sexta-feira, 31 de julho de 2020

Uma amostra


De EUSERIKA.946083 INICIANTE, em COMENTÁRIO ao texto de NUNO PACHECO SOBRE O AO90:       

«Eu acho que o português europeu como língua mãe, está em perigo, já que estás regulações o que faz é mudar a língua para o dialeto mais forte e este es o português do Brasil, que praticamente é um idioma diferente ao português europeu, e este terminará de abrangir ao último.»

É certo que, nos COMENTÁRIOS, tentei atamancar uma correcção que desse um mínimo de inteligibilidade ao texto do comentário, mas será nisto que a língua portuguesa se irá transformando, tais as incorrecções saídas das bocas ou dos escritos que a televisão e outros meios mediáticos nos vão revelando a cada passo. Sim, o português fará a sua fusão com o dialeto mais forte e este es o português do Brasil, que praticamente é um idioma diferente ao português europeu, e este terminará de abrangir ao último.» até findar na valeta do esquecimento, como estrume de “tantas conquistas futuras” ao modo de Álvaro de Campos, - «Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras» - mas também de tantas conquistas passadas, ao nosso modo actual de perversão dos valores que nos justificaram como povo. A “Tabacaria” dá conta de tudo isso, é certo, do fim natural de tudo o que é ou foi, mas, ao menos, que fosse uma morte em glória e não na grosseria lorpa de esterqueiro, que cometem esses que por aqui mandam, na sua indiferença pelo dito AO.

Que a voz e a escrita de NUNO PACHECO, contudo, e dos seus companheiros de luta continuem a ouvir-se e a ler-se, sobre tal miséria do AO, é um desejo fervoroso de quem ama a sua língua e o seu país.

Cultura-Ípsilon

OPINIÃO - ACORDO ORTOGRÁFICO

A língua portuguesa e uma iniciativa de cidadãos que continua à espera Parece que se trata de uma mudança de bandeira, de hino ou até de território. Não é. É a justa anulação de uma medida tomada num período de insensatez.

NUNO PACHECO

PÚBLICO, 30 de Julho de 2020

A língua portuguesa tem os seus encantos, já se sabe, mas também tem dotes de magia. Ora vejam como é possível, com ligeira mudança de palavras, alterar substancialmente as idas do primeiro-ministro ao Parlamento: de “duas vezes, num mês” a “dois meses, uma vez”. Como soa idêntico e é tão diferente! Mas é confortável, sem dúvida. Em particular para o primeiro-ministro. Aliás, a revisão do regimento interno da Assembleia da República tem sido muito dada a esta palavra, “conforto”. Palavra tão necessária em tempos de pandemia, de crises, de lamentos. E até o Presidente da Assembleia da República beneficiaria deste “conforto” (esta foi a palavra empregue por apoiantes e detractores), para admitir ou rejeitar iniciativas. Não há dúvida: por este caminho, a Paz morará definitivamente em São Bento, em Setembro.

Mas enquanto todos vão de férias (ah, doce Agosto, mesmo ensombrado pela pandemia!), não será inútil recordar uma antiga história que ainda não chegou ao seu termo. Em São Bento, sim, em São Bento. Recuando quase duas décadas: no dia 6 de Fevereiro de 2004, Portugal ratificou finalmente a Convenção de Viena de 1969 sobre Tratados Internacionais, em vigor na ordem jurídica internacional desde 27 de Janeiro de 1980. O que diz esta Convenção? Que “a adopção do texto de um tratado efectua-se pelo consentimento de todos os Estados participantes na sua elaboração” (art.º 9.º) e que a sua entrada em vigor (art.º 24.º) se faz “nos termos e na data nele previstos ou acordados” ou, na falta destes, “logo que o consentimento em ficar vinculado pelo tratado seja manifestado por todos os Estados que tenham participado na negociação.” A Convenção, seguidos os trâmites da praxe, passou a vigorar em Portugal a partir do dia 7 de Março de 2004. Quase cinco meses depois, foi aprovado no parlamento o segundo protocolo modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, estabelecendo o seguinte: “[o AO90] entrará em vigor com o terceiro depósito de instrumento de ratificação junto da República Portuguesa”. O terceiro, em oito países. Isto apesar de a Convenção de Viena estabelecer que, para um tratado internacional (e o dito acordo é um tratado) entrar em vigor, é preciso que “o consentimento em ficar vinculado pelo tratado seja manifestado por todos os Estados que tenham participado na negociação”.

Esta irritante discrepância, a par dos efeitos nefastos que um acordo assim “amanhado” foi tendo no dia-a-dia da escrita e da fala em língua portuguesa, levou um grupo de cidadãos a recolher assinaturas para uma ILC (Iniciativa Legislativa de Cidadãos) que procurasse reverter tal decisão. Com base neste simples pressuposto: para um acordo que envolve oito países, não chegam três “assinaturas” oficiais, ou ratificações, são mesmo precisas oito. Objectivo explícito: revogar a resolução que aprovara o segundo protocolo modificativo.

A coisa levou o seu tempo, consumindo energias e entusiasmo (a recolha de assinaturas foi bastante participada e profícua) e no dia 10 de Abril de 2019, pelas 15h30, as caixas com as assinaturas lá foram entregues oficialmente em São Bento. Verificadas as assinaturas, por amostragem, e feitos todos os acertos, a ILC-AO foi finalmente aceite e transformada em Projeto de Lei 1195/XIII, com a assinatura de 21.206 subscritores, no dia 30 de Outubro de 2019 (mais de meio ano depois). Muito bem. Para abreviar, que já vai longo, houve a necessária audição dos representantes dos subscritores e depois vieram as dúvidas. Apesar de, no documento oficial de aceitação da ILC-AO, se dizer claramente que “o articulado do projeto [sic] de lei parece não colocar em causa a competência reservada do Governo para negociar e ajustar convenções internacionais”, duvida-se que cidadãos, através de uma lei, possam reverter uma resolução da AR. Esgrimem-se argumentos e gasta-se, naturalmente, tempo. O deputado-relator da Comissão de Cultura faz o seu relatório, duvida, pede um parecer à 1.ª comissão, que também duvida, faz outro relatório, que também duvida. Com os subscritores sempre argumentando, e a contestar as dúvidas. Passado mais de um ano e três meses sobre a entrega da ILC na AR, espera-se agora que o Presidente da Assembleia apresente o caso à Conferência de Líderes. A coisa assume tamanha gravidade que parece que se trata de uma mudança de bandeira, de hino, talvez mesmo de território. Não é. É uma simples e justa anulação de uma medida tomada num período de insensatez. Não anula o Acordo Ortográfico (o que é pena, no meu modesto entender), mas estabelece-lhe regras civilizadas de acordo com a Convenção de Viena, não com duvidosas conveniências.

Claro que se a Lei das ILC (17/2003, de 4 de Junho) tivesse sido cumprida, o relatório teria obrigatoriamente de ser escrito num prazo de 30 dias “após a admissão” da ILC (não foi, como se viu) e, diz o artigo 9.º, “esgotado esse prazo, com ou sem relatório, o Presidente da Assembleia da República deve agendar o debate e votação em plenário.” Simples, não é? Mas não foi. Mais um motivo para não calar a indignação nem baixar os braços.

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COMENTÁRIOS:

Suspicious Minds, MODERADOR: Está bem, abelha! 30.07.2020

José Luís INICIANTE: Não está nada bem, antes pelo contrário.

mzeabranches INICIANTE: O comportamento, inexplicável e inadmissível, da Assembleia da República (AR), em relação ao AO90, desde o início, é revelador do desprezo com que a classe política encara a língua de Portugal, que nos identifica, define e estrutura culturalmente. O último episódio deste desprezo diz respeito à nossa ILC-AO, "Projecto de Lei de Revogação da Resolução da Assembleia da República N.º35/2008", que aprovou o 2.º Protocolo Modificativo e abriu as portas à entrada do AO90 em Portugal. Sou subscritora da ILC-AO, para a qual recolhi centenas de assinaturas, verificando com alegria como os meus compatriotas se sentem 'roubados', pelo poder político, no que toca ao nosso património fundamental, a nossa língua! 'Enquanto há língua, há esperança', e eu quero acreditar que ainda há democratas na AR! 30.07.2020

euserika.946083 INICIANTE: Eu acho que o português europeu como língua mãe, está em perigo, já que estas regulações o que fazem é mudar a língua para o dialecto mais forte e este é o português do Brasil, que praticamente é um idioma diferente do português europeu, e este terminará por se submeter ao último. 30.07.2020

Manuel de Campos Dias Figueiredo INICIANTE: A Assembleia da República, a casa dos maus exemplos democráticos.

 


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