sexta-feira, 27 de março de 2020

A eterna questão



E o eterno recomeço. Teresa de Sousa, uma vez mais, vem terçar armas pela ideia de uma União que se reja pelos ideais de democracia inicialmente previstos, numa crise de tais dimensões. Vamos esperando o resultado, enquanto engolimos em seco, admirando, em todo o caso, António Costa, pelo seu esforço e sua coragem em arrostar contra os da superioridade trabalhadora e renitente.
OPINIÃO CORONAVÍRUS
A Europa perdeu o sentido de sobrevivência?
Os estados europeus – pelo menos, os mais ricos - parecem não resistir à tentação de se fechar em casa-
PÚBLICO, 26 de Março de 2020
1.As linhas de fractura mantiveram-se as mesmas. Nem Angela Merkel nem Mark Rutte, os dois líderes mais influentes contra qualquer ideia de mutualização parcial da dívida através de “coronabonds”, mudaram de posição. Se houvesse uma esperança, ela estaria na chanceler alemã, talvez mais sensível a um genuíno sentimento europeu do que o seu homólogo holandês. É a última grande prova que Angela Merkel enfrenta antes de abandonar o poder, em 2021. Poderia ser o seu grande legado europeu. Não houve, no entanto, durante esta terceira cimeira europeia em tempo de pandemia, qualquer sinal da sua parte de que irá mais longe do que alguns dos seus ministros (da CDU ou do SPD), que já traçaram uma linha vermelha, aparentemente intransponível, sobre a possibilidade de discutir, sequer, a emissão de dívida conjunta para que alguns países não tenham de pagar um preço muito mais alto que outros pelas consequências económicas e sociais de uma crise com um efeito devastador sobre o tecido económico e social das nações europeias. Merkel mantém-se renitente, argumentando que não vale a pena criar expectativas que correm o risco de não se cumprirem. Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês, preferiu colocar a tónica nas medidas nacionais e naquelas que a Comissão já tomou, negando uma vez mais a possibilidade do recurso aos “coronabonds”. O que há de particular na posição dos Países Baixos é a insistência no chamado “risco moral” (o célebre “moral hazard” que nos perseguiu durante a crise do euro) para rejeitaram uma “resposta comum” que inclua todas as armas de que dispõe a União Europeia. Numa carta enviada pelo ministro das Finanças holandês ao Parlamento da Haia, um dos argumentos usado para rejeitar os “coronabonds” foi precisamente que eles seriam um desincentivo às reformas económicas que é preciso continuar a fazer. Nessa carta, o ministro apresenta o recurso dos Estados-membros ao crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) como uma medida de “último recurso”, o que ajuda a explicar os parcos resultados da reunião de quarta-feira do Eurogrupo também nesta matéria.
2.Não foram, até agora, suficientes os fortes argumentos de António Costa, de Emmanuel Macron ou de Giuseppe Conte para situar esta crise na sua real dimensão europeia. O primeiro-ministro português, citando a própria chanceler, lembrou que esta é a maior crise que a União Europeia enfrenta desde a II Guerra. E se as lições da História servem para alguma coisa, é precisamente para evitar os erros que foram cometidos, poupando os europeus às experiências trágicas que tiveram de viver. Aliás, como também sublinhou, nem seria preciso ir tão longe. As lições que já é possível retirar da crise desencadeada pelo crash financeiro de 2008, que se transformou numa crise existencial da Europa e do euro, são hoje bastante claras. As hesitações iniciais (sobretudo em Berlim), a lentidão das respostas, quase sempre tomadas no último minuto, as divisões profundas sobre a melhor maneira de salvar o euro, a estratégia da “punição” aplicada aos chamados “infractores” do Sul, acabaram por deixar feridas sociais e, sobretudo, políticas das quais a Europa ainda não se recompôs. Cavar de novo as mesmas divisões – entre Norte e Sul – seria deitar sal nas feridas ainda não completamente saradas. O Presidente francês insistiu igualmente que os instrumentos para combater a crise têm de ser “comuns” – sejam eles “coronabonds” ou um verdadeiro orçamento comum.
Mas fica a dúvida. A Europa parece ter perdido qualquer sentido de sobrevivência. Os seus Estados – pelo menos, os mais ricos - parecem não resistir à tentação de se fechar em casa, não percebendo que têm de continuar na rua para cumprir o sentido de comunidade que é a própria razão de ser da União Europeia. Belas palavras? Como terá lembrado António Costa durante o Conselho Europeu, não é preciso ser herói. Nenhum líder europeu precisa de ser Churchill, De Gaulle ou Adenauer. Apenas lhes basta não esquecer as lições deixadas por Jean Monnet, Jacques Delors ou Mario Draghi.

COMENTÁRIOS
Raquel Azulay EXPERIENTE: Esta Senhora é uma jornalista-investigadora excelente. Mt obrigada.
Coletivo Criatura INFLUENTE: Caso a Europa não tome uma decisão clara e conjunta, é o fim do projeto europeu! Estas pessoas da Holanda e da Alemanha são tão egoístas e mesquinhas que não se dão conta das consequências das suas acções. O extremismo de direita e os nacionalismos estão aí já há muito tempo. Com esta pandemia e as posições destes líderes cobardes (de povos racistas e xenófobos ?, não creio) teremos as portas abertas ao fim da Europa. Eles não viram italianos a colar bandeiras de países ditatoriais a substituir a da Europa? Ou pensam eles que a racionalidade (pura e dura) é que vai construir a Europa? Sem nos sentirmos todos europeus (emocionalmente) será o fim! Uns grandes palermas e ignorantes, afinal!
Carvalho Carvalho.886218 INICIANTE: Propaganda a António Costa. O que é que Portugal fez, nestes anos em que tudo esteve a favor? Alguma reforma? Andamos a reverter! Nós nunca aprendemos! Compreendo perfeitamente, que a ideia de eurobonds é utopia! Só se houvesse, partilha de soberania e mesmo assim...  26.03.2020
Vieira MODERADOR: Não se importa de enunciar as reformas por favor?
Jose MODERADOR: As reformas são a pedido. Por estes dias os que querem acabar com o Estado só lhe pedem esmola. O mercado que tudo resolve em equilíbrio natural revela-se em todo o seu esplendor a fazer mercado negro de produtos essenciais. Há pessoas que são elas e o seu contrário. Tanto querem tudo privado como acusam o Estado de ser pequeno demais e não lhes dar a comida na boca. O descaramento e a desfaçatez é qualidade atributo e argumento. Na Dinamarca o Estado vai pagar 75% dos salários nos próximos 6 meses. E se não houvesse Estado como sugerem sempre essas reformas que nem Paulo Portas deixou Passos fazer?
Manuel Figueira INICIANTE: Está enganado: Propôs uma grande e profunda reforma: cortar nas pensões. Mas o governo do Passos não deu fruto e a suau reforma não foi cortada. Seu ingrato.
Darktin MODERADOR: Nisto eu concordo. Estamos perante o tudo ou nada. Quero acreditar que este foi 1º round. Merkel pode ser muito determinada, mas face ao que virá caso não haja uma solução global dentro da Europa, o Jonas poderá estar a lançar foguetes no fim deste ano a rir da miséria e desgraça alheia. Espero que haja bom senso para criar uma união. Porque inimigos e gente a fazer piromania é o que não faltam. 26.03.2020
Darktin MODERADOR: Como já referi, a União Europeia é uma união politica. Não é económica. Se cada um começar a olhar só para o seu umbigo, deixa de fazer sentido a denominação. Mas vou esperar porque concordo mais uma vez com o que a mensagem que a Teresa deixa. Não há alternativas. Ou é ou não é. E Merkel sabe disto. 26.03.2020
Manuel Brito.205795 MODERADOR: A UE sucedeu à CEE, Comunidade Económica Europeia, mas para o Darktin é agora uma união política e não económica? Quando os (certos) líderes europeus acordarem num futuro distópico que poderá não estar já muito distante, a UE já não será possivelmente nem uma coisa nem outra, porque terá deixado de existir, satisfazendo a Schadenfreude de alguns Jonas que por aqui andam. As declarações do ministro das Finanças holandês a propósito de Espanha citadas noutra notícia são realmente, como muito bem disse António Costa, verdadeiramente repugnantes.


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