanto o mesmo tratamento que ao nome do shampoo. Eis o que até há bem pouco tempo, eu sabia da Jamaica. Mas agora, indo lá, pareceu-me de alguma conveniência passar pelo Google e estudar um pouco sobre o dito país.
Então, a Jamaica compõe-se de uma única Nação negra, Estado independente mas integrado na Commonwealth. O território é a ilha do mesmo nome. A actividade económica baseia-se na exploração de bauxite e no turismo enquanto o equilíbrio financeiro é muito ajudado pelas remessas dos emigrantes. Assim sendo e nesta conformidade de viajantes, aportámos durante a noite a Ocho Rios (e não Eight Rivers como alguém me confundiu), desembarcámos num cais florido e desembocámos numa simpática praça ajardinada onde os autocarros nos esperavam. Visto da varando do nosso camarote, Ocho Rios fez-me lembrar o Machico e não mais. Pequena vila a que por ali se chama cidade, tem aspecto asseado e não se vê miséria nem a chusma de vendedores ambulantes (mendicidade disfarçada) que nos assediara na esplanada em que almoçáramos em Cartagena de las Índias. Encamionados, lá fomos nós rumo ao desconhecido… E qual não foi o meu espanto quando deparei com a «cascata da Natália». Trata-se de um riacho cantante dentre os mais de mil que se diz existirem na Jamaica e que, enquadrado num parque de lazer, desce até à praia onde existe um rudimento de apoio turístico. Foi então que, pela primeira vez, molhei os pés naquela região caribenha. Não avancei mar adentro porque me disseram que os tubarões também gostam de tomar banho por ali. Gostei do que vi mas achei pouco para justificar uma viagem tão longa.
Foi então, no regresso ao barco, que comecei a pensar nas diferenças óbvias entre a Jamaica e o Haiti, outra República negra nas Caraíbas, onde impera a miséria e o desmando político. E notei para comigo e em silêncio que nunca me passou pelas orelhas o som do nome de algum político jamaicano enquanto que os haitianos «Papa Doc» Duvalier e seu filho gordo e perdulário encheram as notícias urbi et orbe. E desse desmando – aparentemente justificado pelos vapores da liberdade, igualdade e fraternidade - resulta por certo a fuga das gentes que não remetem poupanças para os bancos em Port au Prince. Pelo contrário, os emigrantes jamaicanos enchem de remessas os bancos do seu país porque sabem que ali tudo é sereno.
Um slogan curioso: «Na Jamaica não há problemas, há acontecimentos e estes têm soluções». Trata-se, evidentemente de um eufemismo jocoso mas não deixa de mostrar uma faceta da bonomia geral. E a pergunta que me ocorreu foi se essa bonomia não resultará de «aquela malta andar toda ganzada». Talvez sim, talvez não. Eu não vi nada que me fizesse supor uma sociedade abandalhada. Vi-a sorridente e serena, mas não eufórica no pico da ganza nem deprimida na ressaca.
Concluindo, nesta minha primeira visita à Jamaica, vou com uma ideia positiva.
Almoçámos no barco e zarpámos rumo à Grande Caimão onde chegaríamos na manhã seguinte. Tanto quanto me apercebi, as ondas devem ter sido tão grandes como as do lago do Campo Grande em Lisboa.
(continua)  Março de 2020   Henrique Salles da Fonseca   [i] -https://pt.wikipedia.org/wiki/Jamaica
NOTAS: Jamaica   Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Jamaica é um país insular situado no mar do Caribe (em português europeu, Mar das Caraíbas) que compreende a terceira maior ilha das Grandes Antilhas. A Jamaica é o quinto maior país insular do Caribe (Caraíbas). Os povos indígenas da ilha, os taínos, chamavam-na de Xaymaca em aruaque, ou seja, a "terra da madeira e da água" ou a "terra dos mananciais". Depois de tornar uma possessão espanhola conhecida como Santiago, em 1655 a ilha passa ao domínio britânico e é nomeada como "Jamaica". O país conseguiu sua completa independência do Reino Unido apenas em 6 de agosto de 1962. Com 2,8 milhões de pessoas, é o terceiro país anglófono mais populoso na América, depois dos Estados Unidos e do Canadá. Kingston é a maior cidade e a capital do país, com uma população que ronda um milhão de habitantes. A Jamaica tem uma grande diáspora em todo o mundo, devido à emigração do país. O país é um reino da Commonwealth, com a rainha Isabel II como seu monarca e chefe de Estado. Seu representante designado no país é o governador-geral da Jamaica, atualmente Patrick Allen. O chefe de governo e primeiro-ministro da Jamaica é Andrew Holness. A Jamaica é uma monarquia constitucional parlamentar com o poder legislativo investido no parlamento bicameral nacional, que consiste de um senado e uma câmara composta por representantes eleitos pela população.
História
Pré-história: Os índios aruaques e taínos, originários da América do Sul, se estabeleceram na ilha entre 4.000 e 1.000 a.C.  Quando Cristóvão Colombo chegou em 1494, havia mais de 200 aldeias governadas por caciques (chefes de aldeias). A costa sul da Jamaica era a mais povoada, especialmente em torno da área hoje conhecida como Porto Velho. Os taínos ainda habitavam a Jamaica quando os britânicos assumiram o controle da ilha em 1655. O Jamaican National Heritage Trust está a tentar localizar e documentar qualquer evidência dos povos taínos e aruaques.
Colonização: Domínio espanhol: Cristóvão Colombo reivindicou a Jamaica para a Espanha após aportar lá em 1494, provavelmente em Porto Seco, agora chamado de Discovery Bay. Há algum debate sobre se ele desembarcou em St. Ann Bay ou em Discovery Bay. St. Ann Bay foi batizada de “Santa Glória" por Colombo, como o primeiro avistamento de terra. Uma milha a oeste de St. Ann Bay é o local do primeiro assentamento espanhol na ilha, conhecido como Sevilla, que foi criado em 1509 e abandonado por volta de 1524 porque foi considerado insalubre. A capital foi transferida para a cidade espanhola então chamada São Jago de la Vega, em torno de 1534 (na atual St. Catherine).
Domínio britânico: Spanish Town tem a catedral mais antiga das colônias britânicas no Caribe. Os espanhóis foram expulsos à força pelos britânicos em Ocho Rios, em St. Ann. Em 1655, os britânicos, liderados por Sir William Penn e pelo General Robert Venables, assumiram o último forte espanhol na Jamaica. O nome de Montego Bay, a capital da paróquia de St. James, é proveniente do nome em espanhol mantega bahía (ou baía de banha), aludindo à indústria de fabricação de banha com base no processamento dos inúmeros iavalis na área.
Henry Morgan foi um famoso pirata e corsário do Caribe; ele veio primeiro para as Índias Ocidentais como um trabalhador escravo, como a maioria dos primeiros colonos ingleses. Em 1660, a população da Jamaica era de cerca de 4.500 brancos e 1.500 negros, mas, já na década de 1670, os negros formaram a maioria da população. Por conta de perseguição na Europa, a Jamaica tornou-se um refúgio para os judeus no Novo Mundo, atraindo também aqueles que tinham sido expulsos de Espanha e Portugal. Os primeiros judeus tinham chegado em 1510, logo após o filho de Cristóvão Colombo se estabelecer na ilha. Formada principalmente por mercadores e comerciantes, a comunidade judaica foi forçada a viver uma vida clandestina e se autodenominam "portugals". Depois que os britânicos assumiram o governo da Jamaica, os judeus da ilha decidiram que a melhor defesa contra uma possível tentativa de reconquista por parte da Espanha era contribuir para que a colônia se tornasse uma base para os piratas do Caribe. Com os piratas instalados em Port Royal, os espanhóis seriam dissuadidos de atacar. Os líderes britânicos concordaram com a viabilidade desta estratégia para evitar uma agressão externa. Quando os britânicos capturaram a Jamaica em 1655, os colonos espanhóis fugiram depois de libertar seus escravos. Os escravos ficaram dispersos nas montanhas, juntando-se aos maroons ou com os que tinham anteriormente escapado dos espanhóis para viver com os taínos. Os maroons jamaicanos combateram os britânicos durante o século XVIII. O nome é usado ainda hoje por seus descendentes modernos. Durante os séculos de escravidão, os quilombolas estabeleceram comunidades livres no interior montanhoso da Jamaica, onde eles mantiveram a sua liberdade e independência por gerações.[
Durante os primeiros 200 anos de domínio britânico, a Jamaica tornou-se um dos principais exportadores de açúcar e uma das nações dependentes de escravos do mundo, produzindo mais de 77 mil toneladas de açúcar por ano entre 1820 e 1824. Após a abolição do tráfico de escravos em 1807, os ingleses importaram trabalhadores indianos e chineses como servos para complementar a força de trabalho. Muitos de seus descendentes continuam a residir na Jamaica atualmente.
Independência e era contemporânea
O excesso de zelo britânico no uso de escravos voltou-se contra eles, e no início do século XIX o número de negros era quase 10 vezes maior do que o de brancos. Seguiu-se uma série de revoltas e, em 1838, a escravatura foi formalmente abolida. Ao longo dos anos que se seguiram, o grau de autonomia da Jamaica foi aumentando e, em 1958, a Jamaica passou a ser uma província de uma nação independente chamada Federação das Índias Ocidentais. A Jamaica saiu da federação em 1962 e é hoje uma nação soberana.
A deterioração das condições econômicas durante a década de 1970 levou a um estado de violência endêmica e à queda do turismo. Uma das antigas capitais da Jamaica era Port Royal, onde se acoitava o pirata e posteriormente governador Henry Morgan. Foi destruída por uma tempestade e um tremor de terra, e Spanish Town, na paróquia de St. Catherine, que foi o local da antiga capital colonial espanhola e da capital inglesa durante os séculos XVIII e XIX.

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