Sobre o futuro da União Europeia. Oxalá seja como nos comunica o embaixador da Alemanha em Portugal, Martin
Ney.
OPINIÃO
O Futuro da Europa: a sua capacidade de acção
O que nós construímos na Europa – é único
no Mundo! Para muitos, a Europa é um reduto de esperança e um local desejado. E
é por esta razão, que o objectivo é hoje, mais do que nunca: Mais Europa!
MARTIN NEY, Embaixador
da Alemanha em Portugal
PÚBLICO, 30 de
Junho de 2020
Assumimos amanhã a Presidência Alemã
do Conselho da União Europeia com um objectivo claro: “Juntos. Relançar a
Europa”. Queremos —
em prol da nossa Europa Comum — servir de instrumento impulsionador e de
mediador honesto. Superar a crise criada pela covid-19 constitui
simultaneamente uma prioridade máxima e uma oportunidade — temos de criar ligações mais estreitas, ser
internamente mais solidários e externamente mais fortes e soberanos. A nossa confiança
na capacidade criadora da União reflecte-se também no logótipo da nossa
Presidência: a chamada banda de Möbius simboliza uma Europa que reúne a mais
ampla diversidade de pessoas e interesses para formar um todo comum.
Na
ordem do dia estará uma Europa com espírito de equipa e de compromisso, mas
também uma Europa que analisa racionalmente o nosso ponto de situação actual.
Esta pandemia submeteu a União à mais dura prova. Atingiu-nos a todos — mas não
da mesma forma. As imagens das regiões mais afectadas sensibilizaram-me
profundamente. O que podemos fazer, nesta crise global, só é
solucionável a nível europeu: enquanto Estados individuais, estaríamos
assoberbados face à situação. A
verdade é a seguinte: após
um início atribulado, a UE já cresceu com esta crise. Encontrámos
respostas conjuntas em muitas áreas, cooperámos na aquisição de equipamentos
médicos e na investigação para vacinas e mobilizámos mais de meio bilião de
euros para a gestão da crise. A Alemanha e a França apresentaram, em conjunto,
propostas pioneiras, tal como a Comissão Europeia. O que também faz parte da
verdade é que a solidariedade existente entre os países da União Europeia é
única em todo o mundo, um aspecto que me deixa optimista quanto ao longo
caminho que ainda temos pela frente. Ao
interligar estreitamente todos os Estados-membros, instituições e órgãos da UE,
queremos preservar o que nos é mais caro, nomeadamente uma Europa unida, justa
e orientada para o futuro. Talvez tenhamos, durante demasiado tempo, tomado a
Europa como um bem adquirido e permitimos que os adversários da União Europeia
a denegrissem. Devemos ser nós — os que acreditam na Europa — a manifestar-nos!
A Europa é uma ordem dinâmica de paz e de liberdade, que devemos aperfeiçoar
continuamente.
Mais
do que nunca, precisamos de coragem e de acção colectiva e decisiva — tendo
como base os nossos valores comuns. Só assim seremos capazes de defender os
nossos interesses comuns num mundo conturbado, com centros de poder alterados.
Só assim poderemos moldar a globalização, em vez de permitir que outros moldem
a nossa Europa social. As grandes questões do futuro não nos deixam
alternativa: temos de superar as consequências económicas e sociais
da crise, temos de contribuir para uma economia mais verde e gerar crescimento.
Temos de garantir de forma mais eficaz a nossa própria segurança — também no
domínio militar — e defender uma ordem internacional baseada em regras que tem
sido cada vez mais posta em causa.
Estou
consciente de que as expectativas depositadas na Presidência alemã são muito
elevadas, mas, simultaneamente, enfrentamos limitações de capacidade consultiva
das instituições da UE, devido às regras de distanciamento social, imposto pela
covid-19. É
necessário abordar a questão com realismo e definir prioridades. Numa primeira fase da nossa Presidência, vamos negociar
o Quadro Financeiro Plurianual e o Plano de Reconstrução, no valor de milhares
de milhões de euros, bem como dar respostas, a nível europeu, à pandemia e suas
consequências. Numa
segunda fase, o foco estará nas negociações sobre
as futuras relações com o Reino Unido que, o mais tardar, até à Cimeira da UE em Outubro
deste ano, deverão estar concluídas. Uma
estreita parceria é possível — mas não a
qualquer preço. Lamento muito a saída do Reino Unido da União,
mas a prioridade agora recai sobre os 27 Estados-membros. Numa
terceira fase, queremos arrancar
a toda a velocidade para temáticas centrais, como a Agenda Estratégica para
2019-2024, que nos permitam sair desta crise prontos a responder aos desafios
vindouros. Pretendemos reforçar a capacidade de inovação e a coesão social da
Europa. Queremos também tornar o nosso continente mais sustentável e ecológico
e, através da digitalização, torná-lo mais competitivo. Outro objectivo é reforçar a voz da UE no mundo, agir de forma coesa
em relação à China, reforçar a parceria com África e promover a estabilidade
nos países vizinhos. E,
por último, não devemos abrandar minimamente os nossos esforços em matéria de
Políticas de Asilo, nem em matéria de Estado de Direito na UE. Apesar da crise, e face a esses desafios, este não
pode ser um ano perdido para a Europa. É justamente o sector digital que
impulsiona o crescimento económico.
A soberania digital pode
tornar-se a rocha sobre a qual a competitividade sustentável da Europa se
apoia. Não
precisamos de ser capazes de fazer tudo na Europa, mas temos de nos tornar
suficientemente autónomos para tomar decisões. A
verdadeira soberania tecnológica significa também promover a inteligência
artificial e a neutralidade climática das tecnologias industriais. Num mundo globalizado, temos de nos tornar
suficientemente fortes para estabelecer padrões digitais — mas também para
salvaguardar a confiança dos cidadãos nestas áreas do futuro. Estou convencido
de que, se quisermos promover a convergência da Europa, temos de torná-la mais
competitiva.
Porém, mesmo em tempos difíceis, a cultura não deve ficar para trás: como destaque cultural da nossa Presidência, em
Lisboa, os músicos de renome mundial Julius Berger e Margarita Höhenrieder irão dar um concerto de obras de Beethoven para violoncelo e piano, a realizar-se no Centro
Cultural de Belém, no dia
27 de outubro. Não
esqueçamos que este é o ano comemorativo de Beethoven — e foi ele o compositor do nosso hino europeu!
Desde a última Presidência alemã, em 2007, dá-se agora mais uma vez início ao “Trio”, formado juntamente por Portugal e pela Eslovénia.
Elaborámos, em estreita cooperação, os respectivos programas nacionais de cada
Presidência semestral. Em comum temos uma agenda pró-europeia clara e a vontade
de sair desta crise com o vento a nosso favor — fortalecendo a
resiliência económica, social e ecológica e a viabilidade futura da UE. A
integração europeia é uma dádiva para todos nós. O que nós construímos na
Europa — é único no mundo! Para muitos, a Europa é um reduto de esperança e um
local desejado. E é por esta razão que o objectivo é hoje, mais do que nunca:
Mais Europa!
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