Em esclarecimento de mais um singelo e
eficiente texto de Salles da
Fonseca que levanta tantos problemas e evocações, pessoais como históricas, a
que se associaram os seus vários comentadores, recolhi na Internet um texto do blog “Moçambique
para todos” sobre o problema de Cabo
Delgado e a proposta do PSD para que o
Governo pressione a União Europeia, defensora da LIBERTÉ, no sentido de se acudir a mais uma investida terrorista
do Daesh. Mais uma maçada para Santos
Silva, coitado, já a braços com outras pedinchices do foro nacional. Não
temos mãos a medir.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA A BEM DA NAÇÃO, 14.07.20
Na
Festa Nacional de França, abraços aos meus amigos franceses assim como aos
francófilos de todas as nacionalidades. Ser-se hoje da francofilia, significa
a ligação – mais ou menos romântica – aos Valores da República Francesa,
liberdade, igualdade, fraternidade.
E, portanto, para não ferir susceptibilidades, não saúdo os francófonos na sua
globalidade – não quero incomodar os «amigos» de Maria Antonieta que aos
Valores republicanos chamam «libertinagem, vulgaridade e pilhagem».
A grande diferença está na
fundamentação do Poder: para os
do «Ancien Régime», o Rei personifica o Poder por vontade divina; para os
republicanos, o Poder emana da vontade popular.
Mais do que discutirem a legitimidade
do Poder, Richelieu e Mazarino exerceram-no com o à vontade típico
de quem se dizia intérprete da vontade divina e, na dúvida, com a ajuda de
alguns mosqueteiros; apregoando a vontade popular, Robespierre e Marat
exerceram o Poder com a ajuda de dois «preciosos» instrumentos – a
demagogia e a guilhotina. ET VIVE LA LIBERTÉ!
Passada
a glória militar francesa com a ida de Bonaparte para os «Invalides», os
últimos resquícios de «vraie puissance» pouco mais fizeram do que descer os
Campos Elíseos em parada dizendo ao povo que a «Force de Frappe du Grand
Charles» existia e que o mundo podia e devia contar com ela. Mas o mundo,
ingrato ou apenas surdo, não ouviu. Restavam os Valores imateriais até
que o anarquismo gramsciano do Maio de 68 os minou. E como se isso não tivesse
bastado, a República está agora a braços com um novo transe, o do Islão. Nada
de anarquismo, nada de elitismo, apenas a literacia corânica na palavra de
teólogos de finura mais do que discutível.
Grande fosso se está a cavar
em França… Então, quanto mais este fosse se cava na sociedade
francesa, mais próxima do Eliseu fica Marine Le Pen.
É isto que a França hoje comemora. Mas
eu comemoro os 48 anos da minha saída de carro de Nampula a caminho de Lourenço
Marques por aquelas picadas além na companhia de dois amigos, o Tó Sousa
Pires e o Miguel Lory a quem daqui mando abraços.
14 de Julho de
2020 Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 14.07.2020: Henrique,
constato que o teu “ADN”, “temperado” no Liceu Francês, explodiu hoje, 14 de
julho, não sem que acrescentasses ao “tempero” uma pitada do nosso tempo de
Nampula. Comemoramos em julho duas revoluções – a americana, no dia 4 do ano
1776, e a francesa, no dia 14 do ano 1789. Ambas se influenciaram, com
efeitos até aos nossos dias. Paradoxalmente, assistimos hoje à contestação a
um dos Pais Fundadores do EUA, o redactor principal da Declaração de
Independência dos EUA e terceiro Presidente dos mesmos – Thomas Jefferson –, em
virtude de ter sido proprietário de um número avultado de escravos e de ter,
pelo menos, uma concubina mulata escrava (Sally), isto quando ele a Declaração
de Independência proclamavam que todos os homens nascem iguais. Teríamos de
esperar por 2020 para que houvesse consciência que “black lives matter” (e
já agora, white lives matter, too). Mas foi só em 1945, com o Triunfo
dos Porcos, de George Orwell, que aprendemos que “todos os homens são iguais,
mas alguns são mais iguais do que outros”. A “insurreição”, contra a Inglaterra,
que surge em 16/12/1774, com o lançamento à água, por colonos americanos,
disfarçados de “peles vermelhas”, do carregamento de chá de 3 navios da
Companha das Índias, ancorados no porto de Boston – o chamado Tea
Party de Boston –, haveria de dar lugar, um ano e meio depois, à Declaração de Intendência dos EUA, em 4/7/1776, e às lutas subsequentes nesse território entre
americanos e franceses, de um lado, e ingleses do outro, destacando-se, dentro
dos franceses, o militar Marquês La Fayette, que foi igualmente protagonista,
escassos anos depois, de outra revolução – a francesa – o que não o impediu de
ser perseguido pelos jacobinos. Ponte entre as duas Revoluções é também a Estátua
da Liberdade, oferecida, um século depois, pelo povo francês aos EUA. Referes
que “a República (francesa) está agora a braços com um novo transe, o do
Islão”. Mas aprofunda o teu pensamento um pouco mais e talvez constates
algum paralelismo curioso entre o tempo da Revolução Francesa e o que
aconteceu no século passado. Os revolucionários, com Rousseau à frente,
condenaram todas as instituições existentes – propriedade, religião, classes
sociais, autoridade governamental – como ilusórias e fraudulentas, Como
corolário, todas as monarquias deveriam ser tratadas como inimigas, pelo que
revolução teria de se assumir num movimento internacional, e o novo credo ser
espalhado por toda a Europa, na ponta das baionetas (que o diga a Península
Ibérica e a Rússia). E aqui, como ensina Henry Kissinger, a revolução
francesa assentava num princípio semelhante ao que o Islão proclamara um
milénio antes e o comunismo proclamaria no século XX – a impossibilidade de
coexistência pacífica entre países com diferentes religiões ou concepções
diferentes da verdade. E, finalmente, mais um olhar em simultâneo aos séculos
XVIII e XX: Sabemos que o “Terror” eliminou dramaticamente toda a oposição
interna, mesmo aquela que esteve inicialmente com a Revolução, em parte
consubstanciada nas antigas classes dominantes. E o que dizer das purgas de
1930 na URSS e na China, nas décadas de 1960 e de 1970, através da Revolução
Cultural? Termino, como começaste, com um Viva à Liberdade. Abraço. Carlos
Traguelho
Francisco G. de Amorim 14.07.2020: Vive La France libre, aliás o
Francistão Pelo email mando-lhe a bandeira "nova"
Henrique Salles da
Fonseca, 14.07.2020: Caro
Amigo Henrique: 1 - Texto escrito
com Mestria. Com Elegância. Com Saber. E com ... Premonição. 2 - E o texto fez com que recordasse os velhos líderes
franceses à "droite" e à "gauche" . E já agora dos grandes
líderes alemães à direita e à esquerda. Onde destaco o "touro
da Baviera" Franz Josef Strauss.
Teriam os seus defeitos, todos eles, mas sabiam o que queriam e para onde iam.
Hoje, sinceramente , não sei. 3 - E
ao terminares dizes, e com razão, a tua lembrança dos 48 anos da viagem de
carro de Nampula a Lourenço Marques. E na companhia do nosso comum Amigo Sousa
Pires. Já tinhas escrito isso em vários episódios, e eu lá fui acreditando.
Mas... 4 - Mas ...
há sempre um mas. Como é que isso foi possível, se Moçambique estava perdido
para as NT, com os combatentes da Frelimo por todo o lado? 5 - Se fosse hoje era de certeza possível, visto que a
Frelimo com as suas experimentadas forças teriam dado toda a segurança à tua
viagem. Vê só como eles dominam Cabo Delgado. Vê lá como dominam a vasta zona
de Manica e de Sofala. Mas que raio ... lá volto eu ... pelo sim, pelo não,
acredito que o que contas de há 48 anos aconteceu mesmo. Nem de Amigo se
esperaria outra coisa. Abraço, José Augusto Fonseca
Henrique Salles da
Fonseca 14.07.2020: Pese embora eu
NUNCA comentar os comentários que os Leitores generosamente tecem, desta vez
sinto-me na necessidade de informar os Leitores que não conhecem o Prof. Doutor
José Augusto Fonseca que do § 4 em diante o tom irónico deve ser interpretado
no sentido inverso ao da letra expressa no comentário. Efectivamente, há 48 anos a minha viagem decorreu em
total segurança a ponto de a minha pistola particular ir arrumada numa mala no
porta bagagens do meu carro pessoal e as balas irem noutra mala lá atrás
também. Pelas notícias que correm, nada do mesmo hoje é possível.
Mais:
naquela época, a nossa tropa, maioritariamente composta por milicianos,
conseguiu rechaçar e conter as investidas das tropas frelimistas sem as
chacinas anunciadas por jornalistas sentados no conforto da distância
intercontinental. A
situação militar em Moçambique era-nos favorável como hoje parece ser à de quem
se lhes opõe. O actual
problema em Cabo Delgado não
pode encontrar solução favorável a Moçambique se não recorrer a outras forças que não apenas às suas
próprias.
NOTAS:
Extraídas de “MOÇAMBIQUE
PARA TODOS” de FERNANDO GIL (Internet)
O
partido português PSD pediu hoje ao Governo português que sensibilize a União
Europeia para a necessidade de encontrar, com urgência, uma "solução
internacional" que permita a Moçambique "enfrentar os ataques
terroristas em Cabo Delgado", bem como envio de ajuda humanitária.
Num
projecto de resolução (sem força de lei) hoje entregue na Assembleia da
República portuguesa, os sociais-democratas portugueses salientam que, em
meados de abril, a União Europeia referiu que “segue com
apreensão o agravamento da situação humanitária em Cabo Delgado, no norte de
Moçambique, com uma crescente insegurança das populações locais e a rápida
multiplicação do número de deslocados internos”.
“Ora, não
basta seguir apenas com apreensão o agravamento da situação humanitária no
norte de Moçambique. A comunidade internacional não pode alhear-se desta
tragédia humanitária. A pandemia não pode ser desculpa para a União Europeia ou
Portugal se desinteressarem da sorte de toda esta população do norte de
Moçambique”, defendem os deputados do PSD.
O PSD considera que “os moçambicanos
precisam dos portugueses, dos europeus, da comunidade internacional” e apontam que o ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, referiu, em meados de junho, que “Portugal está
disponível para a construção de uma solução internacional que permita a
Moçambique enfrentar os ataques terroristas no norte do país”.
Assim, o PSD recomenda ao Governo português que
“encete, com carácter de urgência, uma acção de sensibilização junto da
União Europeia, no sentido de ser encontrada uma solução internacional que
permita a Moçambique enfrentar os ataques terroristas em Cabo Delgado, tendo
sempre em consideração o profundo respeito pela soberania daquele país”. Continue reading "Ataques: Partido português pede
“solução internacional” urgente no quadro da União Europeia" »
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