E o eterno recomeço. Teresa de Sousa, uma vez mais, vem terçar armas pela
ideia de uma União que se reja pelos ideais de democracia inicialmente
previstos, numa crise de tais dimensões. Vamos esperando o resultado, enquanto
engolimos em seco, admirando, em todo o caso, António Costa, pelo seu esforço e sua coragem em arrostar contra os
da superioridade trabalhadora e renitente.
OPINIÃO CORONAVÍRUS
A Europa perdeu o sentido de sobrevivência?
Os estados europeus – pelo menos, os
mais ricos - parecem não resistir à tentação de se fechar em casa-
PÚBLICO, 26 de
Março de 2020
1.As
linhas de fractura mantiveram-se as mesmas. Nem Angela Merkel nem Mark Rutte, os dois
líderes mais influentes contra qualquer ideia de mutualização parcial da dívida
através de “coronabonds”, mudaram de posição. Se houvesse uma esperança, ela estaria na chanceler
alemã, talvez mais sensível a um genuíno sentimento europeu do que o seu
homólogo holandês. É a última grande prova que Angela Merkel enfrenta antes de abandonar o poder, em 2021. Poderia ser o seu grande legado europeu. Não
houve, no entanto, durante esta terceira cimeira europeia em tempo de pandemia,
qualquer sinal da sua parte de que irá mais longe do que alguns dos seus
ministros (da CDU ou do SPD), que já traçaram uma linha vermelha, aparentemente
intransponível, sobre a possibilidade de discutir, sequer, a emissão de dívida
conjunta para que alguns países não tenham de pagar um preço muito mais alto
que outros pelas consequências económicas e sociais de uma crise com um efeito
devastador sobre o tecido económico e social das nações europeias. Merkel
mantém-se renitente, argumentando que não vale a pena criar expectativas que
correm o risco de não se cumprirem. Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês, preferiu colocar a
tónica nas medidas nacionais e naquelas que a Comissão já tomou, negando uma
vez mais a possibilidade do recurso aos “coronabonds”. O que há de particular na posição dos Países Baixos é
a insistência no chamado “risco moral” (o célebre “moral hazard” que nos
perseguiu durante a crise do euro) para rejeitaram uma “resposta comum” que
inclua todas as armas de que dispõe a União Europeia. Numa carta enviada pelo ministro das Finanças
holandês ao Parlamento da Haia, um dos argumentos usado para rejeitar os
“coronabonds” foi precisamente que eles seriam um desincentivo às reformas
económicas que é preciso continuar a fazer. Nessa carta, o ministro apresenta o
recurso dos Estados-membros ao crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade
(MEE) como uma medida de “último recurso”, o que ajuda a explicar os parcos
resultados da reunião de quarta-feira do Eurogrupo também nesta matéria.
2.Não
foram, até agora, suficientes os fortes argumentos de António Costa, de Emmanuel Macron ou de Giuseppe Conte para situar esta crise na sua real dimensão europeia. O primeiro-ministro português, citando a própria
chanceler, lembrou que esta é a maior crise que a União Europeia enfrenta desde
a II Guerra. E se as
lições da História servem para alguma coisa, é precisamente para evitar os
erros que foram cometidos, poupando os europeus às experiências trágicas que
tiveram de viver. Aliás, como também sublinhou, nem seria preciso ir tão longe.
As lições que já é possível retirar da crise desencadeada pelo crash financeiro
de 2008, que se transformou numa crise existencial da Europa e do euro, são
hoje bastante claras. As
hesitações iniciais (sobretudo em Berlim), a lentidão das respostas, quase
sempre tomadas no último minuto, as divisões profundas sobre a melhor maneira
de salvar o euro, a estratégia da “punição” aplicada aos chamados “infractores”
do Sul, acabaram por deixar feridas sociais e, sobretudo, políticas das quais a
Europa ainda não se recompôs. Cavar de
novo as mesmas divisões – entre Norte e Sul – seria deitar sal nas feridas
ainda não completamente saradas. O Presidente francês insistiu igualmente que
os instrumentos para combater a crise têm de ser “comuns” – sejam eles
“coronabonds” ou um verdadeiro orçamento comum.
Mas fica a dúvida. A Europa parece
ter perdido qualquer sentido de sobrevivência. Os seus Estados – pelo menos, os
mais ricos - parecem não resistir à tentação de se fechar em casa, não
percebendo que têm de continuar na rua para cumprir o sentido de comunidade que
é a própria razão de ser da União Europeia. Belas palavras? Como terá lembrado
António Costa durante o Conselho Europeu, não é preciso ser herói. Nenhum líder
europeu precisa de ser Churchill, De Gaulle ou Adenauer. Apenas lhes basta não
esquecer as lições deixadas por Jean Monnet, Jacques Delors ou Mario Draghi.
COMENTÁRIOS
Coletivo
Criatura INFLUENTE: Caso a Europa não tome uma decisão clara
e conjunta, é o fim do projeto europeu! Estas pessoas da Holanda e da Alemanha
são tão egoístas e mesquinhas que não se dão conta das consequências das suas
acções. O extremismo de direita e os nacionalismos estão aí já há muito tempo.
Com esta pandemia e as posições destes líderes cobardes (de povos racistas e
xenófobos ?, não creio) teremos as portas abertas ao fim da Europa. Eles não
viram italianos a colar bandeiras de países ditatoriais a substituir a da
Europa? Ou pensam eles que a racionalidade (pura e dura) é que vai construir a
Europa? Sem nos sentirmos todos europeus (emocionalmente) será o fim! Uns
grandes palermas e ignorantes, afinal!
Carvalho
Carvalho.886218 INICIANTE: Propaganda a António Costa. O que é que
Portugal fez, nestes anos em que tudo esteve a favor? Alguma reforma? Andamos a
reverter! Nós nunca aprendemos! Compreendo perfeitamente, que a ideia de
eurobonds é utopia! Só se houvesse, partilha de soberania e mesmo assim... 26.03.2020
Jose
MODERADOR: As reformas são a pedido. Por estes dias os que querem acabar
com o Estado só lhe pedem esmola. O mercado que tudo resolve em equilíbrio
natural revela-se em todo o seu esplendor a fazer mercado negro de produtos
essenciais. Há pessoas que são elas e o seu contrário. Tanto querem tudo
privado como acusam o Estado de ser pequeno demais e não lhes dar a comida na
boca. O descaramento e a desfaçatez é qualidade atributo e argumento. Na
Dinamarca o Estado vai pagar 75% dos salários nos próximos 6 meses. E se não
houvesse Estado como sugerem sempre essas reformas que nem Paulo Portas deixou
Passos fazer?
Manuel
Figueira INICIANTE: Está enganado: Propôs uma grande e
profunda reforma: cortar nas pensões. Mas o governo do Passos não deu fruto e a
suau reforma não foi cortada. Seu ingrato.
Darktin
MODERADOR: Nisto eu concordo. Estamos perante o tudo ou nada. Quero
acreditar que este foi 1º round. Merkel pode ser muito determinada, mas face ao
que virá caso não haja uma solução global dentro da Europa, o Jonas poderá
estar a lançar foguetes no fim deste ano a rir da miséria e desgraça alheia.
Espero que haja bom senso para criar uma união. Porque inimigos e gente a fazer
piromania é o que não faltam. 26.03.2020
Darktin
MODERADOR: Como já referi, a União Europeia é uma união politica. Não é
económica. Se cada um começar a olhar só para o seu umbigo, deixa de fazer
sentido a denominação. Mas vou esperar porque concordo mais uma vez com o que a
mensagem que a Teresa deixa. Não há alternativas. Ou é ou não é. E Merkel sabe
disto. 26.03.2020
Manuel
Brito.205795 MODERADOR: A UE sucedeu à CEE, Comunidade Económica
Europeia, mas para o Darktin é agora uma união política e não económica? Quando
os (certos) líderes europeus acordarem num futuro distópico que poderá não
estar já muito distante, a UE já não será possivelmente nem uma coisa nem
outra, porque terá deixado de existir, satisfazendo a Schadenfreude de alguns
Jonas que por aqui andam. As declarações do ministro das Finanças holandês a
propósito de Espanha citadas noutra notícia são realmente, como muito bem disse
António Costa, verdadeiramente repugnantes.
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