quinta-feira, 19 de março de 2020

Uma estranha guerra



Contra um inimigo invisível. O certo é que nem todos podem parar. Há muitos que se arriscam. Que seria se fizessem também greve? Médicos, enfermeiros, produtores e fornecedores de alimento e bens essenciais… E agora, a polícia zeladora… Onde se fecharão os Sem-Abrigo? Será que continuarão a ser ajudados pelos dedicados habituais, arriscando-se estes a contraírem o Covid-19?
Entretanto… Eu vi, na televisão, o abraço do PR a Ferro Rodrigues. Sem medos! Que o nosso PR é dos corajosos a semear abraços. E vi a imagem do lava-mãos ensaboado e muito demorado e explicado, enquanto a torneira despejava água, num esbanjamento criminoso. Vivemos em pânico, sim, mas nem isso nos subtrai às parlapatices usuais do nosso modus vivendi.
Estado de pânico institucionalizado
Sr. primeiro-ministro, peça à Assembleia da República que não deixe que o homem dos afectos se transforme em contagiador de pânico! Se ao fim de uma vítima mortal já aqui estamos, como estaremos ao fim de cem? Não nos deixe morrer da cura.
MANUEL LOFF

PÚBLICO, 18 de Março de 2020
Não, não é minimamente proporcional! Não, não é aceitável que o Presidente da República finja que se esqueceu de tudo quanto escreveu sobre Direito Constitucional democrático e, intimidado pelos Torquemadas todos que difundem o vírus do pânico e acusam de “cobardia” quem não está em pânico como eles, se coloque à frente do partido do alarmismo e banalize o recurso ao estado de emergência num momento em que não há qualquer indício social de desprezo pelas medidas sanitárias já impostas!
O Presidente faz mal em dar ouvidos aos alarmistas (autarcas, académicos do “eu bem vos avisei”, Chicões e influencers do terror social no Facebook) que, depois de fecharem milhões em casa (ajudando a que quem é já portador do vírus contamine depressa os seus conviventes forçados 24/24 horas), se horrorizam com gente a correr ao ar livre ou sentada num parque público, e que, só por isso, quer polícias e soldados transformados em gestores improvisados de saúde pública, a deterem cidadãos pela rua. Era bem melhor que, por cima da sua idiossincrática visão da doença e da saúde (cada um tem direito à sua, mas o Presidente de uma República não tem o direito de a impor sem boa fundamentação científica e ponderação política), ele ouvisse mais a Direcção-Geral da Saúde, gente que lhe explique o necessário equilíbrio entre medidas de contenção e esse mínimo de vida social e afectiva que permite produzir, distribuir, assegurar a vida daqueles a quem se recomenda ficar em casa.
Ou será que o Presidente também quer mandar para casa quem trabalha? Não se dá ele conta que o estado de emergência só vem aumentar o estado de alarme social que serviu de justificação para o encerramento de tudo quanto é público, fazendo com que aqueles que têm mantido o país a funcionar se perguntem porque não podem/deveriam eles fechar-se em casa também? Julga ele que o estado de emergência aumenta a segurança sanitária para quem tem, deve, continuar a trabalhar? Quando o número de casos continuar a subir (como sobe em Itália desde que se impuseram as medidas de restrição absoluta à mobilidade, ao mesmo ritmo que subia sem elas), não percebeu ele que o partido do pânico clamará que “isto não está a funcionar!” e vai pedir que se parem transportes públicos, se fechem fábricas, se imponha o recolher obrigatório, se limite a uma hora por dia a saída de casa? Cedeu-se ao pânico uma vez, ceder-se-á sempre...
Não, sr. primeiro-ministro, não diga que “sempre que o Presidente assim considerar, o Governo cá estará para executar essa ordem”! Diga-lhe não, agora, para não ter de lhe dizer sim cada 15 dias, quando, perante uma situação inevitavelmente pior que a actual, o Presidente continuar a insistir que há que renovar o estado de emergência, ou pedir um upgrade para o estado de sítio! Não, não deixe que o partido do pânico venha pedir a revisão da Constituição para permitir tornar permanentes excepções que só se deviam permitir por 15 dias! Não, peça à Assembleia da República que não deixe que o homem dos afectos se transforme em contagiador de pânico! Se ao fim de uma vítima mortal já aqui estamos, como estaremos ao fim de cem? Não nos deixe morrer da cura.
Historiador

COMENTÁRIOS
Bruno Sommer Ferreira INICIANTE: Lamento, mas discordo totalmente. As curvas de contágio de países afectados antes de nós são claras. Recebo diariamente mensagens de colegas em universidades italianas e são todas unânimes: “não cometam o nosso erro, aproveitem o tempo de alerta que tiveram e parem já o contágio e tentem evitar o colapso do sistema de saúde. Não queiram chegar a um ponto em que um médico tem de decidir quem salva e quem deixa morrer por falta de meios”. Não é ceder ao pânico. É responsabilidade e não fazer como a avestruz, neste caso, equivalente a espalhar doença e morte, um crime dada a informação que temos para levar isto tudo a sério.  18.03.2020
Manuel AR INICIANTE: Caro Manuel Loff quando afirma no seu artigo que "num momento em que não há qualquer indício social de desprezo pelas medidas sanitárias já impostas!" é porque não percorre esta cidade em alguns locais onde a irresponsabilidade impera. Posso indicar-lhe alguns. E aqueles que fugiram, já contaminados, de outro lados para Lisboa e se hospedaram em grupos nos alojamentos locais e em casas arrendadas ao dia. 18.03.2020
James Parsons INICIANTE:  Que artigo ridículo. O problema de fechar em casa é contaminar os conviventes?? E se as pessoas não ficassem presas em casa, o contágio com a mulher e filhos não ocorre com igual facilidade? Infelizmente não há responsabilidade social e daí a infeliz necessidade do estado de emergência, o café da minha rua já de si bastante pequeno está a abarrotar de gente! 18.03.2020
BRUNO MARQUES INICIANTE: Mais um que não sabe o que significa crescimento exponencial... 18.03.2020
FERNANDO RODRIGUES INICIANTE: Muito bem... O Presidente precisa de se acalmar e reflectir. 18.3.2020
José Teixeira, cidadão mais descansado por saber que o SNS está a ser defendido pela Margarida Paredes INICIANTE: Este lunático não deve estar a ler o mesmo que todos nós sobre a maneira de combater o vírus. É igual ao Bolsonaro. Que clichê, os extremos a tocarem-se... 18.03.2020
Jorge Sm MODERADOR: Bem. 18.03.2020
pg INICIANTE: Parabéns! 18.03.2020
rodrigos INICIANTE :Eis o epidemiologista céptico, que, tal como o ambientalista céptico descrê da necessidade de medidas de redução de CO2 contra o consenso científico geral, também não se convence da necessidade de tomar medidas sérias contra a epidemia…"é só uma gripe", noutra versão...mas ontem o Presidente da Faculdade de Medicina de Lisboa dizia "Sr. Presidente, feche o país". Será alarmismo? 18.03.2020
Sofia Gomes INICIANTE: Essas medidas sérias já foram tomadas. 18.03.2020

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