terça-feira, 31 de março de 2020

“VIVA ZAPATA”



E a viagem prossegue, a prever o fim, despertando o interesse por tais lugares, que os filmes e as canções foram trazendo ao conhecimento, numa grata euforia, que culmina na canção “Mexico” de Luís Mariano: “Et tu seras toujours le paradis du coeur et de l’amour”.
POR TORDESILHAS ALÉM… - 11   -  VIVA MÉXICO
HENRIQUE SALLES DA FONSECA   A BEM DA NAÇÃO, 30.03.20
Mármore branco e luzidio por tudo quanto era chão e paredes naquela bela aerogare de Cancún. Encaminhados para a fila dos guichets da Polícia de Fronteiras, a Bandeira Nacional Mexicana panda no seu pau encimado por seta doirada. Grande dignidade merecedora da admiração dos forasteiros - neste caso, eu. Verificados e carimbados os passaportes, a agente à paisana a dar-nos as bienvenidas. Cinco estrelas. Contraste absoluto com a agente fardada e de máscara que rudemente nos verificou os passaportes à entrada do Panamá. Desculpei-a porque admiti que o marido dela se tivesse portado mal na véspera. Ou porque nem sequer tivesse marido.
Esperava-nos um mexicano baixote que se apresentou como José e nos conduziu a uma carrinha – quatro adultos habituados a mordomias e oito malas não se metem numa carripana qualquer - que cheirava a limpo. Bom piso nos 30 ou 40 kms até Playa del Carmen. O guarda da cerca exterior do hotel não estava informado da nossa chegada senão para daí a dois dias, não nos deixava entrar. Barafustámos, ameaçámos com a ira divina, apregoámos o cancelamento das reservas futuras e o Fulano que estava do outro lado da comunicação do guarda lá deu licença para que entrássemos. Afinal, esse mini-déspota, tiranete, eunuco de harém, era um atabalhoado que não era capaz de fazer o nosso check-in e fomos nós (mais uma vez, a Graça e o Pepe) a fazerem tudo. O José da carrinha não nos abandonou enquanto não teve a certeza de que estávamos em segurança. De caminho para os quartos já por horas nada cristãs, o recepcionista estendeu-me a mão num gesto de boas-vindas. Mão gorda, saposa. Devem ser assim as mãos dos guardas dos haréns.
Arquitectura e decoração sumptuosas, só tínhamos por ambição verificar tudo isso no dia seguinte. Para já, cama.
Luxo, luxo, luxo.
O programa das festas era a permanência de uma semana com três excursões mas tudo saiu truncado por estarmos a assistir ao encerramento sucessivo dos espaços aéreos e a corrermos o risco de ficarmos retidos no México sem ligações a casa. Aliás, a própria companhia aérea se encarregou de antecipar o voo e nós fizemos apenas uma excursão. Mas os outros dias foram muito bons: uma dúzia de restaurantes dentro do hotel para que pudéssemos escolher à vontade no regime de tudo incluído. Para quem este regime é novidade, a exuberância dos consumos é notória; para quem está habituado (nós), a moderação é a norma. Quarto sobranceiro à piscina e a curtíssima distância da praia; baía fechada por rede anti-dentuças, os primos do cação da nossa sopa; água a condizer com as nossas expectativas – entrada afoita; comes ligeiros e bebes tanto inocentes como hard servidos à descrição com água pelo pescoço ou à sombra de alguma palapa. Aquela não é mas poderia ser a «praia do nababo».
Excursão interessante de um dia inteiro por local arqueológico (Tulum) e piramidal (Cobá). Mas, mais do que o campus arqueológico (não tive pernas que lá me levassem) e as pirâmides, interessou-me mais o que se passa actualmente com a Civilização Maya. Tanto quanto o homem do rickshaw que nos levou às pirâmides contou, em casa falam a língua maya mas na escola só aprendem castelhano; aprendem História maya mas nada mais. Concluo (talvez abusivamente) que o Estado Mexicano tem medo da Civilização Maya e do que algum revivalismo possa significar para a integridade nacional - já lhes chega Chiapas.
Entretanto, as notícias que nos chegavam da Europa e, mais concretamente, de Espanha, eram aterradoras. Estava (e ainda está, no momento em que escrevo estas linhas) em curso uma verdadeira chacina. Havia que apressar o regresso antes que o colapso nos impedisse de voltar a ver as famílias e os amigos.
(continua)   Março de 2020   Henrique Salles da Fonseca
NOTAS DA INTERNET:
Tulum
Tulum é uma cidade na costa das Caraíbas da Península de Iucatão, no México. É conhecida pelas praias e ruínas bem-preservadas de uma antiga cidade portuária maia. O edifício principal é uma grande estrutura em pedra denominada El Castillo (castelo), situada num penhasco montanhoso sobre a praia de areia branca e o mar
Cobá
Cobá é uma antiga cidade pré-colombiana em ruínas da civilização maia, localizada no estado de Quintana Roo, península do Iucatão, no sudeste do México. A maior parte da cidade foi construída em meados do período clássico da civilização maia, entre os anos 500 e 900 d.C. Após o início do século XI a cidade perdeu importância política, ainda que pareça ter conservado a sua importância simbólica e ritual, que lhe permitiu recuperar certa proeminência entre 1200 e 1500, quando se construíram diversos edifícios já de estilo costa oriental.
A cidade de Cobá governava um território importante e lutava contra a cidade maia-tolteca de Chichén Itzá. Tinha relações comerciais com as pequenas cidades maias da costa do mar das Caraíbas, como Xcaret, Xel-Há, Tankan e Tulum, e tinha um observatório astronómico, um campo de jogos para o denominado jogo da bola e uma pirâmide pequena logo na entrada da zona arqueológica.
O sítio arqueológico é o fulcro da maior rede de caminhos empedrados do antigo mundo maia e nele foram encontradas várias estelas que documentam ritos cerimoniais e eventos importantes do período clássico tardio (600-900). A aldeia moderna actual homónima tinha 1278 habitantes em 2010.[carece de fontes]
Chiapas
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Chiapas é um estado do México. A capital é Tuxtla Gutiérrez. Limita-se com o estado de Tabasco ao norte, de Veracruz a noroeste e de Oaxaca a oeste. A leste limita-se com a Guatemala, e ao sul com o Oceano Pacífico. Um terço de sua população é descendente dos maias, sendo que muitos deles não falam espanhol. De Tabasco ao norte, de Veracruz a noroeste e de Oaxaca a oeste. A leste limita-se com a Guatemala, e ao sul com o Oceano Pacífico. Um terço de sua população é descendente dos maias, sendo que muitos deles não falam espanhol.
História
Período pré-hispânico[
O florescimento das cidades maias na selva Lacandona, durante o período clássico (300-900 d.C.), é considerado uma das maiores realizações culturais na história da humanidade. Foi no período pré-clássico (1800 a.C.-300 d.C) que ocorreram em Chiapas os passos que tornaram possível a transição da caverna escura para o ponto brilhante da palavra inarticulado da palavra sonora, coleta de frutos, domesticação, e cultivo do milho, a convivência em agrupamento primitivo sofisticado, a língua falada por escritos glíficos, e a escultura rudimentar.
Por volta de (1500 a.C.), os seus habitantes e começam a cultivar o milho, e viviam em casas e produziam cerâmicas. Foram seus descendentes, os que falavam uma antiga língua mixezoque, que mais tarde mudaram-se para as planícies do Golfo e lá deram à luz a cultura olmeca. Em seu caminho mítico se entretinham no vale do rio Grijalva, e fundaram nas margens uma grande cidade, cujas ruínas ainda podem ser vistas na entrada da Chiapa de Corzo. Lá foi encontrado um pedaço de cerâmica com a inscrição mais antiga até agora: é datada de 36 a.C, trezentos anos depois o povo maia retomou todos esses avanços, e levou à sua máxima perfeição.
Junto com os inumeráveis e inquestionáveis achados artísticos e intelectuais, eles também descobriram alguns problemas que parecem ter complicado a vida dos antigos maias: o aumento da sobre-exploração das terras selvagens e estratificação social rígida, a exaltação excessiva do solo, incursões militares incessante contra os vizinhos, o medo da doença e da fome, e a ameaça de uma catástrofe natural anunciando o fim do seu mundo. Cada um destes problemas tem sido sugerido pelos estudiosos como a explicação do colapso "Maya", o colapso político e cultural, isto é das cidades selvagens no final do século IX. Provavelmente foi uma infeliz conjuntura de vários desses elementos que levaram os maias clássicos à ruína. Em seu lugar surgiu uma sociedade que frustrou os sonhos de grandeza de uma vida mais modesta, principalmente preocupada com a restauração do respeito pela terra sagrada e os agricultores correm para o trabalho. ….
Período Colonial
Quando os espanhóis chegaram no século XVI, no território do estado, se depararam com pessoas de origem maia e outros que não eram, como o zoques e Chiapanecas. Todos foram submetidos entre 1524 e 1530. Somente os lacandones resistiram até 1695, e portanto, o estado atual de Chiapas foi totalmente ocupada pelos europeus. Vários capitães foram os conquistadores de Chiapas, (entre os quais Francisco Gil Zapata)
Desde 1528, com a fundação do primeiro povoado espanhol no Vale do Jovel, se inicia o período colonial. Os índios foram escravizados, marcados como animais e sujeitos ao pagamento de tributo e trabalho forçado. Contato com os europeus também trouxe doenças desconhecidas para estas pessoas. Os soldados da conquistas se tranformaram em comissários de encomiendas. A população indígena cai drasticamente para epidemias recorrentes e fome.
A condição dos índios tornou-se uma fonte de confronto político e ideológico. As ordens religiosas, em particular os dominicanos, tornaram-se defensores do povo aborígene. Em 1542, em que pode ser considerado um triunfo do frei Bartolomé de Las Casas, novas leis são aprovadas de Barcelona, para limitar o poder dos administradores. As ordens religiosas ganharam a partir de então, maior influência sobre a população indígena. A eles é autorizado a redução e congregação e da população, bem como o nome de um santo acima do nome indígena da cidade: San Juan Chamula, San Lorenzo Zinacantán, Santa Catarina, San Clemente Pochutla, entre outros. Se inicia a apresentação religiosa e consolidação do sistema colonial…….
À medida que a economia crescia também ocorreram mudanças. Introduziram novas culturas como a cana-de- açúcar, trigo, cevada, índigo, que junto com o milho, algodão, cacau, feijão e outros foram se tornando os pilares da economia colonial. Também introduziam novas técnicas de produção, tais como enxadas, arado de aço com ponta e rotação de culturas. Qual foi realmente notável foi a introdução de gado, cavalos e ovelhas. Com esta melhoria da agricultura pode-se implantar o adubo animal, além de sua utilização para o trabalho e transporte. Em períodos sucessivos, a economia colonial centrada sobre o cacau, pecuária e índigo no final da colônia, a condição física de Chiapas em larga medida, as tendências econômicas regionais. Tinham as regiões de gado, milho ou grandes plantações, e dava a impressão de várias províncias em uma só, dada a dificuldade e falta de comunicação.
Outro elemento importante deste período histórico é a população. A indígena, principalmente se integraria ao branco, predominantemente espanhóis, que estavam concentrados em Ciudad Real e ao longo da colônia estavam mudando para outros povoados como uma Comitán, Chiapa e Tuxtla. A miscigenação, proibida pela legislação colonial era inevitável, e a partir da segunda metade do século XVII, os números cresceram tornando-se maioria no século XIX. Mas, além de índios e brancos foram trazidos para Chiapas escravos de origem africanos. …Assim, os escravos negros executavam tarefas domésticas, corte de cana e tarefas associadas com a pecuária. Seus números cresceram em que tinham que fazer o trabalho mais pesado, e era onde a população indígena estava em declínio.
Período Pós-Colonial]
No final da era colonial, a sociedade de Chiapas se desenvolvia em três universos relativamente distintos uns dos outros: as aldeias indígenas, fazendas e casas mestiças, e as vilas de origem espanhola. Nas duas últimas saíram cidadãos que concretizaram a independência da província de Chiapas, em primeiro lugar da Espanha em 1821 e depois da América Central em 1824. Houve então uma experiência incipiente democracia que é memorável: a tomada de decisões em reuniões na cidade com pessoas em lugar visível, em várias capitais regionais.
Período Contemporâneo]
O século XX abriu em Chiapas com a guerra entre Tuxtla e San Cristobal, em 1911. …..
Entre 1920 e 1936 os mapaches enfrentaram os carracistas, os socialistas e comunistaspara o controle do estado. …..
Entre 1941 e 1970 Chiapas está passando por um período de estabilidade. O problema central continua sendo o isolamento e confinamento, que por sua vez despertou atitudes regionais e locais. "Aquele que nasceu em San Cristobal de Las Casas, -escreve em 1964 José Casahonda Castillo, sente e pensa que seu belo vale é Chiapas. O tapachulteco, o tuxtleco, o comiteco, o pichucalqueño, pensa da mesma maneira". Esse isolamento não permite o trânsito de pessoas e bens, cada região e às vezes mesmo de cada concelho, auto-suficiente e até culturalmente, e ainda poderia ser avaliada a influência do localismo.
Portanto, uma preocupação do tempo seria a construção de estradas que favoreça o desenvolvimento econômico. Ela transforma a paisagem urbana de Tuxtla Gutiérrez e Tapachula. Se inicia a construção da ferrovia, … Foi registrado que a partir desta integração econômica, aumentou e surgiu nesta fase, o caráter de um setor social que não existia: o agricultor.
O desenvolvimento de infra-estrutura facilitou o crescimento de algumas atividades econômicas: exploração de milho, café, bananas e algodão, assim como bovinos e suínos. A população também cresceu, ….
Invasões de terras, criação de organizações sociais, camponeses, professores, trabalhadores e estudantes, são um reflexo de uma crise de legitimidade e de um desgaste do sistema político mexicano e a insatisfação das demandas sociais. Entre 1970 e 2000 a sociedade chiapaneca mudou dramaticamente. A estrutura agrária é agora a favor do sector ejido e comunidade. Os povos indígenas, anteriormente vistos apenas como parte da paisagem, passaram a desempenhar um papel de protagonista central. O levante do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), de janeiro de 1994, é a última expressão de despertar indígena do estado. A mudança da preferência eleitoral de 20 de agosto, resume os anos de luta e aspirações de mudança democrática e pacífica dos homens e mulheres de Chiapas de todas as idades e status social.

Conflitos:  A partir de 1994, o estado de Chiapas ficou reconhecido internacionalmente pela insurreição do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), dividindo o México em dois lados: o governo federal e os zapatistas. Atualmente há 32 municípios autônomos zapatistas em Chiapas. O grupo é uma referência a Emiliano Zapata, general que liderou a Revolução Mexicana de 1910, admirado por defender os direitos dos fazendeiros pobres. A rebelião zapatista no estado mais pobre do México começou em 1994, com a tomada pelo EZLN de quatro cidades mais notavelmente San Cristóbal de las Casas, mais de 600 propriedades rurais, o que totalizou cerca de um quarto do território do estado. Apesar dos duros combates iniciais contra as tropas do governo, o EZLN aposta em ações pacíficas e de impacto - como a ocupação de povoados e a organização de congressos políticos internacionais no meio da selva de Chiapas. Sua plataforma, transmitida pelo principal porta-voz, o subcomandante Marcos, prevê a democratização do país e a ampliação da autonomia e das oportunidades para os grupos indígenas.

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