Refiro-me a Pedro Nuno dos Santos. De
resto, basta ler os comentários da maioria ao texto de JMT. Devem ser adeptos do vencedor Pedro
Nuno dos Santos. Adeptos da trafulhice, da mândria, do compadrio, de um
ramalhete de atributos nacionais, que contrastam com os de outros povos, ditos
civilizados. E transcrevo, para exemplo do que não temos, um pequeno excerto de
“Diálogo em Setembro” de Fernando Namora, publicado em 1966, relato marcado,
certamente, pelo desejo de mudar algo nos comportamentos dos seus conterrâneos,
desde sempre diferenciados daquilo que se apresentava lá fora, neste caso, na
Suíça, em Genebra, lugar de um Encontro Internacional sobre o “profundo abalo que a técnica trouxe a todas
as expressões da vida”, ponto de partida do seu enredo.
Eis o passo sobre um rumo educativo como
não existe por aqui, (omissão que se traduz no protagonismo nacional de figuras
como essa de Pedro Nuno dos Santos e da sua alergia ao acerto de contas por cá,
poor country de atropelo e compadrio prestigiados):
«Mas
apesar da chuva impertinente, e silenciosa como um velho hábito, apesar do frio
que enruga o dorso desmaiado do lago, os grupos de jovens escolares, de perna
ao léu, capitaneados por um camarada mais graúdo, escutam páginas de história ou
de literatura junto dos monumentos, dirigem-se, com a merenda frugal, para o
ancoradouro dos barcos, rumo aos bosques da outra margem ou rumo às montanhas,
e quer nos albergues dos estudantes, quer em tendas de campistas, aproveitarão
estes restos de férias e de luminosidade dissolvida na molinha para reforçarem
as reservas de ar puro, enquanto aprendem, no cenário da natureza, lições de
biologia, de companheirismo, lições da vida. Vê-los assim é compreender certas
vitórias de um povo. Pois não é por acaso que em Genebra ou qualquer outra
cidade suíça se respira um clima cívico que explica esta asseada eficácia que
apetece importar em doses digeríveis. Tudo vem lá de trás; e tudo recomeça, ano
após ano, nestes ranchos de variadíssimas idades que, recebendo a iniciativa no
momento próprio e da melhor mão, se integram e participam dos desígnios de uma
comunidade.»
OPINIÃO
António Costa morre de saudades de Passos Coelho
Sem o papão Passos, o que temos é o que se está a ver:
o eclipse de qualquer compromisso e o lento desmoronar de um Governo que acaba
de tomar posse.
JOÃO MIGUEL
TAVARES
PÚBLICO, 29 de Fevereiro de 2020
Sabem
quem é que em Portugal tem mais saudades de Pedro Passos Coelho? Não, não é a
direita. É mesmo António Costa. Em 2015, ninguém dava um caracol pela solução
de governo que o PS desencantou. Quase tudo o que era analista político (eu
incluído) considerava impensável a autoproclamada “geringonça” aguentar-se
quatro anos – algures pelo caminho, ela teria de se escaqueirar. A verdade é
que não se escaqueirou. Mérito de António Costa, sem dúvida. Mérito
da capacidade negocial de Pedro Nuno Santos no Parlamento. Mérito das
habilidades contabilísticas de Mário Centeno. Mérito da surpreendente
disponibilidade do PCP e do Bloco de Esquerda para a prática de deep throat com
batráquios. Parabéns a todos eles.
Mas
eis que chegamos a 2020. O PS tem uma maioria bem mais confortável no
Parlamento. António Costa continua primeiro-ministro. Pedro Nuno Santos
continua no Governo. Mário Centeno, por enquanto, também. O PCP e o Bloco de
Esquerda continuam a ser liderados pelas mesmas pessoas. E, subitamente,
tudo o que era sólido começou a dissolver-se no ar. Como é isto possível?
Como se explica a deterioração aceleradíssima da capacidade negocial do
Governo? Quem é que roubou o pragmatismo ao primeiro-ministro? Por onde é que
fugiram os famosos mestres do compromisso? Em que país é que se esconderam os
mundialmente aclamados génios do diálogo?
Por
favor, encontrem-nos depressa, porque o país está a precisar muito deles. No
Montijo, o governo anuncia um aeroporto para depois esbarrar numa lei, aprovada
em tempos pelo próprio PS, que obriga a um consenso municipal que não existe.
A solução é negociar? Não, a solução é alterar a lei. A oposição está
contra a alteração da lei? A culpa é do PSD. No Parlamento, o governo anuncia
Vitalino Canas e Clemente Lima para juízes do Tribunal Constitucional. Ambos
necessitam dos votos de dois terços da Assembleia. A solução é negociar? Não, a
solução é forçar a votação. Os nomes não
passam no Parlamento, e nem sequer os deputados do PS votam todos em
Vitalino Canas? A culpa é da oposição. Diz Ana Catarina Mendes, com a sua
habitual delicadeza: “É absolutamente espantoso que a Assembleia da
República e os deputados se permitam bloquear o normal funcionamento das
instituições democráticas.” Definição de “bloqueio das instituições
democráticas” no Dicionário Português-Socialistês: não fazer a vontade ao
PS.
Reparem
no padrão: há uma votação no Parlamento; não passam os nomes que o PS quer;
a oposição está a afundar as instituições democráticas. Há um aeroporto no
Montijo; não é aprovado pelas autarquias que o PS quer; as autarquias (e o PSD)
estão a afundar o futuro do país. Convém notar que este género de reacção não é
propriamente espantoso – o PS sempre se achou o dono do regime, e fazer birras
quando é contrariado está na sua natureza. Espantoso foi essa não ter sido a sua
atitude nos anos 2015-2019, onde deu mostras de uma capacidade de sedução como
nunca se tinha visto na Terceira República.
E
é aqui que regressamos à primeira frase do meu texto. Se os protagonistas são
os mesmos, o que é que havia em 2015 que não há em 2020? A resposta é só uma:
Pedro Passos Coelho. O seu espectro e a sombra do seu governo foi a cola que em
2015 uniu a geringonça e o óleo que possibilitou o seu funcionamento até final
de 2019. Sem o papão Passos, o que temos é o que se está a ver: o eclipse de
qualquer compromisso e o lento desmoronar de um Governo que acaba de tomar
posse.
Jornalista
TÓPICOS POLÍTICA GOVERNO ANTÓNIO COSTA PEDRO PASSOS COELHO PS PARTIDOS POLÍTICOS AEROPORTO DO MONTIJO
COMENTÁRIOS
Rui Ribeiro EXPERIENTE: As afirmações de
Ana Catarina Mendes mostram o pior de um regime partidário, em que as caninas
fidelidades partidárias são o mais importante e o partido se confunde com o
país. São tiques de autoritarismo de quem não tem (e bem) os votos para ser
autoritário. Maiorias absolutas nunca mais! 29.02.2020
Conde do Cruzeiro MODERADOR: Excelente
crónica, do comentador favorito do regime Passista, que mais uma vez arranjou
maneira de falar no finado. Não se esqueçam, de acender uma velinha por alma do
Passismo.
29.02.2020
António Cunha MODERADOR: De facto Passos
(& Cia) é a cola da Geringonça (um termo ainda hoje tão carinhoso, devo
dizer). O agoniante desmoronamento (2015-2017) da PàF foi ingloriamente lindo
de se ver. 29.02.2020
Carlos Cunha INICIANTE: Era uma vez um
coelhinho que nasceu numa couve. Como os pais nunca mais aparecessem a couve
passou a cuidar dele como se do seu próprio filho se tratasse. O coelhinho, que
tinha um coração muito bondoso, considerava-a como sua mãe. Foram vivendo
felizes até que um dia uma praga de gafanhotos se abateu sobre aquelas terras.
Os campos em volta passaram a ser um imenso deserto. O coelhinho, teve de
deslocar-se muitos quilómetros a fim de procurar comida. Mas já nada havia que
se pudesse mastigar. Passaram muitos dias e o coelhinho estava cada vez mais
magro e faminto. A mãe couve disse-lhe: “Meu filho: é a lei da vida que os
velhos têm de dar o lugar aos novos. Compreendes o que quero dizer? ”O pobre
coelhinho compreendeu e, embora com grande tristeza na alma, comeu a mãe.
(original Pedro Oom) 29.02.2020
mário borges EXPERIENTE: Não ser uma
pessoa com ideias políticas muito vasta e com uma cada vez mais vasta onda
populista com muitíssimo ultraliberalismo pelo meio dá nisto. Uma crónica vazia
mas que encerra em si um enorme desejo. Que o talibã do ultraliberalismo Passos
regresse em força para voltarem as loucuras austéricas. O Costa está bem de
vida. O Rio não pode crescer mais do que o que é, logo o PSD está controlado e
para sobreviver não pode hostilizar o PS. Temos o velho bloco central em
actividade plena e o Costa deixou de piscar o olho à esquerda e virar para a
direita. Agora vai pelo centro e sabe que pela direita é mais seguro. E é pelo
que fez justamente a Seguro que se conhece quem é o Costa. Oportunista e com um
jogo de cintura invejável (ou sem espinha dorsal conforme o gosto). JMT loves
Passos! 29.02.2020
Vitor Estevao INICIANTE Passos pode ter
sido tudo. Talibã do ultra liberalismo mostra uma ignorância confrangedora! VC
sabe ao menos o que é o liberalismo? 29.02.2020
RUI ESTEVES INICIANTE: E entretanto no
PSD e no CDS, a falta que lhes tem feito um novo Sócrates! Falta-lhes alguém a
quem pudessem imputar o desequilíbrio nas contas públicas, o despesismo, a vida
à larga sem rendimentos conhecidos. Com o governo Costa, os portugueses viram regressar
os subsídios de férias e de Natal, viram afastados os cortes nas pensões, viram
o IRS descer, as contas do Estado a entrar nos eixos, e não vêem a continuação
do escandaloso leilão do património público. E enquanto se lembrarem do que
penaram com o sr. Passos Coelho, o PSD e o CDS não têm grandes hipóteses de
regressar. Se há alguém com saudades do sr. Passos, é aquela chusma de abutres
que enriqueceram à custa do esbulho do património público e também da venda ao
desbarato do património dos Bancos caídos em desgraça. 29.02.2020
JDF EXPERIENTE: Oh rui, isso são
constatações reais, mas e o contexto? A governação da troika foi muito pesada
para o português, foi sim. E não esquecendo isto, e o esforço feito foi do
cidadão, o rui esqueceu-se de mencionar que na governação costa tivemos das
melhores taxas de juro de financiamento externo de décadas...tudo costa não
foi? Errado...tudo o português, forçado por uma governação austera, da qual
costa não teve nenhum contributo (nem positivo nem negativo), mas que se vem
gabar quando consegue, como se fosse tudo ele! É fácil dizer que somos grandes
agricultores quando chegamos à horta que não plantámos e tirámos de lá uns
tomates grandes e viçosos. Até eu sou o maior! 29.02.2020
António Maria Coelho de Carvalho INICIANTE
: E
viram também todos os países, da Europa oriental e do nosso campeonato,
ultrapassarem-nos em termos de PIB/habitante... 29.02.2020
António Cunha MODERADOR: Passos é um
técnico que faz o que lhe dizem. Não sabe, não conhece e tem raiva a quem sabe
e conhece. Um zero à esquerda (Oops) com veia para a raiva e a espuma ao canto
da boca. 29.02.2020
Mario Coimbra EXPERIENTE: Muito bom. A
geringonça nunca foi a favor de algo foi sempre contra algo. Serviu enquanto o
perigo estava lá. 29.02.2020
ana cristina MODERADOR: o carissimo JMT bem gabava o jogo de cintura e a
habilidade política do Costa…. Mas afinal parece que, tudo somado, não basta e
não leva a lado nenhum 29.02.2020
GMA INICIANTE: O amor profundo do escriba JMT pelo Sr.
Passos (quem terá imitado quem na pose de rebeldia de barba-e-careca?!) leva-o
a imaginar um mundo povoado de Tavares! Por mim, anseio que o grande estadista
Sr. Coelho volte ao poder; por certo arranjará um lugarzito de
"comendador" para o Sr. Tavares, incompatível com o débito diário de
banalidades aqui no Público.29.02.2020
joaquim machado INICIANTE: Sobre o Montijo, lamento
q não se coloque em primeiro lugar q a solução de um aeroporto complementar
(APEADEIRO) está estruturalmente errada. 29.02.2020
Novo Humbo MODERADOR: Isso.
Geometricamente descrito, quase científico. Siga para comentários irados pela
clareza da coisa. 29.02.2020
rogerio borges, INICIANTE: Só em referência ao título da crónica, não coloque na
cabeça dos outros aquilo que vai muito na sua. 29.02.2020
ALRB EXPERIENTE: Costa explorou o
ódio provocado pela austeridade do PSD/CDS, austeridade essa inevitável após a
bancarrota do PS. E conseguiu manter essa austeridade ao mesmo tempo que
conseguia o apoio dos partidos à esquerda (e que abominavam a austeridade do
PSD/CDS). Centeno, o Ronaldo das finanças, mais não foi do que o Vitor Gaspar
do Costa garantindo a continuidade da recuperação económica enquanto Costa
ludibriava os partidos à esquerda e encantava os eleitores com as vitórias do
europeu de futebol, da eurovisão e a recuperação económica iniciada no governo
PSD/CDS. Como tudo o que é baseado em odiar, ludibriar e enganar a seu tempo se
desmorona, temos o que descreve JMT. Mas não há que sobrestimar a capacidade
cognitiva do eleitor nem subestimar a manha do Costa em explorar a referida
capacidade. 29.02.2020
Colete Amarelo, EXPERIENTE: Não, não foi
Pedro Passos Coelho. Foi, sim, o horror das políticas do governo Coelho-Portas. 29.02.2020
ALRB EXPERIENTE": É absolutamente
espantoso que a Assembleia da República e os deputados se permitam bloquear o
normal funcionamento das instituições democráticas.” disse Catarina Mendes.
Acho que ela se estava a referir a quando a assembleia rejeitou o programa de
governo do partido mais votado para abrir caminho ao governo do segundo partido
mais votado. 29.02.2020
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