Suponho que os dinheiros dos
contribuintes irão pagar essas despesas dos passeios e dos comeres e das
dormidas do cortejo amorável. Todos nós desejamos que isso não vá colidir com
as outras despesas dos vários serviços da nação que já de si vive no aperto do
empréstimo abundante e definitivo que os povos trabalhadores de lá de fora nos
destinaram. É certo que, por altura das eleições, todos referem e condenam as
despesas dos partidos, que percorrem os caminhos da sua investigação acerca das
carências nacionais e da difusão das virtudes especiais desses partidos, merecedoras
das escolhas do povo. Mas António
Costa não se incomoda com esses pormenores da nossa mediania endividada e,
seguindo a via afectiva do nosso Presidente, que também não se incomoda, propõe-se
difundir a sua irradiante simpatia, sob a capa de um interesse real pelos
problemas do povo e vá de marchar por essas terras fora, muito antes das
autárquicas, com nobres intuitos de real eficácia decididamente democrática,
atraindo o povo ao terreiro da sua disponibilidade de o bem servir. São José Almeida está céptica a esse respeito, mas nem
todos os seus comentadores a acompanham na sua crítica. A nós quadra-nos mais o
folclore, não o estudo meditado e consciente, à banca do trabalho, o que se
torna canseiroso. E entretanto, “na
sombra Cleópatra jaz morta”, isto é, as falcatruas do costume
fabricar-se-ão imparáveis, nos sítios próprios, enquanto o governo se passeia,
folgazão, pela campina, a despejar interesse real. Ou seja, de rei. Um fartote
de demonstração e de eficácia para a vitória!
OPINIÃO: As “saídas reais” de António
Costa e a propaganda eleitoral do PS
O topo da direcção socialista
organizou-se para levar a cabo uma estratégia política e eleitoral e fazer uma
barragem cerrada de propaganda socialista pelo país.
O primeiro-ministro, António Costa,
inaugurou, na quarta e na quinta-feira, em Bragança, os Conselhos de Ministros
descentralizados, uma encenação destinada a mostrar junto das populações o
exercício do poder governativo.
A iniciativa, denominada Governo Mais Próximo, terá periodicidade mensal, percorrerá os
distritos do continente e as duas regiões autónomas e prolongar-se-á até ao
Verão de 2021. O objectivo é aproximar o Estado dos cidadãos, pela
presença física junto das populações daqueles que são responsáveis pelo Governo
do país e, com isso, procurar perceber de forma mais directa os problemas, as
expectativas e os receios das pessoas e dar-lhes segurança.
Esta encenação política para
demonstrar às populações o exercício do poder do Estado traz à memória as
“saídas reais” na Idade Média, em que os reis se passeavam pelos países,
deslocando a corte consigo, para presencialmente mostrarem, de forma simbólica
e teatralizada, o poder real, decretarem ordens, resolverem disputas e
praticarem justiça.
É
certo que entre as “saídas reais” e os Conselhos de Ministros descentralizados
há séculos de História. Nessa
distância temporal já milenar, nasceu o Estado moderno, que se foi consolidando
e transformando, como enquadrador e como resposta de estruturação da sociedade.
Uma esfera de organização que na sua versão mais
contemporânea ou actual está potenciada na representação parlamentar e na
governação democrática. Daí que a
encenação de poder destas iniciativas em que o Governo de António
Costa se passeará pelo país seja meramente simbólica, embora possa, de facto,
trazer conforto às pessoas.
Mas
mais importante do que a novidade de recuperar encenações do exercício do
poder junto das populações ou a qualidade e o impacto real que possa ter o
importante leque de medidas legislativas aprovadas, é o que a
iniciativa “Governo Mais Próximo” representa enquanto utilização do órgão
institucional responsável pela gestão do Estado democrático, o Governo, e a sua
instrumentalização para uma operação partidária de propaganda. Expliquemos.
Aos Conselhos de Ministros descentralizados somam-se acções no terreno, que
estão coordenadas com eles e também com periodicidade mensal, e que envolvem o
grupo parlamentar do PS e o partido, na pessoa do secretário-geral adjunto,
José Luís Carneiro, com as sessões do Diálogo Olhos nos Olhos. Assim,
até ao arranque da pré-campanha eleitoral para as autárquicas, de forma
coordenada, todos os meses, o Conselho de Ministros reunir-se-á num distrito
diferente ou numa região autónoma. E antes de o plenário de governantes
descer ao terreno, o distrito será visitado pelo secretário-geral adjunto
para debater com as “forças vivas” da região, mas também pelos deputados do PS, que entrarão nesta
operação à vez, agrupados de acordo com os temas e áreas de governação que dão
nome às comissões parlamentares.
Como
escrevia Luciano
Alvarez no PÚBLICO na terça-feira, “a batalha socialista pelas
autárquicas do próximo ano já começou. Ainda que de forma não assumida, Governo
e PS já estão a marcar terreno e a olhar para uma eleição que, há quatro anos,
deu uma vitória clara aos socialistas. Tão clara que o número de votos e de
autarquias conquistadas se torna difícil de superar. O objectivo para 2021 é
segurar o resultado alcançado, e foi com ele na mira que o PS começou a
ladrilhar o caminho. O distrito de Bragança é a primeira etapa”.
Depois
de José Luís Carneiro, em entrevista ao PÚBLICO, ter assumido que o
objectivo eleitoral do PS para as autárquicas é “consolidar” os resultados
recorde de 2017 — quando conquistou 159 câmaras sozinho e mais duas em
coligação —, o topo da direcção socialista organizou-se para levar a cabo uma
estratégia política e eleitoral e fazer uma barragem cerrada de propaganda
socialista pelo país.
É
evidente que o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa, bem como o
secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, e a líder parlamentar, Ana
Catarina Mendonça Mendes, têm todo o direito de desenhar as suas estratégias
partidárias com o objectivo de o PS ganhar eleições. E reconheço que esta
operação de propaganda socialista, que irá ser posta em prática pelo país
durante um ano e meio, está muitíssimo bem montada e será eficaz do ponto de
vista partidário. Agora, o que não percebo é o silêncio dos partidos da
oposição perante a operação política e eleitoral do PS e que nenhum dos
dirigentes dos outros partidos tenha questionado esta estratégia. Por mais que
estas “saídas reais” de António Costa com os seus ministros, passeando-se pelo
país, possam trazer conforto e segurança às populações e também a aprovação de leis importantes, como
aconteceu na quinta-feira em Bragança, será que apenas eu dou relevância a este
envolvimento do Governo em estratégias eleitorais do PS?
TÓPICOS POLÍTICA PS GOVERNO ANTÓNIO COSTA ANA CATARINA MENDES CONSELHO DE MINISTROS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS
COMENTÁRIOS
Jose, MODERADOR:
O actual governo
minoritário do PS é o maior governo de sempre. Essa enormidade tem o objectivo
de fazer propaganda política do PS paga pelo Estado. António Costa vai na linha
de governação de rua adoptada por Nicolás Maduro. O objectivo é o PS chegar à
maioria absoluta e governar de palanque, por cima da opinião de todos os
demais. É deprimente que o PS faça esse caminho de auto-suficiência, de
"quem se mete com o PS leva", de "gosto é de malhar" e
outras pérolas PS.
Alexandre
Abreu, INICIANTE: Faz bem o actual Primeiro-Ministro; Faz bem o actual
partido que suporta o Governo; Fizeram mal os anteriores governos, por não
terem feito o mesmo antes; Fizeram mal os anteriores partidos que suportaram os
Governos, por não terem feito o mesmo antes; Poderão fazer bem, os actuais
partidos na oposição, se souberem aproveitar "a passagem da Corte pela
aldeia", para mostrar os problemas locais das populações locais.
Jf
INICIANTE: Parabéns pelo artigo. Mas todos sabemos, porque está visto e bem
visto que este primeiro-ministro desde que tomou o poder se tem mostrado um
videirinho habilidoso que tem vivido de fazer promessas de 10 e a cumprir 1, de
fazer promessas vãs (aquelas que para o ano é que vão ser concretizadas e nunca
chega o próximo ano) e agora resolveu passear-se com o seu séquito para apenas
gastar recursos e para atirar mais areia aos olhos do Zé pagode... Nada de
novo. Por mim pode ir embora e pela porta dos fundos como ele gosta.
alberico.lopes INICIANTE; Já somos pelo menos 3 a mostrar que não vamos em cantigas: a São
José, o Iniciante e eu próprio!
Luis Fernando Neves EXPERIENTE: Portanto, se ignoram o interior, são os incorrigíveis
centralistas de Lisboa. Se vão ao interior, ainda por cima com propostas
concretas como a redução das portagens, são uns eleitoralistas. Não sou
inocente, compreendo e aceito e jogo político, porque faz parte de qualquer
democracia estável, mas a São José tem uma sanha tão grande contra este governo
que até se indigna com o facto de a oposição não reagir. Tem bom remédio, o que
não falta aí são partidos à procura de militantes.
alberico.lopes, INICIANTE: O sr. Luis:gostava de o ouvir se fosse um governo de outro
partido, por exemplo do PSD, a fazer estas tournées, à custa do erário público
e a favor do PS! O que não se diria, não é?
Antonio Leitao, EXPERIENTE: Garanto-lhe que no interior não precisamos de conselhos de
ministros: esses podem bem ficar em Lisboa. Dava-nos jeito uma política fiscal
que pudesse colmatar perdas por interioridade. Ou então serviços públicos de
qualidade, ou o apoio à mobilidade que as zonas metropolitanas têm. Ou ainda
que não se redesenhasse constantemente as zonas do litoral para que possam
continuar a absorver fundos europeus. O que não queremos é visitas de quem acha
que vem aqui dar uma esmolinha.
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