A Terra. Acolhe e mata. Tanto dá como tira.
O certo é que andamos todos preocupados. Dantes falava-se em ratos, gafanhotos,
chuvas mortíferas, coisas visíveis, mas mais circunscritas, no Egipto foram dez
as pragas, mas havia um Jeová a justificar isso, outras pestes houve, pelos
tempos fora. Agora é à escala global e os transtornos são trágicos. A natureza
é, de facto, aterradora, quer quando traz ciclones ou tsunamis quer quando vira
em virose. Os cientistas lá estão, para descobrir a forma de debelar, mas, à
escala mundial parece que nunca tinha acontecido assim tão poderosa de efeito. Rui Ramos tem razão: “a história da Humanidade também é escrita pela natureza” – gigantes
em oposição, quando se zangam, Homem e Natura-mãe. Ou será mesmo Jeová o culpado?
Que ele não é para graças. Noé que o diga, único a retomar o início…
Porque é que o vírus não precisa de uma Greta /premium
Pode parecer que estamos à espera de
demasiadas coisas de um vírus. Mas não nos devemos esquecer de que a história
da humanidade também é escrita pela natureza.
O
Covid-19 dividiu a humanidade em duas partes: os que estão preocupados com o
Covid-19 e esgotam desinfectante para as mãos, e os que estão de certo modo
indignados. Este
último grupo é composto pelos crentes da religião climática. Simplesmente,
não percebem o que se está a passar. Pois então o vírus põe um país de
quarentena e abala o capitalismo globalizado, e eles não conseguem mais do que
o fim da carne de vaca nas cantinas coimbrãs? Como
explicar esta diferença? Como explicar que o vírus já tenha reduzido a poluição
chinesa em 25%, mesmo sem ter uma Greta a falar por ele? Por mais que se diga
que o vírus não mata assim tanto, as pessoas assustam-se; por mais que se diga
que as alterações climáticas são o fim do mundo, tudo continua como dantes.
Podem mais umas tosses e umas febres do que o apocalipse?
O Covid-19 é, de facto, um mistério.
Não apenas pelas muitas dúvidas que há sobre as suas origens e efeitos, mas
pela guerra que os governos lhe declararam. Um dia, no futuro, parecerá talvez
curioso que os Estados tenham decidido, no ano de 2020, testarem-se tentando
parar a difusão mundial de um vírus originado na China. Digo que parecerá
curioso, porque o combate ao Covid-19 implica necessariamente a negação de
parte daquilo em que nos tornámos nas últimas décadas. Se queremos provas
disso, basta atentar no desmoronamento dos mercados financeiros à vista das
restrições impostas para conter a epidemia. Porque escolhemos uma guerra como
esta, em que só podemos lutar pondo em causa o sistema de circulação irrestrita
que hoje simboliza a nossa civilização, e até a nossa liberdade?
Muita
gente já veio explicar que o Covid-19 não é a peste negra do século XIV nem
sequer a gripe espanhola de 1918. Esperemos que tenham razão. Mas talvez um
novo vírus, num mundo em que a saúde é o bem supremo, nos pareça um risco
inaceitável. A nossa é, além disso, uma civilização que convive mal com a
evidência dos seus limites: gostaríamos de pensar que podemos controlar tudo,
do clima à difusão dos vírus e bactérias. Mantemos a disposição prometeica para
medir forças com a natureza. Há ainda o facto de, no caso do coronavírus, a
infecção estar a ser seguida em tempo real. Provavelmente, temos aqui um
elemento de jogo, mais precisamente de um jogo de vídeo em que o objectivo do
jogador fosse impedir o vírus de se espalhar.
Ninguém sabe ainda exactamente o que o Covid-19 pode fazer. Os vírus já foram muitas vezes grandes factores da
história. Por exemplo, os europeus conquistaram as Américas no século XVI,
não só com as armas, mas com os vírus que trouxeram do então velho mundo, e que
dizimaram os ameríndios. Nos EUA, em ano de eleições presidenciais, aquilo que
mais parece interessar a imprensa é determinar de que modo o vírus pode impedir
ou não a reeleição de Trump. Talvez torpedeie a criação de empregos, o grande
trunfo do presidente, ou sirva para provar que Trump anda distraído, como o
furacão Katrina fez a Bush em 2005. Há meses que o Partido Democrata
americano anda à procura de quem possa derrotar Trump. Sanders
parece demasiado socialista e Biden
demasiado rotineiro. Estará
o Covid-19 destinado a funcionar onde a histeria anti-trumpista falhou? Mas em Itália, o Covid-19 pode abrir a porta
a Matteo Salvini, e no Médio
Oriente,
conjugado com o colapso do preço do petróleo, ferir a teocracia iraniana. Dir-me-ão: é demasiada coisa para esperar
de um vírus. Talvez. Mas esquecemo-nos de que a história da humanidade
também é escrita pela natureza.
COMENTÁRIOS:
Mário Costa: Parabéns Rui
Ramos pelo seu texto! O politicamente correcto e seus apoiantes serão varridos
como essa pandemia.
Maria José Melo: “Mas esquecemo-nos de que a
história da humanidade também é escrita pela natureza.” Grande verdade! A Natureza tem,
aliás, um papel fundamental. O Homem julga que pode controlar tudo. De vez em
quando, a Natureza vem lembrá-lo da sua “pequenez”. Sejam vírus, furacões,
tufões, tornados, erupções vulcânicas, tsunamis, terramotos ... a Natureza
comanda. Tenhamos respeito!
Joaquim Moreira: Até pode ser esta a razão, porque o vírus não precisa de uma Greta. Mas,
confesso, estou mais preocupado, que tenha chegado ao meu pais, que tem um
governo da Treta. Até pode ser que tudo corra bem, mas, se tal acontecer, a
responsabilidade não é de quem está apenas preocupado com o poder. A forma como
este assunto tem sido tratado, diz muito sobre a forma como o país é governado.
Em vez de pararem para pensar e analisar, andaram a mandar papos pró ar. Sempre
com a preocupação de agradar, e pouco ou nada com a solução que era preciso
encontrar. De uma coisa podemos ter a certeza, com ou sem a ajuda da Greta
temos um governo da Treta. Que, sempre que há casos difíceis com que se
confrontar, mostra à evidência, a sua grande incompetência. Como Alberto
Gonçalves, que diz não ser crente, apelo aos que acreditam em Deus,
verdadeiramente, para pedir pela nossa gente.
Cesar Augustus: Curiosa... para não dizer bizarra, esta perspectivado Sr. Ramos! Começa por
fazer uma polarização patética entre aqueles que estão preocupados com o
COVID-19 e os “crentes da religião climática” para dar seguimento à sua
argumentação no sentido de dar corpo à ideia de que este surto confirma a tese
de não podemos controlar as forças da natureza sendo que essa, também na
opinião do Sr. Ramos, é o pecado original dos “crentes da religião climática”. O
Sr. Ramos considera que os“crentes da religião climática” […] “simplesmente não
percebem o que se está a passar”, naquilo que considera o autor ser a sua
presunção de “poderem controlar tudo, do clima à difusão dos vírus e
bactérias”. Quem não percebe o que se está a passar parece-me ser o Sr. Ramos
na sua incoerência e devaneios! Por um lado assume com clareza que “o combate
ao Covid-19 implica necessariamente a negação de parte daquilo em que nos
tornámos nas últimas décadas” mas, por outro, critica os ditos “crentes
da religião climática” por chamarem a atenção precisamente para esse facto. Em
que ficamos Sr. Ramos: é preciso mudar comportamentos ou não? É preciso negar
parte daquilo em que nos tornámos nas últimas décadas ou não? É PRECISO MUDAR
OU NÃO?; pois, sabe, é isso que os “crentes da religião climática” defendem. Remata
o texto com a máxima sofista que “esquecemo-nos de que a história da humanidade
também é escrita pela natureza.” Um “crentes da religião climática” não o diria
melhor! Enfim Sr. Ramos… o Sr. Parece-me um neoliberal em contradição com as
suas convicções, um “crente da religião climática” em negação!
Freixo Peres: Como o covid 19 afectará Portugal? Levará
a economia a uma tremenda crise; nas
finanças dará cabo do sonho ao Centeno; na
política fará do medo um factor de decisão dos eleitores; na sociedade trará novos hábitos e maior
isolamento e abandono; nas artes será caricaturado
para exorcizar o medo e nas elites que
julgam produzir cultura dará cabo do politicamente correcto.
José
Paulo C Castro: Mas segundo eles não estamos no
antropoceno ? Não é o homem que modifica a natureza ? Ah, pois... Diz tudo da
capacidade de eles analisarem a realidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário