O Mundo, de chofre, tornou-se ainda mais
estranho. O impensável aconteceu. E não só ao nível das escolas. Mas, neste
caso, isso apenas, do encerramento das escolas,
de que trata este artigo de Alexandre Homem Cristo. Mas há outras
coisas estranhas. E ridículas, como essa de Trump só admitir
ligação aérea com o Reino Unido, muito
escolar também, como as meninas dos grupinhos fechados, nas escolas, (já que de
escolas se trata), nos seus segredinhos, a fazerem inveja às excluídas… E o RU alinha, assim eleito… Rendido, nobres cabeças louras juntas, a
de Trump e a de Boris, muito manos,
nos seus segredinhos e no seu gáudio, exclusivos… Que inveja!
Fechar as escolas /premium
As escolas acabarão por fechar, o que levanta muitas
questões educativas ainda por resolver. Nomeadamente esta: como minimizar o
impacto na aprendizagem dos alunos? A resposta não é evidente.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO OBSERVADOR, 12 mar 2020
Um pouco por
todo o mundo, as escolas estão a fechar portas para travar a propagação do
covid-19. Inevitavelmente, também acontecerá em Portugal. Quando? Ainda não sabemos
e, nestas circunstâncias em que todos temos opiniões e emoções à flor da pele,
a melhor opção será mesmo confiar nas autoridades públicas e políticas – são
estas que têm a melhor informação sobre o assunto e as melhores condições
técnicas para decidir. Dito isto, há duas evidências actualmente
inultrapassáveis. A primeira é que fechar escolas provou ser uma medida eficaz de
contenção da propagação do vírus e que produziu melhores resultados quanto mais
cedo foi aplicada. A segunda é que, nas escolas portuguesas, o ambiente
está a tornar-se insustentável, com uma percepção generalizada de insegurança e
medo, com professores inquietos e com vários alunos já a faltar às aulas. Apesar do louvável esforço de
directores e professores, não sei se, do ponto de vista funcional, manter as
escolas abertas não se tornará ingerível a curto prazo – desconfio que sim.
2Seja hoje, amanhã ou na próxima semana, podemos estar
certos de que as escolas acabarão por fechar portas. Ora, encerrar escolas tem
várias implicações e levanta muitas questões ainda por resolver, entre as quais
questões educativas que terão de obter resposta em breve. Convém começar já a
pensar nelas. Nomeadamente nesta: como minimizar o impacto destas medidas de
isolamento na aprendizagem dos miúdos – em particular nos anos de exames
nacionais e acesso ao ensino superior? A resposta não é evidente, sobretudo
se aceitarmos a possibilidade de o encerramento das escolas se alongar durante 4
ou mais semanas. A solução mais óbvia, aquela que tanta gente refere e que
está neste momento a ser implementada em muitos países asiáticos, é assegurar aulas ou actividades escolares através
da internet. Esta é (de longe) a forma mais eficaz de comunicar à distância
e não faltam aplicações
educativas (gratuitas ou pagas)
a que escolas
e professores possam recorrer para, de forma relativamente eficaz, interagirem
com os seus alunos. No ensino superior português, vários cursos e professores já estão a
adoptar esta forma de comunicação. Só que, ao nível do ensino básico e
secundário, esta hipótese dificilmente será uma solução viável, pois arrasta consigo
dois problemas estruturais e de difícil resolução no contexto português.
O primeiro problema é o acentuar de
desigualdades sociais. Esta solução depende do acesso a computadores e a
ligações de internet de banda larga, o que excluirá alguns professores e ainda
mais alunos, nomeadamente os mais desfavorecidos e dos meios rurais. É que, se é certo que o acesso à internet é cada vez
mais generalizado, o mesmo não se aplica aos equipamentos – o número de
computadores por residência varia muitíssimo em função do perfil socioeconómico
das famílias. Repare-se
que, precisamente por isso, nos EUA a situação já está a
ser avaliada. Ora,
acresce ainda que, sem estar fisicamente na escola e por isso “obrigados” a
acompanhar as aulas, os alunos mais desfavorecidos e desinteressados serão
os primeiros a faltar às aulas de ensino à distância – os dados internacionais
mostram que a taxa de desistência no ensino à
distância é muito elevada. Ou
seja, esta solução poderia resolver a situação de muitos alunos, mas seria
igualmente uma forma de acentuar desigualdades sociais existentes noutros casos
– o que contraria a missão de um sistema educativo, que deve servir de elevador
social. O segundo problema é de eficácia. A qualidade das aprendizagens dependeria sempre da capacidade
de os professores, sem terem obtido formação para tal, conseguirem rapidamente
adaptar-se às aulas online. Na teoria, pode soar simples. Contudo, é muito
mais difícil do que se possa pensar: não basta fazer igual à sala-de-aula mas à
frente de uma webcam. Vários estudos mostram que, para ser eficaz em termos de aprendizagem, os professores que usem o online devem adaptar
conteúdos, tornar a experiência mais interactiva e reduzir tempos de exposição
(por exemplo, através de vídeos curtos). Assim, a única forma de antever
algo minimamente eficaz seria o próprio ministério, remotamente, assegurar
formação e conteúdos aos professores. Não é impossível, mas no actual contexto
é particularmente improvável.
A
consequência óbvia da soma destes dois problemas é a impossibilidade de uma
implementação homogénea de ensino à distância pelo território nacional. Em
algumas escolas básicas e secundárias, talvez graças a um professor mais
inovador, soluções de ensino à distância poderiam funcionar com eficácia para
determinadas turmas. Existem, de
resto, várias escolas portuguesas (públicas e privadas) onde o uso da
tecnologia está fortemente enraizado e onde a adaptação a esta nova realidade
seria rápida. Contudo, em muitos casos, é razoável estimar que as iniciativas
seriam desgarradas, pouco funcionais e sem eficácia. Ou seja, num contexto de
emergência como o actual, em que não existem recursos ou tempo para preparar
uma implementação estruturada do ensino à distância, as desigualdades entre
as escolas acentuar-se-iam inevitavelmente, para prejuízo dos alunos em
contextos sociais mais desfavorecidos.
Dirão
alguns que, do ponto de vista do sistema educativo e do seu funcionamento num
contexto de emergência, estes problemas poderão ser vistos como um mal
inevitável e, por isso, “aceitável”, no sentido em que nenhuma outra
alternativa viável existe. Mas a aceitabilidade teria sempre um limite
inultrapassável: esta desarticulação e este acentuar de desigualdades seriam
intoleráveis nos anos escolares em que se realizam provas de exame nacional,
porque isso teria um grande impacto no percurso futuro dos alunos – em
particular quando estiver em causa o acesso ao ensino superior. Se a
suspensão das aulas se alongar no tempo, este será possivelmente o maior
desafio organizacional.
3 Então, se esta possibilidade de ensino à
distância não é uma solução realista para Portugal, o que sobra? Pouco ou
nada, a não ser esperar. É frustrante? Sim, mas é a opção mais realista.
Como tal, o cenário de prolongar as aulas até Julho ou realizar exames e o
acesso ao ensino superior só em Setembro acabará por estar em cima da mesa –
dependendo da duração das medidas de contenção da pandemia. Por mais
constrangimentos que esse arrastar do calendário escolar possa implicar (às
famílias, aos alunos, aos professores, às universidades), é fundamental que
todos (agentes do sistema educativo e partidos políticos) apoiem caminhos
realistas e seguros, em vez de alimentar ilusões e semear expectativas
inatingíveis.
COMENTÁRIOS:
Rodrigo Machado: Não há desculpas... É só fechar e pronto, não existe a desculpa dos pais
terem de ficar com os filhos... Eles que se arranjem, é melhor arranjarem-se do
que estar mais pessoas com o vírus. Antecipem as férias que é o melhor
LÚCIOMONTEIRO: O Governo,
para tomar a decisão de mandar encerrar, de imediato, todas as escolas do país,
pode e deve consultar o parecer técnico das autoridades sanitárias, mas não
deve estar dependente disso. Uma coisa é a recomendação de uma equipa técnica,
e outra coisa, bem diferente, é uma decisão política do Executivo. O poder
executivo significa isso mesmo: o poder de tomar decisões e de executá-las.
Neste caso concreto, parece que António Costa está à espera de uma ordem das autoridades sanitárias,
antes de mandar fechar as escolas. Uma medida desta natureza deve resultar
sempre de uma decisão política. Às autoridades sanitárias não compete avaliar
os constrangimentos pedagógicos e o alarme social resultantes desta pandemia. É
precisamente ao Governo que compete avaliar estas implicações. Quando
António Costa tomar – e se tomar - a decisão de mandar encerrar as escolas, vai
pecar por tardia.
Vanessa Magalhães: Sinceramente não entendo...vemos pessoas a cair que nem moscas...e estamos
preocupados no impacto que fechar escolas terá a nível académico?? Falando por
mim prefiro ficar com um filho "burro" mas de boa saúde!!
José Alves: Estamos todos a ver que por
este andar Portugal vai ter que entrar em quarentena total. Penso que o mesmo
se passa com os vários países europeus. Talvez o mais eficaz seja uma
quarentena europeia por forma a evitar reinfecções cruzadas, seguida da
imposição de quarentena à entrada na Europa.
Manuel Tiago: Para muitos pedagogos a resposta é fácil. A aprendizagem é uma coisa de
somenos importância. Em terceiro lugar a escola serve para os pais que vão
trabalhar poderem deixar os filhos (baby-sitting), em segundo para os profs e
demais funcionários terem emprego, e em primeiro lugar... não digo, mas é fácil
de descobrir.
LÚCIO MONTEIRO: As escolas – todas – já deviam estar
fechadas há muito tempo. Desde que a disseminação do Convid -19 se tornou
irreversível à escala global, o Governo já devia ter tomado tal decisão. Até
porque existe o lado psicológico desta situação, que não deveria ser descurado,
ou seja, deixou de existir um ambiente minimamente propício à prática do
processo ensino-aprendizagem, que requer um clima racional e emocional sereno
para que os alunos possam assimilar aquilo que aprendem, o que não acontece
neste momento. Se o Governo não decretar o encerramento imediato de todos os
estabelecimentos de ensino, estes, por iniciativa própria, vão acabar, eles
próprios, por seguir por esse caminho. Penso que a Itália
soube, desde o início da propagação desta pandemia, gerir muito bem a situação,
através de tomada de medidas drásticas, com vista a minimizar os efeitos da
propagação deste vírus, condicionando desse modo as suas consequências, muito
provavelmente catastróficas e irreparáveis.
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