sábado, 11 de julho de 2020

Sim, mas…



Eles lá se entendem, esses partidos da esquerda, e nós outros vamos na leva, amansados que somos, cada qual a fazer pela vida, confiantes, sem grande orgulho, e aceitando o domínio e a batota, a que se junta a consciência de que o que queremos é paz e sossego, a maioria contentando-se com pouco, e, apesar de tudo, amando o nosso pequeno rectângulo, tenha os defeitos que tiver, mas alegre e generoso, a deixar saudades, pequeno, sim, simplório, definido elementarmente, desde o início, nos dizeres singelos da cantiga de amigo do rei Sancho I, “Ai eu, coitada, como vivo, em gran cuidado por meu amigo que tarda e não vejo: Muito me tarda o meu amigo na Guarda.” “Não somos nada, nunca seremos nada.” Não gostamos muito de nós. “À parte isso”… Não deixamos de sentir o mesmo que todos sentem em relação ao seu próprio país, vibrando com o que de bom dele conhecemos, os seus escritores e artistas, e nos fizeram sentir algum orgulho por sermos portugueses, ainda que mesquinhos, como o dá sempre a entender Alberto Gonçalves, sem rasuras nem retornos. O Dr. Costa cá dentro manda, mas lá fora terá que engolir os seus sapos, como representante nosso, no ridículo de uma submissão resultante da nossa tragédia do pouco poder económico e do pequeno orgulho dependente.

O povo merece a arrogância do PS /premium
O interessante é perceber que o dr. Costa manda no PS, o PS manda no Estado e, é sabido, o Estado somos nós, que andamos a reboque de uma quadrilha com planos de dominação absoluta.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 11 jul 2020
Este ano, por razões que não vêm ao caso, tenho passado boa parte do meu tempo numa cidade portuguesa que não aquela em que nasci, cresci, vivi e, parcialmente, ainda vivo. A minha cidade sempre foi socialista, ou seja, lá os residentes votam no PS para a autarquia e para o Parlamento. O PS distribui empregos, habitações “sociais” e demais benesses. O PS influencia os negócios particulares, os quais, se valerem a pena, não acontecem à revelia dos caciques locais. O PS é a rede inevitável a que vão parar as ambições, as ilusões e as esperanças de promoção social. Etc. É assim há 45 anos.
Na outra cidade de que falo não era assim. Vista ao longe, como eu a via, a cidade não parecia coutada de um partido. Além de um triunfo do CDS, o PSD vencia a maioria das eleições, o PS ganhava as restantes. Hoje, que estou aqui com frequência, descubro dia após dia que o PS controla a câmara, as freguesias, as escolas, as associações, as obras, as igrejas, o comércio, os semáforos, a “cultura”, a horticultura e por aí fora. Não é comigo. Graças a Deus, e a bem da higiene, o meu contacto com essa realidade limita-se aos testemunhos, indignados ou resignados, de interpostas pessoas. Através destas, vou conhecendo a existência de criaturinhas medonhas, sem escrúpulos nem letras nem vergonha, movidas exclusivamente pela ânsia de agradar ao partido e, no processo, realizar sonhos ridículos. É um universo repulsivo, repleto de boçalidade e prepotência, de ignorância e desonestidade, de vénias e humilhações. E se é um universo pequenino, não acho excessivo imaginar que constitui amostra razoável do país. Um país onde o PS está próximo de tomar conta de tudo.
Exemplos são inúmeros. Dou um. Esta semana, acabaram as reuniões periódicas no Infarmed. Porquê? Porque o dr. Costa, que na penúltima reunião se viu desautorizado pelos factos, o decidiu. Na altura, enxovalhou a ministra da Saúde (que agradeceu e merece o enxovalho) e bateu com a porta. Agora, terminou sumária e arbitrariamente com uma fonte perturbadora da propaganda acerca da Covid.
Não vale a pena comentar o carácter e a educação do dr. Costa, ambos nulos. O interessante é notar o puro despotismo. O interessante é perceber que o dr. Costa manda no PS, o PS manda no Estado e, é sabido, o Estado somos nós, que andamos a reboque de uma quadrilha com planos, em acelerado curso, de dominação absoluta. Quase sem oposição partidária, contraponto institucional, escrutínio jornalístico e a um passo de abolir qualquer dissensão pública, o dr. Costa e seus comparsas subjugaram-nos aos respectivos desígnios. É a concretização da política do quero, posso e mando, o chavão do PCP que os comunistas deixaram de usar a partir do momento em que se juntaram ao assalto. Escuso de referir a corrupção, o compadrio e os defeitos endémicos que hoje se exibem à luz do dia. Quando o autarca de uma capital resolve pintar o chão de cores bonitas e não é imediatamente internado, isto já não se assemelha em nada a uma democracia. As ditaduras começam pela trafulhice, evoluem com a arrogância e consagram-se na demência.
Com os subornos certos aos pelintras certos, nos partidos, nos “media” e no que calha, é claríssimo que o PS conquistou, no sentido bélico, os portugueses. A culpa é do PS? Lamento, mas a culpa é dos portugueses. Por muito que apreciassem o método, os socialistas não apontam uma pistola a ninguém para obrigar a apoiá-los nas sondagens, a tolerar asfixias fiscais, a aplaudir planeamentos leninistas, a subscrever a censura das opiniões, a rir “com” e não “de” palhaços, a respeitar as ordens de “autoridades” meramente grotescas, a admitir a transformação da vida em comum no quintal de um bando de matarruanos. O poder ilimitado do PS advém da ilimitada propensão dos portugueses para a submissão. E quanto maior o poder, maior a submissão, que é voluntária e não é particularmente incómoda. É preciso imaginar os portugueses felizes, ou no mínimo contentinhos.
Recentemente, perguntaram-me se eu via maneira de a “situação” mudar. Respondi que sim: a miséria. A descida do país a uma miséria tão avassaladora que subverta os fundamentos do que somos e nos atire para o desespero sem regras. Acrescentei que, não sendo um cenário improvável, não é um cenário desejável – mesmo que para varrer com o PS. A alternativa, enquanto houver dinheiro alemão para distribuir e impostos para pilhar, é o domínio do PS perpetuar-se. E crescer. Convém não ignorar o efeito avalanche: à medida que a bola de neve engorda, mais neve se junta ao todo. Os portugueses, dependentes e infantis, são os flocos de neve desta história, ávidos por se associarem aos que estão por cima – por cima deles, evidentemente. Está-nos na pele, e sai-nos do lombo.
Entre o totalitarismo e o caos, o destino pátrio é incerto e não se recomenda. A única certeza é a de que a democracia tem os dias contados. Era humilde, esfarrapada, coxa e burlesca, coitadinha. Mas era a nossa democracia, de qualquer modo preferível a três quartos dos regimes em vigor na Terra. O que virá, e está a instalar-se a cada momento, será bastante pior. Uma série deliberada e fortuita de circunstâncias favoreceu o casamento perfeito da vocação dos socialistas para sentirem donos da ralé com a vocação da ralé em servir. Uns 85% das intenções de voto vão para o PS e para as forças “colaboracionistas”. É pena que nas próximas “legislativas”, doravante um ritual dispensável, o PS sozinho não atinja essa marca: ao menos expunha-se a farsa. Entretanto, o PS vai estrangular-nos até ao último cêntimo, e pisar-nos até ao último assomo de humanidade. O PS não possui consideração nenhuma pelos portugueses que, por acção ou omissão, legitimam o PS. Eu também não.

COMENTÁRIOS:
André Ondine: Estou totalmente de acordo com o que escreve Alberto Gonçalves. Aliás, ontem, a propósito do texto do Rui Ramos, coloquei um comentário que repito aqui, pois não é demais repetir a evidência de um país capturado por um gangue de gente muito pouco recomendável. O que interessa que Portugal possa acabar mal se tudo correr bem para o PS? Este não é um governo para Portugal (o do Ericeira Sócrates também não era). É um governo para o PS. Comparem o entusiasmo do Habilidoso quando este fala do PS (esse sim, um Estado supremo e perfeito), com quando o mesmo Habilidoso fala de Portugal, sempre com ar pesaroso. E enfadado. Para o Chef Costa e o seu gangue acéfalo, o PS é o objectivo último. O poder e a glória carnívora do PS são aquilo que motiva os governos socialistas mais recentes. Eles comem tudo e não deixam nada. Nada de nada. O País existe para servir o PS. Quer queira quer não queira. O objectivo do PS de estar no governo não é governar o país. É governar o PS. É esconder a falência do PS, escandalosa e indecente, e dar luxo aos seus militantes / parasitas. Até parece um aborrecimento quando, por vezes, o país até parece ser um empecilho à glória do PS. A chatice dos incêndios. A maçada de Tancos. O chato do Covid. O sacana do Gonçalves e de todos os que com ele concordam, não alinhando com a entronização de gente de ruindade invulgar, como o Habilidoso actual, o que se passeia na Ericeira e o que quer impor um regime comunista e bloquista do alto do seu porsche. O que interessa o que causam ao país e aos portugueses as desgraças por que nos fazem passar? Interessa é encomendar estudos de opinião para saber a mossa que causaram ao partido. Para depois adaptar a realidade em conformidade. Fala-se muito da influência negativa que organizações como a Maçonaria e a Opus-Dei têm no nosso país. E é bom que se fale nisso. Mas a organização subversiva mais perigosa do país é o Partido Socialista, com os seus tentáculos espalhados sem piedade por todo o aparelho de Estado. Enquanto este PS continuar a ser dominado por Habilidosos (e parece que a seguir a este vem outro ainda pior, o irascível Pedro N Santos) e apagar os seus militantes válidos, sensatos e patriotas (que também os há), o país está refém deste gangue prepotente e mal-educado. Mas esta gente não tornou refém apenas o país. Tornou também refém o seu Presidente da República, um ex-génio /agora-pateta, que não tem a visão ou a coragem de denunciar aquilo que é evidente para crentes e descrentes no culto dos Habilidosos. Estes já seriam pouco aconselháveis para gerir o condomínio de uma tenda de um lugar. Tê-los a gerir o nosso país é uma desgraça passada, uma desgraça actual e uma desgraça para sempre.
Tiago Queirós: A "derrota" das nações sulistas, e particularmente de Portugal, no que respeita à eleição do novo líder do Eurogrupo, sugere que o salva-vidas da Lusitânia não advirá de Bruxelas. Como tal, e perante uma hipotética e iminente bancarrota, cumpre distribuir as migalhas restantes antes que seja tarde demais, tendo em vista a garantia do futuro dos boysdo Partido Socialista. Assim, mesmo que sejam varridas do Parlamento no próximo acto eleitoral, as clientelas mantêm o Estado ao seu dispor, nomeadamente por meio dos Conselhos de Administração da TAP, da EFACEC e, ao que parece, do Novo Banco, que o Governo agora admite, no limite, poder vir a nacionalizar. Daí, suponho, a necessidade de Mário Centeno enquanto Governador do Banco de Portugal: seria (ou será) a garantia suprema da manutenção da promiscuidade entre a banca privada e o PS.
Hugo Gonçalves: Eu vivo numa câmara ex-comunista, agora PS e a história é a mesma. Escreve mto bem. Mas e a alternativa credível e forte, onde está? Votando em qq coisa à direita do PS é um voto perdido enquanto o PSD ñ se reformar e se apresentar como alternativa credível.

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