domingo, 1 de março de 2020

Desta vez é que vai ser!


Suponho que os dinheiros dos contribuintes irão pagar essas despesas dos passeios e dos comeres e das dormidas do cortejo amorável. Todos nós desejamos que isso não vá colidir com as outras despesas dos vários serviços da nação que já de si vive no aperto do empréstimo abundante e definitivo que os povos trabalhadores de lá de fora nos destinaram. É certo que, por altura das eleições, todos referem e condenam as despesas dos partidos, que percorrem os caminhos da sua investigação acerca das carências nacionais e da difusão das virtudes especiais desses partidos, merecedoras das escolhas do povo. Mas António Costa não se incomoda com esses pormenores da nossa mediania endividada e, seguindo a via afectiva do nosso Presidente, que também não se incomoda, propõe-se difundir a sua irradiante simpatia, sob a capa de um interesse real pelos problemas do povo e vá de marchar por essas terras fora, muito antes das autárquicas, com nobres intuitos de real eficácia decididamente democrática, atraindo o povo ao terreiro da sua disponibilidade de o bem servir. São José Almeida está céptica a esse respeito, mas nem todos os seus comentadores a acompanham na sua crítica. A nós quadra-nos mais o folclore, não o estudo meditado e consciente, à banca do trabalho, o que se torna canseiroso. E entretanto, “na sombra Cleópatra jaz morta”, isto é, as falcatruas do costume fabricar-se-ão imparáveis, nos sítios próprios, enquanto o governo se passeia, folgazão, pela campina, a despejar interesse real. Ou seja, de rei. Um fartote de demonstração e de eficácia para a vitória!

OPINIÃO: As “saídas reais” de António Costa e a propaganda eleitoral do PS
O topo da direcção socialista organizou-se para levar a cabo uma estratégia política e eleitoral e fazer uma barragem cerrada de propaganda socialista pelo país.
      PÚBLICO, 29 DE Fevereiro de 2020
O primeiro-ministro, António Costa, inaugurou, na quarta e na quinta-feira, em Bragança, os Conselhos de Ministros descentralizados, uma encenação destinada a mostrar junto das populações o exercício do poder governativo. A iniciativa, denominada Governo Mais Próximo, terá periodicidade mensal, percorrerá os distritos do continente e as duas regiões autónomas e prolongar-se-á até ao Verão de 2021. O objectivo é aproximar o Estado dos cidadãos, pela presença física junto das populações daqueles que são responsáveis pelo Governo do país e, com isso, procurar perceber de forma mais directa os problemas, as expectativas e os receios das pessoas e dar-lhes segurança.
Esta encenação política para demonstrar às populações o exercício do poder do Estado traz à memória as “saídas reais” na Idade Média, em que os reis se passeavam pelos países, deslocando a corte consigo, para presencialmente mostrarem, de forma simbólica e teatralizada, o poder real, decretarem ordens, resolverem disputas e praticarem justiça.
É certo que entre as “saídas reais” e os Conselhos de Ministros descentralizados há séculos de História. Nessa distância temporal já milenar, nasceu o Estado moderno, que se foi consolidando e transformando, como enquadrador e como resposta de estruturação da sociedade. Uma esfera de organização que na sua versão mais contemporânea ou actual está potenciada na representação parlamentar e na governação democrática. Daí que a encenação de poder destas iniciativas em que o Governo de António Costa se passeará pelo país seja meramente simbólica, embora possa, de facto, trazer conforto às pessoas.
Mas mais importante do que a novidade de recuperar encenações do exercício do poder junto das populações ou a qualidade e o impacto real que possa ter o importante leque de medidas legislativas aprovadas, é o que a iniciativa “Governo Mais Próximo” representa enquanto utilização do órgão institucional responsável pela gestão do Estado democrático, o Governo, e a sua instrumentalização para uma operação partidária de propaganda. Expliquemos. Aos Conselhos de Ministros descentralizados somam-se acções no terreno, que estão coordenadas com eles e também com periodicidade mensal, e que envolvem o grupo parlamentar do PS e o partido, na pessoa do secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, com as sessões do Diálogo Olhos nos Olhos. Assim, até ao arranque da pré-campanha eleitoral para as autárquicas, de forma coordenada, todos os meses, o Conselho de Ministros reunir-se-á num distrito diferente ou numa região autónoma. E antes de o plenário de governantes descer ao terreno, o distrito será visitado pelo secretário-geral adjunto para debater com as “forças vivas” da região, mas também pelos deputados do PS, que entrarão nesta operação à vez, agrupados de acordo com os temas e áreas de governação que dão nome às comissões parlamentares.
Como escrevia Luciano Alvarez no PÚBLICO na terça-feira, “a batalha socialista pelas autárquicas do próximo ano já começou. Ainda que de forma não assumida, Governo e PS já estão a marcar terreno e a olhar para uma eleição que, há quatro anos, deu uma vitória clara aos socialistas. Tão clara que o número de votos e de autarquias conquistadas se torna difícil de superar. O objectivo para 2021 é segurar o resultado alcançado, e foi com ele na mira que o PS começou a ladrilhar o caminho. O distrito de Bragança é a primeira etapa”.
Depois de José Luís Carneiro, em entrevista ao PÚBLICO, ter assumido que o objectivo eleitoral do PS para as autárquicas é “consolidar” os resultados recorde de 2017 — quando conquistou 159 câmaras sozinho e mais duas em coligação —, o topo da direcção socialista organizou-se para levar a cabo uma estratégia política e eleitoral e fazer uma barragem cerrada de propaganda socialista pelo país.
É evidente que o primeiro-ministro e líder do PS, António Costa, bem como o secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, e a líder parlamentar, Ana Catarina Mendonça Mendes, têm todo o direito de desenhar as suas estratégias partidárias com o objectivo de o PS ganhar eleições. E reconheço que esta operação de propaganda socialista, que irá ser posta em prática pelo país durante um ano e meio, está muitíssimo bem montada e será eficaz do ponto de vista partidário. Agora, o que não percebo é o silêncio dos partidos da oposição perante a operação política e eleitoral do PS e que nenhum dos dirigentes dos outros partidos tenha questionado esta estratégia. Por mais que estas “saídas reais” de António Costa com os seus ministros, passeando-se pelo país, possam trazer conforto e segurança às populações e também a aprovação de leis importantes, como aconteceu na quinta-feira em Bragança, será que apenas eu dou relevância a este envolvimento do Governo em estratégias eleitorais do PS?
COMENTÁRIOS
Jose, MODERADOR: O actual governo minoritário do PS é o maior governo de sempre. Essa enormidade tem o objectivo de fazer propaganda política do PS paga pelo Estado. António Costa vai na linha de governação de rua adoptada por Nicolás Maduro. O objectivo é o PS chegar à maioria absoluta e governar de palanque, por cima da opinião de todos os demais. É deprimente que o PS faça esse caminho de auto-suficiência, de "quem se mete com o PS leva", de "gosto é de malhar" e outras pérolas PS.
Alexandre Abreu, INICIANTE: Faz bem o actual Primeiro-Ministro; Faz bem o actual partido que suporta o Governo; Fizeram mal os anteriores governos, por não terem feito o mesmo antes; Fizeram mal os anteriores partidos que suportaram os Governos, por não terem feito o mesmo antes; Poderão fazer bem, os actuais partidos na oposição, se souberem aproveitar "a passagem da Corte pela aldeia", para mostrar os problemas locais das populações locais.
Jf INICIANTE: Parabéns pelo artigo. Mas todos sabemos, porque está visto e bem visto que este primeiro-ministro desde que tomou o poder se tem mostrado um videirinho habilidoso que tem vivido de fazer promessas de 10 e a cumprir 1, de fazer promessas vãs (aquelas que para o ano é que vão ser concretizadas e nunca chega o próximo ano) e agora resolveu passear-se com o seu séquito para apenas gastar recursos e para atirar mais areia aos olhos do Zé pagode... Nada de novo. Por mim pode ir embora e pela porta dos fundos como ele gosta.
alberico.lopes INICIANTE; Já somos pelo menos 3 a mostrar que não vamos em cantigas: a São José, o Iniciante e eu próprio!
Luis Fernando Neves EXPERIENTE: Portanto, se ignoram o interior, são os incorrigíveis centralistas de Lisboa. Se vão ao interior, ainda por cima com propostas concretas como a redução das portagens, são uns eleitoralistas. Não sou inocente, compreendo e aceito e jogo político, porque faz parte de qualquer democracia estável, mas a São José tem uma sanha tão grande contra este governo que até se indigna com o facto de a oposição não reagir. Tem bom remédio, o que não falta aí são partidos à procura de militantes.
Enfim Liberal INICIANTE: A redução das portagens? O Costa parece bom prof. e realmente habilidoso.
alberico.lopes, INICIANTE: O sr. Luis:gostava de o ouvir se fosse um governo de outro partido, por exemplo do PSD, a fazer estas tournées, à custa do erário público e a favor do PS! O que não se diria, não é?
Antonio Leitao, EXPERIENTE: Garanto-lhe que no interior não precisamos de conselhos de ministros: esses podem bem ficar em Lisboa. Dava-nos jeito uma política fiscal que pudesse colmatar perdas por interioridade. Ou então serviços públicos de qualidade, ou o apoio à mobilidade que as zonas metropolitanas têm. Ou ainda que não se redesenhasse constantemente as zonas do litoral para que possam continuar a absorver fundos europeus. O que não queremos é visitas de quem acha que vem aqui dar uma esmolinha.
Alberto Sousa INICIANTE Mas não estamos perante um governo PS? Isto é política pura...ou não?

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