A nossa. Julgo que nunca mais
escaparemos a esta situação de permanente crise. Crise económica, crise de
valores, crise de educação. Aboboramos no charco da nossa pequenez progressiva.
Outra vez de mão estendida /premium
O ideal era que Portugal contribuísse
para o crescimento dos outros em vez de estar sempre à espera da generosidade
alheia a que chamamos solidariedade. Mais uma vez dependemos do dinheiro dos
outros.
HELENA GARRIDO
OBSERVADOR, 13 jul
2020
Esta vai ser uma semana importante
para saber exactamente quanto dinheiro virá da União Europeia, para podermos
então ser mais ou menos ambiciosos no programa de recuperação da economia. Enquanto isso, vamos marcando passo porque, mais
uma vez, não temos dinheiro e dependemos dos outros. Na verdade, porque o
Estado português gasta mal, não consegue desempenhar parte da sua função
fundamental que é apoiar os portugueses quando eles mais precisam dele.
A primeira cimeira europeia com presença física, desde a pandemia, vai acontecer
no fim desta semana, 17 e 18 de Julho,
com o Fundo europeu de Recuperação, o plano “Next Generation EU”, como o
prato mais quente da agenda,
a par do quadro financeiro plurianual, já sacrificado para se chegar a acordo
na frente da retoma da pandemia. Os quatro frugais liderados pela
Holanda e a que se juntam a Áustria, Dinamarca e Suécia que têm também ao seu lado a Finlândia.
O
que está em causa é um envelope financeiro de 750 mil
milhões de euros que a Comissão Europeia obterá endividando-se. Na proposta da Comissão, a parte mais importante e
controversa daquele montante global são os 560 mil milhões para a
Recuperação com 310 mil milhões sob a forma de subsídio e 250 mil
milhões em empréstimos. Os classificados como “frugais”, aos quais
António Costa chama “forretas”, querem não só reduzir o montante global como
são muito críticos em relação às verbas a fundo perdido.
A
aprovação deste fundo de recuperação tem um enorme poder simbólico: estamos
perante o primeiro passo de mutualização da dívida com os mais ricos a fazerem
transferência adicionais para os mais pobres ou mais afectados pela crise
pandémica. O peso
da restituição do dinheiro, que a Comissão Europeia irá pedir emprestado, recai
sobre os mais ricos, sem que estes obviamente tenham a garantia de que nada
disto se volta a repetir.
O
primeiro-ministro António Costa
tem-se desdobrado em contactos para que se chegue finalmente a um acordo. Estiveram cá o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte e espanhol Pedro Sanchez, na
liderança de dois dos países que mais vão beneficiar com o fundo de recuperação
pela violência que enfrentaram na fase inicial da pandemia. Mas António
Costa falou também com a primeira-ministra dinamarquesa na
sexta-feira e na quinta com o primeiro-ministro da Letónia.
A
semana do primeiro-ministro inicia-se com um dos mais duros opositores, deslocando-se à Holanda onde se
vai encontrar com o austero Mark Rutte, indo depois à Hungria
para reunir-se com Viktor Orbán.
O
primeiro-ministro holandês, que lidera a oposição dos frugais é descrito pela “The Economist” como
tendo a arte do compromisso sem capitular, antecipando-se que no fim desta
semana se acabará por chegar a acordo. A par de Angela
Merkel é um dos mais antigos líderes dos
governos europeus presentes no Conselho Europeu mas, contrariamente a Merkel,
que hoje pode gastar o seu capital político com o projecto de recuperação
europeu, Rutte precisa
dele para as eleições que se aproximam, como refere a revista. É ainda interessante perceber como os holandeses olham
com cepticismo para a narrativa de que este dinheiro tem como objectivo impedir
a fragmentação do mercado único — “e evitar a invasão da China”, diz
sarcasticamente um deputado holandês citado pela “The Economist”.
Claro
que Portugal tem de apoiar um primeiro-ministro que combate por recursos para
que possamos ter dinheiro para recuperar. Com as suas qualidades de negociador,
António Costa
compreenderá os condicionalismos de Rutte – que lidera um país euro-entusiasta
mas com uma ideia muito negativa dos países do sul que era bom conseguir mudar.
As perspectivas apontam no sentido de
um acordo, ainda que se possa assistir a uma redução do envelope financeiro e a
menos subsídios e ainda a uma supervisão apertada das aplicação dos recursos.
Mas o que, como portugueses, mais desejaríamos era deixar este papel
de mão estendida cada vez que há uma crise, era poder ter um papel de sermos
nós os generosos. Tivemos
essa esperança com as políticas económicas na era da troika, o que acabou por
não acontecer. Voltamos a ter essa esperança com o plano desenhado por António Costa Silva.
Esperemos
que desta vez seja a sério. Que comecemos a percorrer um caminho que torne o
Estado forte e capaz de apoiar os portugueses quando eles mais precisam dele,
em vez de desperdiçar dinheiro.
COMENTÁRIOS:
António Vieira: António Costa
e', de facto, uma personagem interessante. As grandes emergências nacionais aborrecem-no,
como Tancos, Pedrógão ou o Covid 19. As grandes visões do pais nada lhe dizem,
como um Portugal mais tecnológico, a educação, a saúde, a economia, as finanças
ou a cultura. O que realmente poe aos saltos, é sacar dinheiro aos mais ricos e
as habilidades de esfaquear oponentes políticos pelas costas, como aconteceu
com o Sócrates ou Seguro. A caricatura perfeita de um socialista moderno.
Dulce Almeida: O artigo é bastante bom, mas
também grandemente ingénuo. Nomeadamente quando fala de dinheiro "desperdiçado".
Cara amiga, nem um só cêntimo foi "desperdiçado". Foi, isso sim, às
claras e impunemente, roubado pelo gangue de malfeitores que assaltou o Estado
desde o golpe de estado de 25/4/74. De uma nação com as 6ªs maiores reservas do
mundo e zero défices para, a caminho da quarta bancarrota, uma impagável dívida
de cerca de 270MM, que condena à miséria e pobreza filhos, netos, bisnetos,
tetranetos ... de todos os portugueses honestos, foi um pulinho. Para onde foi
esse colossal roubo é só olhar à volta e ver quem são os imprestáveis que, sem algo
terem feito na vida, são agora os milionários e reformados desta pouca
vergonha.
Hipólito Traulitadad: Um país pequeno, periférico, com atraso estrutural
(pagámos a revolução industrial dos outros com o ouro do Brasil e nunca mais
apanhámos o comboio), analfabetismo endémico, com a “sorte” de não ter
participado na segunda guerra mundial (que bem não nos teria feito um “regime
change” no pós-45...) e o azar de ter uma elite oportunista e sempre na esfera
do Estado (estes sim), seria de esperar outra coisa? Ou era este aparente
bem-estar, de mão estendida, ou ser-se um Estado falhado tout court...
Joaquim Moreira: Não deixa de
ser interessante, melhor, preocupante, que, depois desta excelente descrição
sobre, a "mão estendida", não haja sequer uma referência, às
propostas do PSD para tirar a economia deste estado de anemia, agravado com a
pandemia. Uma vez que estou muito de acordo com o diagnóstico da situação, não
posso deixar de lamentar esta permanente ignorância do que está a fazer
verdadeiramente a oposição. O facto de haver muita gente, com muito má
intenção, a insistir que "não há oposição", esta, não deve ser
entendida como verdadeira e total, por quem tem de nos dar informação inteira e
não parcial. Que nem sequer refere o Plano para a Década de quem, agora, teve
que chamar alguém de fora. Por mais interessante que seja o plano, por
António Costa Silva, desenhado, o mais importante é que possa e seja aplicado.
Por isso, é que o PSD, que “não faz oposição”, se tem dedicado a preparar um
verdadeiro Plano Económico Nacional de Salvação!
Antonio Ferreira: Estas ajudas a Portugal não vão modificar nada se não houver uma
fiscalização apertada da sua aplicação e se as ajudas não vierem com
condicionalidades. O Estado é o maior cancro deste país, um viveiro de corrupção, de
negociatas e aldrabices. Vão espatifar o dinheiro todo em obras inúteis só para
receberem comissões generosas dos amigos construtores...e pelos amigos e boys
de sempre.... Eu compreendo os países
do Norte da Europa...querem dinheiro criem riqueza, não gastem o dinheiro dos
contribuintes em loucuras e disparates tipo TAP ....A Swissair faliu, a
companhia da Suíça , um pais muito mais rico que Portugal, a empresa depois da
insolvência foi reestruturada, comprada por uma empresa privada e só para
exemplo : em 2019 teve 540 milhões de euros de lucro....!!!!!! Para os burros
socialistas analisarem. É tão fácil espatifar o dinheiro dos outros, dinheiro
que não lhes custa a ganhar...!!!!
Oscar MaximoAntonio Ferreira: Já há planos para estourar as ajudas, como o hidrogénio
em Sines.
Ipsum Libertas: A Europa que
mande o guito sem demora, mas que o venha administrar. Caso contrário a
história vai-se repetir e a miséria será a sina de cada vez mais portugueses.
João Pimentel Ferreira > Ipsum Libertas: É como o dinheiro enviado para África, só chega à
economia local quando é administrado e aplicado directamente pelas organizações
doadoras. Mal passa pelas mãos dos governos desaparece misteriosamente. Por
isso é que as organizações com elevada experiência de ajuda humanitária em
África estão quase sempre no terreno, e jamais se limitam a entregar o cheque
às autoridades locais.
Nuno Pê: Notícia de
hoje, que podia dar à Helena Garrido uma ideia para os Estados terem dinheiro
em vez de terem que "pedir" emprestado, sempre de mão estendida:
"Um grupo de 83 milionários, provenientes principalmente dos Estados
Unidos, apelou, numa carta aberta aos governos de todo o mundo, a um aumento
dos impostos que lhe são cobrados, para que deste modo possam ajudar no esforço
de recuperação económica pós-covid. "
José Paulo C Castro > Nuno Pê: Você
acredita nisso? Que eles querem ajudar dando-o ao Estado quando podem dá-lo
directamente a um investimento de recuperação?
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