quarta-feira, 25 de março de 2020

Muchas gracias



E aqui vamos nós, já em pleno Coronavírus, a acompanhar o périplo desenfastiante do Dr. Salles, e obedecendo em parte às suas propostas de pesquisa histórica.
POR TORDESILHAS ALÉM… - 5  :  Drake e Dominicanos
HENRIQUE SALLES DA FONSECA   A BEM DA NAÇÃO, 24.03.20
Atracámos a Cartagena de las Índias um pouco antes da aurora. Quando acordámos, deparou-se-nos uma cidade clara, prazenteira.
Teríamos apenas um dia para ver tudo, havia que acelerar o passo e isso não seria compatível com a nossa condição serena. A decisão foi tomada antes de desembarcarmos: tomaríamos um autocarro op on-op off cujo trajecto suspenderíamos junto da cidade amuralhada, faríamos uma excursão guiada a pé e retomaríamos o autocarro depois do almoço.
De um modo muito geral, a cidade actual compõe-se de três partes distintas: o centro históricoa cidade amuralhada que funcionou em exclusivo entre os primórdios dos séculos XVI e os do XIX, a cidade que se desenvolveu para fora das muralhas durante os séculos XIX e XX e a cidade mais moderna, praticamente toda residencial e luxuosa, já neste séc. XXI.
Estudando um pouco, fiquei a saber que as principais actividades económicas deste conjunto são os complexos marítimos, pesqueiros, petroquímicos e o turístico.
Do moderno para o antigo, achei a parte moderna com edifícios de grande qualidade mas com urbanismo bastante mauzote a denotar o jeitinho do «chega p’ra lá que ainda aqui consigo construir um arranha-céus». Contudo, o conjunto é notável e não me importaria de lá passar uma temporada num daqueles edifícios da primeira linha na praia virada para o mar aberto. Sim, também há os outros edifícios (igualmente bons) nas traseiras dos anteriores que quase circundam a baía interior. Aparentemente, poluição zero.
A parte mediana, a que saiu das muralhas, é tipicamente conservadora na sua arquitectura dos séculos XIX e XX, exibindo algum conforto de quem por ali vive. Claramente, os pais e os avós dos que vivem virados para o mar ou para a baía.
A cidade amuralhada é um concentrado de História inultrapassável para quem queira saber alguma coisa sobre a Colômbia se não mesmo sobre o Império Espanhol naquelas paragens do mundo. Basta saber que era ali que residiam os Vice-Reis e referir que Cartagena de las Índias era o único porto autorizado pelo Rei de Espanha a comercializar escravos nas suas Américas.
No circuito a pé que fizemos com auriculares para ouvirmos as gravações deu-nos uma ideia muito vasta de cada ponto por que passávamos. Se a tudo isso juntarmos as informações que o guia nos ia dando verbalmente, deve ter sido mais o que me escapou do que o que retive. Mas, mesmo assim, acho que ainda consigo repetir algumas coisas. Não muitas, para não ser enfadonho.
Assim, a cidade devolveu os Vice-Reis à origem e declarou-se independente às 11 horas da manhã do dia 11 de Novembro de 1811 e declarou que doravante se regeria por uma Constituição feita à imagem e semelhança da americana. É claro que não funcionou às mil maravilhas e as trabuzanadas terão sido frequentes. Esta proclamação terá ocorrido frente à «porta do perdão», local com tradição histórica.
Ainda nos tempos coloniais e com a Inquisição no activo, um residente inglês recusou-se a apostatar a sua fé anglicana e foi alvo de um auto de fé em que foi queimado vivo. Essa barbaridade tão ao estilo dos dominicanos, foi realizada junto da porta lateral da catedral que, a partir de então e muito ironicamente, se passou a chamar «a porta do perdão». Fiquei sem resposta clara à pergunta do porquê da realização do auto de fé junto da catedral e não frente ao palácio da Inquisição nem no Largo de São Domingos onde se localiza o convento dominicano. Será que já então a Ordem dos Pregadores começava a sofrer fracturas internas pela promoção de práticas tão bárbaras?
Mudando de tema, que cidade seria aquela que deu direito de residência ao grande corsário Sir Francis Drake? Terá sido um acto de vingança política contra o colonizador anterior? Mais uma pergunta que ficou sem resposta. Almoçámos bem numa esplanada no Largo de São Domingos, frente ao «virginal» convento dos «donos» da Inquisição.
Finalmente, dirigimo-nos à porta da muralha que nos conduziria ao op on-op off, ao resto do circuito pela cidade e, daí, ao cais. Mas, antes de passarmos a porta da muralha, parei dois minutos no centro do largo a que chegavam os escravos, senti a brasa solar e imaginei o sofrimento dos escravos desembarcados de condições algo diferentes das que nós tínhamos no «Monarch», do futuro que os esperava…
(continua)     Março de 2020       Henrique Salles da Fonseca
Para saber mais, ver por exemplo em    https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartagena_das_%C3%8Dndias
COMENTÁRIO:
Anónimo 24.03.2020: Entre tudo o que o relato contempla, sublinho a denúncia a duas manchas inapagáveis na memória da civilização ocidental e cristã: a Inquisição e a escravatura. Continue, Dr. Salles.
Algumas NOTAS da Wikipédia, a enciclopédia livre https://pt.wikipedia.org/wiki/Cartagena_das_%C3%8Dndias
Cartagena das Índias
Cartagena das Índias ou Cartagena é a capital do departamento de Bolívar, na Colômbia. É a quinta maior cidade do país, e a segunda maior da região, depois de Barranquilha; e sua região metropolitana é a quinta maior concentração urbana da Colômbia. Suas mais significantes atividades econômicas são os complexos marítimos, pesqueiros, petroquímicos e o turístico.
A cidade foi fundada em 1 de junho de 1533, e foi batizada em homenagem a Cartagena, naEspanha. No entanto, o assentamento de vários povos indígenas na região da Baía de Cartagena data de 4000 a.C. Durante o período colonial, a cidade teve um papel fundamental na administração e na expansão do Império Espanhol nas Américas, sendo sede de governo e moradia dos vice-reis espanhóis. O centro histórico de Cartagena, conhecido como a cidade fortificada, foi declarado Patrimônio Nacional da Colômbia, em 1959, e posteriormente Patrimônio Mundial pela Unesco, em 1984. Em 2007, suas fortificações e planejamento arquitetônico militar foram declarados como a quarta maravilha da Colômbia.
 Período Colonial:1533-1717[editar
Cartagena foi um dos mais importantes portos comerciais durante o período colonial espanhol nas Américas. Era especialmente utilizado para escoar ouro e prata aos portos da Espanha de CartagenaCádiz e Sevilha para a Coroa Espanhola [17].[18]. O ouro e a prata, extraídos de minas, principalmente, em Nova Granada e no Peru eram transportados até Cartagena, e embarcados nos galeões espanhóis, passando pelo porto de HavanaCuba com destino aos portos da Espanha. Veio a se tornar, ao longo do período colonial, um dos maiores centros do comércio de escravizadoss oriundos da África (juntamente com VeracruzMéxico; era a única cidade oficialmente autorizada, pela Coroa Espanhola, a realizar o comércio de escravizados nas Américas). Os primeiros escravizados africanos que chegaram em Cartagena foram transportados por Pedro de Heredia e usados, como mão-de-obra, como cortadores de cana, em abrir estradas, construir prédios e fortalezas e, também, para destruir tumbas da população aborígene do Sinú[19]. Os agentes das portuguesas Companhia de Cacheu, Rios e Comércio da Guiné e, mais tarde, da Companhia de Cacheu e Cabo Verde venderam escravizados para Cartagena, os quais seriam usados para trabalhar em minas na Venezuela, nas Antilhas Espanholas, na Nova Granada e no Peru.
O primeiro espanhol a chegar no que hoje é Cartagena das Índias foi Rodrigo de Bastidas, que havia participado da segunda viagem de Cristóvão Colombo à América. Inicialmente, a área foi batizada pelo navegador como "Golfo de Barú". No entanto, em 1503, o cosmógrafo cântabro Juan de la Cosa, mais tarde, pediu à Rainha Isabel, a Católica que trocasse o nome da região para "Baía de Cartagena", devido a semelhança com a baía de Cartagena de Levante na Espanha.
A cidade foi fundada em 1 de junho de 1533, pelo comandante espanhol Pedro de Heredia, onde antigamente se encontrava uma vila da tribo indígena Calamarí. Rapidamente, Heredia prosseguiu em nomear o Cabildo e traçar as linhas da cidade. Em 1538, a Coroa autorizou a divisão dos índios entre os vizinhos, e taxou os tributos. Cartagena se converteria, nessa época, em uma sociedade colonial de encomenderos. O porto da cidade foi ganhando importância graças a sua baía protegida pelos militares espanhóis, à construção de fortes e muralhas e à sua proximidade com a Cidade do Panamá, outro porto espanhol importante. Nos anos seguintes, Heredia seria preso por crimes contra o povo Sinú e, mais tarde, condenado a morte. Ao contrário do que se pensa, a Coroa velava pelos direitos humanos segundo as "Leis das Índias". Apesar de ter escapado para a Espanha, Heredia morreria durante o naufrágio de seu navio.
Em 5 de fevereiro de 1610, foi estabelecido o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, em Cartagena, através de um decreto emitido pelo rei Filipe II. O Palácio da Inquisição, de arquitetura colonial, concluído em 1770, ainda preserva sua fachada original. Quando Cartagena declarou sua independência da Espanha, em 11 de novembro de 1811, os inquisidores foram intimados a deixar a cidade. A Inquisição voltaria, depois da Reconquista, em 1815, mas acabaria por desaparecer completamente, seis anos depois, após a derrota espanhola, forçada por tropas lideradas por Simón Bolívar.
Com a fama de esbanjar grande riqueza e prosperidade, transformou-se em um local de pilhagem atraente para piratas e corsários. Por isso, o Rei Filipe II encomendou ao marechal de campo Luis de Tejada e ao engenheiro militar italiano Bautista Antonelli onze quilômetros de muralhas e fortes que serviriam de defesa para a cidade entre os séculos XVII e XVIII. A fortificação é considerada a mais completa da América do Sul e foi terminada em 1796 pelo engenheiro espanhol Antonio de Arévalo. Este projeto incluía, dentre outros, a construção do Castelo de San Felipe de Barajas, nomeado em homenagem ao rei espanhol Felipe IV……

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