quarta-feira, 15 de julho de 2020

Pedir não custa


Em esclarecimento de mais um singelo e eficiente texto de Salles da Fonseca que levanta tantos problemas e evocações, pessoais como históricas, a que se associaram os seus vários comentadores, recolhi na Internet um texto do blog “Moçambique para todos” sobre o problema de Cabo Delgado e a proposta do PSD para que o Governo pressione a União Europeia, defensora da LIBERTÉ, no sentido de se acudir a mais uma investida terrorista do Daesh. Mais uma maçada para Santos Silva, coitado, já a braços com outras pedinchices do foro nacional. Não temos mãos a medir.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA     A BEM DA NAÇÃO, 14.07.20
Na Festa Nacional de França, abraços aos meus amigos franceses assim como aos francófilos de todas as nacionalidades. Ser-se hoje da francofilia, significa a ligação – mais ou menos romântica – aos Valores da República Francesa, liberdade, igualdade, fraternidade. E, portanto, para não ferir susceptibilidades, não saúdo os francófonos na sua globalidade – não quero incomodar os «amigos» de Maria Antonieta que aos Valores republicanos chamam «libertinagem, vulgaridade e pilhagem».
A grande diferença está na fundamentação do Poder: para os do «Ancien Régime», o Rei personifica o Poder por vontade divina; para os republicanos, o Poder emana da vontade popular.
Mais do que discutirem a legitimidade do Poder, Richelieu e Mazarino exerceram-no com o à vontade típico de quem se dizia intérprete da vontade divina e, na dúvida, com a ajuda de alguns mosqueteiros; apregoando a vontade popular, Robespierre e Marat exerceram o Poder com a ajuda de dois «preciosos» instrumentos – a demagogia e a guilhotina. ET VIVE LA LIBERTÉ!
Passada a glória militar francesa com a ida de Bonaparte para os «Invalides», os últimos resquícios de «vraie puissance» pouco mais fizeram do que descer os Campos Elíseos em parada dizendo ao povo que a «Force de Frappe du Grand Charles» existia e que o mundo podia e devia contar com ela. Mas o mundo, ingrato ou apenas surdo, não ouviu. Restavam os Valores imateriais até que o anarquismo gramsciano do Maio de 68 os minou. E como se isso não tivesse bastado, a República está agora a braços com um novo transe, o do Islão. Nada de anarquismo, nada de elitismo, apenas a literacia corânica na palavra de teólogos de finura mais do que discutível.
Grande fosso se está a cavar em França…  Então, quanto mais este fosse se cava na sociedade francesa, mais próxima do Eliseu fica Marine Le Pen.
É isto que a França hoje comemora. Mas eu comemoro os 48 anos da minha saída de carro de Nampula a caminho de Lourenço Marques por aquelas picadas além na companhia de dois amigos, o Tó Sousa Pires e o Miguel Lory a quem daqui mando abraços.
14 de Julho de 2020  Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 14.07.2020: Henrique, constato que o teu “ADN”, “temperado” no Liceu Francês, explodiu hoje, 14 de julho, não sem que acrescentasses ao “tempero” uma pitada do nosso tempo de Nampula. Comemoramos em julho duas revoluções – a americana, no dia 4 do ano 1776, e a francesa, no dia 14 do ano 1789. Ambas se influenciaram, com efeitos até aos nossos dias. Paradoxalmente, assistimos hoje à contestação a um dos Pais Fundadores do EUA, o redactor principal da Declaração de Independência dos EUA e terceiro Presidente dos mesmos – Thomas Jefferson –, em virtude de ter sido proprietário de um número avultado de escravos e de ter, pelo menos, uma concubina mulata escrava (Sally), isto quando ele a Declaração de Independência proclamavam que todos os homens nascem iguais. Teríamos de esperar por 2020 para que houvesse consciência que “black lives matter” (e já agora, white lives matter, too). Mas foi só em 1945, com o Triunfo dos Porcos, de George Orwell, que aprendemos que “todos os homens são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”. A “insurreição”, contra a Inglaterra, que surge em 16/12/1774, com o lançamento à água, por colonos americanos, disfarçados de “peles vermelhas”, do carregamento de chá de 3 navios da Companha das Índias, ancorados no porto de Boston – o chamado Tea Party de Boston –, haveria de dar lugar, um ano e meio depois, à Declaração de Intendência dos EUA, em 4/7/1776, e às lutas subsequentes nesse território entre americanos e franceses, de um lado, e ingleses do outro, destacando-se, dentro dos franceses, o militar Marquês La Fayette, que foi igualmente protagonista, escassos anos depois, de outra revolução – a francesa – o que não o impediu de ser perseguido pelos jacobinos. Ponte entre as duas Revoluções é também a Estátua da Liberdade, oferecida, um século depois, pelo povo francês aos EUA. Referes que “a República (francesa) está agora a braços com um novo transe, o do Islão”. Mas aprofunda o teu pensamento um pouco mais e talvez constates algum paralelismo curioso entre o tempo da Revolução Francesa e o que aconteceu no século passado. Os revolucionários, com Rousseau à frente, condenaram todas as instituições existentes – propriedade, religião, classes sociais, autoridade governamental – como ilusórias e fraudulentas, Como corolário, todas as monarquias deveriam ser tratadas como inimigas, pelo que revolução teria de se assumir num movimento internacional, e o novo credo ser espalhado por toda a Europa, na ponta das baionetas (que o diga a Península Ibérica e a Rússia). E aqui, como ensina Henry Kissinger, a revolução francesa assentava num princípio semelhante ao que o Islão proclamara um milénio antes e o comunismo proclamaria no século XX – a impossibilidade de coexistência pacífica entre países com diferentes religiões ou concepções diferentes da verdade. E, finalmente, mais um olhar em simultâneo aos séculos XVIII e XX: Sabemos que o “Terror” eliminou dramaticamente toda a oposição interna, mesmo aquela que esteve inicialmente com a Revolução, em parte consubstanciada nas antigas classes dominantes. E o que dizer das purgas de 1930 na URSS e na China, nas décadas de 1960 e de 1970, através da Revolução Cultural? Termino, como começaste, com um Viva à Liberdade. Abraço. Carlos Traguelho
Francisco G. de Amorim 14.07.2020: Vive La France libre, aliás o Francistão Pelo email mando-lhe a bandeira "nova"
Henrique Salles da Fonseca, 14.07.2020: Caro Amigo Henrique: 1 - Texto escrito com Mestria. Com Elegância. Com Saber. E com ... Premonição. 2 - E o texto fez com que recordasse os velhos líderes franceses à "droite" e à "gauche" . E já agora dos grandes líderes alemães à direita e à esquerda. Onde destaco o "touro da Baviera" Franz Josef Strauss. Teriam os seus defeitos, todos eles, mas sabiam o que queriam e para onde iam. Hoje, sinceramente , não sei. 3 - E ao terminares dizes, e com razão, a tua lembrança dos 48 anos da viagem de carro de Nampula a Lourenço Marques. E na companhia do nosso comum Amigo Sousa Pires. Já tinhas escrito isso em vários episódios, e eu lá fui acreditando. Mas... 4 - Mas ... há sempre um mas. Como é que isso foi possível, se Moçambique estava perdido para as NT, com os combatentes da Frelimo por todo o lado? 5 - Se fosse hoje era de certeza possível, visto que a Frelimo com as suas experimentadas forças teriam dado toda a segurança à tua viagem. Vê só como eles dominam Cabo Delgado. Vê lá como dominam a vasta zona de Manica e de Sofala. Mas que raio ... lá volto eu ... pelo sim, pelo não, acredito que o que contas de há 48 anos aconteceu mesmo. Nem de Amigo se esperaria outra coisa. Abraço, José Augusto Fonseca
Henrique Salles da Fonseca 14.07.2020: Pese embora eu NUNCA comentar os comentários que os Leitores generosamente tecem, desta vez sinto-me na necessidade de informar os Leitores que não conhecem o Prof. Doutor José Augusto Fonseca que do § 4 em diante o tom irónico deve ser interpretado no sentido inverso ao da letra expressa no comentário. Efectivamente, há 48 anos a minha viagem decorreu em total segurança a ponto de a minha pistola particular ir arrumada numa mala no porta bagagens do meu carro pessoal e as balas irem noutra mala lá atrás também. Pelas notícias que correm, nada do mesmo hoje é possível.
Mais: naquela época, a nossa tropa, maioritariamente composta por milicianos, conseguiu rechaçar e conter as investidas das tropas frelimistas sem as chacinas anunciadas por jornalistas sentados no conforto da distância intercontinental. A situação militar em Moçambique era-nos favorável como hoje parece ser à de quem se lhes opõe. O actual problema em Cabo Delgado não pode encontrar solução favorável a Moçambique se não recorrer a outras forças que não apenas às suas próprias.
NOTAS:
Extraídas de “MOÇAMBIQUE PARA TODOS” de FERNANDO GIL (Internet)
O partido português PSD pediu hoje ao Governo português que sensibilize a União Europeia para a necessidade de encontrar, com urgência, uma "solução internacional" que permita a Moçambique "enfrentar os ataques terroristas em Cabo Delgado", bem como envio de ajuda humanitária.
Num projecto de resolução (sem força de lei) hoje entregue na Assembleia da República portuguesa, os sociais-democratas portugueses salientam que, em meados de abril, a União Europeia referiu que “segue com apreensão o agravamento da situação humanitária em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, com uma crescente insegurança das populações locais e a rápida multiplicação do número de deslocados internos”.
Ora, não basta seguir apenas com apreensão o agravamento da situação humanitária no norte de Moçambique. A comunidade internacional não pode alhear-se desta tragédia humanitária. A pandemia não pode ser desculpa para a União Europeia ou Portugal se desinteressarem da sorte de toda esta população do norte de Moçambique”, defendem os deputados do PSD.
O PSD considera que “os moçambicanos precisam dos portugueses, dos europeus, da comunidade internacional” e apontam que o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, referiu, em meados de junho, que “Portugal está disponível para a construção de uma solução internacional que permita a Moçambique enfrentar os ataques terroristas no norte do país”.
Assim, o PSD recomenda ao Governo português que “encete, com carácter de urgência, uma acção de sensibilização junto da União Europeia, no sentido de ser encontrada uma solução internacional que permita a Moçambique enfrentar os ataques terroristas em Cabo Delgado, tendo sempre em consideração o profundo respeito pela soberania daquele país”. Continue reading "Ataques: Partido português pede “solução internacional” urgente no quadro da União Europeia" »

Nenhum comentário: