São de vária espécie e a da coscuvilhice
não deixa de ser uma delas. João Miguel
Tavares deseja ser imparcial nesta questão das responsabilizações do
sobe-e-desce pandémico, mas os comentadores criticam, na sua maioria, com
argumentos sensatos.
OPINIÃO
Combater a pandemia sem ceder à histeria
É descabido andar a apontar o dedo ao governo só porque
se avistou a barriga de António Costa numa praia. O grande pecado do governo
não é o número de contaminações, mas as péssimas explicações.
JOÃO MIGUEL
TAVARES
PÚBLICO, 27
de Junho de 2020
Há
tantas boas razões para dizer mal do governo – para quê escolher as más? Há a mumificação
do ministro da Educação, a descoordenação da Direcção-Geral de Saúde (os
conselhos para a noite de São
João com 24 horas de atraso são um mimo de centralismo e incompetência), a
politização progressiva das intervenções de Graça Freitas, a habitual propaganda
governamental em contraponto com os sinais cada vez mais alarmantes da economia
portuguesa; há até os maus exemplos do25 de Abril e do 1.º de Maio. Mas
havendo tudo isto, já é perfeitamente descabido andar a apontar o dedo ao governo
pelo número de contaminações que se registam neste momento, só porque o
primeiro-ministro foi a um concerto ou se avistou a barriga de António Costa
numa praia.
Convém
sermos selectivos nas indignações, para não acabarmos como os maluquinhos das
praças, a resmungar contra o mundo das oito da manhã às oito da noite. Convém
também ter um mínimo de coerência, e acreditar nas palavras que nós próprios
pronunciamos. Como estas: a covid-19
vai estar entre nós durante muito tempo e só será debelada com uma vacina ou
com imunidade de grupo. Se acreditarmos nisto, e era bom que acreditássemos,
então a curto e a médio prazo estaremos inevitavelmente envolvidos num jogo de
tentativa-erro e num equilíbrio precário entre abertura e encerramento,
conforme a pandemia for evoluindo.
O país fechou quando devia ter
fechado, e quando reabriu (15 dias atrasado, na minha opinião) o governo
esforçou-se por sublinhar a necessidade de retoma do consumo. Fez muito bem. A mensagem correu mal? Não me parece. Embora o
número de novos casos continue elevado, a verdade é que os números que mais
importam – os internamentos e a ocupação de camas nos cuidados intensivos –
estão perfeitamente controlados e estabilizaram nas últimas semanas. O
problema é outro: embora as pessoas saibam que a doença não vai ser erradicada
tão depressa, depois agem como se ela devesse desaparecer até à hora do jantar. Lamento muito. Não vai acontecer. Já o disse mil
vezes, mas posso sempre dizer mil e uma: temos de aprender a viver com a
covid-19. O
desafio é tentar alcançar o máximo de normalidade sem que as infecções se
descontrolem e provoquem o colapso do SNS.
Não
é só porque determinado indicador sobe que devemos logo apontar o dedo a
António Costa. O governo
tem controlo sobre muita coisa, mas não certamente sobre todas as formas de contaminação
do vírus; e ninguém deseja ter em cima de si a pata de um Estado à chinesa, que
se for preciso até nos entaipa dentro de casa. Aquilo que todos vemos nos mapas
das novas contaminações não é um sinal (directo, pelo menos) do desleixo do
governo – é um sinal da pobreza do país. Como seria de esperar, a pandemia europeia começou
nas estâncias de ski finas de Itália e acabou nos bairros degradados das zonas
metropolitanas.
O grande pecado do governo não é o número de contaminações, mas as
péssimas explicações. Os
surtos que supostamente nasciam nas festas de betinhos desgovernados, afinal
pegaram de estaca nos bairros pobres, na construção civil, nos transportes
suburbanos lotados; nos meios onde o gel desinfectante é um luxo e o
distanciamento social uma miragem. O problema é estrutural, não é individual. Os mapas portugueses da covid-19 são hoje os mapas da
pobreza, o que não é mais do que a evidência daquilo que sabemos há muito: a
pandemia é profundamente desigual e o confinamento Netflix será sempre um
privilégio burguês.
Jornalista
TÓPICOS
Gustavo Garcia MODERADOR:
Pois, JMT... Aqui há uns meses o governo estava mal
porque confinava e os números menos maus daí resultantes eram porque o vírus
não era assim tão mau. Agora, que o governo desconfinou (e mal, como é mais que
evidente) e as coisas estão a correr mal, o problema não é o desconfinamento,
nem o víruis ser mau (como evidentemente é) mas as explicações não serem as que
o JMT quer... Isto é muito simples, o confinamento ajuda a combater a pandemia,
a histeria dos prejuízos económicos que levou ao desconfinamento tem este lindo
resultado. Combater a pandemia Covid-19 nem é difícil, como se viu. Difícil é
combater o vírus do dinheiro... 27.06.2020
art.moura.893787
INICIANTE: Ser cronista num diário é tramado. Porque o cronista é forçado a
surfar a espuma dos dias e depois tem de mostrar que é imparcial. No entanto,
todo o cronista tem o seu estado de alma e todo o cronista, quando os dias são
monótonos e pouco inspiradores só tem uma saída: há governo? Sou contra. Pelo
menos garante umas simpatias partidárias e a adesão de uns quantos desiludidos
da vida, para além dos que adoram teorias da conspiração e se julgam destinados
a grandes voos. No fundo, o cronista da imprensa escrita dos dias que correm
vai estiolando com a queda de leitores e com falta de memória, a
"presentificação" do mundo. O passado passou e o futuro é amanhã, o
que se passa hoje é o mais importante. As regras são as que faço agora, o olhar
é o que vejo agora. São raros leitores de 15 anos.
Paulo Jorge Soares Félix INICIANTE: Neste momento o que critico é,
aparentemente, não termos instrumentos legais para obrigar Pedrosas e companhias
afins a repor imediatamente 100% da oferta nas áreas onde a maior parte da
população depende das empresas privadas de transportes públicos para se
deslocar diariamente
AAA_ INICIANTE: Esta crónica é bastante ingénua. Não me
venha dizer que este recrudescimento dos casos não é culpa do governo porque
nunca tinha lidado com uma pandemia destas. E os outros governos de outros
países, já tinham lidado? Porque aparentemente estão a lidar melhor com a
situação. Se não fosse assim, não estávamos apenas nós e a Suécia a ser
barrados nas fronteiras, não é verdade? O governo nunca tem culpa de nada. Nos
incêndios é a mesma coisa. A culpa é da floresta e do abandono rural. Os outros
países também têm floresta mas só a nossa é que arde. Quem raio faz as leis? É
tempo de exigir competência. É tempo de exigir acção. Acção que surpreenda, que
vá à frente dos acontecimentos, não atrás do prejuízo. Ou servem só para cobrar
impostos e prestar um serviço público cada vez pior? 27.06.2020
Luís Cunha.909630 INICIANTE: Isto não parece estar a
correr bem, mas também quando estava a correr bem não pareceu ser por causa do
Governo. No fundo andamos entre o 8 e o 80, uma das características nossas que
é termos dificuldade em encontrar um meio termo realista e duradouro. Mas
alguém acreditou que Portugal ia ser um exemplo no combate à Pandemia a longo
prazo?
Anarquista Inconformado.904435 INICIANTE: Adoro ler as elucubrações,
dos especialistas que sempre catalogaram este vírus de uma gripezinha. Tristes.
27.06.2020
Animação e descanso INICIANTE: JMT pena ainda alinhar na lengalenga da
“pandemia” quando sabe perfeitamente que esta é um logro, completamente
irrelevante do ponto de vista estatístico ou medicinal. Última novidade, o
vírus já estava em Barcelona em março do ano passado, e como atentam
estatísticas a mortalidade não mudou desse ano para cá, simplesmente há um
hiper foco neste vírus “novo” usado para etiquetar todo o tipo de mortes
JDF EXPERIENTE: "Dizer mal do governo":
expressão não fica bem. Mas concordo em abordarmos as devidas razões para a
crítica, e não outras menos pertinentes para mostrar o mal do mundo.
Nestor Robalo INICIANTE_ Mais do mesmo... JMT é mesmo o rei da
contradição!... O que diz há uns dias sobre este mesmo assunto desdiz na maior
logo a seguir! O que este malabarista é capaz de fazer para ficar à tona e
procurar protagonismo político!
Nestor Robalo INICIANTE; Caro Coimbra, olhe que sim... O que até é
normal quando se comenta tudo e mais alguma coisa, nomeadamente o que não se
sabe, como é o caso deste “comentador”...
INICIANTE Seria
importante que os jornalistas fossem avaliar a frequência e o número de
comboios na linha de Sintra e Azambuja. Talvez esteja aí a explicação para a
situação que se vive na zona de Sintra e Amadora. Quase 1 mês depois do
desconfinamento (espero não irritar o Sr. primeiro ministro com a expressão),
vai agora o metropolitano fazer o “controlo do volume de passageiros e reforçar
a sensibilização para se manter o distanciamento social e a obrigatoriedade do
uso de máscara”, mas a partir de 2ªf (5ª e 6ªf fizeram um acordo com o vírus…).
Nada a ver com as fotos de carruagens lotadas que apareceram nas redes sociais!
Leclerc INICIANTE JMT, você é muito crédulo “os
internamentos e a ocupação de camas nos cuidados intensivos – estão
perfeitamente controlados e estabilizaram nas últimas semanas”. Eu comi um
frango, o Manel fez jejum, em média comemos meio frango. Se a situação está
mais ou menos controlada no país e mais ou menos descontrolada na região de
Lisboa, é evidente que a ocupação de camas está controlada, em média… Mas se
analisarmos a situação da ocupação das camas na região de Lisboa, a imagem não
será tão equilibrada. Sabia que em Espanha, no pico da crise, estiveram mais de
2.000 camas de cuidados intensivos livres? Mas não eram em Madrid, País Basco
nem na Catalunha!
Nuno Silva EXPERIENTE: Os verdadeiros heróis do
combate ao vírus badalhoco Covid são aqueles que tiveram que trabalhar este
tempo todo, para que não nos faltasse nada, e não me estou a referir aos heróis
da saúde e autoridades, indústria alimentar ou transportes. Estou a referir-me
a quem trabalha nas limpezas e higiene, eternamente esquecidas (os)...
Mario Coimbra EXPERIENTE Caro JMT, não concordo
consigo neste caso. O problema é que os números são elevados. Repare noutros
países similares, Bélgica, que está pior em valores totais mas onde o
desconfinamento está bem mais controlado. Os nossos números deveriam hoje estar
abaixo dos 100 casos, e estão nos 400+. O meu desconforto com isto está no
facto de não se terem dado as condições para quem sempre precisou de trabalhar
não fosse apanhado. Mais transportes públicos, mais máscaras e gel de borla
para os locais mais necessitados etc. Nestes locais onde se pensava que estava
tudo mais ou menos controlado...eis que não. Mesmo que tenhamos que viver com
isto até existir uma vacina...devíamos estar melhor do que estamos. E culpar
umas festas é importante para exemplo mas não é o problema de raiz.
cidadania 123 INICIANTE É verdade que o governo não consegue
controlar a postura de cada um perante o necessário distanciamento social,
medida essencial para vivermos com o vírus no médio prazo. E se efectivamente
houve certos grupos na sociedade que, apesar de quererem, não tinham como
cumprir as medidas, outros houve que simplesmente as ignoraram e não tiveram
qualquer preocupação social , porque vivem no afrontar das regras, no boicotar,
e não conhecem a civilidade ou o altruísmo. O governo tem culpa quando teme
atacar o problema onde ele está. Prefere criar restrições a todo um concelho do
que a um bairro ou prédio, mesmo que essa fosse a medida mais racional e com
menor impacto. Só que não seria politicamente correto e pareceria
discriminação....
A INICIANTE JMT enfia a cabeça na areia como a
avestruz. Procure na internet por "An interactive visualization of the
exponential spread of COVID-19" e verificará que, quer em valores
absolutos quer per capita, o desconfinamento português foi o mais desastroso
da Europa; um mês adiantado, se quer pôr as coisas assim. Se, para JMT, ser
coerente é não ter o pai ou a mãe num grupo de risco ou infectado, sim, JMT é
coerente. Para quem tem, é uma caricatura de falta de empatia e de
propagandista r(v)endido aos interesses dos centros comerciais. E continua a
falar de imunidade de grupo quando já se sabe que a maioria dos recuperados
perde anticorpos à covid-19 em dois meses...
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