Eles lá se entendem, esses partidos da
esquerda, e nós outros vamos na leva, amansados que somos, cada qual a fazer
pela vida, confiantes, sem grande orgulho, e aceitando o domínio e a batota, a
que se junta a consciência de que o que queremos é paz e sossego, a maioria
contentando-se com pouco, e, apesar de tudo, amando o nosso pequeno rectângulo,
tenha os defeitos que tiver, mas alegre e generoso, a deixar saudades, pequeno,
sim, simplório, definido elementarmente, desde o início, nos dizeres singelos
da cantiga de amigo do rei Sancho I, “Ai
eu, coitada, como vivo, em gran cuidado por meu amigo que tarda e não vejo:
Muito me tarda o meu amigo na Guarda.” “Não somos nada, nunca seremos nada.” Não
gostamos muito de nós. “À parte isso”… Não
deixamos de sentir o mesmo que todos
sentem em relação ao seu próprio país, vibrando com o que de bom dele
conhecemos, os seus escritores e artistas, e nos fizeram sentir algum orgulho
por sermos portugueses, ainda que mesquinhos, como o dá sempre a entender Alberto Gonçalves, sem
rasuras nem retornos. O Dr. Costa cá dentro
manda, mas lá fora terá que engolir os seus sapos, como representante nosso, no
ridículo de uma submissão resultante da nossa tragédia do pouco poder económico
e do pequeno orgulho dependente.
O povo merece a arrogância do PS /premium
O interessante é perceber que o dr.
Costa manda no PS, o PS manda no Estado e, é sabido, o Estado somos nós, que
andamos a reboque de uma quadrilha com planos de dominação absoluta.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 11 jul 2020
Este
ano, por razões que não vêm ao caso, tenho passado boa parte do meu tempo numa
cidade portuguesa que não aquela em que nasci, cresci, vivi e, parcialmente,
ainda vivo. A minha cidade sempre foi socialista, ou seja, lá os residentes
votam no PS para a autarquia e para o Parlamento. O PS distribui empregos,
habitações “sociais” e demais benesses. O PS influencia os negócios
particulares, os quais, se valerem a pena, não acontecem à revelia dos caciques
locais. O PS é a rede inevitável a que vão parar as ambições, as ilusões e as
esperanças de promoção social. Etc. É assim há 45 anos.
Na
outra cidade de que falo não era assim. Vista ao longe, como eu a via, a cidade
não parecia coutada de um partido. Além de um triunfo do CDS, o PSD vencia a
maioria das eleições, o PS ganhava as restantes. Hoje, que estou aqui com
frequência, descubro dia após dia que o PS controla a câmara, as freguesias, as
escolas, as associações, as obras, as igrejas, o comércio, os semáforos, a
“cultura”, a horticultura e por aí fora. Não é comigo. Graças a Deus, e a bem
da higiene, o meu contacto com essa realidade limita-se aos testemunhos,
indignados ou resignados, de interpostas pessoas. Através
destas, vou conhecendo a existência de criaturinhas medonhas, sem escrúpulos
nem letras nem vergonha, movidas exclusivamente pela ânsia de agradar ao
partido e, no processo, realizar sonhos ridículos. É um universo repulsivo,
repleto de boçalidade e prepotência, de ignorância e desonestidade, de vénias e
humilhações. E se é um universo pequenino, não acho excessivo imaginar que
constitui amostra razoável do país. Um país onde o PS está próximo de tomar
conta de tudo.
Exemplos
são inúmeros. Dou um. Esta semana, acabaram as reuniões periódicas no Infarmed.
Porquê? Porque o dr. Costa, que na penúltima reunião se viu desautorizado pelos
factos, o decidiu. Na altura, enxovalhou a ministra da Saúde (que agradeceu e
merece o enxovalho) e bateu com a porta. Agora, terminou sumária e
arbitrariamente com uma fonte perturbadora da propaganda acerca da Covid.
Não
vale a pena comentar o carácter e a educação do dr. Costa, ambos nulos. O interessante
é notar o puro despotismo. O interessante é perceber que o dr. Costa manda
no PS, o PS manda no Estado e, é sabido, o Estado somos nós, que andamos a
reboque de uma quadrilha com planos, em acelerado curso, de dominação absoluta.
Quase sem oposição partidária, contraponto institucional, escrutínio
jornalístico e a um passo de abolir qualquer dissensão pública, o dr. Costa e
seus comparsas subjugaram-nos aos respectivos desígnios. É a concretização
da política do quero, posso e mando, o chavão do PCP que os comunistas deixaram
de usar a partir do momento em que se juntaram ao assalto. Escuso
de referir a corrupção, o compadrio e os defeitos endémicos que hoje se exibem
à luz do dia. Quando o autarca de uma capital resolve pintar o chão de cores bonitas
e não é imediatamente internado, isto já não se assemelha em nada a uma
democracia. As ditaduras começam pela trafulhice, evoluem com a arrogância e
consagram-se na demência.
Com os subornos certos aos pelintras
certos, nos partidos, nos “media” e no que calha, é claríssimo que o PS
conquistou, no sentido bélico, os portugueses. A culpa é do PS? Lamento, mas a
culpa é dos portugueses. Por muito
que apreciassem o método, os socialistas não apontam uma pistola a ninguém para
obrigar a apoiá-los nas sondagens, a tolerar asfixias fiscais, a aplaudir
planeamentos leninistas, a subscrever a censura das opiniões, a rir “com” e não
“de” palhaços, a respeitar as ordens de “autoridades” meramente grotescas, a
admitir a transformação da vida em comum no quintal de um bando de matarruanos.
O poder ilimitado do PS advém da ilimitada propensão
dos portugueses para a submissão. E
quanto maior o poder, maior a submissão, que é voluntária e não é
particularmente incómoda. É preciso imaginar os portugueses felizes, ou no
mínimo contentinhos.
Recentemente,
perguntaram-me se eu via maneira de a “situação” mudar. Respondi que sim: a
miséria. A descida do país a uma miséria tão avassaladora que subverta os
fundamentos do que somos e nos atire para o desespero sem regras. Acrescentei
que, não sendo um cenário improvável, não é um cenário desejável – mesmo
que para varrer com o PS. A alternativa, enquanto houver dinheiro alemão
para distribuir e impostos para pilhar, é o domínio do PS perpetuar-se. E
crescer. Convém não ignorar o efeito avalanche: à medida que a bola de neve
engorda, mais neve se junta ao todo. Os portugueses, dependentes e infantis,
são os flocos de neve desta história, ávidos por se associarem aos que estão
por cima – por cima deles, evidentemente. Está-nos na pele, e sai-nos do lombo.
Entre
o totalitarismo e o caos, o destino pátrio é incerto e não se recomenda. A
única certeza é a de que a democracia tem os dias contados. Era humilde,
esfarrapada, coxa e burlesca, coitadinha. Mas era a nossa democracia, de qualquer
modo preferível a três quartos dos regimes em vigor na Terra. O que virá, e
está a instalar-se a cada momento, será bastante pior. Uma série deliberada e
fortuita de circunstâncias favoreceu o casamento perfeito da vocação dos
socialistas para sentirem donos da ralé com a vocação da ralé em servir. Uns
85% das intenções de voto vão para o PS e para as forças “colaboracionistas”. É
pena que nas próximas “legislativas”, doravante um ritual dispensável, o PS
sozinho não atinja essa marca: ao menos expunha-se a farsa. Entretanto, o PS
vai estrangular-nos até ao último cêntimo, e pisar-nos até ao último assomo de
humanidade. O PS não possui consideração nenhuma pelos portugueses que, por
acção ou omissão, legitimam o PS. Eu também não.
COMENTÁRIOS:
André Ondine: Estou totalmente de acordo com o que escreve Alberto
Gonçalves. Aliás, ontem, a propósito do texto do Rui Ramos, coloquei um
comentário que repito aqui, pois não é demais repetir a evidência de um país
capturado por um gangue de gente muito pouco recomendável. O que interessa que
Portugal possa acabar mal se tudo correr bem para o PS? Este não é um governo
para Portugal (o do Ericeira Sócrates também não era). É um governo para o PS.
Comparem o entusiasmo do Habilidoso quando este fala do PS (esse sim, um Estado
supremo e perfeito), com quando o mesmo Habilidoso fala de Portugal, sempre com
ar pesaroso. E enfadado. Para o Chef Costa e o seu gangue acéfalo, o PS é o
objectivo último. O poder e a glória carnívora do PS são aquilo que motiva os
governos socialistas mais recentes. Eles comem tudo e não deixam nada. Nada de
nada. O País existe para servir o PS. Quer queira quer não queira. O objectivo
do PS de estar no governo não é governar o país. É governar o PS. É esconder a
falência do PS, escandalosa e indecente, e dar luxo aos seus militantes /
parasitas. Até parece um aborrecimento quando, por vezes, o país até parece ser
um empecilho à glória do PS. A chatice dos incêndios. A maçada de Tancos. O
chato do Covid. O sacana do Gonçalves e de todos os que com ele concordam, não
alinhando com a entronização de gente de ruindade invulgar, como o Habilidoso
actual, o que se passeia na Ericeira e o que quer impor um regime comunista e
bloquista do alto do seu porsche. O que interessa o que causam ao país e aos
portugueses as desgraças por que nos fazem passar? Interessa é encomendar
estudos de opinião para saber a mossa que causaram ao partido. Para depois
adaptar a realidade em conformidade. Fala-se muito da influência negativa que
organizações como a Maçonaria e a Opus-Dei têm no nosso país. E é bom que se
fale nisso. Mas a organização subversiva mais perigosa do país é o Partido
Socialista, com os seus tentáculos espalhados sem piedade por todo o aparelho
de Estado. Enquanto este PS continuar a ser dominado por Habilidosos (e parece
que a seguir a este vem outro ainda pior, o irascível Pedro N Santos) e apagar os
seus militantes válidos, sensatos e patriotas (que também os há), o país está
refém deste gangue prepotente e mal-educado. Mas esta gente não tornou refém
apenas o país. Tornou também refém o seu Presidente da República, um ex-génio
/agora-pateta, que não tem a visão ou a coragem de denunciar aquilo que é
evidente para crentes e descrentes no culto dos Habilidosos. Estes já seriam
pouco aconselháveis para gerir o condomínio de uma tenda de um lugar. Tê-los a
gerir o nosso país é uma desgraça passada, uma desgraça actual e uma desgraça
para sempre.
Tiago Queirós: A "derrota" das nações sulistas, e
particularmente de Portugal, no que respeita à eleição do novo líder do
Eurogrupo, sugere que o salva-vidas da Lusitânia não advirá de Bruxelas. Como
tal, e perante uma hipotética e iminente bancarrota, cumpre distribuir as
migalhas restantes antes que seja tarde demais, tendo em vista a garantia do
futuro dos boysdo Partido Socialista. Assim,
mesmo que sejam varridas do Parlamento no próximo acto eleitoral, as clientelas
mantêm o Estado ao seu dispor, nomeadamente por meio dos Conselhos de
Administração da TAP, da EFACEC e, ao que parece, do Novo Banco, que o Governo
agora admite, no limite, poder vir a nacionalizar. Daí, suponho, a necessidade
de Mário Centeno enquanto Governador do Banco de Portugal: seria (ou será) a garantia
suprema da manutenção da promiscuidade entre a banca privada e o PS.
Hugo Gonçalves: Eu vivo numa câmara ex-comunista, agora PS e a história é a mesma. Escreve
mto bem. Mas e a alternativa credível e forte, onde está? Votando em qq coisa à
direita do PS é um voto perdido enquanto o PSD ñ se reformar e se apresentar
como alternativa credível.
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