Julgo que a nossa entrada na União
Europeia nunca foi por princípios, mas sim por penúrias. E hoje prossegue. Que poderia
fazer o nosso Costa? Estender a mão, está visto, coitado,
coitadinho, coitadíssimo… e isto é plural, adapta-se a todos nós…
Os princípios por um punhado de euros /premium
A cedência de Costa a Orbán é uma
vergonha. Quem se deixar comandar pelo realpolitik, seja o motivo dinheiro ou
conveniências partidárias, acabará a sacrificar o que de mais valioso há na
política.
ALEXANDRE HOMEM
CRISTO
OBSERVADOR16 jul
2020,
Para que serve a União Europeia? Há
uns anos, a resposta teria forçosamente que ver com valores democráticos, paz
entre nações, direitos sociais e prosperidade económica. Hoje, na cabeça dos
líderes políticos, talvez a resposta mais genuína seja o desenho de um
porquinho mealheiro: o projecto europeu reduziu-se a um fluxo de financiamento
indispensável à acção governativa, à volta do qual compensa mendigar em
momentos de aperto. E seo dinheiro
agora fala mais alto, isso traduz a convicção de que não há nada que
não possa ser comprado. Incluindo os valores políticos que nos definem enquanto
comunidades livres, plurais e cosmopolitas.
Há episódios que acerca disso são
exemplares. Como este: esta semana, em Budapeste, o primeiro-ministro António Costa
submeteu-se à chantagem de Viktor Orbán. O líder húngaro ameaçou
bloquear um acordo europeu sobre o programa de recuperação financeira, de modo
a que o Estado de Direito deixe de ser uma condicionante na atribuição de
fundos comunitários. E António Costa, para promover rapidamente uma solução,
aceitou a posição negocial da Hungria, assumindo que as violações de direitos
devem ser abordadas como previsto nos tratados, com base no artigo 7.º, e
portanto não devem servir como critério de penalização na distribuição de
fundos europeus. O ponto, como explicou ui Tavares no seu artigo de opinião no Público, é que a
aplicação do artigo 7.º está inviabilizada: “precisa de uma unanimidade que
jamais existirá, porque a Polónia e a Hungria exercem vetos cruzados para se
salvarem mutuamente de esse processo chegar a qualquer termo”.
Numa frase, António Costa disse a
Orbán e à UE que está disponível para fechar os olhos ao que se passa na
Hungria. E porque ninguém o havia dito nestes termos até então, Costa pagou o
preço político dessa cedência, tornando-se o exemplo vivo de como Viktor Orbán
continua a somar vitórias no contexto europeu. Mesmo
que o seu artigo de resposta a Rui
Tavares tente uma negação dessa submissão à vontade do húngaro, está
ali uma confissão envergonhada de quem acha que fez o que tinha de ser feito —
por mais que isso lhe desagrade. Chamem-lhe realpolitik. Contudo, não
passa de uma derrota: Orbán vai exibir internacionalmente a posição de António
Costa como trunfo. E, daqui a uns meses, Portugal assumirá a Presidência do
Conselho Europeu sob desconfiança de todos, pois a sua credibilidade externa
ficou definida por um punhado de euros.
Dir-me-ão que o país precisa com
urgência do dinheiro do fundo de recuperação e que, por isso, Costa tinha pouca
margem para negociar diferentemente. Sim, precisa, e sim, agora talvez tivesse.
Mas a falta de alternativas actuais resulta de uma estratégia para a Europa que
tem sido um desastre, acto após acto. Há anos, Portugal optou por ignorar os
países do Leste nas suas negociações. Há algumas semanas, num tom
moralista, António Costa apelidava de “repugnante” o discurso do ministro das
finanças holandês, argumentando com os valores da solidariedade europeia. Há
uns dias, o governo fazia voz grossa a parceiros europeus que não davam
Portugal como um destino seguro. E, agora, legitima a posição húngara,
desviando o olhar dos sucessivos atropelos de Orbán à democracia no seu país.
A contradição é apenas aparente: em todas estas circunstâncias recentes,
António Costa adoptou a posição de oportunidade que achou adequada para, no
curto prazo, maximizar os seus ganhos. Só que jogar no curto prazo não equivale
a ter uma estratégia — fica-se sempre na mão dos outros.
A política é a arte do possível e
frequentemente obriga a aceitar compromissos que estão longe das nossas
posições de partida. Não o ignoro e não estou a sugerir que é fácil
ter, neste contexto europeu, um relacionamento dignificante com Orbán e o seu
partido, inserido no Partido Popular Europeu (família europeia de PSD e CDS-PP).
Mas algures tem de ser traçado um limite. Orbán é primeiro-ministro desde 2010,
há vários anos que os seus abusos são denunciados pelas instituições
europeias e está actualmente em curso um processo por violação dos valores
europeus. Mais: depois de haver um reconhecimento internacional da
degradação dos direitos sociais e políticos na Hungria, estes meses de
pandemia foram aproveitados por Orbán para ampliar os seus poderes,
asfixiando qualquer mecanismo de fiscalização ou prestação de contas. Ora, não
se pede a António Costa que resolva o problema húngaro, mas apenas que não
contribua para a sua perpetuação.
Perante este cadastro, não há como
escapar à sentença de que a cedência de Costa a Orbán foi uma vergonha — como
vergonhoso é ver quem à direita (como aqui o CDS-PP)
tapa os olhos à situação na Hungria. Muitos acharão que, num ou no outro caso,
são vergonhas necessárias e impostas pelas circunstâncias. Mas na crise em que
vivemos, quem se deixar comandar pelo realpolitik, seja o motivo dinheiro ou
conveniências partidárias, acabará a sacrificar o que de mais valioso há na
política: a credibilidade na promoção dos valores e princípios das sociedades
livres. E, quando uns e outros valerem nada, já não haverá dinheiro que nos
salve.
COMENTÁRIOS
Cruzeiro
O Verdadeiro: Cristo,
excelente campanha digna de um estradista, que pena seres só escrevinhador de
estórias. Mas tens
público, não sei é se terás futuro.
Euro de Eos: É caso para
dizer que os portugas, por uma vez heróis e mártires, preferem derrubar Orban a
defender os seus próprios interesses. Portugal parece ter cada vez mais pessoas
à imagem do Papa Chico e da Madre Teresa de Calcutá. Por mim prefiro de longe
um negociante tipo Feira da Ladra mas eficiente, à cigano ou à indiano, já que
nos faltam os judeus para negócios em grande. Como eu apoio o Orban, por comparação, e o guito da
Merkel, não acho que devem deitar tudo a perder só por causa do Orban não
querer lá imigrantes. Isto porque Portugal quase nada produz de jeito nem
produzirá.
Carlinhos dos Rissóis: É simples de
entender a lógica socialista. Se o dinheiro não vem da Economia (crescimento
anémico e por isso insuficiente para alimentar a máquina), tem que vir forçosamente dos
fundos e da "solidariedade" europeia. Se for preciso, vende-se a avó, o gato, o cão, a
dignidade e verticalidade. Também é verdade que não se pode vender o que não se
tem...Mas há quem o faça... Tudo na maior e com a mais olímpica das
descontracções. O socialismo não é uma ideologia. Nada tem de ideológico. É uma
forma de vida e de estar na vida - com imensas semelhanças com o chico-espertismo
- em que a verticalidade, a coerência, a dignidade e a vergonha não constam do
cardápio.
Paulo Silva: Esta crónica
que a princípio aparentava ser um juízo moral do traço de carácter do político
Costa, revelou ser apenas mais um ataque cerrado a Orbán e à Direita... Não
conheço a fundo a situação na Hungria, mas por certo não será pior que a da
‘democracia’ da Venezuela bolivariana onde os ‘colectivos’ aterrorizam as
populações que se opõem ao tirano Maduro. Mas da punhalada nas costas do Zé
Seguro à venda da alma aos amigos da geringonça (e de Cuba, da Venezuela, da China e da
Coreia do Norte) pelo sr. poucochinho, nem uma palavra. Os princípios de um
arrivista são os de um arrivista… e os comportamentos de um jornalista tolhido
pelo politicamente correcto, são os que são.
josé maria: Rui Rio
concorda com Costa sobre Hungria. Diz que resposta à pandemia "não é
momento" para avaliar democraticidade na UE
Viriato Afonso: Desengane-se
quem pensa que as atitudes dos lideres deste sitio mal frequentado não são
registadas lá por fora. Curiosamente, nenhum dos nossos parceiros europeus
corre para parabenizar o Sr. Costa por se dispor a ser o idiota util do Órban.
Para quem não se deu ao trabalho de ver o link do
artigo para o Politico, aqui fica a parte relevante. Diz tudo, e o que diz não
é bonito.
"PRICELESS
VALUES: Matters pertaining to “liberty and the rule of law” should not be
dealt with in the EU’s budget negotiations, Portuguese Prime Minister António
Costa said after meeting with Hungarian Prime Minister Viktor Orbán in Budapest
on Tuesday. Costa told Portuguese broadcaster RTP that “the recovery program
negotiations are another matter altogether,” really, adding: “Values are not bought.”
GOOD
MORNING. Somebody seems a little worried here that a potential Hungarian veto
might delay the horn of plenty being generously emptied over Portugal. No, no,
values are not bought … but it looks as if they were for sale."
João Porrete: Completamente
contra esta opinião. Andar a fazer chantagenzinhas porcas contra a Hungria ao
arrepio dos tratados é que é errado. Se a Comissão ou outrem estão zangados com
a Hungria, têm duas hipóteses: ou usam os instrumentos dos tratados, ou mudam
os tratados, embora neste último caso obviamente tenham que pedir à Hungria o apoio. Resta por isso usar
os instrumentos dos tratados. Afinal,
Orbán é popular no seu país e pouca gente acha que ele não traduz o pensamento
nele maioritário. Mutatis mutandis, eu também não gosto de Costa e do PS mas
sou obrigado a reconhecer que ele tem grandes apoios no meu país, mesmo se em
muitas ocasiões as suas acções são de duvidosa conformidade ao espírito da lei.
Mas a verdadeira razão deste ostracismo a Orbán é ele ser anti-imigração
muçulmana, anti-aborto e antiglobalização à la Soros. Pessoalmente concordo com
ele nestas três coisas: na primeira porque acho que vai acabar em banho de
sangue na Europa; na segunda porque não sou a favor da execução de inocentes, e
na terceira porque Soros promove uma ideia de globalização oposta ao valores
tradicionais do cristianismo, além de ser um hipócrita refinado.
Fernando
Ribeiro: Desde quando os princípios norteiam o
que quer que seja na política?
João Pimentel Ferreira: Em qualquer
caso digo que o povo húngaro jamais compreenderia que a UE não o apoiasse,
quando apesar de tudo Orban foi eleito democraticamente. Seria uma punição
europeia que o povo húngaro não encararia de ânimo leve. Carlitos Sousa > João Pimentel Ferreira: Subscrevo.
Viriato Afonso > João Pimentel Ferreira: Certo. Mas a questão aqui não é que mecanismos devem
ser utilizados para lidar com os atropelos da Hungria ao estado de direito
(algumas de resto com paralelos em Portugal sob o patrocínio do Sr. Costa). É
antes o facto do nosso moralmente superior PM se desviar de um rumo que devia e
podia ser neutro nesta altura para ir humilhar esta coisa que passa por um país
por dinheiro. Ninguém o obrigou a visitar o Órban nem a proferir as declarações
que proferiu (e que já se viu na obrigação de tentar justificar).
josé maria > João Pimentel Ferreira: Verdade. Os húngaros não devem ser prejudicados pelo
mero facto de serem governados por um proto-fascista. antonyo antonyo > josé maria: Que
elegeram ... e esta ?
João Pimentel Ferreira: Costa é um
verdadeiro advogado: calculista, malabarista, ardiloso e artista (no sentido
pejorativo). Alguém sem quaisquer valores ou princípios.
josé maria > João Pimentel Ferreira: Em qualquer caso digo que o povo húngaro jamais
compreenderia que a UE não o apoiasse, quando apesar de tudo Orban foi eleito
democraticamente. Seria uma punição europeia que o povo húngaro não encararia
de ânimo leve.
João Pimentel Ferreira: Olhe que você
é que tem muito jeito para malabarista...É capaz de dizer o mesmo e o seu
contrário com uma velocidade estonteante... Essa flagrante contradição faz parte dos seus
princípios éticos ou da sua idiossincrasia?
josé maria: Os húngaros
não se confundem com o proto-fascista Orbán, tal e qual como os alemães não se
confundiam com o Hitler. É assim tão difícil de perceber, AHC ? Já agora, uma
simples perguntinha: acha que um órgão de comunicação social, que faz censura
sistemática e antidemocrática às intervenções dos seus comentadores, merece
algum apoio estatal? A troca dos princípios por um punhado de quê? Silenciamento
das posições discordantes?
Carlitos Sousa > josé maria: Desta vez estás sem razão. Quem confundiu Orbán com os húngaros (que até
livremente votaram Orbán), foi o Costa malabarista, que os queria penalizar
recusando os fundos. Quanto à censura no
Observador, não creio. Tenho visto todo o tipo de tendências, e até uma
entrevista com o extremista
Carlos Monteiro: O problema de Costa é o medo de ter de falar em
austeridade. Também sabe que os partidos seus apoiantes pouco se importam com a
Hungria, o que será preciso é o dinheiro vir, para evitar que algumas regalias
de quem vive da política não sejam cortadas.
bento guerra: "Politica é vender votos", disse-me uma vez o Guterres, discípulo
do Soares e mestre do Sócrates (antes de a Ana Ferreira ser contratada como
empregada da limpeza)
Ana Ferreira Nas circunstâncias extremas actuais, e sobretudo das que aí vêm, de grande
sofrimento para os que menos podem, fazer depender a ajuda indispensável para o
mitigar da defesa de princípios, seguramente muito importantes, mas apesar de
tudo menos que o desespero da fome, seria pouco sensato e perigoso. Acresce que
os agora tão preocupados com a democracia são os mesmos que, ao contrário de
Costa e do PS, campeão nessa matéria, têm por hábito desrespeitá-la!
Marta Martolas > Ana Ferreira Está a tentar defender o indefensável. Todos
percebemos o seu desespero ao tentar defender o seu Querido Líder.
Asdefo da silva > Ana Ferreira: O problema é quando uma ministra do Costa afirma que
vai criar uma polícia política para perseguir, censurar e punir quem não pense
como o governo português pensa, e o Costa fica calado.
A partir daqui já não pode ficar ao "lado dos que exigem condições
democráticas" pois ele próprio não as cumpre...
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