Cá por casa também há projectos de
auxílio, mas é necessário bom comportamento cívico, com muita obediência às
ordens superiores, como forma de debelar a catástrofe mundial. Estamos em
estado de emergência, que as forças da ordem vão controlar com a severidade
específica da sua autoridade armada, a destruir os conceitos que a santa
democracia instituíra em tempos. Os discursos melífluos do PR e C.ia uma vez mais vão fazer vergar as
colunas vertebrais da nossa mansa terra. Afinal, todos íamos cumprindo, com
maior ou menor responsabilidade.
O apelo às armas destrói a democracia. E
humilha o verdadeiro cidadão, indeed.
acionalizações, perdão de créditos e
despedimentos proibidos. As medidas de outros países para proteger a economia
França pondera nacionalizações, em
Itália não se pagam créditos, Espanha injecta 200 mil milhões, EUA
"oferecem" dinheiro, Merkel admite "coronabonds". Medidas
portuguesas são conhecidas na 4.ª feira.
OBSERVADOR, 17 mar 2020, 23:297
Uma recessão económica na Europa e
nos EUA já deixou de ser um cenário provável para se transformar numa quase
certeza. A
prioridade dos governos já não é salvar as economias da recessão mas, sim, atenuar
o impacto da contracção económica para empresas e famílias e, por outro lado, criar
desde já as bases para que uma recuperação rápida possa ocorrer assim que
a trajectória epidemiológica do novo coronavírus se inverter. Com esse
duplo objectivo, um pouco por todo o mundo estão a lançar-se medidas extremas –
ou, pelo menos, a admitir lançar-se essas medidas –, e até Angela Merkel
já admite lançar dívida mutualizada para pagar os custos desta crise (algo que
a Alemanha nunca aceitou fazer durante a crise da dívida europeia).
“Estamos
a avaliar a possibilidade de enviar cheques aos americanos, imediatamente – e
quando digo imediatamente, quero dizer já, nas próximas duas semanas”. Steve
Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA, confirmou esta terça-feira que está nos
planos da Casa Branca dar um estímulo à economia norte-americana, para tentar
tirá-la da actual espiral negativa, entregando um cheque de pelo menos mil
dólares a cada cidadão (mais de 900 euros). A troco de quê? A troco de
nada, money for nothing, como cantava Mark Knopfler. A maior economia
do mundo está em grandes dificuldades – em dire straits, poderia dizer-se. Por
isso, o plano é oferecer dinheiro que a maioria das pessoas deverá gastar
(não poupar) e, dessa forma, estimular a economia, criando procura.
Nem
George W. Bush foi tão longe. Na resposta à crise financeira de 2008,
ficou famoso o alerta do então Presidente dos EUA quando avisou que das duas,
uma: ou havia medidas radicais ou, então, “this sucker could go down“, que
é como dizer que a “sacana” da economia poderia cair de joelhos. Também aí
houve medidas inovadoras de resposta à crise, como o generosíssimo incentivo
ao abate de carros antigos que ficou conhecido como o cash for clunkers,
ou “dinheiro em troca de sucatas”, que além de estimular a economia ajudava
directamente o depauperado sector automóvel. Mas a
situação actual parece ser ainda mais grave e, portanto, a administração Trump
quer incluir esta proposta no mega-pacote de um bilião
de dólares que a Casa Branca vai propor ao Congresso dos EUA.
Se
a intenção se confirmar, porém, os EUA até nem serão os primeiros a avançar com
esta ideia. Já no final de fevereiro o governo de Hong Kong investiu o
equivalente a 10 mil milhões de dólares para oferecer o equivalente a 1.170
euros a cada residente (permanente) no território. Numa economia ainda não
refeita das consequências dos protestos que marcaram o ano passado, “o novo
coronavírus aplicou um duro golpe na economia de Hong Kong”, reconheceu
Paul Chan, ministro das Finanças do território controlado pela China – o país
onde o surto começou e que, aliás, também já tinha dado subsídios
financeiros directos aos seus cidadãos, além de transportes gratuitos, para
atenuar o impacto económico.
Uma
outra forma de assegurar que há dinheiro nas contas bancárias dos cidadãos é evitar
que ele saia das contas para pagar créditos à habitação, por exemplo. E é
isso que deverá acontecer em Itália:
a ministra-adjunta da Economia de Itália anunciou que vão ser suspensos os
pagamentos de prestações à banca, por parte das famílias, como já tinha
acontecido em 2010 na crise financeira – uma crise da qual a economia e a
banca do país também ainda não estão totalmente refeitos. Nesta fase, porém, o
grau de emergência é tal que o governo do país mais afectado pelo coronavírus
admite não só suspender os pagamentos de dívida das famílias mas, também, de
algumas pequenas empresas. Em contrapartida, o pacote de incentivos à
economia também inclui a proibição de despedir trabalhadores por motivos económicos
— apenas os despedimentos por razões disciplinares serão permitidos até,
praticamente, ao final de abril.
Os
EUA até nem serão os primeiros a avançar com esta ideia. Já no final de
fevereiro o governo de Hong Kong investiu o equivalente a 10 mil milhões de
dólares para oferecer o equivalente a 1.170 euros a cada residente (permanente)
no território. Numa economia ainda não refeita das consequências dos protestos
que marcaram o ano passado, "o novo coronavírus aplicou um duro golpe na
economia de Hong Kong".
Além
de Itália, também em Espanha e no Reino Unido estão a aprovar “feriados” no
pagamento de dívidas à banca. Mas, no
país-vizinho, a principal componente desta “terapia de choque” foi apresentada
pelo governo esta terça-feira: um pacote de estímulo económico no valor de 200
mil milhões de euros – não muito longe do equivalente a toda a riqueza
produzida em Portugal a cada ano. Trata-se
da “maior mobilização de recursos na história democrática do país”, disse o
chefe do governo, Pedro Sánchez.
Metade
do plano decretado pelo governo espanhol – 100 mil milhões de euros, portanto –
tem um objectivo muito claro: assegurar que não falta liquidez financeira às
empresas espanholas, em especial as pequenas e médias empresas (PME), através
de empréstimos e garantias públicas. A promessa: as empresas terão acesso a
“toda a liquidez de que precisam” para continuar a trabalhar, “não vamos deixar
que problemas temporários de liquidez se transformem em problemas de
solvência”, jurou o governo espanhol.
Mas
Sánchez também anunciou as tais moratórias no pagamento de prestações por parte
das pessoas cujos rendimentos forem impactados por esta crise. E não só moratórias aos pagamentos à banca mas,
também, nas facturas de serviços essenciais como a luz e a água. “Ninguém
vai ser deixado para trás”, garantiu
Pedro Sánchez, acrescentando, ainda, incentivos para que algumas empresas
possam suspender trabalhadores (em vez de os dispensar), procurando-se que
estes tenham a menor perda de rendimento possível. E vai haver 600 milhões de
euros para ajudar as pessoas mais desfavorecidas, que dependem da acção social
para viver.
O
chefe do governo espanhol deixou, também, a garantia de que irá ser feita legislação
para prevenir que empresas não-europeias aproveitem a fraqueza da economia e
da bolsa espanhola para assumir o controlo de empresas espanholas em “sectores
estratégicos”.
E,
nesta mesma terça-feira, quem também falou em potencialmente assumir o controlo
de grandes empresas foi o governo francês –
leia-se, o próprio governo francês a assumir participações ou, até,
nacionalizar empresas com a maior relevância para a economia francesa. “Não
hesitarei em usar todos os meios disponíveis para proteger as grandes empresas
francesas“, asseverou Bruno Le Maire, ministro das Finanças francês,
acrescentando que “isso pode ser feito através de recapitalizações, ou
tomando uma participação nas empresas – podemos até usar o termo nacionalizações,
se for necessário“.
Não
tendo sido referidos casos particulares, o exemplo mais óbvio será a Air
France-KLM, a
transportadora aérea que, à semelhança do que acontece com todas as principais
companhias mundiais, viu quase toda a actividade esfumar-se nas últimas
semanas. Bruno Le Maire e o presidente-executivo da Air France-KLM, Ben
Smith, tiveram uma reunião há três dias para falar sobre a resposta a dar a
esta crise.
Com
previsões de que a economia francesa, a segunda maior da zona euro, deverá
encolher 1% este ano, o governo também vai avançar com garantias a empréstimos
feitos pela banca às empresas – num valor até 300 mil milhões de euros – mas
acrescentará a isso despesa pública de 45 mil milhões que inclui 32 mil milhões
de euros “perdidos” com impostos que não serão cobrados (para já) às empresas e,
também, 8,5 mil milhões de euros para pagar os ordenados de funcionários que
venham a ser dispensados pelas empresas, fruto desta crise.
Também
haverá em França, como já foi anunciado em Portugal, pagamentos aos pais
(saudáveis) que tenham de ficar em casa sem poder trabalhar por terem de tomar
conta de filhos pequenos, já que as escolas estão fechadas. O défice público francês vai, com estas medidas,
disparar para 3,9% do PIB – quando a previsão existente apontava para 2,2% – e
o stock de dívida acumulada voltará a superar os 100% do PIB. Mas estes são
aumentos que se justificam plenamente pelo facto de “estar a decorrer uma
guerra“, afirmou o ministro do orçamento, Gérald Darmanin.
Em Berlim, o
governo alemão não está a falar publicamente em “guerra” mas já falou numa
“bazuca” para combater esta crise. O banco de fomento público – o KfW – irá dar
a maior parte dos empréstimos às empresas que deverão atingir os 500 mil
milhões de euros: um valor que tanto se dirige para as pequenas empresas como
para as gigantes.
Estes
500 mil milhões não incluem, porém, as moratórias de cobrança de impostos que
irão “valer milhares de milhões de euros”, adiantou o ministro das Finanças,
Olaf Scholz, o mesmo que usou a expressão “bazuca” na apresentação destas
medidas.
Nos
casos em que as empresas não tiverem alternativa a dispensar trabalhadores,
porém, irá ser reactivado um programa de apoio que ajudou a controlar a taxa de
desemprego da Alemanha após a crise financeira: o Kurzarbeitergeld. Basicamente,
são subsídios pagos pelos cofres públicos aos trabalhadores dispensados e que,
na última crise, ajudou um milhão e meio de alemães e custou ao Estado cerca de
oito mil milhões de euros, segundo cálculos do Deutsche Bank.
A
Alemanha poderá, também, admitir fazer algo que nunca aceitou na última crise
da dívida: a emissão conjunta de títulos de dívida, à escala europeia, para
pagar os encargos desta crise causada pelo coronavírus. Seria uma espécie de “coronabonds“, inspiradas na
ideia de eurobonds que nunca saiu do papel na última década, apesar de muitos
defenderem que teria sido um passo essencial para suavizar o impacto da crise
financeira, que quase levou ao desmembramento da zona euro.
Essa
possibilidade terá sido admitida por Ângela Merkel, a chanceler alemã, na
reunião do Conselho Europeu extraordinário desta terça-feira, segundo a agência Bloomberg. Terá sido após uma sugestão do
primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, que Merkel disse que instou o seu
ministro das Finanças a estudar essa possibilidade, para que a Alemanha
faça parte de um eventual plano nesse sentido. Seria algo absolutamente
inédito na história da União Europeia, cujos tratados proíbem transferências
financeiras entre países.
Neste caso, com uma crise que afecta
todos os países de forma semelhante – o que contrasta com a crise da
dívida – poderá ser menor a resistência a que possa avançar, finalmente, a
ideia de ter os vários países da Europa a irem aos mercados buscar
financiamento para responder a esta crise, recorrendo para isso a um “selo de
garantia” europeu e não deste ou daquele país, em particular.
A
confirmar-se, esta será uma discussão em que terá um papel-chave o presidente
do Eurogrupo, Mário Centeno, que
ainda esta segunda-feira garantiu que as autoridades europeias estão
disponíveis para “fazer tudo o que for necessário, e ainda mais” para
responder a esta crise, recuperando a histórica frase do ex-presidente do Banco
Central Europeu (BCE) Mario Draghi, que com estas palavras lançou o início do
fim da crise da dívida europeia, em 2012.
COMENTÁRIOS
Che Ega: Nacionalizações
em Portugal seria acumular desgraças: aqui correm sempre mal e saem muito,
muito caras! Lembrem-se dos Estaleiros de Viana do Castelo ...
Luis Ribeiro: Afinal há
dinheiro.
Carlos Ferreira: Na Tugalândia?
Não me parece... Mas era uma medida muito bem tomada pelo Governo, em
antecipação. 3 meses sem os bancos cobrarem juros ou amortizações de dívida.
Água luz e gás a metade do preço. E começar já a preparar o futuro. Não vai
haver mais aulas este ano! Que tal todos os alunos recomeçaram exactamente no
mesmo ano. Melhorar a sua capacidade em vez de passagens administrativas. Toca
a todos por isso ninguém perde.
Isabel Antunes: E cá o que
fazem? Fico à espera para ver.
Nuno Aleixo > Isabel Antunes: infelizmente
por cá será a 4a bancarrota.
Pedro Alegria: Que esta
crise sirva para se repensar o modelo como a Europa é gerida e que tipo de
união queremos, politicamente, fiscalmente e economicamente. Temos que reindustrializar
a Europa e assumir que somos uma potência económica e social... e tolerância 0
para a corrupção com penas sérias!
victor guerra: Pois...
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