domingo, 22 de março de 2020

Se for verdadeira a tese



«C'est très grave, c'est excessivement grave!» como diria Steinbroken, mas desta vez com mais conteúdo, que lhe fornece o discurso de autêntico virtuose de Alberto Gonçalves, sinfonia interpretativa de mais uma hecatombe certamente que real, mas talvez manobrada pelas forças governativas do mundo inteiro em proveito próprio. Uma tese verdadeiramente assombrosa, esta de Alberto Gonçalves, que alguns comentadores não deixam de esclarecer devidamente. Que havemos de fazer?
O vírus é uma oportunidade para abolir o socialismo /premium
Na opinião dos chanfrados, um vírus nascido num país asiático e comunista é motivo para revermos o modo de vida ocidental. Pois é: já que os chineses comem morcegos, nós temos de abandonar o automóvel
 Ao contrário dos milhares de especialistas em epidemiologia recentemente revelados pelas televisões, não sei muito acerca do coronavírus, ou deste coronavírus. Sei que nas últimas décadas houve diversas epidemias que garantidamente devastariam a humanidade e que apenas devastaram fortunas incalculáveis a tentar combatê-las. Das vacas loucas à SARS original, da gripe suína à gripe das aves, passando pela pandemia de infantilidade que é o “aquecimento global”, inúmeras criaturas avisaram-nos inúmeras vezes para as calamidades que aí vinham. As calamidades não vieram. O que veio foi a factura das medidas que o medo das calamidades impôs. A reacção ao coronavírus cumpre todas os critérios dos pânicos anteriores: os alertas da “comunidade científica”, que beneficia simbólica e materialmente da atenção; a histeria dos “media”, que não perdem uma aberta para anunciar o apocalipse; a dramatização dos políticos, que hesitantes ou eufóricos acabam por marchar ao gosto popular e aproveitam para reforçar o poder do Estado. Face à maioria dos pânicos anteriores, a diferença é que o coronavírus existe. E que, por muito que duvidemos da sua capacidade aniquiladora, não estamos certos de que seja relativamente inofensivo. Por enquanto, não conseguimos descortinar a voracidade do bicho, e é o desconhecido que nos inquieta. E é a inquietação que nos enfia em casa. E é o recolhimento voluntário que nos suscita saudades desgraçadas das possibilidades que o mundo, o mundo “habitual”, nos oferecia até há dias.
Sabem aqueles gestos diários e pequeninos, que desvalorizamos e tomamos por garantidos? Eu nunca os desvalorizei nem tomei por nada que não fosse um privilégio. Para mim, ir ao café ou ao restaurante, comer um rissol de camarão na estação de serviço, duplicar a chave ou subir uma bainha, comprar um blusão no pronto-a-vestir ou dois blocos de notas na papelaria sempre foram actividades um bocadinho encantadas. Não estou a brincar, juro que não. As transacções comerciais têm qualquer coisa de maravilhoso, no sentido profundo da palavra. A troco de dinheiro, bela convenção social, há pessoas dispostas a fornecer-nos os bens ou serviços de que precisamos ou que simplesmente nos apetece. Isto é tão pueril que embaraça notá-lo, e tão evidente que tendemos a desprezá-lo. Não contem comigo: durante o meio século que levo disto, foram poucos os dias em que não reparei no carácter civilizador dessas minudências, e em que não as agradeci devidamente. É delas que sinto falta, e que temo vir a sentir mais. No fundo, sinto falta do capitalismo, entendido na acepção lata e quotidiana do termo. Por isso é que, enfiado quase permanentemente em casa, à semelhança de tantos portugueses, espreito as “redes sociais” e horrorizo-me, quer com os avanços da doença, quer com a quantidade de chanfrados que acham o coronavírus um pretexto para implodir com o doce conforto das sociedades capitalistas. Na opinião dos chanfrados, um microrganismo nascido nas feiras de um país asiático e comunista é um excelente motivo para revermos o modo de vida ocidental. Pois é: já que os chineses comem morcegos, nós temos de abandonar o automóvel. Bate certo, sobretudo quando se proferem tais preciosidades através do Galaxy ou do MacPro, populares conquistas do marxismo.
Nas seitas de esquerda, o primeiro critério de admissão é a inveja. O segundo é o descaramento. A inveja permite-lhes desejar a destruição da economia, e repetir com fervor o bordão “nada voltará a ser como antes”. O descaramento permite-lhes afirmar que a epidemia prova a nossa dependência do sector público. Por acaso, e descontando o desnorte das “autoridades” para efeito de alívio cómico, a epidemia tem vindo a provar pela enésima ocasião que depender do sector público é meio caminho andado para o desastre. Apesar dos esforços dos funcionários e de biliões em impostos, o SNS, que ao longo de anos serviu de estandarte heróico, é afinal uma ruína sem préstimo em situações sérias: duas ou três centenas de casos graves e aquilo desmantela-se como a indestrutível URSS em que alguns gostariam de nos transformar. Vale, se nos chegar a valer, a colaboração dos hospitais privados, dos laboratórios privados, das empresas privadas e dos cidadãos privados, entidades essencialmente malignas e ávidas por – o Diabo seja cego, surdo e mudo – lucro. E para aqueles que não chegarão a precisar de cuidados médicos, vale-nos o capitalismo para manter a internet, o streaming de filmes, os sites informativos, as “redes sociais”, o WhatsApp, as compras “on line”, a circulação de capitais, etc.
Na verdade, o capitalismo é o que vai tornando suportável esta clausura sem final previsto. A parte insuportável é providenciada pelo Estado, para cúmulo de emergência. O coronavírus, que nos colocou nas mãos dos senhores que mandam, doravante habilitados a decidir os destinos dos indivíduos até ao ínfimo pormenor, não é uma oportunidade para abolir o capitalismo, mas para experimentar a ausência parcial do capitalismo, a ausência de mercado pleno, a ausência de circulação indiscriminada, a ausência de liberdade enfim. O coronavírus, que nos reduziu a sombras, é uma oportunidade para experimentar o socialismo a sério. E perceber o seu imenso horror. E esperar que não dure. E ansiar, com infundado optimismo, que tudo, apesar de tudo, volte a ser como antes. Ou, estou a delirar, melhor que antes.
O Onanista de Plástico: E, se me é permitido indagar, qual foi o repasto do gonçalves e do pedro tecnoformas a ultima vez que almoçaram juntos? Talvez... moelas de faisão recheadas!? Morcego não foi, com certeza!    Maria Alheta > O Onanista de Plástico: Mas agora por mero acaso as pessoas não se podem encontrar para almoçarem juntas? E a ementa e V. Exa. que escolhe?
joão reis: Um 'sincero' desabafo/reconhecimento do AG que perante a impossibilidade de mudar as coisas através de actos eleitorais, reconhece/espera que o vírus dê uma 'ajuda'...
Joaquim Moreira: Concordo muito com esta análise de Alberto Gonçalves, no essencial. E, ao contrário de muitos, considero que é reveladora de que até é um moderado, afinal. Na verdade qualquer pessoa normal, não pode deixar de considerar que o SNS está mal. E que não pode nunca dispensar a colaboração das empresas privadas, seja farmácia ou hospital. E não diz em lado nenhum que o SNS não deve ser estatal. O que diz, e muito claramente, é que a saúde privada continua a ajudar a salvar muita gente. Porque, não pode haver qualquer dúvida, o capitalismo é que faz a economia andar prá frente. Portanto, neste caso concreto da Saúde, o que deve haver é um Sistema Nacional de Saúde, em que o SNS, não seja uma arma de arremesso do PS. Muito menos da esquerda do BE e do PCP, para manter o PS no governo, como se viu e ainda se vê. Onde não concordo com o AG, é quando diz que "o vírus é uma oportunidade para abolir o socialismo". Sobretudo o socialismo do PS. Que até vai aproveitar o vírus vir, para justificar o que vem a seguir. Ou seja, à semelhança da crise de 2008, será justificação, para dizerem que não são eles os culpados da sua má governação. 
pedro antonio:Calma Alberto. Tenhamos esperança. Afinal quem está a gerir esta crise é a mesma equipa que geriu Pedrogão Grande. Tem tudo para correr bem!
Ana Ferreira: A História mostra que em situações similares as pessoas uniram-se em volta do objectivo comum de sobrevivência, como? sobretudo criando instituições que promovam acordos alargados com o fito fundamental de promover a solidariedade. Ou seja tudo aquilo que a ideologia pró individualista do neo-liberal AG mais deseja, pelo que ao contrário do que escreve, esta é a oportunidade de acabar com o escola politica que se baseia do egoísmo que, em boa parte, nos levou a isto!
Fernando Costa: Como médico algo experiente (41 anos de profissão) e cidadão ainda mais experiente (66 anos), partilho a 100% da sua opinião. Em 2019 morreram em Portugal 3.331 pessoas por gripe sazonal, e houve cerca de 2 a 3 milhões de infectados. Foi considerado um ano positivo, porque em 2018 houve 3.800 mortos. De referir que são números habituais. Já agora: em todo o mundo morrem em media, por ano, 500.000 pessoas. Hoje mesmo, e até o momento em que escrevo (13:00h de dia 21) morreram de gripe no mundo desde as 0 horas GMT (dados permanentes worldometer CDC e OMS) 719 pessoas e 107.235 desde janeiro. O medo é irracional e vem de facto do desconhecido. Embora os números da COVID sejam muito menores, o pânico e desorientação são o que se vê. O que o Alberto Gonçalves diz no seu texto, explica o fenómeno. Tenho muito mas muito mais medo do “tratamento” todo que da doença.
josé maria > Fernando Costa: Em 2019 morreram em Portugal 3.331 pessoas por gripe sazonal, e houve cerca de 2 a 3 milhões de infectados. Em Itália, em apenas um mês meio de infecção por covid 19, morreram mais de 4.000 pessoas para uma proporção de infectados de 47.000 casos diagnosticados. Nota alguma diferença, “sr. Dr.“ ? Ou prefere render-se caricatamente à ignorância crassa de bolsonaros e albertos gonçalves ?
Manuel Magalhães: Na realidade é isto mesmo, se não fosse o capitalismo ainda estaríamos numa espécie de Idade Média, é bom não esquecer, todo o dinheiro do Estado provém dos impostos que o povo paga e se não houver capitalismo haverá míngua de impostos (receitas) como aliás está mais que provado em todos os casos onde o socialismo se tentou impor...
Ping PongYang: Se calhar o Dr. Alberto devia deixar de frequentar sites marados que os há para todos os gostos e passar mais tempo a conversar com pessoas reais, não com "coisas da internet"... digo eu. O mundo não vai acabar mas vamos emergir desta crise com muitos mais Médicos, Engenheiros, etc e muito menos gestores...
O Onanista de Plástico > Ping PongYang: Pelo menos muito mais epidemiologistas. Veja-se a quantidade deles que aqui opina frequentemente! Mas se acabássemos com o socialismo, aqueles belos subsídios e apoios à iniciativa privada, sem os quais as grandes empresas não se aguentam, e que, obviamente, saem do bolso do contribuinte, para agradar os mesmos do costume, os amorins, os belmiros, os melos e alguns outros, acabavam.
E depois?    josé maria: Na opinião dos chanfrados, a China não é um país eminentemente capitalista...
Venezuela Livre > josé maria: A História responde.
Jose Faria: "O vírus é uma oportunidade para abolir o socialismo". Posto isto, propõe Alberto Gonçalves abolir o subsídio de férias e de Natal? A jornada de 8 horas de trabalho? O sistema universal de saúde?
Duarte Nuno Pessoa: Artigo forte e maioritariamente certeiro. Digo maioritariamente , porque não sou tão crente que um sistema de saúde totalmente privado ( ou quase só privado) fosse capaz de dar cabal resposta a uma crise como esta. Haveria com certeza muitos excluídos, a menos que se vivesse num país igualitariamente rico. Nos EUA, 'pátria' do capitalismo, as autoridades monetárias (públicas) estão a intervir em força, nomeadamente criando dinheiro, para ajudar os cidadãos (privados) a ultrapassarem esta situação. Mas uma coisa (entre outras) partilho com AG: socialismo , não obrigado !
Adelino Lopes: Não quero ser como o outro que dava notas. Mas, se me apontassem uma arma à cabeça, para este artigo seria certamente um 19, ou muito próximo disso. Parabéns e com distinção e louvor. Não é um 20 porque para as “epidemias do medo” falta juntar os casos das guerras do Iraque, das primaveras Árabes, do terrorismo, dos refugiados, da eleição do Trump, do Bolsonaro, etc, etc.
António Coimbra: Excelente visão do actual estado das coisas. Lamentavelmente se temos o SNS, vamos falar do que nos interessa agora com o coronavírus, como o temos apenas se devem a políticas de esquerda e das suas extremas esquerda dos últimos 46 anos, nomeadamente dos últimos 5 em que a situação foi altamente agravada, numa destruição massiva dos cuidados de saúde às populações. O BE e o PCP nunca esconderam ao que vinham, aniquilar as liberdades e garantias dos portugueses e expropriação dos direitos e propriedade privada, num esbulho ainda maior do que aquele que já sofremos hoje em dia à mão dos socialistas, mas esconderam ao povo português o estado do SNS, com a sua omissão nos orçamentos do Estado aprovados e o fingirem não ter percebido as cativações que deixaram o SNS em ruptura antes mesmo da pandemia. O que esta esquerdalha quer é o caos, daí retiram votos e benefícios, tendo, tal como qualquer socialismo, a intenção de nivelar todos os povos pela miséria. Muito poucas vozes se têm levantado, agradeço a sua e a de mais alguns jornalistas fora do main stream, para denunciar esta situação a que chegámos às mãos dos socialistas e da geringonça marxista, até porque já colocaram a circular os "politicamente correctos" e "fazedores de opinião de serviço" a ideia de que "agora não há lugar ao debate politico, temos de estar todos do mesmo lado no combate ao vírus", tentando com isto complexar quem quer colocar o dedo na ferida, que fica logo acusado de colaborador contra a pátria... Haja decência e VERGONHA, denuncie-se esta gente que só não nos quer bem como deixaram o pais de rastos fingindo que está tudo bem. O Diabo do Passos Coelho chegou disfarçado de coronavirus e vai desmascarar as desgraçadas que estes socialistas andaram a disfarçar e a ocultar nas finanças nos últimos 5 anos. Infelizmente para nós ou morremos do coronavírus ou às mãos do socialismo...
Luís Martins: O "bicho" deu a todos, pela primeira vez, a oportunidade de experimentar e conhecer o socialismo real. E também deu a certeza de que o comunismo mata.
José Ramos: Infelizmente, e em muitos casos, uma boa parte da “comunidade científica” transformou-se quase numa comunidade religiosa sem direito a dissidências "politicamente-incorrectas" que assumem como manifestações de apostasia. Com a mesma criminosa ligeireza com que uma parte substancial da “comunidade científica”, da "comunidade intelectual" e da "comunidade artística" apoiaram o stalinismo e o maoísmo no passado, essas mesmas comunidades tendem a apoiar as patetices pueris da azougada Greta no presente e no futuro. E, é preciso estar atento, essas estranhas comunidades, que não ligam às minudências do dia-a-dia e que se gabam de não saber preencher o IRS, estão sempre na brecha.
Adelino Lopes > José Ramos: Infelizmente, e sublinho o infelizmente, vejo com muita tristeza este comentário. Prova a minha teoria acerca da “falta de cultura”. Vejamos. Temos de aceitar (é assim) que no mundo científico existem muitos progressistas, muitas prostitutas, etc, etc. Qual o problema? O problema é aquilo que o AG explica: a falta de austeridade. Não são rigorosos nem aceitam a severidade. Exemplo? É como se na auto-estrada controlassem (socialismo) para que tu não excedesses a velocidade (camiões), em vez de passarem a multa quando acontecesse (severidade). Portanto, estando os cientistas controlados, o que sabes? O que passa o controlo. É a democracia dos progressistas.
Liberal Impenitente > José Ramos: Nunca me esqueci de um programa muito antigo sobre música de António Vitorino de Almeida, que vi na RTP Memória há muitos anos. Em plena escadaria da pedreira de Mauthausen, o nosso pequeno Almeida explicava a posição de compromisso com os nazis de músicos como Richard Strauss, de forma a evitarem encontrarem-se em lugares como aquele. E dizia ele, com autoridade, que um artista, antes de ser um artista, é um homem. Também vale para os cientistas, embora neste caso talvez usasse aspas em cientistas.

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