sábado, 11 de julho de 2020

Uma certa esperança


Uma certa esperança
Numa razão mais temperada de sensatez. Lá fora, talvez. Nós, por cá, vamos andando…Mas bem-haja a Jaime Nogueira Pinto, pelo esclarecimento.



Política e geopolítica na nova ordem mundial: uma nova ordem? /premium
Para além da vida doméstica, da política doméstica, das surpresas e tragédias do desconfinamento, multiplicam-se os acontecimentos na vida internacional – na grande e na pequena escala.
JAIME NOGUEIRA PINTO      OBSERVADOR, 10 jul 2020
A pandemia, os números repetidos diariamente dos infectados, dos recuperados, dos mortos, dos internados, dos cuidados intensivos, os altos e baixos dos continentes e países levam-nos a esquecer ou subalternizar que há vida – e morte – para além do coronavírus. Mas há. E para além da vida doméstica, da política doméstica, das surpresas e tragédias do desconfinamento, multiplicam-se os acontecimentos na vida internacional – na grande e na pequena escala.
A Nova Constituição Russa
Tivemos um referendo, em que Vladimir Putin procurou sustentação popular para as mudanças e reformas na Constituição russa. Para além da mais citada e sublinhada, a que lhe poderá permitir ficar na presidência até 2036, há outras medidas de fundo ideológico que traduzem a consagração de uma linha de nacionalismo conservador, religioso e identitário. Isto não é novidade para quem tenha acompanhado a trajectória, as raízes ideológicas e as alianças de Putin. Este, depois de ganhar apoio popular com a melhoria da situação económica e restabelecer a autoridade e estabilidade no conflito com os radicais chechenos, foi buscar uma base de apoio ao patriotismo do povo russo e ao conservadorismo da Igreja Ortodoxa.
Mas, sentindo que, apesar dos horrores do bolchevismo e do estalinismo, subsistia também, entre os russos, algum sentimento de orgulho patriótico em relação à “Guerra Patriótica”, teve o cuidado de não rejeitar todo o período da URSS na sua concepção do patriotismo russo. Por outro lado, revolucionariamente tradicional, reintroduz “a fé em Deus, transmitida pelos nossos antepassados” e definindo-se contra o politicamente correcto impõe o casamento como “união entre um homem e uma mulher”; e que o “povo russo” é elemento determinante da constituição do Estado. Fica também uma nota de “unificação” ou estatização mais identitária.
Por isto não nos podemos admirar que os movimentos nacionalistas populares europeus – com o Rassemblement National de Marine le Pen e o Lega de Matteo Salvini – tenham grandes simpatias e afinidades com Putin.  O discurso político do líder russo traz claramente de volta, os valores de Deus, da Pátria e da Família, num catecismo que está bem longe do liberalismo político-cultural “do Ocidente” e ainda mais da sua versão do esquerdismo politicamente correcto.
Trump no Monte Rushmore
E foi do mesmo tom o discurso do 4 de Julho, de Donald Trump, que muitos conservadores consideraram o seu melhor discurso político: aproveitando a ocasião para exaltar os “patriotas” que a 4 de Julho de 1776 fundaram oficialmente a América, o Presidente dos Estados Unidos fez um elaborado contra-ataque e desmontagem da ideologia inspiradora dos “bandos agressivos“ que há algumas semanas vêm destruindo estátuas, saqueando lojas, criando zonas “livres” em cidades, retratando-os como iconoclastas, inimigos da cultura e do povo americanos.
Ao mesmo tempo veio sublinhar a natureza totalitária dessa cultura da Anti-América, que se exprime para além da destruição ou dessacralização de símbolos e monumentos da História americana, na imposição de uma nova linguagem, que à semelhança do Newspeak orwelliano, traz um Newspeak que promove certas palavras e expressões e proíbe outras tantas.
Por outro lado, e com grande aplauso da assistência, anunciou a detenção de alguns dos responsáveis pelas destruições e vandalizações dos monumentos a George Washington, Andrew Jackson, Abraham Lincoln e Ulysses Grant.  Passando à inspiração ideológica destes comportamentos antipatrióticos, Trump disse que resultava de “anos de doutrinação e preconceitos na educação, no jornalismo, em instituições culturais”, de uma formação antipatriótica que, sistematicamente, distorcia a história americana, de modo que os jovens, em vez de respeitar aqueles heróis e construtores da Pátria, passavam a vê-los como racistas, esclavagistas, imperialistas, figuras para odiar e não para admirar.
Traçou depois os perfis dos Presidentes imortalizados ali, no Mount Rushmore, de George Washington a Thomas Jefferson a Lincoln e Ted Roosevelt, que simbolizam a aventura da Nação Americana. Mais adiante, sempre muito ovacionado pela multidão juntou num mesmo rol de representantes dos ideais de cultura americana, figuras de militares como George Patton, de cantores e músicos como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Elvis Presley, mas também inventores e pioneiros da técnica como os irmãos Wright, escritores e poetas como Mark Twain e Walt Whitman, actores como Bob Hope e Frank Sinatra. Brancos e negros, conservadores e liberais, republicanos e democratas, mas todos patriotas. E terminou com um apelo à unidade da América e dos Americanos na data da sua independência e sob as esculturas gigantes dos Presidentes, da autoria de Gutzon Borglum, ali representados. O discurso de Trump no Mount Rushmore, embora no quadro polémico de uma pré-campanha eleitoral e como resposta à vaga de esquerda iconoclasta dos “valores americanos”, acaba por sublinhar e defender os valores de Pátria, a Religião, o Patriotismo, a Família, a importância da História – da História correctamente contada, na formação dos cidadãos.  Putin atacou claramente o liberalismo ou progressismo no sentido europeu; Trump a correcção política e um “liberalismo” (à americana) que sob a forma do radicalismo da Nova Esquerda, ataca não só teórica ou doutrinariamente os valores americanos, mas materialmente destrói os seus símbolos.
E a Europa?
Na Europa, a UE continua a proclamar uma agenda opostaa Constituição europeia rejeitou expressamente a inclusão do nome de Deus, a maioria das legislações consagrou os casamentos homossexuais, e o patriotismo e o nacionalismo são vistos como perigosos desvios da doutrina oficial da integração europeia, inimigos da democracia e da liberdade.
Mas o facto é que em quase todos os países da Europa existem hoje e afirmam-se partidos e movimentos políticos que vão no sentido, precisamente, de um reforço deste tipo de valores, embora permanecendo um laicismo mais forte e fora do conservadorismo religioso da América e Rússia. O que terá a ver com a descristianização da Europa Ocidental.
E, por outro lado, a Oriente, agora sob todos os focos pela crise aberta pela pandemia, mas também pela presença nas economias do resto do mundo, e pela linha agressiva de uma política recente, ergue-se a República Popular da China, a potência nova no status quo.
COMENTÁRIOS:
Paulo Silva:  anos de doutrinação e preconceitos na educação, no jornalismo, em instituições culturais” Velhos internacionalistas são os alter-globalistas de hoje. Barricaram-se durante décadas nas universidades do Ocidente com a ingénua complacência e indiferença dos vários defensores da Democracia – vistos como maluquinhos às voltas com as suas bizarras teorias e livros que ninguém lia. O resultado está à vista. ONG’s e media minados pelas doutrinas do political correctness, aka cultural marxism, e hordas de jovens fanatizados na contra-cultura e num novo moralismo conhecidos por antifas… O inimigo principal continua a ser o mesmo de sempre - o odiado 'capitalismo'. Desta vez anatemizado sob as mais diversas formas: neo-liberalismo, racismo, colonialismo, heteropatriarcado, fascismo, etc, etc... Estes grupos não vivem num Estado liderado por um grande timoneiro, (olha se vivessem), mas o seu zelo é semelhante ao dos jovens guardas vermelhos da revolução cultural chinesa... O surgimento de lideres como Trump, Putin, Bolsonaro e outros, cada qual à sua maneira com os seus defeitos e virtudes, foi até agora a resposta possível ao estado de coisas. Um estado de destruição de valores e de imbecilidade crescentes...    Jose Norton: Excelente. Obrigado     Manuel Magalhães: A Europa está a ir exactamente no caminho errado e os resultados estão á vista... vão atrás de modas há muito ultrapassadas e que nunca deram bons resultados em lugar algum, Pretendem criar a ideia de que é tudo muito avançado e inteligente e o que se vê é decadência e a Europa a perder folgo e importância , infelizmente é em Portugal e agora também em Espanha que essas desagradáveis experiências se vêm acentuando...     Antes pelo contrário > Manuel Magalhães: Absolutamente de acordo! Estive ontem em dois lugares remotos do Alentejo, um deles infestado de ciganos, e o outro, de Sikhs (a seita indiana em que os homens não cortam o cabelo nem a barba a vida toda e usam turbantes de várias cores). Essa gente tem-se estado a instalar aos poucos no interior de Portugal (já no outro dia, vi um grupo em Estremoz), e como as aldeias e as vilas estão desertas, qualquer dia temos cá um "Sikhistão" sem darmos por isso, pois esses mais os Bangladeshis e uma série de outra gente (que ainda por cima são às centenas de milhões) facilmente ocuparão um país pequeno como o nosso, sobretudo com as autoridades a fecharem os olhos ou mesmo a promoverem tal imigração - como têm feito o Costa e o Medina, e como é o sonho dos partidos antipatrióticos de esquerda, que querem exterminar os portugueses!!!!     José Ramos: Pessoalmente sou liberal, laico e europeísta convicto, mas temo que a Europa atrelada ao nazismo "politicamente-correcto", "geringonças" e afins atraia cada vez mais nacionalismos e ideologias que vão muito além do conservadorismo. Como já tentei explicar várias vezes, não há populismos de direita sem ser como reacção a populismos de esquerda ou a crises provocadas por gente afastada das realidades quotidianas. Nunca aconteceu.     Pedro Santos da Cunha: Olá Jaime Bom dia. Mais uma vez Parabéns pelo Excelente artigo. Tudo correcto quanto à Rússia e aos EUA. Só não vê quem não quer! Quanto à Europa, e na minha maneira de ver, falta acrescentar um pequeno (Grande) detalhe: - A Enorme Responsabilidade dos Aventais em todo este descalabro dos princípios e valores que fizeram a Civilização Ocidental! Bom fim de semana. Abraço Amigo. Pedro    Joaquim Carlos Silva: Caro professor Jaime Nogueira Pinto, Como o Sr. é dado às questões de África, pedia-lhe que no próximo artigo falasse do que se passa neste momento em Cabo Delgado, Moçambique. Reserve também uns caracteres para falar do enclave de Cabinda onde está a haver uma guerrilha entre as FAA de Angola e as FLEC de Cabinda. Era interessante ler a sua opinião sobre este assunto, porque da comunicação social portuguesa não conseguimos saber nada.    Jorge Ferreira > Joaquim Carlos Silva: Prezado Joaquim, Excelente ideia e pedido mais do que apropriado, considerando a experiência do Professor Jaime Nogueira Pinto em questões africanas e particularmente da África Lusófona. Tive o prazer de o conhecer e interagir em Luanda, onde me encontro emigrado desde 2015, por Obra e Graça do Sr. Eng. Pinto de Sousa. E acredite que é uma experiência única. Espero sinceramente que o Professor consiga encontrar alguns minutos do seu limitado tempo disponível, não só para ler este nosso pedido, mas igualmente para o atender e nos presentear com um dos seus escritos.   José Miranda: O atraso da Europa está aqui muito bem explicado. É a falta de valores que faz da Europa um ser invertebrado. Portugal é um bom exemplo da estupidez que mata mais que o racismo.     Adelino Lopes: Olhar para o mundo a preto e branco é sempre desaconselhado, mas torna-se cada vez mais evidente que são mais as semelhanças entre o Trump e o Putin do que as diferenças. Ainda assim prefiro o Trump (por enquanto). Porquê? Porque (parece) que continua a defender o liberalismo nas suas diversas vertentes (económica, democrática, pessoal, etc). Vistas bem as coisas, o Putin tornou-se no fascista de serviço. E a Europa? A Europa não sabe o que quer. Depois de 20 anos a guinar à esquerda, vivemos estes últimos 20 a voltar à direita com os ex-países do leste. Isto está tudo muito certo, mas qual é o problema para as pessoas? O papel da ciência. Enquanto a ciência for subjugada (falta de liberalismo) ao poder político não vamos a lado nenhum. O que se passa em Portugal? Já não falo na FCT, mas a confiança nos cientistas revelou-se naqueles pormenores das conferências de imprensa relativamente à covid-19. Por oposição o que se passou na Suécia? Foi a DGS local que mandou (não foi o governo) e deu a cara. Se tiverem de apostar para o futuro, apostam em quem: Portugal ou Suécia?     Erasmo Nuzzi > Adelino Lopes: Ola, sou judeu italo/americanoi (tenho os 2 passaportes italiano e USA) e devo dizer REPUBLICANO. Somente um detalhe o meu compatriota Mussolini que foi o Karl Marx da doutrina fascista tinha como base a destruição do povo judeu porque nós roubávamos as riquezas dos países e do mundo e enfraquecíamos as estruturas governamentais. Putin, por mais defeitos que tenha não é anti-semita, aliás ele é pro Russia e pro-russos, principalmente os seus correligionários de seu alargado círculo de influencia. Logo nada de fascista, está mais para um António João Jardim russo, está-se nas tintas pro resto do mundo, mas a Rússia sob ele com certeza saiu das profundezas do abismo financeiro em que Boris Yeltsin a havia deixado. Quanto a Portugal ou Suécia, gostaria de sugerir o primo rico de Portugal ao Norte DINAMARCA! Eles também só têm um pais de fronteira estão à beira-mar, porém a transparência de Governo e a relação entre máquina estatal e povo é próxima e ninguém está acima da lei. São ferozes defensores de suas fronteiras - com a Alemanha - e a fecham quando bem entendem. Tem 3 porcos para cada habitante, um lobby incrível e enxuto a nível de União Europeia e no passado invadiram e deram tareia em ingleses até cansar. Mais ainda, NAO TÊM COMPANHIA AÉREA DE BANDEIRA!  São os sócios minoritários da SAS e são famosos pelas cativações ou seja forretas caloteiros, NAO PAGAM. A ponte da amizade entre Malmoo (Suécia+) e Kopenhagen até hoje os suecos estão reclamando que os dinamarqueses têm dividas da obra a pagar. Enfim entre Portugal e Suécia, proponho a dinamarquização de Portugal, reduzir a 1/3 o número de representantes legislativos só para ter os mesmos raios dinamarqueses - impor a lei da residência efectiva para eleições e não as listas partidárias e associar-se a empresas dinamarquesas para transportar cargas a granel oferecendo portos portugueses como a opção de inverno. Ah quadruplicar o número de campos de golfe do Algarve com inserção de instruções em dinamarquês, o meu condomínio na cidade de Saint Petersburg (onde se encontra um belíssimo museu de Salvador Dali) na costa oeste da Florida o fez com excelentes resultados de vendas. Enfim trazer outra coisa para Portugal que não seja adolescente bêbado e tarado, inglês ranzinza reformado e americano democrata falido e frustrado. Abraços e SAUDE, ou como dizemos A bi Gesunt!     Álvaro Aragão Athayde > Erasmo Nuzzi: O Tuga Adelino levou uma chazada do Judeu Erasmo que até dói, livra!     Helmarques Marques > Erasmo Nuzzi: Para mim é muito bom existir aqui no Observador alguém estrangeiro que expõe as suas ideias sem qualquer receio de ser julgado pelo politicamente correcto, ou seja, a esquerda caviar. "Mas eles andem aí"!!   Jorge Ferreira > Helmarques Marques: E que venham mais participações...  Maria Nunes: Excelente. De uma forma sucinta, relata o que se passa no mundo. Obrigada JNP.     f teixeira: Artigo curto... Haveria muito mais para ler... Na verdade, JNP prega aos peixes mas, faz falta quem não se importe de não ser popular e escrever o que faz falta. No Observador podemos ler alguns. Este é um dos casos! Obrigado.   Caixa Mágica: Já deu para perceber, através destas duas últimas crónicas, que o Jaime Nogueira Pinto é candidato a ser o Olavo de Carvalho português. Começou por lhe copiar as ideias, agora até já lhe copia o estilo.     R S: Bom artigo resumindo o que se vai passando no Mundo. Nem sei como é possível ainda escrever este artigo neste País radical de esquerda e nesta Europa.   Jorge Carvalho: Excelente artigo Obrigado

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