Uma certa esperança
Numa razão mais temperada de sensatez. Lá fora,
talvez. Nós, por cá, vamos andando… Mas bem-haja a Jaime Nogueira Pinto, pelo esclarecimento.
Política e geopolítica na nova ordem
mundial: uma nova ordem? /premium
Para além da vida doméstica, da
política doméstica, das surpresas e tragédias do desconfinamento,
multiplicam-se os acontecimentos na vida internacional – na grande e na pequena
escala.
JAIME NOGUEIRA PINTO OBSERVADOR,
10 jul 2020
A pandemia, os números repetidos
diariamente dos infectados, dos recuperados, dos mortos, dos internados, dos
cuidados intensivos, os altos e baixos dos continentes e países levam-nos a
esquecer ou subalternizar que há vida – e morte – para além do coronavírus. Mas
há. E para além da vida doméstica, da política doméstica, das surpresas e
tragédias do desconfinamento, multiplicam-se os acontecimentos na vida
internacional – na grande e na pequena escala.
A Nova Constituição Russa
Tivemos
um referendo, em que Vladimir
Putin procurou sustentação popular para as
mudanças e reformas na Constituição russa. Para além da mais citada e
sublinhada, a que lhe poderá permitir ficar na presidência até 2036, há outras
medidas de fundo ideológico que traduzem a consagração de uma linha de
nacionalismo conservador, religioso e identitário. Isto não é novidade para
quem tenha acompanhado a trajectória, as raízes ideológicas e as alianças de
Putin. Este, depois de ganhar apoio popular com a melhoria da situação
económica e restabelecer a autoridade e estabilidade no conflito com os
radicais chechenos, foi buscar uma base de apoio ao patriotismo
do povo russo e ao conservadorismo
da Igreja Ortodoxa.
Mas,
sentindo que, apesar dos horrores do bolchevismo e do estalinismo, subsistia
também, entre os russos, algum sentimento de orgulho patriótico em relação à
“Guerra Patriótica”, teve o cuidado de não rejeitar todo o período da URSS
na sua concepção do patriotismo russo. Por outro lado, revolucionariamente
tradicional, reintroduz “a fé em Deus, transmitida pelos nossos antepassados”
e definindo-se contra o politicamente correcto impõe o casamento como “união
entre um homem e uma mulher”; e que o “povo russo” é elemento determinante da
constituição do Estado. Fica também uma nota de “unificação” ou estatização
mais identitária.
Por
isto não nos podemos admirar que os movimentos nacionalistas populares
europeus – com o Rassemblement National de Marine le Pen e o Lega de Matteo Salvini – tenham grandes simpatias e afinidades com Putin. O
discurso político do líder russo traz claramente de volta, os valores de Deus,
da Pátria e da Família, num catecismo que está bem longe do liberalismo
político-cultural “do Ocidente” e ainda mais da sua versão do esquerdismo politicamente
correcto.
Trump no Monte Rushmore
E foi do mesmo tom o discurso do 4 de
Julho, de Donald Trump, que muitos conservadores consideraram o seu melhor
discurso político: aproveitando a ocasião para exaltar os “patriotas” que a 4
de Julho de 1776 fundaram oficialmente a América, o Presidente dos Estados
Unidos fez um elaborado contra-ataque e desmontagem da ideologia inspiradora
dos “bandos agressivos“ que há algumas semanas vêm destruindo estátuas,
saqueando lojas, criando zonas “livres” em cidades, retratando-os como
iconoclastas, inimigos da cultura e do povo americanos.
Ao
mesmo tempo veio sublinhar a natureza totalitária dessa cultura da
Anti-América, que se exprime para além da destruição ou dessacralização de
símbolos e monumentos da História americana, na imposição de uma nova
linguagem, que à semelhança do Newspeak orwelliano, traz um Newspeak que promove certas palavras e
expressões e proíbe outras tantas.
Por
outro lado, e com grande aplauso da assistência, anunciou a detenção de alguns
dos responsáveis pelas destruições e vandalizações dos monumentos a George
Washington, Andrew Jackson, Abraham Lincoln e Ulysses Grant. Passando à
inspiração ideológica destes comportamentos antipatrióticos, Trump disse que resultava de “anos de doutrinação e preconceitos
na educação, no jornalismo, em instituições culturais”, de uma formação
antipatriótica que, sistematicamente, distorcia a história americana, de modo
que os jovens, em vez de respeitar aqueles heróis e
construtores da Pátria, passavam a vê-los como racistas, esclavagistas,
imperialistas, figuras para odiar e não para admirar.
Traçou depois os perfis dos
Presidentes imortalizados ali, no Mount Rushmore, de George Washington a Thomas
Jefferson a Lincoln e Ted Roosevelt, que simbolizam a aventura da Nação
Americana. Mais
adiante, sempre muito ovacionado pela multidão juntou num mesmo rol de
representantes dos ideais de cultura americana, figuras de militares como
George Patton, de cantores e músicos como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald,
Elvis Presley, mas também inventores e pioneiros da técnica como os irmãos
Wright, escritores e poetas como Mark Twain e Walt Whitman, actores como Bob
Hope e Frank Sinatra. Brancos e negros, conservadores e liberais, republicanos
e democratas, mas todos patriotas. E terminou com um apelo à unidade da América
e dos Americanos na data da sua independência e sob as esculturas gigantes dos
Presidentes, da autoria de Gutzon Borglum, ali representados. O discurso de
Trump no Mount Rushmore, embora no quadro polémico de uma pré-campanha
eleitoral e como resposta à vaga de esquerda iconoclasta dos “valores
americanos”, acaba por sublinhar e defender os valores de Pátria, a
Religião, o Patriotismo, a Família, a importância da História – da História
correctamente contada, na formação dos cidadãos. Putin atacou claramente o liberalismo
ou progressismo no sentido europeu; Trump a correcção política e um
“liberalismo” (à americana) que sob a forma do radicalismo da Nova Esquerda,
ataca não só teórica ou doutrinariamente os valores americanos, mas
materialmente destrói os seus símbolos.
E a Europa?
Na
Europa, a UE continua a proclamar uma agenda oposta – a Constituição europeia rejeitou expressamente a
inclusão do nome de Deus, a maioria das legislações consagrou os casamentos
homossexuais, e o patriotismo e o nacionalismo são vistos como perigosos
desvios da doutrina oficial da integração europeia, inimigos da democracia e da
liberdade.
Mas o facto é que em quase todos os
países da Europa existem hoje e afirmam-se partidos e movimentos políticos que
vão no sentido, precisamente, de um reforço deste tipo de valores, embora
permanecendo um laicismo mais forte e fora do conservadorismo religioso da
América e Rússia. O que
terá a ver com a descristianização da Europa Ocidental.
E,
por outro lado, a Oriente,
agora sob todos os focos pela crise aberta pela pandemia, mas também pela
presença nas economias do resto do mundo, e pela linha agressiva de uma
política recente, ergue-se a República Popular da China, a potência nova no status quo.
COMENTÁRIOS:
Paulo Silva: “anos
de doutrinação e preconceitos na educação, no jornalismo, em instituições
culturais” Velhos internacionalistas são
os alter-globalistas de hoje. Barricaram-se durante décadas nas universidades
do Ocidente com a ingénua complacência e indiferença dos vários defensores da
Democracia – vistos como maluquinhos às voltas com as suas bizarras teorias e
livros que ninguém lia. O resultado está à vista. ONG’s e media minados pelas doutrinas do
political correctness, aka cultural marxism, e hordas de
jovens fanatizados na contra-cultura e num novo moralismo conhecidos por
antifas… O inimigo principal continua a ser o mesmo de sempre - o odiado
'capitalismo'. Desta vez anatemizado sob as mais diversas formas:
neo-liberalismo, racismo, colonialismo, heteropatriarcado, fascismo, etc,
etc... Estes grupos não vivem num Estado liderado por um grande timoneiro,
(olha se vivessem), mas o seu zelo é semelhante ao dos jovens guardas vermelhos
da revolução cultural chinesa...
O surgimento
de lideres como Trump, Putin, Bolsonaro e outros, cada qual à sua maneira com
os seus defeitos e virtudes, foi até agora a resposta possível ao estado de
coisas. Um estado de destruição de valores e de imbecilidade crescentes... Jose
Norton: Excelente. Obrigado Manuel
Magalhães: A Europa está a ir exactamente
no caminho errado e os resultados estão á vista... vão atrás de modas há muito ultrapassadas
e que nunca deram bons resultados em lugar algum, Pretendem criar a ideia de
que é tudo muito avançado e inteligente e o que se vê é decadência e a Europa a
perder folgo e importância , infelizmente é
em Portugal e agora também em Espanha que essas desagradáveis experiências se
vêm acentuando... Antes pelo contrário > Manuel Magalhães: Absolutamente de acordo! Estive
ontem em dois lugares remotos do Alentejo, um deles infestado de ciganos, e o
outro, de Sikhs (a seita indiana em que os homens não cortam o cabelo nem a
barba a vida toda e usam turbantes de várias cores). Essa gente tem-se estado a
instalar aos poucos no interior de Portugal (já no outro dia, vi um grupo em
Estremoz), e como as aldeias e as vilas estão desertas, qualquer dia temos cá
um "Sikhistão" sem darmos por isso, pois esses mais os Bangladeshis e
uma série de outra gente (que ainda por cima são às centenas de milhões)
facilmente ocuparão um país pequeno como o nosso, sobretudo com as
autoridades a fecharem os olhos ou mesmo a promoverem tal imigração - como têm
feito o Costa e o Medina, e como é o sonho dos partidos antipatrióticos de
esquerda, que querem exterminar os portugueses!!!! José
Ramos: Pessoalmente sou liberal, laico
e europeísta convicto, mas temo que a Europa atrelada ao nazismo
"politicamente-correcto", "geringonças" e afins atraia cada
vez mais nacionalismos e ideologias que vão muito além do conservadorismo. Como
já tentei explicar várias vezes, não há populismos de direita sem ser como
reacção a populismos de esquerda ou a crises provocadas por gente afastada das
realidades quotidianas. Nunca aconteceu. Pedro Santos da Cunha:
Olá Jaime Bom
dia. Mais uma vez Parabéns pelo Excelente artigo. Tudo correcto quanto à Rússia e
aos EUA. Só não vê quem não quer! Quanto à Europa, e na minha maneira de ver, falta acrescentar
um pequeno (Grande) detalhe: - A Enorme Responsabilidade dos Aventais em todo
este descalabro
dos princípios e valores que fizeram a Civilização Ocidental! Bom fim de
semana. Abraço Amigo. Pedro Joaquim Carlos Silva: Caro professor Jaime Nogueira
Pinto, Como o Sr. é dado às questões de
África, pedia-lhe que no próximo artigo falasse do que se passa neste momento
em Cabo Delgado, Moçambique. Reserve também uns caracteres para falar do
enclave de Cabinda onde está a haver uma guerrilha entre as FAA de Angola e as
FLEC de Cabinda. Era interessante ler a sua opinião sobre este assunto, porque
da comunicação social portuguesa não conseguimos saber nada. Jorge
Ferreira > Joaquim Carlos Silva: Prezado Joaquim, Excelente ideia e pedido mais
do que apropriado, considerando a experiência do Professor Jaime Nogueira Pinto
em questões africanas e particularmente da África Lusófona. Tive o prazer de o conhecer e
interagir em Luanda, onde me encontro emigrado desde 2015, por Obra e Graça do
Sr. Eng. Pinto de Sousa. E acredite que é uma experiência única. Espero sinceramente que o
Professor consiga encontrar alguns minutos do seu limitado tempo disponível,
não só para ler este nosso pedido, mas igualmente para o atender e nos
presentear com um dos seus escritos. José Miranda: O atraso da Europa está aqui
muito bem explicado. É a falta de valores que faz da Europa um ser
invertebrado. Portugal é um bom exemplo da estupidez que mata mais que o
racismo. Adelino Lopes: Olhar para o mundo a preto e
branco é sempre desaconselhado, mas torna-se cada vez mais evidente que são
mais as semelhanças entre o Trump e o Putin do que as diferenças. Ainda
assim prefiro o Trump (por enquanto). Porquê? Porque (parece) que continua a
defender o liberalismo nas suas diversas vertentes (económica, democrática,
pessoal, etc). Vistas bem as coisas, o Putin tornou-se no fascista de serviço.
E a Europa? A Europa não sabe o que quer. Depois de 20 anos a guinar
à esquerda, vivemos estes últimos 20 a voltar à direita com os ex-países do
leste. Isto está tudo muito certo, mas qual é o problema para as pessoas? O
papel da ciência. Enquanto a ciência for subjugada (falta de liberalismo) ao
poder político não vamos a lado nenhum. O que se passa em Portugal? Já não
falo na FCT, mas a confiança nos cientistas revelou-se naqueles pormenores das
conferências de imprensa relativamente à covid-19. Por oposição o que se passou
na Suécia? Foi a DGS local que mandou (não foi o governo) e deu a cara. Se
tiverem de apostar para o futuro, apostam em quem: Portugal ou Suécia? Erasmo
Nuzzi > Adelino Lopes: Ola,
sou judeu italo/americanoi (tenho os 2 passaportes italiano e USA) e devo dizer
REPUBLICANO. Somente um detalhe o meu compatriota Mussolini que foi o Karl Marx
da doutrina fascista tinha como base a destruição do povo judeu porque nós
roubávamos as riquezas dos países e do mundo e enfraquecíamos as estruturas
governamentais. Putin, por mais defeitos que tenha não é anti-semita, aliás
ele é pro Russia e pro-russos, principalmente os seus correligionários de seu
alargado círculo de influencia. Logo nada de fascista, está mais para um António
João Jardim russo, está-se nas tintas pro resto do mundo, mas a Rússia sob ele
com certeza saiu das profundezas do abismo financeiro em que Boris Yeltsin a
havia deixado. Quanto a Portugal ou Suécia, gostaria de sugerir o primo rico de
Portugal ao Norte DINAMARCA! Eles também só têm um pais de fronteira estão à
beira-mar, porém a transparência de Governo e a relação entre máquina estatal e
povo é próxima e ninguém está acima da lei. São ferozes defensores de suas
fronteiras - com a Alemanha - e a fecham quando bem entendem. Tem 3 porcos para
cada habitante, um lobby incrível e enxuto a nível de União Europeia e no
passado invadiram e deram tareia em ingleses até cansar. Mais ainda, NAO TÊM
COMPANHIA AÉREA DE BANDEIRA! São os
sócios minoritários da SAS e são famosos pelas cativações ou seja forretas
caloteiros, NAO PAGAM. A ponte da amizade entre Malmoo (Suécia+) e Kopenhagen
até hoje os suecos estão reclamando que os dinamarqueses têm dividas da obra a
pagar. Enfim entre Portugal e Suécia, proponho a dinamarquização de Portugal,
reduzir a 1/3 o número de representantes legislativos só para ter os mesmos
raios dinamarqueses - impor a lei da residência efectiva para eleições e não as
listas partidárias e associar-se a empresas dinamarquesas para transportar
cargas a granel oferecendo portos portugueses como a opção de inverno. Ah
quadruplicar o número de campos de golfe do Algarve com inserção de instruções
em dinamarquês, o meu condomínio na cidade de Saint Petersburg (onde se
encontra um belíssimo museu de Salvador Dali) na costa oeste da Florida o fez
com excelentes resultados de vendas. Enfim trazer outra coisa para Portugal que
não seja adolescente bêbado e tarado, inglês ranzinza reformado e americano
democrata falido e frustrado. Abraços e SAUDE, ou como dizemos A bi Gesunt! Álvaro Aragão Athayde > Erasmo Nuzzi: O Tuga Adelino levou uma chazada do Judeu Erasmo que
até dói, livra!
Helmarques Marques > Erasmo Nuzzi:
Para mim é muito bom existir aqui no Observador alguém
estrangeiro que expõe as suas ideias sem qualquer receio de ser julgado pelo
politicamente correcto, ou seja, a esquerda caviar. "Mas eles andem aí"!! Jorge
Ferreira > Helmarques Marques: E que venham mais
participações...
Maria Nunes: Excelente. De uma forma sucinta, relata o que se passa
no mundo. Obrigada JNP. f teixeira: Artigo curto... Haveria muito
mais para ler... Na verdade, JNP prega aos peixes mas, faz falta quem não se
importe de não ser popular e escrever o que faz falta. No Observador podemos
ler alguns. Este é um dos casos! Obrigado. Caixa Mágica: Já deu para perceber, através
destas duas últimas crónicas, que o Jaime Nogueira Pinto é candidato a ser o
Olavo de Carvalho português. Começou por lhe copiar as ideias, agora até já lhe
copia o estilo.
R S: Bom artigo resumindo o que se vai passando no Mundo. Nem sei como é
possível ainda escrever este artigo neste País radical de esquerda e nesta
Europa. Jorge
Carvalho: Excelente artigo Obrigado
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