quinta-feira, 12 de março de 2020

«O rato roeu


…a rolha de garrafa do rei da Rússia… » Apenas um processo aliterante, lenga-lenga escolar, a propósito do próximo preclaro presidente programador do seu próprio posto, no país poderoso que não pode perder, para bem do seu povo… 
Afinal “a montanha voltou a parir um rato” /premium
As emendas à Constituição já faziam prever um cenário de reforço do poder autoritário e ditatorial na Rússia. E para que tudo fique “perfeito” elas incluem a proclamação da “fé em Deus” do povo russo.
JOSÉ MILHAZES
OBSERVADOR, 11 mar 2020
Não obstante todas as promessas de não alterar a Constituição da Rússia para prolongar o seu poder, Vladimir Putin deixa claro que poderá continuar no Kremlin depois de 2024. Isto, imaginem!, se o Tribunal Constitucional o permitir e o povo “apoiar”. Esta jogada do dirigente russo só é uma surpresa para aqueles que consideram que ele é um homem de palavra, e não mais um ditador na História da Rússia.
Quando em Fevereiro passado, Vladislav Surkov, ex-assessor de Putin para os assuntos da Ucrânia, sugeriu a anulação do limite de mandatos presidenciais na Rússia, o Kremlin apressou-se a demarcar dessa posição alegando que se tratava de uma “opinião pessoal”.
Porém, talvez devido à proximidade do Dia Internacional da Mulher e ao peso histórico da personagem, Putin não pôde deixar de dar ouvidos à proposta da deputada Valentina Tereshkova, a primeira mulher que realizou uma viagem espacial na história da humanidade.
Tudo pareceu muito original e nada encenado: durante a discussão das emendas a fazer à Lei Suprema na Duma Estatal (Câmara Baixa do Parlamento), a cosmonauta Tereshkova, uma espécie de santa soviética que hoje pertence ao Partido Rússia Unida, controlado por Putin, decidiu fazer a mesma sugestão, que foi aprovada pela maioria dos deputados.
“Eu sugiro a retirada do limite de mandatos presidenciais ou então incluir em um dos artigos do projecto de lei uma disposição nos termos da qual se estipule que após a entrada em vigor da Constituição renovada o actual presidente, tal como qualquer outro cidadão, tenha o direito de ser eleito para o cargo de chefe de Estado”, disse a deputada Valentina Tereshkova durante a sessão plenária da Duma de Estado.
O líder nacional-palhaço Vladimir Jirinovski aproveitou a oportunidade para propor a dissolução antecipada da Duma Estatal, a fim de realizar novas eleições parlamentares depois da aprovação das emendas “pelo povo”.
Normalmente, o Kremlin olha para a Duma de Estado como um órgão obediente que apenas vota como é necessário ao poder. Entre a população, os deputados são vistos como meros “fantoches”, incluindo a “oposição”. Por isso, não é muito frequente ver Vladimir Putin discursar ou prestar contas perante essa câmara do Parlamento. Porém, desta vez, ele reagiu imediatamente às propostas e foi no mesmo dia conversar com os deputados. Caso nunca visto nos mais de 20 anos do reinado do “czar” Vladimir II!
Mas Vladimir Putin não podia deixar estragar a sua imagem de “defensor da legalidade e da Constituição” e entrou com “pés de veludo” ao declarar:Sobre a proposta de remoção das restrições a qualquer pessoa, incluindo o actual Presidente (…), em princípio esta opção seria possível, mas com uma condição: o Tribunal Constitucional deve emitir uma decisão oficial a assegurar que a emenda não contradiz os princípios e as principais disposições da Constituição”.
Além disso, nesse discurso insistiu que é necessário que “a sociedade tenha garantias de que lhe será assegurada uma mudança regular de poder” e que haja “uma alternativa” a quem manda.
Como a palavra de Putin vale o que vale, a sociedade terá de aceitar as “garantias” de mudança que ele achar bem. Ora, por enquanto, ele acredita e está profundamente convencido de que “um poder presidencial forte é absolutamente necessário para o nosso país” e os russos até já sabem quem é o “garante”.
Mas deixa uma “esperança” para consolação: o poder deixará, num futuro próximo, de “ser associado a uma pessoa específica”.
Estas tiradas de Vladimir Putin trazem à memória uma anedota soviética da era de Leonid Brejnev, secretário-geral do Parido Comunista da URSS entre 1964 e 1982: existia uma palavra de ordem, “no socialismo, tudo se faz em nome do homem”, e as más línguas acrescentavam, “e nós até sabemos o nome desse homem — Brejnev!”
Esta decisão da câmara baixa não será chumbada pelo Tribunal Constitucional da Rússia, pois os juízes também têm famílias para alimentar e a separação de poderes é coisa praticamente desconhecida na “era putinista”. Por isso, o mais provável é que os russos tenham de “gostar do seu líder” até que a morte lhe bata à porta ou até que a cleptocracia encontre outro líder que permita continuar a pilhagem do país.
As emendas à Constituição já faziam prever este cenário de reforço do poder autoritário e ditatorial na Rússia. E para que tudo fique “perfeito” elas incluem a definição do casamento como uma união “entre um homem e uma mulher”, a proclamação da “fé em Deus” do povo russo, a denominação da Rússia como o Estado “sucessor da União Soviética”, a defesa da “verdade histórica” do papel dos soviéticos na Segunda Guerra Mundial e a ilegalização da cedência de território russo a qualquer país estrangeiro.
Como é habitual, as pseudo-oposições comunista e nacionalista na Duma vão engolir estas emendas e outras se for necessário, o principal é que o Kremlin não lhes corte os privilégios e deixe cair algumas migalhas da riqueza roubada.
Quanto à oposição extraparlamentar, para isso existe a polícia de choque, as detenções arbitrárias, as torturas e as pesadas penas de prisão. Quem não está contente, que se vá embora! Onde é que já ouvimos isto?
 RÚSSIA  VLADIMIR PUTIN  MUNDO

COMENTÁRIOS:
Venezuela Livre: Grande crónica como sempre.
PortugueseMan: ...ou até que a cleptocracia encontre outro líder quer permita continuar a pilhagem do país... O país tornou-se novamente uma superpotência, tem reservas de dinheiro como nunca teve e você com uma tirada destas. Prepare-se, entramos numa década onde a Rússia vai mostrar os dentes. Nunca a Rússia esteve tão forte e está a caminho de ficar ainda mais. Aliás, não deveria estar você agora a anunciar o colapso eminente da economia russa, com esta guerra da Arábia Saudita aos preços de petróleo? Curiosamente não vejo ninguém, (nem mesmo você) a dizer que a Rússia para sobreviver precisa do barril pelo menos a uns 100 dólares...
Venezuela Livre > José Manuel: Quando se está muito em baixo é mais fácil subir...é o que quer dizer o seu copy paste.
José Manuel > Venezuela Livre: isso ... é como a retórica - "ai e tal o kremlin precisa de oil a $100 para sobreviver", mas nos últimos dias lançou uma guerra com a Arábia Saudita atirando o preço para < de $35 aguentando este preço ou menor por vários anos se for preciso. sabe como são os papagaios, uma canção de cada vez, até aprender uma nova.
e mais uma copy - parte: Hospital beds per 1,000 people (OECD):
Japan 13  South Korea 12  Russia 8  Germany 8  France 6  Switzerland 4.5  China 4.3  󠁢󠁳󠁣󠁴󠁿 Scotland 4.2  Australia 3.8  Italy 3.6  Ireland 2.96  USA 2.77  󠁢󠁥󠁮󠁧󠁿 England 2.3
victor guerra: San Putin é que sabe.
José Manuel: naaaa ... é só para deixar as abelhas a pensar se vai continuar ou não em 2024. assim ficam ocupados a discutir em vez de os "promissores opositores" começarem já a angariar fundos $$$$
Maria L Gingeira: Haja quem diga o que é preciso dizer do ditador cujo poder patrocina muitas outras formas de poderes castradores da liberdade de muitos povos. Tanto se fala de Trump, tanto o insultam, mas Putin que é verdadeiramente nocivo está protegido nesta cultura de esquerda que se impõe como defensora do bem-estar geral e só causa cada vez mais pobreza.
Siojx Boumerang: Se aquilo é um rato o que chamar a um país que entrou em banca rota e já vendeu tudo o que tinha ? Uma democracia ? A dos aflitos ? LOL . Os terroristas também ficam assim , coitados ?
Venezuela Livre > Siojx Boumerang: Importa-se de repetir?


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