quinta-feira, 5 de março de 2020

Apenas de estarrecer


Mas não de admirar. Nunca, sabemo-lo, o ensino foi coisa de valor por cá, desde tempos da formação, e o povo, em maioria, carregava a sua canga para alimentar nobreza e clero, dedicados a outras artes, em que o estudo contou à sua maneira, fechado às matérias e às descobertas que iam sendo implantadas lá fora, cá dentro a Igreja impondo a sua cartilha, arredada da curiosidade no saber que se pautasse pela razão e a descoberta. Uma única universidade, entre Coimbra e Lisboa, durante séculos, chegou-se ao século XX com uma percentagem de iliteracia verdadeiramente aviltante. A república criou escolas, Salazar tentou reparar o atraso, mas a recuperação não foi geral. Geral foi a estabelecida com o 25 de Abril, toda a gente miúda com acesso ao ensino que, por divergência de nível entre os alunos, e por uma doutrinação libertária e massificante, além das políticas educativas patéticas de uma exigência profusa em paleio pedagógico, mais do que no honesto interesse pelas matérias de estudo, a par da indisciplina permitida, perverteu mais e mais o sentido de um honesto trabalho e saber. Um país que aceita a perversão de um Acordo Ortográfico na sua escrita… que se poderia esperar dele em questão de disciplina? De estarrecer, sim, não de admirar. Somos assim, um pobre país de praxes – praxes da nossa mesquinhez adulta, propícia à má criação geral. Ou vice-versa… dá no mesmo.
OPINIÃO: O pior é que ninguém faz nada!
O sentimento de impunidade nas escolas é corolário da desautorização dos docentes e da sua continuada despromoção social, em que o PS se empenhou desde Maria de Lurdes Rodrigues.
SANTANA CASTILHO  PÚBLICO 4 de Março de 2020, 5:35
A frase que dá título a esta crónica é do jornalista Hernâni Carvalho e abriu uma edição especial do programa “Linha Aberta”, da SIC, emitido no passado dia 24 de Fevereiro. A Escola Básica e Secundária de Salvaterra de Magos foi aí apresentada como um local violento e inseguro. No programa é dito que dentro do estabelecimento de ensino se consome e trafica droga. É narrada uma tentativa de violação de uma aluna de dez anos e descrita uma situação encobridora do facto. Com efeito, disse a mãe da vítima, no programa, que a filha acabou referenciada como se tivesse ficcionado o sucedido, quando a violação não se consumou apenas porque alguns alunos acudiram aos gritos da menor e a socorreram, logo existindo testemunhas do crime tentado. A criança veio a sofrer longamente de ataques de pânico e foi internada para tratamento. Mais dois casos arrepiantes são descritos no programa: um de bullying grave exercido sobre uma aluna do 8.º ano, que culminou com uma tentativa de suicídio (evitado por intervenção hospitalar), e outro de alunos ameaçados com arma branca por socorrerem uma criança que estava a ser sufocada por marginais. Recorde-se que eram desta escola os dois alunos envolvidos, há cinco anos, num incidente, fora do estabelecimento escolar, que terminou com o homicídio de um deles.
Tudo visto, parecia legítimo esperar uma reacção imediata de quem de direito, designadamente do tosco ministro da Educação. Tanto mais que no programa foi dito, por um técnico da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, que situações idênticas são recorrentes noutras escolas. Mas, aparentemente, nada aconteceu, como lamentou (e bem) Hernâni Carvalho.
Como é isto possível? Tenho para mim que as proclamações idílicas para o século XXI e a aura de modernidade com que o PS mascarou ideias pedagógicas do século passado (cuja aplicação resultou em desastre aqui e lá fora) são responsáveis pela normalidade perversa em que está mergulhado o sistema de ensino. O respeitinho burocrático imposto a uma classe docente proletarizada e precarizada mergulhou-a num torpor que a incapacita para reagir eficazmente à permanente erosão das condições de trabalho nas escolas e ao lento desmoronar dos valores fundacionais da educação personalista. Estamos a afastar os nossos jovens do mundo perceptível aos sentidos, permitindo paulatinamente a sua substituição pelo mundo virtual das redes sociais e do lixo televisivo. E, face a isto, os políticos não têm a coragem de promover medidas práticas eficazes.
O ordenamento disciplinar vigente nas escolas é caracterizado pelo sentimento de impunidade relativamente aos pequenos delinquentes. A carência de cuidados parentais, que muitas vezes os caracteriza, não pode ser motivo de segregação. Mas não justifica que os dispensemos do cumprimento de regras de comportamento básico ou lhes confiramos “direitos” particulares, que prejudiquem os outros.
Em matéria de incidentes disciplinares, demasiados órgãos directivos optam por abordagens branqueadoras, protectoras da sua própria imagem e do ME, chegando, no limite, a omiti-los. No dizer do ministério (casos “isolados” e “residuais”), a violência há muito que deveria inexistir, já que “diminui” de ano para ano. O pior é que a realidade desmente as graças obtidas com a administração contínua do sacramento da “escola inclusiva” e as homilias imbecis de frei Tiago no “5 para a Meia-Noite”. Basta estar atento às manchetes dos jornais e às rotinas hospitalares, onde chegam os que levam “no focinho”.
A impotência face aos agressores é uma razão de peso para o desespero e para a ausência de esperança que domina muitos professores, a quem, quase sempre, os directores respondem com a negação da indisciplina e da violência nas suas escolas. E por não serem sancionados (outrossim protegidos pela ortodoxia política e pelo arzinho trapalhão do ministro) assim se repetem, uma e outra vez, comportamentos intoleráveis, com consequências devastadoras. O sentimento de impunidade em contexto de agressões cometidas contra professores por alunos e encarregados de educação é corolário da desautorização dos docentes e da sua continuada despromoção social, em que o PS se empenhou desde Maria de Lurdes Rodrigues, promovendo pedagogias e legislação sem siso. 
Professor do ensino superior
COMENTÁRIO:
Jf INICIANTE: A principal razão pela qual ninguém faz nada é a completa ausência de um capitão no navio da educação. E o Costa, ri e empurra as decisões com a barriga

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