sexta-feira, 13 de março de 2020

Desabamento



O Mundo, de chofre, tornou-se ainda mais estranho. O impensável aconteceu. E não só ao nível das escolas. Mas, neste caso, isso apenas, do encerramento das escolas,  de que trata este artigo de Alexandre Homem Cristo. Mas há outras coisas estranhas. E ridículas, como essa de Trump só admitir ligação aérea com o Reino Unido, muito escolar também, como as meninas dos grupinhos fechados, nas escolas, (já que de escolas se trata), nos seus segredinhos, a fazerem inveja às excluídas… E o RU alinha, assim eleito… Rendido, nobres cabeças louras juntas, a de Trump e a de Boris, muito manos, nos seus segredinhos e no seu gáudio, exclusivos… Que inveja!
Fechar as escolas /premium
As escolas acabarão por fechar, o que levanta muitas questões educativas ainda por resolver. Nomeadamente esta: como minimizar o impacto na aprendizagem dos alunos? A resposta não é evidente.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO     OBSERVADOR, 12 mar 2020
Um pouco por todo o mundo, as escolas estão a fechar portas para travar a propagação do covid-19. Inevitavelmente, também acontecerá em Portugal. Quando? Ainda não sabemos e, nestas circunstâncias em que todos temos opiniões e emoções à flor da pele, a melhor opção será mesmo confiar nas autoridades públicas e políticas – são estas que têm a melhor informação sobre o assunto e as melhores condições técnicas para decidir. Dito isto, há duas evidências actualmente inultrapassáveis. A primeira é que fechar escolas provou ser uma medida eficaz de contenção da propagação do vírus e que produziu melhores resultados quanto mais cedo foi aplicada. A segunda é que, nas escolas portuguesas, o ambiente está a tornar-se insustentável, com uma percepção generalizada de insegurança e medo, com professores inquietos e com vários alunos já a faltar às aulas. Apesar do louvável esforço de directores e professores, não sei se, do ponto de vista funcional, manter as escolas abertas não se tornará ingerível a curto prazo – desconfio que sim.
2Seja hoje, amanhã ou na próxima semana, podemos estar certos de que as escolas acabarão por fechar portas. Ora, encerrar escolas tem várias implicações e levanta muitas questões ainda por resolver, entre as quais questões educativas que terão de obter resposta em breve. Convém começar já a pensar nelas. Nomeadamente nesta: como minimizar o impacto destas medidas de isolamento na aprendizagem dos miúdos – em particular nos anos de exames nacionais e acesso ao ensino superior? A resposta não é evidente, sobretudo se aceitarmos a possibilidade de o encerramento das escolas se alongar durante 4 ou mais semanas. A solução mais óbvia, aquela que tanta gente refere e que está neste momento a ser implementada em muitos países asiáticos, é assegurar aulas ou actividades escolares através da internet. Esta é (de longe) a forma mais eficaz de comunicar à distância e não faltam aplicações educativas (gratuitas ou pagas) a que escolas e professores possam recorrer para, de forma relativamente eficaz, interagirem com os seus alunos. No ensino superior português, vários cursos e professores já estão a adoptar esta forma de comunicação. Só que, ao nível do ensino básico e secundário, esta hipótese dificilmente será uma solução viável, pois arrasta consigo dois problemas estruturais e de difícil resolução no contexto português.
O primeiro problema é o acentuar de desigualdades sociais. Esta solução depende do acesso a computadores e a ligações de internet de banda larga, o que excluirá alguns professores e ainda mais alunos, nomeadamente os mais desfavorecidos e dos meios rurais. É que, se é certo que o acesso à internet é cada vez mais generalizado, o mesmo não se aplica aos equipamentos – o número de computadores por residência varia muitíssimo em função do perfil socioeconómico das famílias. Repare-se que, precisamente por isso, nos EUA a situação já está a ser avaliada. Ora, acresce ainda que, sem estar fisicamente na escola e por isso “obrigados” a acompanhar as aulas, os alunos mais desfavorecidos e desinteressados serão os primeiros a faltar às aulas de ensino à distância – os dados internacionais mostram que a taxa de desistência no ensino à distância é muito elevada. Ou seja, esta solução poderia resolver a situação de muitos alunos, mas seria igualmente uma forma de acentuar desigualdades sociais existentes noutros casos – o que contraria a missão de um sistema educativo, que deve servir de elevador social. O segundo problema é de eficácia. A qualidade das aprendizagens dependeria sempre da capacidade de os professores, sem terem obtido formação para tal, conseguirem rapidamente adaptar-se às aulas online. Na teoria, pode soar simples. Contudo, é muito mais difícil do que se possa pensar: não basta fazer igual à sala-de-aula mas à frente de uma webcam. Vários estudos mostram que, para ser eficaz em termos de aprendizagem, os professores que usem o online devem adaptar conteúdos, tornar a experiência mais interactiva e reduzir tempos de exposição (por exemplo, através de vídeos curtos). Assim, a única forma de antever algo minimamente eficaz seria o próprio ministério, remotamente, assegurar formação e conteúdos aos professores. Não é impossível, mas no actual contexto é particularmente improvável.
A consequência óbvia da soma destes dois problemas é a impossibilidade de uma implementação homogénea de ensino à distância pelo território nacional. Em algumas escolas básicas e secundárias, talvez graças a um professor mais inovador, soluções de ensino à distância poderiam funcionar com eficácia para determinadas turmas. Existem, de resto, várias escolas portuguesas (públicas e privadas) onde o uso da tecnologia está fortemente enraizado e onde a adaptação a esta nova realidade seria rápida. Contudo, em muitos casos, é razoável estimar que as iniciativas seriam desgarradas, pouco funcionais e sem eficácia. Ou seja, num contexto de emergência como o actual, em que não existem recursos ou tempo para preparar uma implementação estruturada do ensino à distância, as desigualdades entre as escolas acentuar-se-iam inevitavelmente, para prejuízo dos alunos em contextos sociais mais desfavorecidos.
Dirão alguns que, do ponto de vista do sistema educativo e do seu funcionamento num contexto de emergência, estes problemas poderão ser vistos como um mal inevitável e, por isso, “aceitável”, no sentido em que nenhuma outra alternativa viável existe. Mas a aceitabilidade teria sempre um limite inultrapassável: esta desarticulação e este acentuar de desigualdades seriam intoleráveis nos anos escolares em que se realizam provas de exame nacional, porque isso teria um grande impacto no percurso futuro dos alunos – em particular quando estiver em causa o acesso ao ensino superior. Se a suspensão das aulas se alongar no tempo, este será possivelmente o maior desafio organizacional.
3 Então, se esta possibilidade de ensino à distância não é uma solução realista para Portugal, o que sobra? Pouco ou nada, a não ser esperar. É frustrante? Sim, mas é a opção mais realista. Como tal, o cenário de prolongar as aulas até Julho ou realizar exames e o acesso ao ensino superior só em Setembro acabará por estar em cima da mesa – dependendo da duração das medidas de contenção da pandemia. Por mais constrangimentos que esse arrastar do calendário escolar possa implicar (às famílias, aos alunos, aos professores, às universidades), é fundamental que todos (agentes do sistema educativo e partidos políticos) apoiem caminhos realistas e seguros, em vez de alimentar ilusões e semear expectativas inatingíveis.
COMENTÁRIOS:
Rodrigo Machado: Não há desculpas... É só fechar e pronto, não existe a desculpa dos pais terem de ficar com os filhos... Eles que se arranjem, é melhor arranjarem-se do que estar mais pessoas com o vírus. Antecipem as férias que é o melhor
LÚCIOMONTEIRO: O Governo, para tomar a decisão de mandar encerrar, de imediato, todas as escolas do país, pode e deve consultar o parecer técnico das autoridades sanitárias, mas não deve estar dependente disso. Uma coisa é a recomendação de uma equipa técnica, e outra coisa, bem diferente, é uma decisão política do Executivo. O poder executivo significa isso mesmo: o poder de tomar decisões e de executá-las. Neste caso concreto, parece que António Costa está à espera de uma ordem das autoridades sanitárias, antes de mandar fechar as escolas. Uma medida desta natureza deve resultar sempre de uma decisão política. Às autoridades sanitárias não compete avaliar os constrangimentos pedagógicos e o alarme social resultantes desta pandemia. É precisamente ao Governo que compete avaliar estas implicações. Quando António Costa tomar – e se tomar - a decisão de mandar encerrar as escolas, vai pecar por tardia.
Vanessa Magalhães: Sinceramente não entendo...vemos pessoas a cair que nem moscas...e estamos preocupados no impacto que fechar escolas terá a nível académico?? Falando por mim prefiro ficar com um filho "burro" mas de boa saúde!!
José Alves: Estamos todos a ver que por este andar Portugal vai ter que entrar em quarentena total. Penso que o mesmo se passa com os vários países europeus. Talvez o mais eficaz seja uma quarentena europeia por forma a evitar reinfecções cruzadas, seguida da imposição de quarentena à entrada na Europa.
Manuel Tiago: Para muitos pedagogos a resposta é fácil. A aprendizagem é uma coisa de somenos importância. Em terceiro lugar a escola serve para os pais que vão trabalhar poderem deixar os filhos (baby-sitting), em segundo para os profs e demais funcionários terem emprego, e em primeiro lugar... não digo, mas é fácil de descobrir.
LÚCIO MONTEIRO: As escolas – todas – já deviam estar fechadas há muito tempo. Desde que a disseminação do Convid -19 se tornou irreversível à escala global, o Governo já devia ter tomado tal decisão. Até porque existe o lado psicológico desta situação, que não deveria ser descurado, ou seja, deixou de existir um ambiente minimamente propício à prática do processo ensino-aprendizagem, que requer um clima racional e emocional sereno para que os alunos possam assimilar aquilo que aprendem, o que não acontece neste momento. Se o Governo não decretar o encerramento imediato de todos os estabelecimentos de ensino, estes, por iniciativa própria, vão acabar, eles próprios, por seguir por esse caminho. Penso que a Itália soube, desde o início da propagação desta pandemia, gerir muito bem a situação, através de tomada de medidas drásticas, com vista a minimizar os efeitos da propagação deste vírus, condicionando desse modo as suas consequências, muito provavelmente catastróficas e irreparáveis.

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