Mas não de admirar. Nunca, sabemo-lo, o
ensino foi coisa de valor por cá, desde tempos da formação, e o povo, em
maioria, carregava a sua canga para alimentar nobreza e clero, dedicados a
outras artes, em que o estudo contou à sua maneira, fechado às matérias e às
descobertas que iam sendo implantadas lá fora, cá dentro a Igreja impondo a sua
cartilha, arredada da curiosidade no saber que se pautasse pela razão e a
descoberta. Uma única universidade, entre Coimbra e Lisboa, durante séculos,
chegou-se ao século XX com uma percentagem de iliteracia verdadeiramente
aviltante. A república criou escolas, Salazar tentou reparar o atraso, mas a
recuperação não foi geral. Geral foi a estabelecida com o 25 de Abril, toda a
gente miúda com acesso ao ensino que, por divergência de nível entre os alunos,
e por uma doutrinação libertária e massificante, além das políticas educativas
patéticas de uma exigência profusa em paleio pedagógico, mais do que no honesto
interesse pelas matérias de estudo, a par da indisciplina permitida, perverteu
mais e mais o sentido de um honesto trabalho e saber. Um país que aceita a
perversão de um Acordo Ortográfico na sua escrita… que se poderia esperar dele
em questão de disciplina? De estarrecer, sim, não de admirar. Somos assim, um
pobre país de praxes – praxes da nossa mesquinhez adulta, propícia à má criação
geral. Ou vice-versa… dá no mesmo.
OPINIÃO: O pior é que ninguém faz nada!
O sentimento de impunidade nas escolas é
corolário da desautorização dos docentes e da sua continuada despromoção
social, em que o PS se empenhou desde Maria de Lurdes Rodrigues.
SANTANA CASTILHO PÚBLICO 4 de Março de 2020, 5:35
A
frase que dá título a esta crónica é do jornalista Hernâni Carvalho e abriu uma edição especial do programa “Linha
Aberta”, da SIC, emitido no passado dia 24 de
Fevereiro. A Escola Básica e Secundária de Salvaterra de Magos foi aí
apresentada como um local violento e inseguro. No programa é dito que
dentro do estabelecimento de ensino se consome e trafica droga. É narrada uma tentativa
de violação de uma aluna de dez anos e descrita uma situação encobridora do
facto. Com efeito, disse a mãe da vítima, no programa, que a filha acabou
referenciada como se tivesse ficcionado o sucedido, quando a violação não se
consumou apenas porque alguns alunos acudiram aos gritos da menor e a
socorreram, logo existindo testemunhas do crime tentado. A criança veio a
sofrer longamente de ataques de pânico e foi internada para tratamento. Mais
dois casos arrepiantes são descritos no programa: um de bullying grave
exercido sobre uma aluna do 8.º ano, que culminou com uma tentativa de suicídio
(evitado por intervenção hospitalar), e outro de alunos ameaçados com arma
branca por socorrerem uma criança que estava a ser sufocada por marginais. Recorde-se
que eram desta escola os dois alunos envolvidos, há cinco anos, num incidente,
fora do estabelecimento escolar, que terminou com o homicídio de um deles.
Tudo
visto, parecia legítimo esperar uma reacção imediata de quem de direito,
designadamente do tosco ministro da Educação. Tanto mais que no programa foi dito, por um técnico da
Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, que situações idênticas são
recorrentes noutras escolas. Mas,
aparentemente, nada aconteceu, como lamentou (e bem) Hernâni Carvalho.
Como
é isto possível? Tenho para mim que as proclamações idílicas para o século
XXI e a aura de modernidade com que o PS mascarou ideias pedagógicas do século
passado (cuja aplicação resultou em desastre aqui e lá fora) são responsáveis
pela normalidade perversa em que está mergulhado o sistema de ensino. O
respeitinho burocrático imposto a uma classe docente proletarizada e
precarizada mergulhou-a num torpor que a incapacita para reagir eficazmente à
permanente erosão das condições de trabalho nas escolas e ao lento desmoronar
dos valores fundacionais da educação personalista. Estamos a
afastar os nossos jovens do mundo perceptível aos sentidos, permitindo paulatinamente
a sua substituição pelo mundo virtual das redes sociais e do lixo televisivo.
E, face a isto, os políticos não têm a coragem de promover medidas práticas
eficazes.
O ordenamento disciplinar
vigente nas escolas é caracterizado pelo sentimento de impunidade relativamente
aos pequenos delinquentes. A carência de cuidados parentais, que muitas vezes
os caracteriza, não pode ser motivo de segregação. Mas não justifica que os
dispensemos do cumprimento de regras de comportamento básico ou lhes confiramos
“direitos” particulares, que prejudiquem os outros.
Em
matéria de incidentes disciplinares, demasiados órgãos directivos optam por
abordagens branqueadoras, protectoras da sua própria imagem e do ME, chegando,
no limite, a omiti-los. No dizer do ministério (casos “isolados” e
“residuais”), a violência há muito que deveria inexistir, já que “diminui” de ano para ano. O pior é que a realidade desmente as
graças obtidas com a administração contínua do sacramento da “escola inclusiva”
e as homilias imbecis de frei Tiago no “5 para a Meia-Noite”. Basta estar
atento às manchetes dos jornais e às rotinas hospitalares, onde chegam os que
levam “no focinho”.
A
impotência face aos agressores é uma razão de peso para o desespero e para a
ausência de esperança que domina muitos professores, a quem, quase sempre, os
directores respondem com a negação da indisciplina e da violência nas suas
escolas. E por não serem sancionados (outrossim
protegidos pela ortodoxia política e pelo arzinho trapalhão do ministro) assim se repetem, uma e outra vez,
comportamentos intoleráveis, com consequências devastadoras. O sentimento de
impunidade em contexto de agressões cometidas contra professores por alunos e
encarregados de educação é corolário da desautorização dos docentes e da sua
continuada despromoção social, em que o PS se empenhou desde Maria de Lurdes
Rodrigues, promovendo pedagogias e legislação sem siso.
Professor do ensino superior
COMENTÁRIO:
Jf INICIANTE: A principal razão pela qual ninguém faz nada é a
completa ausência de um capitão no navio da educação. E o Costa, ri e empurra
as decisões com a barriga
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